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Suplementos com arroz vermelho fermentado ajudam a manter os níveis de colesterol?

Usados por muitos consumidores para controlar o colesterol, os suplementos alimentares com arroz vermelho fermentado disponíveis em Portugal não têm eficácia comprovada e podem causar reações adversas graves. Descubra o que diz a ciência sobre o assunto e quem não deve mesmo tomá-los. 

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14 novembro 2024
Arroz vermelho e colher de pau

iStock

Os produtos que incluem arroz vermelho fermentado podem apresentar-se ao consumidor sob a forma de cápsulas ou comprimidos e estão classificados como suplementos alimentares. Não são medicamentos. Por isso, não lhes podem ser atribuídas propriedades curativas, nem preventivas. Até agosto de 2024, podiam alegar que contribuíam para a manutenção dos níveis normais de colesterol. Esta alegação de saúde, entretanto, foi proibida, porque não se pode descartar a possibilidade de ocorrerem reações adversas graves durante o uso. Saiba porquê, qual a real utilidade destes produtos e que riscos correm os utilizadores.

Qual a relação entre o arroz vermelho fermentado e o colesterol?

O arroz vermelho usado nos suplementos alimentares obtém-se através da fermentação de arroz branco por leveduras, em particular pelo fungo Monascus purpureus. Durante o processo, formam-se diversas substâncias, entre as quais pigmentos vermelhos, que dão cor ao produto, e monacolina K, que inibe a produção de colesterol no fígado. Esta é a razão para que os suplementos de arroz vermelho fermentado surjam como hipótese para o controlo daquele fator de risco para as doenças cardiovasculares. Contudo, não há evidência científica de que, na quantidade permitida por lei, a dita monacolina reduza ou ajude a manter o nível de colesterol LDL (low-density lipoprotein) – também conhecido por "mau" colesterol – no sangue.

Os suplementos com monacolina K do arroz vermelho fermentado podem indicar que ajudam a manter o nível normal de colesterol no sangue?

Não. Atualmente, os produtos com monacolina K não podem alegar qualquer efeito na saúde, mas nem sempre assim foi. Em 2011, a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) considerou provada a relação entre o consumo de monacolina K do arroz vermelho fermentado e a manutenção de níveis normais de colesterol LDL no sangue e autorizou uma alegação de saúde que os suplementos podiam utilizar: “A monacolina K do arroz vermelho fermentado contribui para a manutenção de níveis normais de colesterol no sangue.” 

Na altura, as decisões foram fundamentadas na análise da ingestão diária de 10 miligramas por dia. Entretanto, surgiram dados que indicam que esta quantidade pode ter riscos para a saúde, e ainda não foi possível estabelecer limites para uma ingestão segura. Além de vários relatórios de casos clínicos de efeitos adversos, a EFSA registou ainda relatos individuais de reações graves na sequência da toma de baixas quantidades, como 3 miligramas diários. Daí que a legislação europeia tenha proibido a utilização de 3 miligramas ou mais de monacolinas de arroz vermelho nos suplementos alimentares, bem como da alegação de saúde que vigorava.

Quais os riscos para o consumidor?

A monacolina K é quimicamente idêntica à lovastatina, a substância ativa de medicamentos sujeitos a receita médica (estatinas) que reduzem o colesterol. Por isso, a EFSA considera que os efeitos adversos do arroz vermelho fermentado são semelhantes aos dos medicamentos. Incluem, por exemplo, problemas musculoesqueléticos, como a rabdomiólise, uma síndrome que decorre da destruição das células, e no tecido conjuntivo. Podem ser afetados, ainda, o fígado, o sistema nervoso, o trato gastrointestinal, a pele e o tecido subcutâneo. Teoricamente, também as contraindicações e as interações são idênticas às da lovastatina.

Os doentes com insuficiência renal ou hepática e os que tomam ciclosporina, claritromicina e inibidores da protéase (tratamento da infeção por VIH), as grávidas e as mulheres que estão a amamentar não devem tomar suplementos alimentares com arroz vermelho. Por precaução, estes suplementos também não são recomendados para menores e pessoas com mais de 70 anos.

O arroz vermelho fermentado é uma alternativa natural às estatinas?

Não. Os suplementos alimentares, como o nome indica, destinam-se a colmatar carências nutricionais. Quando muito, podem promover o bom funcionamento do organismo. Não podem alegar propriedades de prevenção, tratamento ou cura de doenças e seus sintomas, nem apresentar atividade terapêutica. No caso do arroz vermelho fermentado, não há evidencias científicas de que doses de monacolina K inferiores a 3 miligramas por dia contribuam para manter ou reduzir os níveis de colesterol LDL. Mais: natural não é sinónimo de isento de risco. Por outro lado, os suplementos alimentares não passam por um controlo de qualidade tão rigoroso como os medicamentos, nem são sujeitos a ensaios clínicos que demonstrem a sua eficácia e segurança. Estes produtos são de venda livre, sem preço regulado, sendo várias vezes mais dispendiosos do que as estatinas habitualmente prescritas pelo médico e comparticipadas pelo Serviço de Nacional de Saúde. O melhor é mesmo fazer a medicação prescrita pelo médico.

Cuidados a ter no consumo de suplementos de arroz vermelho fermentado

As dúvidas que pairam sobre estes suplementos alimentares impõem uma atenção redobrada, nomeadamente, à informação do rótulo. Além da quantidade de monacolinas por porção de produto, a rotulagem deve incluir o número máximo de porções a consumir por dia e uma advertência para não consumir uma quantidade diária de monacolinas igual ou superior a 3 miligramas. Deverá ainda ter os seguintes avisos:

  • “Não deve ser consumido por mulheres grávidas ou lactantes, crianças com menos de 18 anos de idade e adultos com mais de 70 anos de idade”;
  • “Consultar um médico sobre o consumo deste produto em caso de problemas de saúde”;
  • “Não deve ser consumido se estiver a tomar medicamentos para reduzir o colesterol”;
  • “Não deve ser consumido se já consumir outros produtos que contenham arroz vermelho fermentado”.

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