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Depressão: sinais de alerta e como tratar

Estar triste não é o mesmo que estar deprimido. Mas, se essa tristeza for desproporcional e se prolonga para além do esperado, há que estar atento aos sintomas. A depressão pode ser tratada.

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31 julho 2025
Rapariga sentada no chão com a cabeça apoiada nas mãos

iStock

As variações do humor, nomeadamente a tristeza, são uma das reações psicológicas mais comuns entre os seres humanos. Mas estar triste não é o mesmo que estar deprimido.

Para que um estado depressivo seja considerado patológico, é necessário que se prolongue além do esperado, que seja desproporcionado em relação às circunstâncias, que esteja fora do controlo pessoal e que provoque uma disfunção e desajuste da pessoa em relação à sua vida.

A causa da depressão está associada a um conjunto complexo de processos biológicos e à sua interação com fatores individuais e do ambiente. Fatores genéticos desempenham um papel importante no desenvolvimento das perturbações afetivas. A influência da genética parece variar consoante o género e a fase de desenvolvimento de vida de cada pessoa, afetando não só as características biológicas e psicológicas de cada um, como também a forma como interage com o seu ambiente.

A exposição ao stresse é o fator ambiental mais recorrentemente associado à depressão, sendo esta enquadrada como uma reação a experiências negativas de vida. O stresse precipita reações depressivas em pessoas com vulnerabilidades específicas, tais como fatores cognitivos e de personalidade. Pessoas com depressão ou em risco de desenvolver depressão têm uma tendência característica para interpretar acontecimentos de forma deturpada (excessivamente pessimista e autocrítica), mostrando-se sem esperança de conseguir mudar ou melhorar a sua situação. 

A depressão tem um elevado impacto, sendo um dos principais fatores de risco associados ao suicídio e à ideação suicida.

Depressão é responsável por 50% das baixas por doença crónica

A depressão pode ter várias consequências ao nível económico: as despesas de saúde associadas à depressão podem chegar a mais de 4,2% do produto interno bruto dos países da OCDE. Na União Europeia, a depressão é responsável por até 50% das baixas por doença crónica. Na maioria, estes custos não resultam diretamente de gastos em cuidados de saúde ou tratamento, mas sim da Segurança Social (por exemplo, subsídios) e de trabalho (baixa produtividade).

Em Portugal, a depressão, a ansiedade e o stresse relacionados com o trabalho afetaram quase dois em cada cinco trabalhadores em 2022 (33%), uma prevalência acima da média da União Europeia (27 por cento).

Estas questões levaram à perda de produtividade por absentismo e presentismo (quando os funcionários estão presentes no seu local de trabalho, mas funcionam abaixo das suas capacidades), que se relacionam com um custo estimado de 5,3 mil milhões de euros nesse ano. Dados sugerem que os trabalhadores portugueses faltam ao trabalho, em média, oito dias por ano devido a problemas de saúde mental.

O custo económico, social e de saúde das perturbações mentais é significativo, mas pode ser mitigado através de um maior investimento nesta área. É fundamental que se tomem medidas para promover a saúde mental e se ponham em prática abordagens eficazes de prevenção e tratamento das perturbações mentais.

Maior prevalência entre as mulheres

As mulheres têm maior prevalência de depressão em todas as idades a partir da puberdade. São 50% mais afetadas do que os homens. A gravidez é um período particularmente sensível: mais de 10% das mulheres grávidas e que deram à luz recentemente experienciam depressão.

Sintomas de depressão

A depressão é uma perturbação afetiva caracterizada por:

  • tristeza;
  • compromisso da motivação;
  • ansiedade;
  • fadiga;
  • alterações do sono;
  • irritabilidade fácil;
  • dificuldades intelectuais, bem como diminuição do campo de interesses, nomeadamente pela família, pelo trabalho e pelo envolvimento social.

Para ser considerada uma perturbação e não uma reação normal, estes sintomas devem persistir durante pelo menos duas semanas.

Fatores de riscos para a depressão

Fatores genéticos e certas características sociodemográficas – a pertença a grupos minoritários (raciais, sexuais e migrantes), ser do sexo feminino e o estado civil (a depressão é mais prevalente em pessoas viúvas, divorciadas ou que não têm um parceiro) – aumentam a probabilidade de ocorrência de depressão.

Em linha com a importância das relações interpessoais, o baixo suporte social e o isolamento/solidão são também fatores de risco. Pessoas com um baixo nível de escolaridade e rendimento (estatuto socioeconómico baixo), desempregadas, que vivem em situação de pobreza e/ou sem-abrigo também estão mais vulneráveis a experienciar depressão.

Em características mais ligadas à saúde física, inclui-se o consumo de substâncias (tabaco, álcool e drogas), uma dieta pouco saudável, obesidade, doenças crónicas, deficiência de vitamina D e problemas de sono como associados a um risco acrescido de depressão. 

Nos fatores protetores (uma característica do indivíduo ou ambiente associada a uma menor probabilidade de desenvolver uma condição/perturbação em indivíduos expostos a fatores de risco ) ao nível individual situam-se os fatores genéticos e competências sociais e emocionais – atributos e hábitos que se estabelecem durante os anos formativos e que são essenciais para lidar com o stresse diário.

A boa saúde física e a prática de atividade física previnem e reduzem os sintomas de depressão. Há ainda a acrescentar a resiliência, que se refere à capacidade individual para fazer face às adversidades, de se adaptar a fatores de risco e alcançar resultados positivos.

Consequências da depressão

Além das consequências sócio-económicas já referidas, as competências de relacionamento interpessoal ficam gravemente comprometidas. A depressão traduz-se frequentemente em discórdia conjugal, violência entre parceiros íntimos, dificuldades parentais, vinculação insegura (levando à dependência, desconfiança e procura excessiva de tranquilização) e baixo suporte social.

Depressão e ansiedade podem ser parentes

As perturbações depressivas e de ansiedade ocorrem, por vezes, em simultâneo. É como se uma se “alimentasse” da outra: pessoas com depressão apresentam frequentemente sintomas característicos de perturbações de ansiedade e vice-versa.

Estudos revelam que 53% das pessoas diagnosticadas com uma depressão grave tinham ansiedade significativa, considerando-se como tendo uma depressão ansiosa. Dados de um inquérito mundial indicam que 45,7% dos indivíduos com perturbação depressiva grave tinham historial de uma ou mais perturbações de ansiedade.

Considerando alguns diagnósticos, indivíduos com perturbações depressivas podem sofrer ataques de pânico quando sentem muita ansiedade e 50% dos casos de perturbação obsessivo-compulsiva experienciam sintomas depressivos.

Tratamento da depressão

Existem, atualmente, quatro formas de tratamento para a depressão: o farmacológico, a psicoterapia, a estimulação magnética transcraniana e a eletroconvulsivoterapia.

Tratamento farmacológico

Os antidepressivos são, por excelência, os fármacos específicos para o tratamento. Trabalham principalmente ao nível dos neurotransmissores. Devem ser prescritos após uma avaliação cuidada do paciente, para assegurar a trajetória de recuperação mais adequada para cada pessoa. Tendem a fazer efeito após quatro a oito semanas do início do tratamento. Incluem vários efeitos secundários, como por exemplo perturbações gástricas, dores de cabeça ou disfunção sexual (por exemplo, falta de libido). Mas são normalmente ligeiros e diminuem ao longo do tempo. É, por isso, habitual aconselhar a pessoas a iniciar o tratamento com uma dose mais baixa, aumentando a dose diária muito progressivamente e conforme indicação médica.

Os inibidores seletivos de recaptação de serotonina, conhecidos como SSRI, são considerados como tratamento de primeira linha para a depressão e funcionam ao bloquear a reabsorção ou recaptação da serotonina por certas células nervosas do cérebro. Essa ação deixa mais serotonina disponível, o que melhora o humor e alivia os sintomas. 

Os inibidores da recaptação de serotonina-norepinefrina (SNRI) funcionam por dupla ação: aumentam os níveis dos neurotransmissores serotonina e norepinefrina, inibindo a sua reabsorção em células do cérebro. Estes medicamentos são considerados tão eficazes como os SSRI, e podem ser escolhidos consoante o perfil de sintomas apresentados e a existência de certos antecedentes pessoais. 

As opções de tratamento incluem, ainda, os antidepressivos tricíclicos e tetracíclicos. Apesar de serem considerados eficazes, estão associados à experiência de muitos mais efeitos secundários em comparação com os anteriores. Atuam sobre a depressão ao afetar os neurotransmissores utilizados para comunicar entre as células cerebrais.

Psicoterapia

As perturbações depressivas devem ter também intervenção por meio de psicoterapia. 

O tratamento mais bem estabelecido para o tratamento da depressão é o da terapia cognitivo-comportamental. Centra-se na identificação, compreensão e mudança dos padrões de pensamento e comportamento. O paciente está ativamente envolvido na sua própria recuperação, com sentido de autonomia, e adquire e desenvolve ferramentas que serão úteis mesmo após o processo terapêutico. As competências aprendidas durante as sessões devem ser praticadas em casa, frequentemente através de tarefas propostas pelo psicoterapeuta.

A terapia interpessoal dá ao paciente ferramentas comportamentais para que ele recupere a capacidade de socializar, centrando-se em áreas como:

  • conflitos nos relacionamentos que são uma fonte de tensão e angústia;
  • mudanças de vida (perda de emprego, nascimento de um filho), que afetam a forma como a pessoa se sente em relação a si própria e aos outros;
  • luto e perda;
  • dificuldades em iniciar ou manter relações.

A terapia de aceitação e compromisso (TAC) é outro tratamento. Trata-se de uma intervenção psicológica de base empírica que utiliza estratégias de aceitação e de atenção ao momento (mindfulness), para aumentar a flexibilidade psicológica. Essa flexibilidade ajudará a pessoa a lidar com emoções e pensamentos indesejados e a aceitá-los.

A psicoterapia psicodinâmica (PP) é também utilizada. Neste caso, destina-se a vários problemas de saúde mental, incluindo a depressão. Baseia-se nas técnicas de autorreflexão e autoexame, centrada na relação entre o terapeuta e o paciente como uma entrada para os padrões de relacionamento problemáticos na vida da pessoa.

Na gama de psicoterapias contra a depressão inclui-se, ainda, a terapia de resolução de problemas (TRP), cujo objetivo é ajudar os indivíduos a melhorarem as suas capacidades para lidarem com eventos de vida stressantes. E a compreenderem melhor o papel das suas emoções e a desenvolverem, de forma criativa, um plano de ação para reduzir o sofrimento psicológico e melhorar o bem-estar.

Estimulação magnética transcraniana e eletroconvulsivoterapia

A estimulação magnética transcraniana (TMS) parece ser uma opção segura, eficaz e não invasiva para as pessoas cuja depressão é resistente ao tratamento farmacológico. A TMS cria um campo magnético para induzir uma pequena corrente elétrica numa parte específica do cérebro, que emite impulsos através do couro cabeludo. É realizada geralmente em casos onde não se tenha verificado resposta adequada a antidepressivos ou técnicas psicoterapêuticas ou quando o tratamento antidepressivo provoca efeitos secundários intoleráveis ou indesejáveis, podendo também ser uma técnica complementar aos tratamentos já apresentados.

Em último recurso existe a eletroconvulsivoterapia (ECT). É um tratamento médico utilizado em doentes com depressão grave que não respondem a outros tratamentos. É normalmente administrado por uma equipa de profissionais médicos treinados que inclui um psiquiatra, um anestesista e uma enfermeira. Envolve uma breve e controlada estimulação elétrica do cérebro, através de elétrodos fixados em locais específicos do crânio, enquanto o paciente está sedado, provocando uma convulsão que dura aproximadamente um minuto. O tratamento leva a alterações químicas e celulares no cérebro, que aliviam a depressão grave. Como qualquer procedimento médico, a ECT está associada a alguns riscos, sobretudo ao nível da perda temporária de memória e dificuldade temporária de aprendizagem.

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