Metade dos portugueses toma suplementos, mas desconhece os riscos e eficácia
Um em cada dois portugueses tomou suplementos alimentares nos últimos dois anos, mas muitos não estão devidamente informados sobre a sua segurança e eficácia, conclui-se de um inquérito recente realizado pela DECO PROteste. A organização exige mais transparência e controlo das autoridades, para a proteção dos consumidores.
Segundo dados de mercado, a venda de suplementos alimentares não para de aumentar: o consumo mais do que duplicou de 2013 a 2023 no nosso país. Só este ano, até setembro de 2025, as farmácias venderam mais de onze milhões de caixas e faturaram 223 milhões de euros com estes produtos.
Num inquérito recente da DECO PROteste, metade da população entre 18 e 74 anos afirma ter consumido suplementos alimentares nos últimos dois anos, mas a maioria desconhece se estes produtos são eficazes ou seguros. Em 9 questões sobre este tema, os consumidores falharam em 6 ou 7: isso mostra que há muita desinformação e que circulam muitos mitos e falsas crenças sobre suplementos alimentares.
A organização de defesa dos consumidores informa que estes produtos não têm de comprovar que são eficazes, não passam por controlos apertados de segurança e que não estão isentos de riscos. Muitas alegações de saúde publicitadas pelos fabricantes não estão comprovadas e são potencialmente enganosas. Exige, por isso, mais controlo das autoridades.
Retrato de quem consome suplementos alimentares
- Metade da população com idades entre 18 e 74 anos (51%) tomou suplementos nos últimos dois anos. Consomem, com frequência, dois diferentes.
- As vitaminas, as proteínas e os minerais estão no topo das suas preferências: 9 em cada 10 escolheram vitaminas (como C, D ou do complexo B), seguidas de proteínas (48%) e minerais (41%), como cálcio, ferro ou zinco.
- Os ácidos gordos essenciais (ómega-3 e óleo de peixe) e os probióticos, usados principalmente para regular a flora intestinal, são também referidos por mais de um terço dos inquiridos (37% e 36%, respetivamente).
- Cada consumidor gastou, em média, 120 euros no último ano nestes produtos.
- Cerca de 80% compra em lojas físicas, sobretudo em farmácias (69%) ou supermercados (40%); e 46% recorrem também ao comércio online.
Motivos para tomar (e abandonar) suplementos alimentares
Combater o cansaço, a falta de energia, a ansiedade e o stresse, mas também colmatar carências de vitaminas e minerais, fortalecer o sistema imunitário e melhorar o desempenho desportivo foram os principais motivos apontados pelos inquiridos para recorrerem a suplementos alimentares.
Cerca de 4 em cada 10 consumidores não ficaram globalmente muito satisfeitos com os suplementos alimentares que tomaram. Mais de um quarto (27%), devido aos efeitos secundários, sendo que 6% dizem-se mesmo insatisfeitos quanto a este aspeto.
Embora pouco frequente, 4% dos inquiridos interromperam o consumo a pedido do médico, e 3% devido a interações com medicamentos que estavam a tomar. Além disso, 13% desistiram porque os suplementos não estavam a surtir qualquer efeito.
Recomendação da DECO PROteste: cuidado se toma habitualmente medicamentos. Deve questionar um profissional de saúde antes de iniciar suplementos alimentares. Alguns podem causar interações potencialmente graves com a medicação.
Benefícios publicitados sem provas
Muitas alegações de saúde promovidas pelos fabricantes nos suplementos alimentares, sobretudo nos que são à base de plantas, como aloé vera, ginseng ou gingko biloba ainda não foram validadas pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) nem aprovadas pela Comissão Europeia.
Os supostos benefícios (por exemplo, “contribuem para a melhoria o desempenho cognitivo”, “para o fortalecimento do sistema imunitário”) encontram-se em "lista de espera" a aguardar por uma decisão final. Entretanto, os fabricantes podem referi-los – desde que respeitem certas condições, como não alegar a redução do risco de doenças, por exemplo.
Significa que algumas alegações de saúde podem ser enganosas, alerta a DECO PROteste. O inquérito mostra que a maioria dos consumidores acredita na veracidade dos benefícios promovidos nas caixas e na publicidades destes produtos.
- Mais de metade dos consumidores estão convictos de que todos os suplementos alimentares são eficazes.
- 58% desconhecem que os suplementos à base de plantas podem causar efeitos adversos, quando alguns estão já documentados.
- Para 45%, as alegações de saúde declaradas nos produtos com ingredientes botânicos são confiáveis, quando aguardam ainda por uma validação científica.
- Mais de um terço pensam, erradamente, que todos os suplementos alimentares são testados pelas autoridades de saúde.
- 91% não sabem como reportar efeitos adversos.
Os suplementos alimentares são géneros alimentícios. Não sendo medicamentos, não têm as mesmas exigências de qualidade ou provas de eficácia. Não são testados pelas autoridades de saúde antes de serem colocados à venda, esclarece a DECO PROteste.
A DECO PROteste exige um maior controlo das autoridades
Os suplementos alimentares podem interferir com tratamentos farmacológicos e agravar determinadas condições de saúde, sobretudo quando combinados com outros medicamentos, suplementos alimentares ou alimentos. Podem conter as mesmas substâncias dos medicamentos, como melatonina, mas não são avaliados com o mesmo rigor.
A DECO PROteste alerta as autoridades para a importância de definir claramente a fronteira entre medicamento e suplemento alimentar.
Para a proteção dos consumidores, a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) e a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica deveriam ter maior controlo do mercado de suplementos alimentares.
São necessárias regras mais rigorosas na publicidade e rotulagem destes produtos.
É urgente proceder à revisão das alegações de saúde nos suplementos alimentares, sobretudo quando integram ingredientes botânicos.
A promoção de benefícios que ainda não foram comprovados, na publicidade e nas caixas dos suplementos alimentares, induz muitos portugueses em erro, como mostra o inquérito.
No rótulo dos suplementos alimentares, só é obrigatório indicar as substâncias que os compõem, as quantidades, a toma diária e a dose diária recomendada, se disponível. Mas a rotulagem deveria ser mais completa.
- Deveria incluir informações sobre possíveis efeitos secundários e interações, quando combinados com medicamentos, alimentos ou outros suplementos.
- É ainda imperativo indicar os contactos para reportar efeitos adversos que surjam.
- Urge também garantir um sistema de monitorização e comunicação das notificações ao nível nacional e europeu.
Tal tornaria o uso de suplementos alimentares mais seguro para os cidadãos da União Europeia.
Cuidado com suplementos alimentares (e quem deve evitar)
Os suplementos alimentares visam complementar ou suplementar o regime alimentar normal com fontes concentradas de nutrientes ou outras substâncias com efeito nutricional ou fisiológico.
São comercializados em unidades de medida reduzida (cápsulas ou comprimidos, por exemplo) e podem ser vendidos fora das farmácias.
Podem ser úteis em casos específicos, como:
- grávidas (reforço de ácido fólico, por exemplo);
- idosos ou pessoas com problemas de saúde que levam a má absorção de nutrientes;
- algumas situações de carência de nutrientes comprovada.
No entanto, uma alimentação variada e equilibrada é, geralmente, suficiente. Tomar suplementos alimentares é, quase sempre, desnecessário, dispendioso e pode até ser perigoso.
É importante avaliar a necessidade de suplementação com um profissional de saúde antes de consumir estes produtos, sobretudo se fizer parte dos seguintes grupos de risco ou mais vulneráveis:
- doença crónica (por exemplo, cardíaca ou renal);
- gravidez;
- amamentação;
- bebés;
- quem toma medicação;
- antes de cirurgias.
Nestas situações, alguns suplementos alimentares podem mesmo ser contraindicados.
O que recomenda a DECO PROteste?
Para um uso adequado, é importante:
- consultar um profissional de saúde antes de iniciar suplementos alimentares;
- evitar comprar com base em publicidade, influenciadores ou fontes pouco credíveis e sem fundamento científico;
- verificar a composição, respeitar a toma e a dose diária recomendada e não tomar de forma prolongada;
- reportar efeitos adversos à DGAV — use o formulário para notificar reações adversas da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária e envie para o e-mail dnsa@dgav.pt.
Por fim, importa sublinhar que não existem suplementos alimentares milagrosos para reforçar o sistema imunitário, emagrecer ou melhorar a memória, por exemplo.
Os "ingredientes" para se manter saudável passam por:
- seguir uma alimentação variada e equilibrada;
- praticar atividade física;
- e reservar tempo suficiente para o lazer e o descanso.
Com estes conselhos, evita desperdiçar 120 euros por ano, pois os suplementos alimentares são, quase sempre, desnecessários. Não substituem uma alimentação variada e equilibrada.
Como estar bem informado é o primeiro passo para um uso adequado dos suplementos alimentares, a DECO PROteste convida-o a testar agora os conhecimentos em 9 questões. Só 11% dos consumidores acertaram em quase todas as respostas. Descubra se está bem informado ou acredita em alguns mitos sobre estes produtos.
QUIZ: SABE TUDO SOBRE SUPLEMENTOS ALIMENTARES?
As conclusões deste estudo resultam de um inquérito internacional do grupo Euroconsumers, do qual a DECO PROteste faz parte, bem como as associações de consumidores congéneres da Bélgica, Espanha e Itália. O questionário online, enviado em maio de 2025, reuniu 3990 respostas válidas, das quais 938 em Portugal. Os resultados apresentados foram ponderados para serem representativos da realidade nacional e espelham os hábitos, as experiências e as convicções dos inquiridos portugueses.
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Este projeto é uma iniciativa conjunta da Euroconsumers. Reunindo cinco organizações nacionais de consumidores e dando voz a um total de mais de 1,5 milhões de pessoas em Portugal, Espanha, Itália, Bélgica e Brasil, a Euroconsumers é o principal grupo de consumidores do mundo em informação inovadora, serviços personalizados e defesa dos direitos dos consumidores. |
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