Lavanda, valeriana, passiflora, camomila, erva-cidreira e hipericão são eficazes contra a ansiedade?
Óleo de lavanda ou de alfazema, valeriana, passiflora, camomila, erva-cidreira ou hipericão: existem múltiplos produtos à base de plantas que dizem combater a ansiedade, mas são poucas as evidências de eficácia. Ao nível da segurança, não são tão inofensivos como sugerem.

Há produtos à base de plantas para todos os males e sob as mais diversas formas. No caso da ansiedade, por norma, são feitos com partes ou extratos de plantas (folhas, caules, cascas ou flores) e promovem propriedades sedativas, capazes de fortalecer o trio “humor, relaxamento e sono”. Em geral, são percecionados pelos consumidores e até por alguns profissionais de saúde como benéficos e seguros. Mas não é garantido.
A evidência relativa à eficácia e à segurança da grande maioria é bastante limitada, e a utilização tende a basear-se mais na tradição do que em conhecimentos científicos sólidos. Saiba o que diz a ciência sobre o óleo de lavanda (também conhecido por óleo de alfazema), valeriana, passiflora, camomila, erva-cidreira e hipericão, mais abaixo neste artigo.
Produto à base da mesma planta é medicamento ou suplemento?
Alguns produtos à base da mesma planta estão à venda sob a forma de medicamento e de suplemento alimentar. O primeiro tem de obedecer a regras rígidas, demonstrar a sua eficácia e garantir a qualidade. Já os suplementos alimentares apenas têm de cumprir as normas relativas aos alimentos em geral.
Para começar, os medicamentos só podem ser vendidos em farmácias e lojas autorizadas a vender medicamentos não sujeitos a receita médica, enquanto os suplementos alimentares também se encontram noutros estabelecimentos, como supermercados e lojas de produtos naturais. Estes não têm de obedecer a qualquer processo de aprovação, antes da comercialização.
Por sua vez, os medicamentos à base de plantas têm de passar pelo crivo da Agência Europeia de Medicamentos. O caminho pode tomar duas vias, mas, por norma, estes produtos seguem um processo de registo simplificado. Ao contrário dos fármacos convencionais, que têm de seguir a outra via, apresentando resultados de estudos a comprovar eficácia e segurança, aos medicamentos tradicionais à base de plantas bastam provas bibliográficas de “evidência plausível”. Deverão estar em uso, pelo menos, há 30 anos (15 dos quais na União Europeia), destinar-se a ser utilizados, de forma autónoma, pelo consumidor, e apresentar-se em formas não injetáveis. Não são necessários ensaios clínicos, se, com base na informação relativa ao uso tradicional, ficar demonstrado que o produto é seguro.
Os suplementos alimentares, por sua vez, são géneros alimentícios destinados a completar a dieta normal e só têm de obedecer à diretiva europeia que estabelece regras para a rotulagem, de modo a garantir um uso seguro. Este apenas tem de indicar na embalagem a lista de ingredientes e a respetiva quantidade, bem como a dose diária a ingerir. Ao contrário dos medicamentos, os suplementos alimentares não podem indicar propriedades de tratamento, cura ou prevenção de doenças. Podem incluir alegações de saúde, desde que aprovadas pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar, mas o processo de autorização está parado há mais de dez anos para suplementos alimentares à base de plantas. E não há alegações relativas à ansiedade aprovadas para os mesmos.
A composição destes suplementos, em quantidade e qualidade, não é fixa. O teor em substância ativa depende, por exemplo, da parte da planta usada, da formulação e das substâncias a que está associada, pelo que a sua ação no organismo também pode ser diferente. A composição natural da própria planta difere com as condições ambientais em que é produzida, por exemplo.
Farmacovigilância só para medicamentos
Uma vez no mercado, todos os fármacos, incluindo os medicamentos à base de plantas, estão integrados num sistema de farmacovigilância, através do qual são recolhidas e tratadas todas as notificações de efeitos adversos e tomadas as medidas de segurança necessárias. Para os suplementos alimentares, não existem normas europeias sobre as obrigações das entidades reguladoras e dos fabricantes em relação à segurança antes e depois de os produtos entrarem no mercado, ou seja, não existe, ao nível europeu, um sistema de vigilância específico.
Em Portugal, estes produtos estão sob a alçada da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária, a quem devem ser comunicadas todas as suspeitas de reações adversas. Mas falta divulgação a esta atividade.
Natural não significa seguro
Na prática, a segurança dos suplementos alimentares à base de plantas pode ser mais preocupante do que a dos medicamentos, devido à falta de controlo e à escassez de informação. Estes produtos podem causar efeitos adversos e interferir na ação de outros medicamentos, diminuindo ou potenciando o seu efeito.
Alguns produtos são conhecidos por causarem alergias, hipertensão e, até, danos em órgãos. Por isso, os grupos mais vulneráveis, como crianças, grávidas, mulheres que amamentam e idosos, devem evitar a utilização. O mesmo se recomenda a doentes polimedicados, aos que tomam medicamentos mais suscetíveis de interação com as plantas, como contracetivos hormonais (“pílula”) e sedativos, a quem sofre de doenças graves, em particular no fígado e nos rins, e aos que vão fazer uma cirurgia.
Atenção aos riscos do "natural"
Natural é muitas vezes percebido como seguro por consumidores e, até, alguns profissionais de saúde, pelo que os riscos dos suplementos alimentares são subestimados. Importa, pois, que uns e outros sejam informados acerca destes riscos, e incentivados a comunicar qualquer efeito adverso. No caso dos medicamentos, as notificações devem seguir para o Infarmed. Se estiver em causa um suplemento alimentar, deve ser informada a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV).
Em Portugal, já existe um sistema de vigilância de reações adversas para estes produtos. Deveria ser também criado um sistema de monitorização e comunicação ao nível europeu e harmonizada a forma de recolher os dados nos Estados-membros, para aumentar a segurança no uso dos suplementos alimentares.
Com o mesmo objetivo, exige-se a descrição de possíveis efeitos adversos e interações nos rótulos dos suplementos alimentares. Ao nível europeu, importa ainda agilizar o processo de análise e aprovação das alegações de saúde que podem ser usadas por estes suplementos alimentares à base de plantas, que está parado há mais de dez anos.
Combater a ansiedade
Quando os sintomas de ansiedade interferem no funcionamento da pessoa no dia-a-dia, é preciso consultar o médico e tratá-los, podendo ser necessário recorrer a medicamentos e psicoterapia. Mas este é um problema com várias dimensões, pelo que também pode ser necessário mudar o estilo de vida, dentro do possível. A prática regular de exercício físico é um bom “ansiolítico”. Seguir uma alimentação saudável, que forneça ao organismo os nutrientes necessários, e na quantidade adequada, ajuda certamente ao equilíbrio. A existência de um ambiente familiar positivo, relações saudáveis com as pessoas próximas e uma ampla rede social talvez contribuam mais, e de forma mais saudável.
Qual a eficácia de 6 produtos à base de plantas?
Encontram-se à venda vários produtos à base de plantas, incluindo medicamentos, que dizem ter propriedades calmantes e relaxantes, sendo usados para combater a ansiedade. Qual a real eficácia? Saiba o que diz a ciência.
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Os óleos extraídos da planta Lavandula angustifolia Mill., conhecidos por óleos essenciais de lavanda ou óleos de alfazema, são usados, sozinhos ou associados a outros ingredientes, em produtos para aromaterapia e aplicação na pele, mas também em chás e suplementos alimentares, por exemplo, na forma de cápsulas ou gotas para tomar por via oral.
Apesar de a investigação sugerir alguns benefícios do óleo de lavanda no combate à ansiedade, os estudos apresentam várias limitações, nomeadamente, no que respeita à dimensão e à qualidade, pelo que não permitem tirar conclusões definitivas sobre a real eficácia. É necessária mais investigação nesta área, com amostras mais alargadas e metodologias padronizadas, para clarificar os efeitos exatos desta substância no controlo da ansiedade clínica.
Os produtos para aplicar na pele podem causar alergias cutâneas. Tomado em doses elevadas, o óleo de lavanda foi ainda associado a náuseas, vómitos e anorexia.
Interações com medicamentos
Pode aumentar o efeito sedativo de alguns medicamentos antidepressivos e anticonvulsivantes (antiepiléticos), e o risco de hemorragia, se tomado em conjunto com anticoagulantes, que tornam o sangue mais fluido.
Valeriana
Há pouca investigação sobre o efeito da valeriana no controlo da ansiedade, e os resultados indicam que a eficácia não é superior à do placebo (produto sem substâncias ativas).
Geralmente, é segura para utilizações de curto prazo por adultos. No entanto, pode causar dores de cabeça e de estômago, confusão mental, boca seca e mal-estar. Em doses elevadas, pode originar sonolência matinal.
Interações com medicamentos
O uso em conjunto com outros sedativos e depressores do sistema nervoso central, prescritos, por exemplo, para tratar a depressão, requer vigilância, uma vez que pode
prolongar os efeitos sedativos.
Passiflora
Não há evidência que permita retirar conclusões sobre a eficácia dos suplementos de passiflora na diminuição da ansiedade, já que existe um reduzido número de estudos. As reações adversas podem incluir sonolência, náuseas, vómitos e tonturas, mas são raras.
Interações com medicamentos
A passiflora pode contribuir para tornar o sangue mais fluido, pelo que não deve ser usada juntamente com medicamentos anticoagulantes.
Camomila
É uma das plantas medicinais mais usadas em todo o mundo. Está disponível para uso em chá, cápsulas, comprimidos ou gotas.
Há muito poucos estudos sobre a ação dos suplementos alimentares de camomila na ansiedade, e os que existem apontam para efeitos semelhantes aos do placebo.
As reações adversas podem incluir náuseas, tonturas e reações alérgicas, mas são muito raras.
Interações com medicamentos
A camomila pode aumentar os efeitos de medicamentos que previnem coágulos sanguíneos e dos sedativos, e diminuir a absorção de suplementos de ferro. Pode ainda interferir no efeito do tamoxifeno, terapia hormonal de substituição e dos contracetivos orais com estrogénio.
Erva-cidreira
Certos estudos indicam alguma redução nos sintomas de ansiedade e depressão, mas, por serem de pequena dimensão e terem metodologias diversas, não permitem generalizar conclusões.
Dor de cabeça, redução do estado de alerta, distúrbios do sono e sintomas de abstinência são alguns dos efeitos secundários registados nos estudos. Por precaução, a erva-cidreira deve ser usada com cuidado em pacientes com problemas de tiroide, porque pode inibir a produção de hormonas nesta glândula.
Interações com medicamentos
Pode potenciar o efeito sedativo de ansiolíticos, sedativos e outros medicamentos que atuam sobre o sistema nervoso central.
Hipericão
Também designado por erva-de-são-joão, o hipericão (Hypericum perforatum) tem sido usado como antidepressivo e ansiolítico.
Estudos de pequena dimensão sugerem que pode reduzir a ansiedade, mas o resultado foi relatado como efeito secundário (em ensaios sobre tratamento da depressão), pelo que não permite tirar conclusões.
Os efeitos adversos mais comuns incluem sintomas gastrointestinais, reações cutâneas, fadiga e sedação, inquietação ou ansiedade, tontura, dor de cabeça e boca seca. Há também casos de fotossensibilidade, que se traduz em vermelhidão da pele exposta à luz do sol. Não é recomendado na gravidez, devido ao risco de aborto.
Interações com medicamentos
Pode interagir com medicamentos, aumentando o seu metabolismo e reduzindo a eficácia clínica. A situação é particularmente grave, por exemplo, no caso da ciclosporina, da varfarina e da carbamazepina. A toma também exige cautela quando se está a fazer tratamento com imunossupressores, antirretrovirais, antimicrobianos, anticancerígenos e medicamentos para o coração e o sistema nervoso central. Há ainda relatos de efeitos graves: entre outros, rejeição de transplante e gravidez indesejada.