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Auscultadores: controle os decibéis nos ouvidos

Alcançar a concentração, quer esteja num escritório ruidoso ou em teletrabalho rodeado pela família, pode depender de uns auscultadores. Mas o uso prolongado suscita preocupações. Saiba como preservar a saúde e escolher os modelos mais confortáveis.

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19 fevereiro 2024
Homem com auscultadores a participar numa videoconferência através de um computador portátil

iStock

Um escritório com dezenas de pessoas é um ambiente colorido, onde o desejado estado de concentração, muitas vezes, só é possível com auscultadores. De repente, o mundo à volta desliga-se, e o trabalho começa a fluir entre o cérebro e a ponta dos dedos. E esta sensação de bolha será ainda mais evidente se os auscultadores forem dotados da função de cancelamento ativo de ruído. O cenário pode repetir-se noutros contextos: na escola, numa biblioteca, em teletrabalho... Os auscultadores continuam a ser a chave de acesso à concentração.

Comparar auscultadores

Mas o uso destes equipamentos suscita preocupação. A Organização Mundial da Saúde prevê que, em 2050, cerca de 2,5 mil milhões de indivíduos tenham algum grau de perda auditiva. E mais de mil milhões de jovens adultos correm o risco de perdas permanentes e evitáveis, devido a práticas pouco seguras. Descubra, neste artigo, como manter a saúde e escolher os auscultadores mais confortáveis.

Que impacto tem o uso de auscultadores?

O risco depende de dois fatores: o volume sonoro e a exposição. De forma simples, os ouvidos funcionam como copos, que se vão enchendo de cada vez que o ruído ultrapassa o limiar de segurança, sendo que, quanto maior for a intensidade, mais depressa atingem o limite. À noite, durante o sono, os ouvidos podem relaxar num ambiente silencioso, e o copo vai esvaziando. É por isso que, por exemplo, depois de um concerto de rock, podemos experimentar uma perturbação de audição temporária, e até ouvir zumbidos, mas, com uma boa noite de sono, tudo volta ao normal. Já se o copo ficar totalmente cheio, ocorrem perdas irreversíveis. Significa que, se abusar um pouco, durante alguns dias, o efeito talvez nem seja percetível. Mas, se for acumulando excessos, a perda auditiva começa a ser notória.

O ruído torna-se incomodativo quando excede uns 80 dB(A), e pode causar perda auditiva permanente acima de 120 dB(A) num período muito curto ou, se a exposição for contínua, de 80 dB(A) durante mais de 40 horas numa semana.

Para saber se estes níveis são facilmente atingidos, a DECO PROteste estudou os hábitos de audição de música de três jovens que habitam na capital, e concluiu que, numa sala silenciosa ou até num ambiente de rua, não há necessidade de elevar o volume sonoro para patamares de risco. O principal problema reside em ambientes ruidosos. Por exemplo, em viagens de metro, face ao ruído de fundo na ordem dos 100 dB(A), há tendência para aumentar a intensidade da música nos auscultadores. Ainda assim, em viagens curtas, o risco não é tão grave.

Mas os jovens estudados são até bem-comportados. A verdade é que, segundo um estudo científico publicado em 2022, uma em cada quatro pessoas entre os 12 e os 34 anos está exposta a níveis de ruído perigosos através de dispositivos de escuta pessoais, com volume elevado nos smartphones. Além disso, quase metade dos indivíduos nesta faixa etária experimentam níveis de ruído prejudiciais em locais de diversão.

O aviso que os telemóveis fazem é fiável?

Em 2009, a Comissão Europeia estipulou que os níveis sonoros nos equipamentos de áudio individuais fossem regulados para 85 dB(A) e que não fosse permitido aumentá-los para lá de 100 dB(A). De acordo com a diretiva, se o volume for regulado para o máximo, deverá surgir uma mensagem a avisar sobre os riscos. Apesar das boas intenções, este aviso deve ser encarado apenas como uma indicação de que está a ser selecionado determinado volume sonoro, que pode conduzir a maior risco auditivo. Por duas razões. Primeiro, supõe que estão a ser usados os auscultadores de origem, partindo do princípio de que são fornecidos. Se forem trocados por outros mais sensíveis, quando surgir o aviso, o nível sonoro será bastante mais elevado. Depois, o risco não depende apenas do volume escolhido, mas ainda da relação entre a pressão sonora e o período de exposição. Volumes menos intensos podem ser suportados por períodos mais longos sem consequências, e os mais elevados apenas por prazos mais reduzidos, até que os ouvidos cheguem ao seu limite.

Existem apps gratuitas que ajudam a controlar os níveis de pressão sonora nos auscultadores. Um bom exemplo é a HearAngel, para Android e iOS. Pena é que ainda não tenha muitos modelos de auscultadores na sua base de dados: se usar um equipamento não listado, as medições serão menos precisas.

Que tipo de auscultadores oferecem a melhor qualidade sonora?

Muitos utilizadores preferem auscultadores supra e circum-aurais, que assentam à volta ou sobre as orelhas, por considerarem que têm qualidade sonora superior à dos pequenos auriculares e intra-auriculares. Mas não é por estes serem pequenos que emitem pior som: nos testes da organização de consumidores, é normal surgirem equipamentos à altura. Se estiverem bem adaptados à orelha, podem proporcionar algum isolamento e boa reprodução sonora.

A decisão depende dos gostos pessoais e de quanto quer gastar. As Escolhas Acertadas começam em cerca de 35 euros. Soluções não faltam: procure concentração, mas proteja os ouvidos. Explore o comparador de auscultadores.

Como escolher os auscultadores mais confortáveis?

Nos modelos que assentam à volta ou sobre as orelhas, o conforto depende do peso, da pressão na cabeça, do calor e do material das almofadas e da banda de fixação. Nos auriculares, o conforto e o som dependem da adaptação e da fixação. A maioria dos auriculares traz adaptadores. Em alguns true wireless da Samsung, com a app, pode testar se o encaixe é eficaz ou ver se deve usar adaptadores.

A função de cancelamento ativo de ruído ajuda a neutralizar os sons do ambiente, sendo mais eficaz contra tonalidades constantes e de baixas frequências, como as de motores. Mas pode provocar uma ligeira quebra da qualidade sonora, devido à redução do leque de frequências reproduzidas pelos auscultadores. A perda é menos percetível nos modelos mais recentes e de melhor desempenho.

Em teoria, quanto maior for a gama de frequências, maior será o leque de sonoridades, desde as muito graves até às mais agudas. Mas, nos testes, vê-se que nem sempre as frequências intermédias são representadas de forma linear (por exemplo, há sobreposições e atenuações indesejadas).

Os auscultadores que integram microfone podem ser usados em chamadas de vídeo ou de voz. Só tem de ligá-los ao computador, o que, normalmente, se faz por emparelhamento, através do protocolo bluetooth.

Alguns auscultadores podem ter peso e dimensões consideráveis, pelo que a possibilidade de os dobrar, para facilitar a arrumação, é uma mais-valia. Pode, assim, encaixá-los num saco de transporte mais pequeno (por vezes, fornecido de origem) ou na mala do portátil.

No episódio do POD Pensar, o podcast com ideias para consumir da DECO PROteste, dedicado ao tema do ruído, Aurélio Gomes modera o debate sobre as fronteiras entre ruído e silêncio toleráveis no mundo atual. Com ele estão Sandra Duarte Costa, médica especialista em Otorrinolaringologia e presidente da Associação Portuguesa de Otoneurologia; Manuel Faria, músico e estudioso, com particular curiosidade, das questões relacionadas com o ruído e o silêncio; e Sofia Lima, jurista da DECO PROteste.

Leia os artigos e oiça os outros episódios do podcast

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