E-Lar não compensa para todos. Saiba se vale a pena trocar os seus eletrodomésticos
Trocar alguns aparelhos a gás pelos equipamentos elétricos promovidos no programa E-lar pode sair mais caro aos consumidores, alerta a DECO PROteste. Veja as contas e confira se vale mesmo a pena usar o voucher.
O apoio E-lar vai voltar a abrir candidaturas em dezembro. Se as regras se mantiverem na próxima edição, o voucher permitirá trocar eletrodomésticos a gás por equipamentos elétricos, nomeadamente esquentadores por termoacumuladores. Os fogões poderão ser trocados por placas elétricas. E os fornos a gás podem dar lugar a fornos elétricos.
Mas nem todas as trocas compensam, de acordo com as contas da DECO PROteste. E em alguns casos, há custos acrescidos que não estão incluídos. Veja em que situações pode valer a pena aproveitar este apoio do Estado.
Esquentador ou termoacumulador?
O programa E-lar apenas abrange a troca de esquentadores a gás por termoacumuladores. Isso significa que os vouchers não podem ser usados para comprar bombas de calor, que são os equipamentos mais eficientes para aquecer água em casa e com melhor performance ambiental.
Se os consumidores quiserem beneficiar do programa E-lar na vertente de aquecimento de águas, estarão a trocar um esquentador por um aparelho que consome mais energia e que se revela mais dispendioso na fatura mensal. Não compensa para quem tem gás butano engarrafado (o mais comum em Portugal) e compensa menos ainda para quem tem gás natural.
Quanto custa aquecer água?
As contas feitas pela DECO PROteste para um agregado familiar de quatro pessoas revelam que a substituição do esquentador a gás por termoacumulador não compensa.
| Equipamento |
Consumo anual | Emissões CO2 | Custo anual |
|---|---|---|---|
| Esquentador a gás natural | 2502 kWh | 505 kg | 210 € |
| Esquentador a gás engarrafado | 2502 kWh | 425 kg | 499 € |
| Termoacumulador | 2797 kWh | 403 kg | 570 € |
| Bomba de calor | 731 kWh | 105 kg | 149 € |
Voucher também para termoacumuladoresde classe B ou superior
O programa E-lar previa que apenas fosse financiada a compra de equipamentos de classe A ou superior. No entanto, a DECO PROteste alertou que generalidade dos modelos desta classe energética disponíveis no mercado tinham capacidades até 30 litros, ou seja, são insuficiente para as necessidades quotidianas das famílias. Na sequência deste alerta, o Ministério do Ambiente fez saber que o voucher também podia ser usado na compra de termoacumuladores de classe energética B ou superior em capacidades superiores a 30 litros.
Em regra, as famílias necessitam de um termoacumulador com capacidade média de 40 litros por pessoa, o que significa que as famílias com duas pessoas precisam, no mínimo, de um termoacumulador com capacidade para 80 litros. Já para as famílias com quatro pessoas recomenda-se a aquisição de um termoacumulador com a capacidade mínima de 160 litros.
Os equipamentos de classe B têm, por norma, capacidades até 150 litros. Para famílias numerosas, requerem alguma disciplina na utilização, já que obrigam a desfasar os grandes consumos de água quente a diferentes horas do dia.
Fogão ou placa?
Nem sempre compensa substituir um fogão a gás por uma placa elétrica. Para quem tem um fogão a gás natural, apenas compensa a substituição por uma placa de indução. Já a troca por placa de vitrocerâmica revela-se mais dispendiosa no final de cada mês.
Em contrapartida, se o seu fogão funciona com gás de botija, vale a pena usar o voucher do programa E-lar e trocar o fogão por uma placa elétrica, seja de indução ou de vitrocerâmica. A maior poupança será conseguida com a placa de indução.
Quando compensa trocar o fogão a gás por placa elétrica?
As contas feitas pela DECO PROteste para uma família de quatro pessoas revelam o custo anual de uma utilização regular do fogão ou placa elétrica para cozer, fritar e grelhar alimentos.
| Equipamento |
Consumo anual | Emissões CO2 | Custo anual |
|---|---|---|---|
| Fogão com gás natural | 1477 kWh | 298 kg | 124 € |
| Fogão com gás engarrafado | 1477 kWh | 251 kg | 295 € |
| Placa de indução | 469 kWh | 68 kg | 96 € |
| Placa de vitrocerâmica | 710 kWh | 102 kg | 145 € |
Forno a gás ou elétrico?
Trocar um forno a gás por forno elétrico é uma opção económica em todos os cenários analisados pela DECO PROteste. A poupança mais relevante é conseguida por quem tem um forno a gás de botija, mas também os proprietários de fornos a gás natural ganham com a mudança para o equivalente elétrico.
Quanto custa usar o forno?
O forno elétrico é a opção mais económica e também aquela que apresenta menor impacto ambiental.
| Equipamento |
Consumo anual | Emissões CO2 | Custo anual |
|---|---|---|---|
| Forno a gás natural | 1387 kWh | 280 kg | 116 € |
| Forno a gás engarrafado | 1387 kWh | 236 kg | 277 € |
| Forno elétrico | 279 kWh | 40 kg | 57 € |
Tenha em conta que as estimativas apresentadas neste artigo pretendem ilustrar os custos associados à utilização dos diversos equipamentos para consumidores com tarifa regulada como referência, incluindo IVA. Face à existência de inúmeras tarifas, os custos ou poupanças poderão ser variáveis. Além disso, estes custos estão também dependentes da idade e da eficiência do equipamento a substituir.
A DECO PROteste sublinha, ainda, que a determinação das necessidades de água quente sanitária e das emissões de CO2 associadas à utilização dos aparelhos foi feita com base nos métodos de cálculo e fatores de conversão indicados no Manual Técnico para a Avaliação do Desempenho Energético dos Edifícios. As eficiências médias consideradas para esta estimativa resultam de testes realizados pela DECO PROteste nos últimos dez anos. No caso de equipamentos aos quais não tenham sido realizados testes pela DECO PROteste nem pelas suas organizações congéneres, foram utilizados valores de bibliografia (por exemplo, Manual Técnico do Sistema de Certificação Energético, Electric Power Research Institute ou Energy Star).
7 preocupações da DECO PROteste sobre programa e-Lar
Apesar de reconhecer que o Ministério do Ambiente clarificou algumas das dúvidas levantadas pela DECO PROteste e até fez alguns ajustes ao programa, a Defesa do Consumidor continua atenta à implementação do programa E-Lar e mantém alguns alertas para a próxima fase de candidaturas.
1. Concorrência. O regulamento do programa E-lar prevê que o voucher seja de utilização única. Os consumidores são obrigados a comprar todos os equipamentos ao mesmo fornecedor, o que levanta sérias dúvidas do ponto de vista concorrencial.
2. Limitação da liberdade de escolha. Os consumidores que não são elegíveis para a comparticipação de despesas de transporte e instalação dos equipamentos adquiridos parecem estar obrigados a contratar esses serviços na mesma loja em que compram os eletrodomésticos com o voucher. Para a DECO PROteste, esta é uma limitação da escolha do consumidor, já que este não pode selecionar o fornecedor mais barato ou mais rápido e fica obrigado a contratar esse serviço naquele fornecedor, independemente do seu preço e do seu tempo de execução. Se é o consumidor quem paga este serviço, deveria poder contratar livremente o seu prestador.
3. Promoção do consumo. Em vez de se investir na melhoria do isolamento das habitações para reduzir o consumo de energia, promove-se mais consumo de energia com o financiamento de eletrodomésticos que implicam, em alguns casos, um gasto energético superior.
4. Bombas de calor excluídas. Não se compreende porque o programa E-lar não promove a aquisição de bombas de calor, que são os equipamentos mais eficientes para aquecer água e com menor impacto ambiental. Ao invés, promove-se a compra de termoacumuladores, a solução mais ineficiente dos pontos de vista económico e ambiental.
5. Tamponamento de gás. A substituição de aparelhos a gás por equipamentos elétricos obriga a uma intervenção técnica para tamponar os pontos de saída de gás. O programa E-lar nada prevê sobre o custo e a responsabilidade desta intervenção, que põe em causa a segurança dos lares.
6. Instalação elétrica. Aumentar o número de equipamentos elétricos em casa pode não ser compatível com a instalação elétrica existente atualmente em muitas habitações. É necessário que os consumidores se certifiquem de que não terão despesas acrescidas com obras de fundo na instalação elétrica.
7. Potência contratada. Aumentar o número de equipamentos elétricos em casa, bem como a sua potência, pode obrigar os consumidores a terem de aumentar também a potência contratada junto do seu fornecedor de eletricidade. Os consumidores devem ter em conta este custo acrescido quando fizerem as contas para decidir sobre a eventual adesão ao programa. Lembre-se de que por cada nível de potência que subir irá pagar mais 2 euros por mês. E pode ser necessário subir mais do que um nível na potência contratada para suportar todos os eletrodomésticos da casa.
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