9 mitos sobre suplementos alimentares: o quiz e o veredicto da DECO PROteste
Cerca de seis em cada dez portugueses acreditam na maioria dos mitos que circulam sobre suplementos alimentares. Tal pode levar a tomar decisões com potenciais riscos para a saúde. Teste os seus conhecimentos e siga as recomendações da DECO PROteste antes de tomar.
Metade da população adulta tomou suplementos alimentares nos últimos dois anos. Por ano, os portugueses pagam 120 euros em média na sua compra. Os dados resultam de um inquérito da DECO PROteste, feito em maio de 2025, no qual participaram cerca de mil consumidores.
Em média, falharam em 6 a 7 das 9 perguntas deste quiz. Isso mostra que ainda há muita desinformação sobre o tema. Teste agora os seus conhecimentos. Veja quantos inquiridos acertaram em cada questão e descubra se também acredita em alguns mitos sobre suplementos alimentares.
No final, leia os esclarecimentos baseados em informação científica e saiba o que é verdade e o que é mito.
Se iniciar algum suplemento alimentar, respeite sempre a toma, a dose diária recomendada e nunca consuma de forma prolongada. Em caso de doença crónica, gravidez, amamentação ou quando se tomam outros medicamentos, é importante avaliar com um profissional de saúde antes de iniciar suplementos alimentares.
O que já se sabe e ainda falta provar sobre suplementos alimentares
Estar bem informado sobre suplementos alimentares é o primeiro passo para um uso consciente. Veja as explicações mais detalhadas sobre as 9 questões deste quiz.
1. As alegações promovidas nos suplementos à base de plantas foram validadas e aprovadas pelas autoridades de saúde.
FALSO - 13% acertaram
Na União Europeia, as alegações de saúde devem ser verdadeiras, basear-se em critérios científicos e ter sido previamente autorizadas pela Comissão Europeia.
Mas há uma exceção: os suplementos alimentares à base de plantas. Muitos benefícios para a saúde associados a ingredientes vegetais — como ginseng ou gingko biloba — ainda aguardam validação pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) e aprovação pela Comissão Europeia (CE). Contudo, os fabricantes podem promovê-los nas caixas e na publicidade dos seus produtos.
Esta situação é inadmissível, critica a DECO PROteste: significa que as mensagens nas embalagens podem induzir o consumidor em erro.
Nenhum suplemento alimentar — seja ou não "natural" — pode afirmar que previne, trata ou cura doenças ou os seus sintomas.
2. Os suplementos proteicos são necessários para satisfazer as nossas necessidades proteicas.
FALSO - 21% acertaram
Estes produtos são normalmente dirigidos a atletas ou a quem pratica exercício físico intenso. São chamados de “alimentos para desportistas” e, na maior parte das situações, são enquadrados como géneros alimentícios comuns e não como suplementos alimentares.
Quem pratica exercício físico deve fazer um consumo adequado de proteína. Ajuda a reparar e substituir as proteínas danificadas pelo exercício físico nos músculos, ossos, tendões e ligamentos. No entanto, na maioria dos casos, a alimentação normal já fornece proteína suficiente.
As necessidades proteicas devem ser satisfeitas com alimentos “inteiros”, ou seja, alimentos onde os seus nutrientes se encontram naturalmente presentes. Por isso, a suplementação só deve servir para suprir necessidades nutricionais que não podem ser obtidas através dos alimentos, nomeadamente por uma questão de conveniência ou tolerância digestiva (digestão mais rápida), e não como regra.
3. Os alimentos enriquecidos fazem sempre bem à saúde.
FALSO - 27% acertaram
Quem segue uma alimentação equilibrada não precisa de suplementos nem de alimentos enriquecidos (por exemplo, iogurtes com proteína, leite com cálcio e vitamina D ou sumos com vitamina C).
4. Os suplementos alimentares ajudam a perder peso.
FALSO - 29% acertaram
Até à data, nenhum dos muitos ingredientes presentes nos suplementos alimentares foi cientificamente comprovado como eficaz para perder peso.
Mesmo a berberina — muito popular nas redes sociais e aclamado, por alguns, de "Ozempic natural" — não tem eficácia comprovada e pode causar efeitos adversos como hipoglicemia, bradicardia ou interações potencialmente graves com medicamentos. A EFSA ainda está a avaliar os riscos em suplementos alimentares.
Veja os conselhos para perder peso de forma saudável e eficaz.
5. Todos os suplementos alimentares são seguros/testados relativamente à sua segurança pelas autoridades de saúde.
FALSO - 38% acertaram
Os suplementos alimentares têm de ser notificados à Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) — a autoridade reguladora destes produtos — antes de serem colocados à venda no País.
Isso é válido mesmo para suplementos que já estejam a ser comercializados noutro Estado-Membro da União Europeia. Mas a DGAV não testa os produtos antes de serem colocados no mercado.
O Sistema de Alerta Rápido da UE (RASFF) já recebeu notificações de vários suplementos alimentares com substâncias não autorizadas, doses excessivas ou contaminação.
Compete ainda à DGAV assegurar que as reações adversas são registadas e têm o devido seguimento. Para o efeito, disponibiliza, no seu portal, um formulário para notificação de reações adversas. Depois de preenchido, deve ser enviado para o endereço de correio eletrónico DSNA@dgav.pt.
6. Os suplementos alimentares à base de plantas podem ter efeitos adversos.
VERDADEIRO - 42% acertaram
Muitos ingredientes botânicos podem causar reações adversas, bem como interagir com medicamentos, outros suplementos alimentares e/ou alimentos. Lembre-se: natural não é sinónimo de seguro.
Há vários exemplos de interações já documentadas.
- Alho: pode interagir com outros antiagregantes plaquetares e anticoagulantes orais, aumentando o risco de hemorragias.
- Aloé vera: pode interagir com digoxina, medicamentos antiarrítmicos, diuréticos, corticosteroides de uso tópico, entre outros.
- Hipericão: interage com anticoncecionais orais, anticoagulantes, antidepressivos, antirretrovirais (tratamento VIH) e imunossupressores.
- Arroz vermelho fermentado: interage com estatinas, ciclosporina, claritromicina e inibidores da protéase (tratamento VIH).
- Ginkgo: pode interagir com ácido valpróico, alprazolam, anestésicos, anti-hipertensores, ferro, insulina, omeprazol e paracetamol. Pode também interagir com antiagregantes plaquetares e varfarina.
- Ginseng (Panax ginseng Meyer): o uso continuado pode conduzir a interações com anticoncetivos orais e a vacina da gripe, digoxina, furosemida, insulina e antidiabéticos orais, varfarina e diuréticos.
Recomendação da DECO PROteste: informe-se sobre os riscos e refira sempre ao médico tudo o que está a tomar. Se toma medicamentos habitualmente, questione o médico ou farmacêutico antes de iniciar qualquer suplemento alimentar. Saiba mais sobre interações de suplementos com medicamentos e como evitar riscos.
7. Os suplementos alimentares apenas são constituídos por ingredientes naturais (plantas, vitaminas, etc.).
FALSO - 45% acertaram
Muitos ingredientes, mesmo que estejam naturalmente presentes na natureza, são produzidos sinteticamente.
8. Quanto mais suplementos alimentares com vitaminas e minerais tomar, melhor.
FALSO - 56% acertaram
Uma dieta variada e equilibrada é suficiente para garantir todos os nutrientes.
Algumas vitaminas ou minerais em excesso (A, D, E e K, ferro, zinco, cobre...) podem causar efeitos adversos.
O facto de serem géneros alimentícios vendidos de forma livre não significa que todas as pessoas os possam ou devem tomar.
9. Os suplementos alimentares podem causar efeitos secundários.
VERDADEIRO - 66% acertaram
Apesar de serem considerados géneros alimentícios, os suplementos alimentares não estão isentos de riscos.
- Podem provocar efeitos adversos, sobretudo quando consumidos em doses elevadas, combinados entre si ou com medicamentos.
- Alguns ingredientes podem causar reações indesejáveis, interferir com tratamentos farmacológicos ou agravar determinadas condições de saúde.
- Podem também causar complicações antes de cirurgias.
Consulte sempre um profissional de saúde antes de iniciar a toma de suplementos alimentares.
O essencial a reter sobre suplementos alimentares
Os suplementos alimentares são quase sempre desnecessários e não devem ser tomados indiscriminadamente nem de forma prolongada.
Antes de tomar estes produtos, seja para reforçar o aporte de vitaminas ou minerais, seja para dormir melhor, informe-se bem. É importante obter aconselhamento de um profissional de saúde. Nenhum suplemento alimentar substitui uma alimentação equilibrada e variada.
Questões frequentes
Veja a resposta a dúvidas frequentes dos consumidores sobre suplementos alimentares.
Os suplementos alimentares são testados como os medicamentos?
Não. Os suplementos alimentares não passam pelos mesmos controlos de qualidade e testes de eficácia.
Já os medicamentos, antes de entrarem no mercado, passam por um processo criterioso de avaliação, que culmina na Autorização de Introdução no Mercado (AIM).
Este processo garante que o medicamento é seguro, eficaz e de qualidade, com base em evidência científica sólida obtida através de estudos laboratoriais e ensaios clínicos. As autoridades competentes analisam detalhadamente todos os dados relativos à substância ativa, formulação, fabrico e resultados dos testes, assegurando que os benefícios do medicamento superam os seus riscos antes de ser disponibilizado aos doentes.
Resumindo: apesar de os suplementos alimentares e os medicamentos poderem conter substâncias iguais (melatonina, por exemplo), não são avaliados com o mesmo rigor.
Suplemento alimentar, alimento enriquecido ou medicamento: qual a diferença?
Os suplementos alimentares são géneros alimentícios (e não medicamentos) com efeito nutricional ou fisiológico. Não visam prevenir, tratar ou curar doenças, mas complementar ou suplementar o regime alimentar normal, com vitaminas, minerais ou outras substâncias. Podem ser disponibilizados fora das farmácias e são vendidos em unidades de medida reduzida (cápsulas ou comprimidos, por exemplo).
Os produtos enriquecidos (ou fortificados) são alimentos comuns com nutrientes adicionados (por exemplo, barras ou pudins proteicos, leite com reforço de cálcio ou vitamina D, sumo com vitamina C).
Os medicamentos, por sua vez, são compostos por uma substância (ou combinação de substâncias) e destinam-se a prevenir e tratar e curar doenças, ou aliviar os seus sintomas. Visam ainda restaurar, corrigir ou modificar funções fisiológicas. As vitaminas e os minerais da classe dos medicamentos destinam-se a prevenir ou curar doenças (ferro para tratar anemia, por exemplo). Exigem aprovação e controlos das autoridades de saúde.
Como reportar efeitos adversos de suplementos alimentares?
Em Portugal, a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) é a autoridade competente responsável por definir, executar e avaliar as regras relativas à notificação dos suplementos alimentares, no momento da sua comercialização, bem como por estabelecer as obrigações dos operadores económicos nesta área.
Já a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) é a entidade responsável pela fiscalização do cumprimento das normas aplicáveis aos suplementos alimentares.
Apesar da inexistência de um sistema europeu de nutrivigilância, se tiver uma reação adversa e suspeitar que possa estar relacionada com o consumo de suplementos alimentares, preencha o formulário para notificação de reações adversas e envie para o endereço de correio eletrónico DSNA@dgav.pt.
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