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E-Lar não compensa para todos. Saiba se vale a pena trocar os seus eletrodomésticos

Trocar alguns aparelhos a gás pelos equipamentos elétricos promovidos no programa E-lar pode sair mais caro aos consumidores, alerta a DECO PROteste. Veja as contas e confira se vale mesmo a pena usar o voucher.

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22 setembro 2025
mulher a olhar para o esquentador

iStock

A partir de 30 de setembro, os consumidores podem candidatar-se à atribuição de um voucher para a troca de eletrodomésticos a gás por equipamentos elétricos. Os esquentadores podem ser substituídos por termoacumuladores. Os fogões podem ser trocados por placas elétricas. E os fornos a gás podem dar lugar a fornos elétricos.

Mas só alguns equipamentos estão abrangidos pelo voucher do programa E-lar. E nem todas as trocas compensam, concluiu já a DECO PROteste.

Esquentador ou termoacumulador?

O programa E-lar apenas abrange a troca de esquentadores a gás por termoacumuladores. Isso significa que os vouchers não podem ser usados para comprar bombas de calor, que são os equipamentos mais eficientes para aquecer água em casa e com melhor performance ambiental.

Se os consumidores quiserem beneficiar do programa E-lar na vertente de aquecimento de águas, estarão a trocar um esquentador por um aparelho que consome mais energia e que se revela mais dispendioso na fatura mensal. Não compensa para quem tem gás butano engarrafado (o mais comum em Portugal) e compensa menos ainda para quem tem gás natural.

Quanto custa aquecer água?

As contas feitas pela DECO PROteste para um agregado familiar de quatro pessoas revelam que a substituição do esquentador a gás por termoacumulador não compensa.

Equipamento
Consumo anual Emissões CO2 Custo anual
Esquentador a gás natural 2502 kWh 505 kg 210 €
Esquentador a gás engarrafado 2502 kWh 425 kg 499 €
Termoacumulador 2797 kWh 403 kg 570 €
Bomba de calor 731 kWh 105 kg 149 €

Voucher só para termoacumuladores pequenos

O programa E-lar prevê que apenas seja financiada a compra de termoacumuladores de Classe A ou superior. No entanto, a generalidade dos modelos desta classe energética disponíveis no mercado tem capacidades até 30 litros, ou seja, é insuficiente para as necessidades quotidianas das famílias.

Em regra, as famílias necessitam de um termoacumulador com capacidade média de 40 litros por pessoa, o que significa que as famílias com duas pessoas precisam, no mínimo, de um termoacumulador com capacidade para 80 litros. Já para as famílias com quatro pessoas recomenda-se a aquisição de um termoacumulador com a capacidade mínima de 160 litros.

Fogão ou placa?

Nem sempre compensa substituir um fogão a gás por uma placa elétrica. Para quem tem um fogão a gás natural, apenas compensa a substituição por uma placa de indução. Já a troca por placa de vitrocerâmica revela-se mais dispendiosa no final de cada mês.

Em contrapartida, se o seu fogão funciona com gás de botija, vale a pena usar o voucher do programa E-lar e trocar o fogão por uma placa elétrica, seja de indução ou de vitrocerâmica. A maior poupança será conseguida com a placa de indução.

Quando compensa trocar o fogão a gás por placa elétrica?

As contas feitas pela DECO PROteste para uma família de quatro pessoas revelam o custo anual de uma utilização regular do fogão ou placa elétrica para cozer, fritar e grelhar alimentos.

Equipamento
Consumo anual Emissões CO2 Custo anual
Fogão com gás natural 1477 kWh 298 kg 124 €
Fogão com gás engarrafado 1477 kWh 251 kg 295 €
Placa de indução 469 kWh 68 kg 96 €
Placa de vitrocerâmica 710 kWh 102 kg 145 €

Forno a gás ou elétrico?

Trocar um forno a gás por forno elétrico é uma opção económica em todos os cenários analisados pela DECO PROteste. A poupança mais relevante é conseguida por quem tem um forno a gás de botija, mas também os proprietários de fornos a gás natural ganham com a mudança promovida pelo programa E-lar.

Quanto custa usar o forno?

O forno elétrico é a opção mais económica e também aquela que apresenta menor impacto ambiental.

Equipamento
Consumo anual Emissões CO2 Custo anual
Forno a gás natural 1387 kWh 280 kg 116 €
Forno a gás engarrafado 1387 kWh 236 kg 277 €
Forno elétrico 279 kWh 40 kg 57 €

7 preocupações da DECO PROteste sobre programa e-Lar

Ainda não é conhecida a cobertura geográfica da rede de fornecedores admitida no programa E-lar, pelo que ainda não é possível saber se está garantido o fácil acesso dos consumidores de todo o País às lojas aderentes. No entanto, há alertas que a DECO PROteste não pode deixar de avançar desde já.

1. Concorrência. O regulamento do programa E-lar prevê que o voucher seja de utilização única, o que parece obrigar os consumidores a comprar todos os equipamentos ao mesmo fornecedor, o que levanta sérias dúvidas do ponto de vista concorrencial.

2. Promoção do consumo. Em vez de se investir na melhoria do isolamento das habitações para reduzir o consumo de energia, promove-se mais consumo de energia com o financiamento de eletrodomésticos que implicam, em alguns casos, um gasto energético superior.

3. Bombas de calor excluídas. Não se compreende porque o programa E-lar não promove a aquisição de bombas de calor, que são os equipamentos mais eficientes para aquecer água e com menor impacto ambiental. Ao invés, promove-se a compra de termoacumuladores, a solução mais ineficiente dos pontos de vista económico e ambiental.

4. Termoacumuladores pequenos. É urgente esclarecer que termoacumuladores podem ser adquiridos com o voucher do programa E-lar. Ao que tudo indica, os modelos elegíveis não se adequam à utilização das famílias.

5. Tamponamento de gás. A substituição de aparelhos a gás por equipamentos elétricos obriga a uma intervenção técnica para tamponar os pontos de saída de gás. O programa E-lar nada prevê sobre o custo e a responsabilidade desta intervenção, que põe em causa a segurança dos lares.

6. Instalação elétrica. Aumentar o número de equipamentos elétricos em casa pode não ser compatível com a instalação elétrica existente atualmente em muitas habitações. É necessário que os consumidores se certifiquem de que não terão despesas acrescidas com obras de fundo na instalação elétrica.

7. Potência contratada. Aumentar o número de equipamentos elétricos em casa, bem como a sua potência, pode obrigar os consumidores a terem de aumentar também a potência contratada junto do seu fornecedor de eletricidade. Os consumidores devem ter em conta este custo acrescido quando fizerem as contas para decidir sobre a eventual adesão ao programa. Lembre-se de que por cada nível de potência que subir irá pagar mais 2 euros por mês. E pode ser necessário subir mais do que um nível na potência contratada para suportar todos os eletrodomésticos da casa.

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