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Lavanda, valeriana, passiflora, camomila, erva-cidreira e hipericão são eficazes contra a ansiedade?

Óleo de lavanda ou de alfazema, valeriana, passiflora, camomila, erva-cidreira ou hipericão: existem múltiplos produtos à base de plantas que dizem combater a ansiedade, mas são poucas as evidências de eficácia. Ao nível da segurança, não são tão inofensivos como sugerem.

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28 novembro 2023
ansiedade

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Há produtos à base de plantas para todos os males e sob as mais diversas formas. No caso da ansiedade, por norma, são feitos com partes ou extratos de plantas (folhas, caules, cascas ou flores) e promovem propriedades sedativas, capazes de fortalecer o trio “humor, relaxamento e sono”. Em geral, são percecionados pelos consumidores e até por alguns profissionais de saúde como benéficos e seguros. Mas não é garantido.

A evidência relativa à eficácia e à segurança da grande maioria é bastante limitada, e a utilização tende a basear-se mais na tradição do que em conhecimentos científicos sólidos. Saiba o que diz a ciência sobre o óleo de lavanda (também conhecido por óleo de alfazema), valeriana, passiflora, camomila, erva-cidreira e hipericão, mais abaixo neste artigo.

Produto à base da mesma planta é medicamento ou suplemento?

Alguns produtos à base da mesma planta estão à venda sob a forma de medicamento e de suplemento alimentar. O primeiro tem de obedecer a regras rígidas, demonstrar a sua eficácia e garantir a qualidade. Já os suplementos alimentares apenas têm de cumprir as normas relativas aos alimentos em geral.

Para começar, os medicamentos só podem ser vendidos em farmácias e lojas autorizadas a vender medicamentos não sujeitos a receita médica, enquanto os suplementos alimentares também se encontram noutros estabelecimentos, como supermercados e lojas de produtos naturais. Estes não têm de obedecer a qualquer processo de aprovação, antes da comercialização.

Por sua vez, os medicamentos à base de plantas têm de passar pelo crivo da Agência Europeia de Medicamentos. O caminho pode tomar duas vias, mas, por norma, estes produtos seguem um processo de registo simplificado. Ao contrário dos fármacos convencionais, que têm de seguir a outra via, apresentando resultados de estudos a comprovar eficácia e segurança, aos medicamentos tradicionais à base de plantas bastam provas bibliográficas de “evidência plausível”. Deverão estar em uso, pelo menos, há 30 anos (15 dos quais na União Europeia), destinar-se a ser utilizados, de forma autónoma, pelo consumidor, e apresentar-se em formas não injetáveis. Não são necessários ensaios clínicos, se, com base na informação relativa ao uso tradicional, ficar demonstrado que o produto é seguro.

Os suplementos alimentares, por sua vez, são géneros alimentícios destinados a completar a dieta normal e só têm de obedecer à diretiva europeia que estabelece regras para a rotulagem, de modo a garantir um uso seguro. Este apenas tem de indicar na embalagem a lista de ingredientes e a respetiva quantidade, bem como a dose diária a ingerir. Ao contrário dos medicamentos, os suplementos alimentares não podem indicar propriedades de tratamento, cura ou prevenção de doenças. Podem incluir alegações de saúde, desde que aprovadas pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar, mas o processo de autorização está parado há mais de dez anos para suplementos alimentares à base de plantas. E não há alegações relativas à ansiedade aprovadas para os mesmos.

A composição destes suplementos, em quantidade e qualidade, não é fixa. O teor em substância ativa depende, por exemplo, da parte da planta usada, da formulação e das substâncias a que está associada, pelo que a sua ação no organismo também pode ser diferente. A composição natural da própria planta difere com as condições ambientais em que é produzida, por exemplo.

Farmacovigilância só para medicamentos

Uma vez no mercado, todos os fármacos, incluindo os medicamentos à base de plantas, estão integrados num sistema de farmacovigilância, através do qual são recolhidas e tratadas todas as notificações de efeitos adversos e tomadas as medidas de segurança necessárias. Para os suplementos alimentares, não existem normas europeias sobre as obrigações das entidades reguladoras e dos fabricantes em relação à segurança antes e depois de os produtos entrarem no mercado, ou seja, não existe, ao nível europeu, um sistema de vigilância específico.

Em Portugal, estes produtos estão sob a alçada da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária, a quem devem ser comunicadas todas as suspeitas de reações adversas. Mas falta divulgação a esta atividade.

Natural não significa seguro

Na prática, a segurança dos suplementos alimentares à base de plantas pode ser mais preocupante do que a dos medicamentos, devido à falta de controlo e à escassez de informação. Estes produtos podem causar efeitos adversos e interferir na ação de outros medicamentos, diminuindo ou potenciando o seu efeito.

Alguns produtos são conhecidos por causarem alergias, hipertensão e, até, danos em órgãos. Por isso, os grupos mais vulneráveis, como crianças, grávidas, mulheres que amamentam e idosos, devem evitar a utilização. O mesmo se recomenda a doentes polimedicados, aos que tomam medicamentos mais suscetíveis de interação com as plantas, como contracetivos hormonais (“pílula”) e sedativos, a quem sofre de doenças graves, em particular no fígado e nos rins, e aos que vão fazer uma cirurgia.

Atenção aos riscos do "natural"

Natural é muitas vezes percebido como seguro por consumidores e, até, alguns profissionais de saúde, pelo que os riscos dos suplementos alimentares são subestimados. Importa, pois, que uns e outros sejam informados acerca destes riscos, e incentivados a comunicar qualquer efeito adverso. No caso dos medicamentos, as notificações devem seguir para o Infarmed. Se estiver em causa um suplemento alimentar, deve ser informada a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV).

Em Portugal, já existe um sistema de vigilância de reações adversas para estes produtos. Deveria ser também criado um sistema de monitorização e comunicação ao nível europeu e harmonizada a forma de recolher os dados nos Estados-membros, para aumentar a segurança no uso dos suplementos alimentares.

Com o mesmo objetivo, exige-se a descrição de possíveis efeitos adversos e interações nos rótulos dos suplementos alimentares. Ao nível europeu, importa ainda agilizar o processo de análise e aprovação das alegações de saúde que podem ser usadas por estes suplementos alimentares à base de plantas, que está parado há mais de dez anos. 

Combater a ansiedade

Quando os sintomas de ansiedade interferem no funcionamento da pessoa no dia-a-dia, é preciso consultar o médico e tratá-los, podendo ser necessário recorrer a medicamentos e psicoterapia. Mas este é um problema com várias dimensões, pelo que também pode ser necessário mudar o estilo de vida, dentro do possível. A prática regular de exercício físico é um bom “ansiolítico”. Seguir uma alimentação saudável, que forneça ao organismo os nutrientes necessários, e na quantidade adequada, ajuda certamente ao equilíbrio. A existência de um ambiente familiar positivo, relações saudáveis com as pessoas próximas e uma ampla rede social talvez contribuam mais, e de forma mais saudável.

Qual a eficácia de 6 produtos à base de plantas? 

Encontram-se à venda vários produtos à base de plantas, incluindo medicamentos, que dizem ter propriedades calmantes e relaxantes, sendo usados para combater a ansiedade. Qual a real eficácia? Saiba o que diz a ciência.

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