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Suprimir a menstruação tem riscos associados?

São várias as razões que podem motivar as mulheres a querer suprimir a sua menstruação. Será uma prática segura? Conheça ainda os métodos disponíveis para atrasar ou alterar temporariamente a menstruação. 

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26 abril 2024
Grande plano de mulher a fazer contas no calendário - alusão aos dias de menstruação

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A menstruação consiste num sangramento cíclico por via vaginal que marca o momento a partir do qual, todos os meses, o corpo da mulher se prepara para a gravidez. Sempre que a gravidez não acontece, o endométrio - tecido com muitos vasos sanguíneos que reveste o útero - desprende-se, traduzindo-se numa hemorragia menstrual.

Este fenómeno é perfeitamente normal e saudável, mas não é um evento necessário ou essencial à vida da mulher. Por esse motivo, é razoável que muitas mulheres se questionem sobre a possibilidade de não terem de menstruar.

São várias as razões pessoais ou médicas, desde a diminuição da dor (dismenorreia) e de outros eventuais sintomas relacionados com a menstruação, à limitação da perda de sangue, à redução da carga da higiene menstrual, ou a questões financeiras, preferência pessoal, entre outras.

A segurança da supressão menstrual tem suscitado dúvidas. No entanto, nalgumas situações, pode melhorar não só a saúde, mas também a qualidade de vida das mulheres.

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O que é a supressão menstrual?

O termo "supressão menstrual" refere-se, especificamente, ao uso de medicamentos hormonais para diminuir a frequência e o volume fisiológicos da menstruação e, em alguns casos, atingir a amenorreia (ausência completa de menstruação). No entanto, esta última pode ser difícil de conseguir. 

terapêutica hormonal de uso contínuo tem vindo a ser utilizada em contextos clínicos, nos quais o sangramento menstrual é considerado clinicamente problemático ou até potencialmente fatal. É o caso de doentes com anemia aplástica, trombocitopenia ou doença grave de Von Willebrand. Outras condições clínicas que podem beneficiar com a supressão menstrual são dor pélvica crónica, dismenorreia, endometriose ou síndrome pré-menstrual.

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Não menstruar é seguro?

O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas considera que a supressão menstrual é uma opção segura e que pode ser viável para várias mulheres. A evidência atual sugere que os métodos hormonais utilizados para atingir a supressão menstrual são seguros, não comprometem a fertilidade futura e não aumentam o risco de cancro.

Apesar disso, vários críticos defendem que ainda é demasiado cedo para se poder chegar a essa conclusão. Os investigadores médicos debatem sobre os potenciais efeitos a longo prazo destas práticas na saúde das mulheres, sobretudo ao nível mamário, ósseo e cardiovascular.

Também é importante ter em conta que a terapêutica hormonal apresenta algumas limitaçõesPode não ser uma opção válida para todas as mulheres. O uso de métodos hormonais que contenham estrogénio, por exemplo, está contraindicado para mulheres com problemas médicos específicos, como enxaqueca com aura e hipertensão, e mulheres que apresentem múltiplos fatores de risco para a doença cardiovascular ou tromboembolismo venoso. O uso de medicamentos hormonais também pode ser limitado pelo desenvolvimento de possíveis eventos adversos.

A maioria dos métodos disponíveis para supressão menstrual apresentam taxas relevantes de sangramento irregular, imprevisível ou não programado, nos primeiros meses após a sua adoção. Este evento adverso é uma das principais causas que motiva a descontinuação desta prática.

Por estas razões, é indispensável que procure aconselhamento com o seu médico ginecologista, caso tenha interesse em optar por um método de supressão menstrual. 

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Métodos para suprimir a menstruação

Os contracetivos hormonais habitualmente usados podem ser utilizados para alcançar a supressão menstrual. Neste contexto, incluem-se, por exemplo, os contracetivos hormonais combinados (CHCs). 

A contraceção hormonal combinada consiste na associação de estrogénios e progestativos. O progestativo é o principal responsável pelo efeito contracetivo e o estrogénio pelo controlo do ciclo. 

Atualmente, as mulheres podem optar por diversas formulações de contraceção hormonal combinada, que diferem entre si na composição e dosagem das hormonas, via de administração, intervalo livre e duração do ciclo.

Estão disponíveis a via oral, com as pílulas contracetivas combinadas; a via transdérmica, com os selos ou adesivos contracetivos; e a via vaginal, com o anel vaginal. A via oral é a mais utilizada, apesar de todas terem eficácias e riscos semelhantes.

A toma de contracetivos hormonais combinados só deve ser instituída mediante aconselhamento médico. É uma opção indicada para mulheres que desejam um método contracetivo reversível, seguro e independente do ato sexual. No entanto, para mulheres com condições médicas específicas, como doenças reumatológicas, neurológicas, cardiovasculares, patologia mamária, entre outras, onde os benefícios não superam os riscos, o seu uso não é recomendado.

Tradicionalmente, os contracetivos hormonais combinados são usados de forma cíclica, com 21 dias de hormonas, seguidos de um intervalo de 7 dias sem hormonas, durante o qual ocorre um sangramento menstrual induzido hormonalmente, imitando um ciclo menstrual espontâneo.

Num ciclo normal, a menstruação ocorre quando os níveis de estrogénio e progesterona diminuem rapidamente. A interrupção temporária do uso de contracetivos hormonais combinados, por exemplo, uma semana de placebo em que não usa adesivo ou anel, tem um efeito semelhante, provocando a queda do revestimento uterino.

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Pílulas, anéis e adesivos contracetivos

Na prática, as mulheres que tomam contracetivos hormonais combinados (formulações orais, monofásicas, na via transdérmica e vaginal) podem suprimir a menstruação, optando por um regime de toma/uso contínuo, sem intervalo livre. Este tipo de regime pode melhorar os sintomas relacionados com o declínio hormonal na altura da pausa. Isso pode ser útil em casos de síndrome pré-menstrual e endometriose, ou conforme a preferência de algumas mulheres.

Os folhetos informativos destes medicamentos geralmente contemplam informação sobre como alterar ou atrasar um período menstrual. Não entanto, é fundamental que fale antes com o seu médico.

Pílulas contracetivas combinadas

Segundo o esquema de associação das duas hormonas, as pílulas podem ser monofásicas, bifásicas, trifásicas e quadrifásicas. Os regimes multifásicos, ou seja, comprimidos com dosagens diferentes, obrigam a respeitar a ordem na toma dos comprimidos e não é possível a sua utilização em regime contínuo. 

As pílulas monofásicas são as únicas que podem ser utilizadas de forma continuada, mas é importante ter em conta que o regime de toma é variável:

  • Pílulas monofásicas cujo regime habitual implica a toma de 21 comprimidos, seguido de 7 dias de pausa
    Nestes casos, para atrasar um período menstrual, deverá continuar com outra embalagem da pílula contracetiva sem intervalo. Este esquema poderá ser prolongado no tempo que desejar, até ao fim da segunda embalagem. Durante este esquema de toma, poderá apresentar hemorragia de disrupção ou microrragia. A toma regular deverá ser retomada após o habitual intervalo de 7 dias sem comprimidos. 

    Para alterar os seus períodos menstruais para outro dia da semana diferente, pode ser aconselhada a diminuir o número de dias do intervalo sem comprimidos que se aproxima, em tantos dias quantos quiser. Quanto mais curto for o intervalo, maior é o risco de não ter hemorragia de privação e irá apresentar hemorragia de disrupção e microrragia com a utilização da segunda embalagem, tal como quando se atrasa um período menstrual.

  • Pílulas monofásicas cujo regime habitual implica a toma de 21 comprimidos, seguido de 7 comprimidos placebo ou a toma de 24 comprimidos seguida de 4 comprimidos placebo
    Para atrasar um período menstrual, deve continuar com outro blister da pílula, sem tomar os comprimidos placebo do atual blister (4 ou 7 comprimidos totais, dependendo da pílula em questão). Este prolongamento pode estender-se por tanto tempo quanto o desejado até ao final dos comprimidos ativos do segundo blister. A toma regular deve então ser retomada após a toma dos comprimidos placebo do segundo blister. Durante este prolongamento, podem ocorrer hemorragias intra-cíclicas ou spotting (perdas de sangue). 

    Para alterar o período menstrual para um dia da semana diferente, pode ser aconselhada a encurtar a fase de comprimidos placebo, que possui a duração máxima de 4 dias ou 7 dias, dependendo da pílula em questão.

    Se já faz uso de uma pílula monofásica e deseja adiar ou alterar o seu ciclo menstrual, verifique a informação contemplada no folheto informativo do medicamento e aconselhe-se com o seu médico.

Anéis vaginais 

Caso use os anéis vaginais cujo regime habitual requer uma utilização do anel durante 21 dias, seguida de um intervalo de 7 dias sem uso de anel, para atrasar a menstruação, deve inserir um novo anel sem fazer o intervalo. O novo anel pode ser usado por até 3 semanas seguidas, durante as quais pode apresentar sangramento ou spotting. O uso normal do anel pode prosseguir após o intervalo habitual de uma semana sem o anel.

Para alterar a menstruação para outro dia da semana, poderá ser aconselhada a encurtar o próximo período de intervalo sem o uso do anel em quantos dias desejar. Quanto mais curto o intervalo sem o uso do anel, maior o risco de não apresentar sangramento de privação e apresentar sangramento inesperado e spotting durante o uso do próximo anel vaginal.

Se já faz uso de um anel vaginal e deseja adiar ou alterar o seu ciclo menstrual, verifique a informação contemplada no folheto informativo do medicamento e aconselhe-se com o seu médico.

Adesivos contracetivos

Se usa adesivos contracetivos, cujo regime habitual requer uma aplicação semanal de selo durante 3 semanas, seguida de um intervalo de 7 dias sem uso de selo, para adiar um período menstrual por um ciclo, tem de aplicar outro sistema transdérmico no início da semana 4, no 22.º dia, não respeitando o período de privação. Poderão ocorrer hemorragias intra-cíclicas ou pequenas perdas de sangue. Após 6 semanas consecutivas de utilização do sistema transdérmico, deverá haver um período de privação de 7 dias. Depois disto, pode prosseguir com a aplicação regular do adesivo. 

Se deseja alterar o dia de mudança do adesivo, o ciclo corrente deve ser completado, procedendo-se à remoção do terceiro sistema transdérmico no dia correto. Durante a semana correspondente ao período de privação, pode-se selecionar um novo dia de mudança, aplicando-se o primeiro sistema transdérmico do ciclo seguinte na primeira ocorrência do dia desejado.

Não devem decorrer, de forma alguma, mais do que 7 dias consecutivos sem a aplicação do sistema transdérmico. Quanto mais curto for o intervalo sem a aplicação do sistema transdérmico, maior é o risco de não ter hemorragia de privação e poderá ter hemorragias intra-cíclicas e pequenas perdas de sangue durante o subsequente ciclo de tratamento.

Se já faz uso de um adesivo contracetivo e deseja adiar ou alterar o seu período menstrual, verifique a informação contemplada no folheto informativo do medicamento e aconselhe-se com o seu médico.

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Qual é o melhor método?

Caso pretenda atrasar ou alterar a sua menstruação, fale sempre com o seu médico.

Os médicos ginecologistas devem estar familiarizados com o uso da terapêutica hormonal para suprimir a menstruação. Além da terapêutica hormonal combinada já mencionada, estão disponíveis várias outras opções hormonais, como comprimidos só com progestativo, dispositivos intrauterinos, implantes, injeções hormonais, entre outros métodos.

A escolha do método deve ser individualizada com base nas preferências e objetivos da doente, na efetividade média do tratamento e nas contraindicações ou fatores de risco para possíveis eventos adversos. 

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