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"Ozempic natural" para perder peso: a berberina é mesmo um milagre?

As redes sociais difundem que a berberina ajuda a perder peso, mas os potenciais riscos para a saúde do “Ozempic natural”, tal como é chamado por alguns, são reais, e o milagre não se realiza. Não há evidências científicas que comprovem a eficácia deste suplemento alimentar, com propriedades de medicamento.

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11 abril 2025
Mulher em frente a um espelho, mede a cintura

iStock

Quando o tema é perder peso, todas as fórmulas parecem ser válidas. Pelo menos, aquelas que se apresentam em forma de cápsulas milagrosas e que substituem o esforço, a determinação e a força de vontade de uma alimentação equilibrada e de algumas horas de atividade física.

A promessa de emagrecimento fácil e rápido fica no ouvido e soa irresistível para quem quer perder uns quilos extra. É neste contexto que surge a berberina – uma substância conhecida nas redes sociais como "Ozempic natural", promovida como alternativa natural aos medicamentos injetáveis para tratamento da obesidade. Uma associação que se tem revelado questionável.

O que é a berberina?

Alcaloide presente naturalmente em diferentes famílias de plantas, nomeadamente nas arbustivas Berberidáceas, a berberina tem sido tradicionalmente usada na medicina chinesa, devido aos seus diferentes efeitos terapêuticos. De acordo com estudos clínicos, em dosagem diária igual ou superior a 400 miligramas, esta substância pode:

  • reduzir a pressão arterial em situações de hipertensão e melhorar a função cardíaca em doentes com insuficiência cardíaca, embora também haja relatos de arritmias;
  • diminuir os níveis de açúcar no sangue e os lípidos (triglicéridos e colesterol), em pacientes com diabetes tipo 2 e dislipidemia;
  • ajudar a combater infeções gastrointestinais de origem bacteriana ou parasitária, devido ao seu efeito anti-infeccioso.

Alguns fabricantes alegam que os seus suplementos alimentares de berberina podem ter os seguintes efeitos terapêuticos: ajudam "a manter níveis normais de glicose no sangue" e "a manter níveis normais de colesterol". No entanto, só porque uma substância demonstra um efeito terapêutico em pacientes com um problema de saúde específico, isto não significa que possa contribuir para manter a saúde "normal" na restante população em geral.

Riscos de tomar berberina

O facto de a berberina ser comercializada na União Europeia como suplemento alimentar e não como medicamento, apesar da presença das propriedades farmacológicas referidas, pode trazer uma série de riscos para a população que consome a substância. Os suplementos alimentares precisam apenas de cumprir os padrões estabelecidos pela legislação alimentar: não estão sujeitos à avaliação prévia da sua eficácia, segurança ou qualidade pelo regulador, nem necessitam de autorização prévia para comercialização. A finalidade de um suplemento alimentar é complementar a dieta normal para obter ingestão adequada de nutrientes ou ajudar a manter as funções normais do corpo; nunca prevenir, tratar ou curar uma doença.

Por ser uma substância com efeito farmacológico, além dos efeitos terapêuticos, a berberina também pode causar efeitos adversos:

  • hipotensão (queda da pressão arterial);
  • bradicardia (redução da frequência cardíaca);
  • hipoglicemia (queda dos níveis de açúcar no sangue);
  • aumenta o risco de contrações uterinas;
  • quando consumida durante a gravidez, pode atravessar a placenta e é suspeita de afetar o desenvolvimento fetal. A berberina consumida pela mãe pode passar para o leite materno.

Foram identificadas interações entre berberina e diferentes medicamentos (até 17 medicamentos). Algumas dessas interações são potencialmente graves, seja porque envolvem medicamentos altamente tóxicos ou porque alteram o funcionamento adequado de outros medicamentos. Entre eles:

  • digoxina (para o coração);
  • imunossupressores como ciclosporina ou tacrolimus (para prevenir a rejeição de transplante);
  • paclitaxel, um medicamento usado na quimioterapia, que perde eficácia se tomado ao mesmo tempo que a berberina;
  • medicamentos como estatinas, usadas para reduzir os níveis de colesterol, ou metformina (usada para tratar diabetes). O risco de efeitos adversos destes medicamentos é aumentado se tomados ao mesmo tempo que a berberina.

Berberina ajuda mesmo a perder peso?

Apesar de os influencers continuarem a promover a berberina nas redes sociais como uma solução milagrosa para perder peso, os efeitos na perda dos quilos extra não estão comprovados cientificamente.

Estudos com cobaias revelaram que a berberina pode influenciar alguns marcadores metabólicos, resultados estes que teriam de ser apurados também em humanos. De resto, foi também feita uma meta-análise, com os resultados de 12 pequenos ensaios clínicos, que mostram que a berberina pode ajudar a perder entre um e três quilos. Mas a metodologia usada é questionável, tendo em conta que os ensaios foram realizados em pessoas com problemas de saúde preexistentes.

Assegurar com certeza que a berberina é eficaz na perda de peso, só com estudos clínicos mais robustos e conduzidos com rigor científico.

Até o momento, não há evidências científicas sólidas sobre a eficácia e segurança da berberina para perda de peso.

É ainda importante referir que um suplemento alimentar como a berberina não pode atuar como medicamento. Vendidos livremente, sem necessidade de prescrição ou acompanhamento médico, os suplementos não informam, muitas vezes, sobre riscos e efeitos adversos, o que impacta diretamente na segurança dos consumidores. Por outro lado, uma substância com efeitos terapêuticos, como a berberina, para ser comercializada, deve ser autorizada como medicamento e seguir o caminho regulatório correspondente, garantindo assim a eficácia e a segurança do produto.

Atualmente, a EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar) está a avaliar os riscos do consumo de berberina como suplemento alimentar para determinar se há uma dose diária em que a berberina não tenha efeito farmacológico e possa ser consumida com segurança pela população em geral.

Até que a EFSA conclua a sua avaliação, evite esta substância se:

  • tiver diabetes, problemas cardíacos ou hepáticos, se estiver grávida ou a amamentar;
  • estiver a tomar medicamentos para doenças crónicas, como diabetes, problemas cardíacos, colesterol, ou a fazer quimioterapia ou tratamentos imunossupressores.

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