Orçamento do Estado: o que pode mudar em 2026
A proposta de Orçamento do Estado para 2026 já foi apresentada. Entre as principais medidas previstas estão o aumento do salário mínimo nacional, uma descida de 0,3% do segundo ao quinto escalão do IRS e uma subida no complemento solidário para idosos. Conheça algumas das propostas que podem entrar em vigor em 2026.

A proposta de Orçamento do Estado para 2026 foi esta quinta-feira (9 de outubro) apresentada pelo Governo.
As medidas ainda têm de ser discutidas pelos partidos na Assembleia da República ao longo das próximas semanas e a votação final global está agendada para 27 de novembro. No entanto, grande parte das propostas anunciadas poderá avançar.
Saiba o que pode mudar já a partir de janeiro do próximo ano.
Salário mínimo nacional sobe para 920 euros
Em janeiro de 2026, o salário mínimo nacional deverá passar a ser de 920 euros, 50 euros acima do atual valor. Está ainda previsto aumentar progressivamente a remuneração mínima mensal garantida até 2029, até que atinja os 1100 euros.
O Governo compromete-se também a atualizar o valor do mínimo de existência no próximo ano para que os trabalhadores que auferem o salário mínimo nacional continuem isentos de IRS. Assim, este deverá ser fixado no maior valor entre 12 880 euros e 1,5x14xIAS. Contudo, não se sabe, para já, de quanto será o indexante dos apoios sociais (IAS) de 2026. Regra geral, este valor é publicado em janeiro de cada ano e depende dos valores do PIB e da inflação média que são apurados pelo Instituto Nacional de Estatística.
IAS vai ditar aumentos das prestações sociais
Sem a publicação do valor do indexante dos apoios sociais não se sabe ao certo de quanto serão os aumentos nas prestações da Segurança Social do próximo ano, já que o IAS é o valor de referência utilizado para apurar as várias prestações sociais, nomeadamente, subsídios e pensões. Contudo, o relatório do Orçamento do Estado para 2026 estima já que a despesa com prestações sociais suba por via do aumento de apoios como o subsídio de apoio ao cuidador informal, as prestações de parentalidade, o complemento solidário para idosos, a prestação social para a inclusão, o subsídio por doença, o abono de família ou o subsídio de desemprego.
Descida de 0,3% nas taxas de IRS do segundo ao quinto escalão
Além da atualização dos escalões de IRS em 3,51%, que resulta da atualização anual automática que já tinha sido anunciada, está também prevista uma redução de 0,3 pontos percentuais nas taxas marginais do IRS aplicáveis do segundo ao quinto escalão. Estima-se que esta redução tenha um custo de 110 milhões de euros.
Assim, se a proposta for aprovada, em 2026, as taxas de IRS vão passar a ser as seguintes.
Escalão | Rendimento coletável | Taxa normal em 2026 | Taxa média em 2026 |
---|---|---|---|
1 | Até 8342 € | 12,50 | 12,500 |
2 | mais de 8342 € - 12 587 € | 15,70 | 13,579 |
3 | mais de 12 587 € - 17 838 € |
21,20 | 15,823 |
4 | mais de 17 838 € - 23 089 € | 24,10 | 17,705 |
5 | mais de 23 089 € - 29 397 € | 31,10 | 20,579 |
6 | mais de 29 397 € - 43 090 € | 34,90 | 25,130 |
7 | mais de 43 090 € - 46 566 € |
43,10 | 26,472 |
8 | mais de 46 566 € - 86 634 € | 44,60 | 34,856 |
9 | Superior a 86 634 € | 48,00 | - |
Estas descidas estarão refletidas nas tabelas de retenção na fonte que vão entrar em vigor em janeiro de 2026.
IRS Jovem continua, mas não se sabe se será acumulável com prémio salarial
Em 2026, mantém-se a isenção total ou parcial sobre os rendimentos do trabalho para jovens até aos 35 anos durante os primeiros dez anos de trabalho. No entanto, a proposta de Orçamento do Estado para o próximo ano continua sem esclarecer se o benefício fiscal dado pelo IRS Jovem é acumulável com o prémio salarial para recém-diplomados.
Recorde-se que, recentemente, depois de semanas de atraso no pagamento do prémio salarial, o Governo anunciou que o reembolso seria pago até ao final de setembro. No entanto, não disponibilizou o formulário para novos pedidos, nem explicou se esta medida vai continuar disponível para os jovens que acabem as suas licenciaturas ou mestrados. Ao que tudo indica, a partir de 2026 poderão existir novas regras para o prémio salarial, que podem passar por obrigar os jovens a escolher entre um dos dois benefícios, mas a proposta de Orçamento do Estado do próximo ano não traz qualquer referência à medida.
Complemento solidário para idosos aumenta 40 euros
Em 2026, o valor de referência do complemento solidário para idosos deverá aumentar 40 euros, dos atuais 630,67 euros para 670,67 euros. O programa do Governo prevê que esta prestação social atinja os 870 euros em 2029.
O complemento solidário para idosos é um apoio social pago mensalmente pela Segurança Social a pessoas com idade igual ou superior a 66 anos e 7 meses com rendimentos inferiores ou iguais a 7568 euros por ano.
Deduções para rendas em IRS sobem
Embora esta medida já tivesse sido anunciada em conjunto com várias outras propostas para a área da habitação, o aumento em 2026 do teto máximo das deduções das rendas em IRS deverá ter impacto no imposto a pagar em 2027. Assim, no próximo ano, este valor deverá passar para 900 euros e, em 2027, para 1000 euros, valores acima do que estava já previsto para os próximos anos, de 750 euros e 800 euros, respetivamente. O limite da dedução deverá manter-se nos 15%, ou seja, os inquilinos continuam a poder deduzir 15% do total de rendas pagas ao longo do ano, com o novo limite de 900 euros.
Esta é uma medida que a DECO PROteste já tinha considerado positiva, mas, ainda, insuficiente. A organização de defesa do consumidor continua a defender que a dedução dos juros dos créditos à habitação contratados ou transferidos para todos os consumidores também teria um forte impacto no orçamento familiar dos contribuintes. Ambas as medidas devidamente conjugadas, aliviariam o peso da habitação na carteira de quem vive em casa arrendada e de quem vive em casa própria comprada através de crédito à habitação. A possibilidade de deduzir os juros do crédito à habitação, cujo fim foi anunciado como transitório, continua a ser ignorada.
Regular o arrendamento habitacional
No relatório do Orçamento do Estado para o próximo ano, o Governo assume ainda o compromisso de "reforçar a segurança e estabilidade do mercado de arrendamento por via legislativa, bem como a proteção a famílias em situação de especial vulnerabilidade, nomeadamente através do aumento no valor médio do apoio mensal por agregado".
Embora o documento não clarifique de que forma o Executivo pretende fazer isto, refere que se pretende "promover a oferta de arrendamento acessível e seguro, com o aumento do número de contratos celebrados ao abrigo deste regime".
Reforçar a oferta de habitação pública
No relatório do Orçamento do Estado para 2026, o Governo prevê, ainda, aumentar a oferta de habitação pública em 2026, prevendo um investimento de 930 milhões de euros em programas públicos de promoção e reabilitação, com vista a abranger 22 mil pessoas. A mobilização de património público (imóveis e terrenos) para projetos habitacionais também está nos objetivos.
Escalões do IMT atualizados
O documento apresentado pelo Governo prevê também uma subida de 1,96% nos escalões do imposto municipal sobre as transmissões onerosas de imóveis (IMT) na aquisição de imóveis para habitação.
Com esta atualização, a isenção de pagamento de IMT na compra de habitação para imóveis do Continente sobe até ao valor de 106 346 euros, mais 2085 euros face ao atual limiar de isenção. Esta era uma das medidas reivindicadas pela DECO PROteste para o Orçamento de Estado deste ano, de forma a adequar os escalões do IMT aos preços atualmente praticados no mercado imobiliário. Ainda assim, para a organização de defesa do consumidor, este valor continua a ser excessivamente baixo para os atuais preços dos imóveis.
Isenção no IMT para jovens sobe até 330 539 mil euros
A proposta de Orçamento do Estado para o próximo ano altera ainda os valores de referência para a isenção de IMT, de Imposto do Selo e de emolumentos na compra da primeira habitação para os jovens até aos 35 anos, alargando o valor máximo dos imóveis abrangidos com uma subida de 2 por cento. Assim, se a proposta que consta do Orçamento do Estado para o próximo ano avançar, a isenção total de IMT e de Imposto do Selo será atribuída a imóveis até 330 539 mil euros.
Por outro lado, para casas compradas por um valor igual ou inferior a 660 982 euros, continuará a existir direito à isenção, mas apenas na parte que não exceda os 330 539 euros. Ou seja, a isenção será parcial entre os 330 539 e os 660 982 euros.
Prémios de produtividade vão continuar isentos de IRS
Os prémios de produtividade, desempenho, participação nos lucros ou gratificações de balanço pagos pelas empresas aos trabalhadores vão continuar parcialmente isentos de IRS e de TSU, uma medida que tinha sido introduzida pelo Orçamento do Estado para 2025.
Trata-se de uma isenção até ao limite de 6% da retribuição-base anual do trabalhador. Esta isenção é limitada às empresas que tenham aumentado os salários em, pelo menos, 4,7% no ano anterior.
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