Máscaras de argila: DECO PROteste deteta metais pesados em 16 produtos
A DECO PROteste testou 16 marcas de máscaras de argila e em todas encontrou um ou mais metais pesados, como chumbo, em concentrações superiores às recomendadas por uma entidade europeia de referência. A falta de lei que fixe limites deixa os consumidores sem garantias de segurança na utilização destes produtos.

A DECO PROteste, em conjunto com outras organizações de consumidores europeias, levou 16 máscaras de argila a laboratório à procura dos sete principais metais pesados detetados em cosméticos: antimónio, arsénio, cádmio, chumbo, crómio, mercúrio e níquel. Esta contaminação pode existir por a argila ser uma matéria natural, extraída de solos ricos em minerais, como magnésio, cálcio, ferro e cobre, mas que também podem conter metais pesados.
Os resultados do estudo da organização de consumidores requerem atenção, pois nenhum produto está livre de, pelo menos, um metal pesado em concentrações superiores às recomendadas por uma instituição alemã de referência. Conheça os resultados do teste a máscaras de argila e saiba quais são os potenciais efeitos na saúde humana dos metais pesados encontrados na composição destes produtos.
Falha na lei de cosméticos deixa consumidores num limbo
O regulamento dos produtos cosméticos em vigor apenas permite a presença de metais pesados nos mesmos se tal for tecnicamente inevitável (por exemplo, devido à sua ocorrência natural, como é o caso da argila) durante as boas práticas de fabrico e se os produtos forem seguros para a saúde humana. No entanto, não define limites legais.
Assim, para interpretar os resultados dos testes laboratoriais a DECO PROteste utilizou como referência a orientação técnica da BVL (a autoridade alemã de proteção do consumidor e segurança alimentar), que determina os níveis de metais pesados em produtos cosméticos considerados tecnicamente inevitáveis. Das 16 máscaras de argila analisadas, nenhuma respeita as recomendações da BVL para um ou mais metais pesados.

A análise às máscaras de argila foi conduzida por um laboratório independente e acreditado. O método utilizado está de acordo com a ISO 21392:2021 Cosmetics – Analytical methods e é conhecido como espectrometria de massa com plasma indutivamente acoplado (ICP-MS). A seguir pode ver os resultados completos do estudo para os sete metais pesados.
Acesso exclusivo a subscritores!
Adira ao plano Subscritor para aceder a conteúdos exclusivos e a todos os serviços. Como subscritor, dispõe de um call center com 50 juristas preparados para responder às suas questões, descontos exclusivos através do cartão DECO PROteste Descontos, e acesso a estudos independentes.
A DECO PROteste, como sempre faz nestas situações, deu conhecimento dos resultados do estudo ao Infarmed, a entidade responsável pela fiscalização do setor dos produtos cosméticos em Portugal. Em resposta, o Infarmed respondeu que iria "proceder a atividades de verificação da situação junto das pessoas responsáveis sediadas em Portugal, no âmbito das suas competências de fiscalização e controlo do mercado".
DECO PROteste exige limites claros para a presença de metais pesados nos cosméticos
A organização de defesa dos consumidores reconhece que ultrapassar um valor de referência não significa obrigatoriamente que exista risco para a saúde dos utilizadores. Além disso, como se trata de produtos que são removidos após aplicação, o contacto com a pele dá-se apenas por alguns minutos. Defende, contudo, que os fabricantes podem fazer mais para reduzir, para níveis tecnicamente inevitáveis já estabelecidos – por exemplo, pela BVL –, a quantidade de substâncias potencialmente nocivas nos produtos que fabricam.
Segundo o Infarmed, "os limites de metais pesados tendencialmente descem fruto da evolução das metodologias analíticas, das matérias-primas utilizadas, mas também da categoria e tipo de produto". É com base nestes aspetos que se fundamenta "a não existência de limites harmonizados a nível europeu para a presença de vestígios de metais pesados em produtos cosméticos", esclarece aquela entidade. A conformidade dos produtos deverá, por isso, "ser determinada caso a caso, com base numa avaliação de risco robusta e devidamente fundamentada por parte da pessoa responsável", acrescenta o Infarmed.
A DECO PROteste, por seu lado, considera imperativo que a legislação estabeleça limites claros e harmonizados sobre o que são vestígios tecnicamente inevitáveis de metais pesados nos produtos cosméticos, por uma questão de reforço do controlo da qualidade das matérias-primas e dos produtos acabados.
A forma como o regulamento está redigido atualmente permite múltiplas interpretações e a aplicação de diferentes concentrações orientativas (como as do Canadá e dos Estados Unidos da América, por exemplo, menos restritivas do que as da BVL), o que, no entendimento da DECO PROteste, cria lacunas na proteção dos utilizadores. Esta situação pode resultar na exposição desnecessária a riscos associados à presença de metais pesados potencialmente nocivos.
Quais os potenciais riscos dos metais pesados?
Alguns metais, como o magnésio, o ferro ou o zinco, são, nas doses adequadas, essenciais ao bom funcionamento do organismo. Outros, como o chumbo, o cádmio, o mercúrio ou o arsénio, denominados metais pesados, são tóxicos.
A exposição a metais pesados tem uma ampla variedade de efeitos nocivos.
- Antimónio: irritante para os olhos e a pele, com vermelhidão e erupções por contacto frequente.
- Arsénio: cancerígeno, potenciais efeitos cardiovasculares e dermatológicos.
- Cádmio: cancerígeno, potenciais efeitos nos ossos e tóxico para os rins.
- Chumbo: efeitos no desenvolvimento infantil, tóxico para o sistema nervoso e os rins.
- Crómio: dermatite de contacto, formas hexavalentes são cancerígenas.
- Mercúrio: dermatite de contacto, tóxico para o sistema nervoso e os rins.
- Níquel: dermatite de contacto.
A exposição a metais pesados pode manifestar-se por sintomas muito diferentes, como mal-estar geral, comichão e outros tipos de eczema, etc. O risco é maior em crianças pequenas, peles sensibilizadas ou lesionadas, e no caso de ingestão acidental (por exemplo, um batom).
Regra geral, as consequências para a saúde decorrem de uma exposição crónica ou cumulativa. Significa isto que é pouco provável que ocorram efeitos secundários após aplicar uma máscara de argila. É a utilização continuada que pode representar um problema, sobretudo se tivermos em consideração outras fontes de metais pesados a que estamos expostos, como a alimentação (caso do peixe contaminado por mercúrio, por exemplo).
Quais são os benefícios da argila para a saúde?
A argila é usada, há séculos, para melhorar a saúde da pele e do cabelo. Entre os benefícios atribuídos à utilização de argila como produto de beleza encontram-se absorver o excesso de oleosidade e prevenir o acne, ou, por outro lado, tratar a pele seca.
Embora grande parte da evidência que sustenta o uso de máscaras de argila seja baseada em testemunhos e experiências individuais, vários estudos indicam que estas podem ser eficazes.
O conteúdo deste artigo pode ser reproduzido para fins não-comerciais com o consentimento expresso da DECO PROTeste, com indicação da fonte e ligação para esta página. Ver Termos e Condições. |
Exclusivo
Para continuar, deve entrar no site ou criar uma conta .