Alto Minho: o que visitar em Arcos de Valdevez, Soajo, Sistelo, Melgaço e Castro Laboreiro
Há um Norte mais silencioso, verde e ancestral à espera. No roteiro pelas regiões de Arcos de Valdevez e Melgaço, descobrimos paisagens dignas de postal e um património único. Já para não falar na gastronomia de prato cheio com vinho Alvarinho a acompanhar. Uma semana custa 745 euros.

O ritmo da vida nas grandes cidades parece fazer esquecer um Portugal que ainda vive das tradições de outros tempos. Lugares onde as casas se fazem de pedra, o gado vagueia solto e as plantações são a subsistência de muitas famílias. Esse país mais autêntico ainda existe, apesar dos incêndios que têm devastado as regiões Norte e Centro de Portugal.
O Alto Minho é um bom exemplo disso, onde as aldeias com tradição e identidade comunitária resistem, com frequência a custo, e a Natureza prevalece com toda a sua força. Com o Parque Nacional da Peneda-Gerês como pano de fundo, entre no carro e arranque à descoberta de alguns dos lugares mais emblemáticos das regiões de Arcos de Valdevez e de Melgaço.
Soajo: ao ritmo dos espigueiros
Comecemos pelo Soajo. As casas de paredes brancas e telhados vermelhos em quase nada se diferenciam de uma qualquer vila portuguesa. Mas, no centro desta povoação, posicionados sobre grandes pedras de granito cujo cinzento se destaca do verde das plantações, estão os Espigueiros do Soajo.
Estas construções de pedra centenárias (a mais antiga data de 1782), que mais se assemelham a pequenas capelas, eram usadas de forma comunitária pelos habitantes da aldeia para proteger o milho dos roedores e das intempéries. Hoje, são um exemplo da arquitetura popular minhota.
Mas não só de espigueiros se faz o Soajo. Ele é o passado tradicional nortenho que se dá a conhecer no Centro Interpretativo e Etnográfico de Soajo, localizado numa das casinhas de pedra do Largo do Eiró, junto ao Pelourinho do século XVI.
As ruelas da vila também se fazem de pedra, muitas vezes, preenchidas com o som dos cascos do gado que as atravessa, rumo à montanha. É esse mesmo gado, feito de vacas de raça cachena, de porte imponente e grandes cornos curvados, ou por ovelhas e cabras orientadas pelos pastores locais, com que nos cruzamos na estrada, a caminho da próxima paragem: Sistelo.
Sistelo: vida aos socalcos
Chamar Sistelo de "pequeno Tibete português" é talvez um dos maiores clichés que existem, tal como dizer que Aveiro é "a Veneza portuguesa". Sistelo não precisa de comparações exteriores para ser um lugar fascinante e um dos mais belos do Alto Minho.
Considerada uma das 7 Maravilhas de Portugal, na categoria Aldeia Rural, esta povoação de origem medieval tem nos socalcos uma marca identitária única no País. A sua paisagem cultural foi reconhecida como património nacional. A vida faz-se ao ritmo das vacas cachenas e ao sabor daquilo que a terra dá. Na vila, a igreja paroquial, o Largo do Cruzeiro e a Casa do Castelo (um palácio com duas torres que se distingue de tudo o resto) captam a atenção de quem está de visita. Entre no Centro Interpretativo da Paisagem Cultural de Sistelo, para conhecer melhor a história, a cultura e as gentes da terra.
Se for fã de caminhadas, estacione o carro e faça-se ao Trilho dos Passadiços, que conduz até às margens do rio Vez. Não saia da zona sem visitar os Miradouros da Estrica e dos Socalcos, para uma vista inesquecível sobre esta paisagem.
Melgaço: no coração raiano
Mudamos de concelho e seguimos mais para norte, rumo a Melgaço. A ruralidade que experienciámos até aqui vê-se diluída nesta vila sede de concelho, que, com mais população, oferece outra vivência. Mas nem por isso a sua história fica por contar.
O Castelo de Melgaço é talvez o testemunho mais visível, com o núcleo museológico na torre de menagem a chamar por uma visita. Aproveite para passear pelo centro histórico, com as suas casas em granito e os seus varandins em ferro.
Melgaço é sinónimo de vinho Alvarinho, e seria imperdoável uma visita sem perceber a sua influência nesta zona e as suas características. O Solar do Alvarinho, no centro histórico, proporciona essa imersão na cultura vitivinícola local, dando a conhecer o processo de produção do vinho e a sua importância na gastronomia local.
Tirando a história e a gastronomia, Melgaço atrai os amantes de desportos de natureza. Com uma rede de 15 trilhos, é um destino perfeito para quem gosta de fazer caminhadas. Se aprecia atividades mais radicais, encontra aqui as condições perfeitas para praticar canyoning, rafting, rapel ou escalada.
Porta de Lamas de Mouro: a entrada no parque
A paragem que se segue no roteiro pelo Alto Minho é a Porta de Lamas de Mouro, a cerca de 30 minutos de carro de Melgaço. Esta é uma das cinco entradas no Parque Nacional da Peneda-Gerês, e é composta por edifícios que oferecem um olhar interativo sobre a região. Tendo o Ordenamento do Território como tema central, pode recorrer à tecnologia 3D para uma visão de 360 graus sobre a ocupação e os caminhos da transumância no território.
Há ainda um parque de campismo e um parque de merendas, caso prefira uma paragem mais extensa e descansar da viagem.
Castro Laboreiro: terra de transumância
A pouca distância de Lamas de Mouro está Castro Laboreiro, outra paragem obrigatória. É uma das aldeias mais emblemáticas do parque nacional. Localizada no topo da montanha, a quase mil metros de altitude, Castro Laboreiro sente a passagem do tempo, mantendo intactos os costumes.
Além do castelo (ou do que resta dele), do núcleo museológico, da igreja matriz e do pelourinho do século XVI, o verdadeiro encanto da localidade está na natureza, nas pontes medievais que a ligam e nos antigos percursos da transumância. Durante séculos, os castro-laboreirenses foram conhecidos por mudarem de local consoante as estações. Em dezembro, quando o frio apertava, pegavam nos pertences e desciam para as "inverneiras", as áreas mais abrigadas nos vales. Já no verão, iam viver para as "brandas", as zonas mais altas, que ofereciam melhores condições para o pastoreio.
Muitas localizações estiveram por décadas entregues ao abandono, mas parecem agora voltar à vida, quer seja com o retorno de quem tem laços familiares com o território, quer por quem lhe atribui potencial turístico. É o que acontece em lugares como a Inverneira de Pontes ou a Branda da Aveleira. A última é ocupada desde o século XII, na altura da primavera e do verão, como local de pastoreio para gado ovino, bovino e até para cavalos. Siga pelo Trilho da Branda da Aveleira, se quiser experienciar de perto esta realidade e a beleza natural do lugar.
Explorar o Alto Minho, seja pelos caminhos trilhados pelos pastores, seja pelas estradas de montanha, é conhecer uma região onde as tradições continuam presentes no dia-a-dia das comunidades. Uma viagem que revela o que ainda existe para lá dos roteiros turísticos habituais. Visitar lugares como o Soajo, Sistelo, Melgaço ou Castro Laboreiro é perceber que há um Portugal onde a ligação à terra, à história e à identidade permanece bem viva.
Informações úteis para uma semana
O custo mínimo para estada a dois, de 20 a 26 de setembro, é de 745 euros. Inclui alojamento em hotel de quatro estrelas com pequeno-almoço. O preço foi recolhido online, a 23 de julho, para Arcos de Valdevez e área envolvente (até cinco quilómetros). Em Melgaço, para o mesmo cenário, uma estada custa, no mínimo, 755 euros.
Quando ir
Opte por fazer este roteiro na primavera, entre abril e junho, ou no outono, em setembro ou outubro. Evita os meses de maior calor e maior número de visitantes, ou do inverno, quando a probabilidade de chuva é quase certa e os caminhos estão enlameados.
Duração ideal da viagem
Três dias é o mínimo para percorrer todas as localidades e ter tempo para fazer um ou dois trilhos pequenos. Para explorar com tranquilidade cada uma das aldeias e vilas, guarde quatro ou cinco dias. Mais do que isso permitirá outras experiências, como uma ida às termas ou praticar desportos de aventura.
Cuidado com o percurso
Certifique-se de que o automóvel está nas melhores condições. Vai enfrentar muitas curvas e estradas estreitas de montanha. Tenha cuidado com o nevoeiro nas zonas mais altas e com o gado à solta. Os postos de abastecimento são escassos fora das principais vilas. Descarregue mapas para usar offline. Pode haver zonas sem rede móvel.
O conteúdo deste artigo pode ser reproduzido para fins não-comerciais com o consentimento expresso da DECO PROTeste, com indicação da fonte e ligação para esta página. Ver Termos e Condições. |