Ilha do Pico: o que fazer e visitar no coração dos Açores
Na ilha do Pico, o vinho nasce da pedra e as baleias saltam no horizonte. Entre currais de lava e mares profundos, há um mundo para descobrir que desafia os sentidos e fica marcado na memória.

De avião ou de barco, a chegada à Ilha do Pico surpreende qualquer viajante. O Pico, a maior montanha de Portugal, eleva-se imponente naquele pedaço de terra plantado no meio do oceano Atlântico. Em conjunto com as ilhas do Faial e de São Jorge, faz parte do apelidado "triângulo dos Açores". Pode visitar as três numa só viagem, mas a proposta é que dedique algum tempo ao Pico para conhecer o que nasce da sua terra e o que vive no seu mar.
Criação Velha é Património mundial UNESCO
Há muito para ver. Um dos maiores atrativos da Ilha do Pico é o vinho. Sim, quem diria que daquelas terras de origem vulcânica brotam vinhas na base de um dos vinhos portugueses mais peculiares. Chamamoslhe "peculiar" por ser surpreendente e distinto desde a sua criação até ao momento em que toca os nossos lábios.
De Cachorro a São Caetano, percorrendo o oeste litoral da ilha, pode ver vários marcos que testemunham a cultura vitivinícola do Pico, desde os campos de cultivo às zonas rurais com adegas, armazéns e alambiques. Porém, é na Criação Velha que encontra a paisagem classificada como Património Mundial da Unesco desde 2004.
O recorte negro dos campos de basalto capta a curiosidade. Tiveram de ser limpos para dar espaço ao crescimento das vinhas, e as pedras soltas que por ali existiam foram levantadas do solo para fazer os muros – também chamados "currais" – que protegem as videiras do vento forte e do sal trazido pela brisa do mar. Foram construídos à mão, pedra sobre pedra, sem recurso a maquinaria ou até a argamassa que os sustente. Estas são as mesmas pedras que absorvem o calor durante o dia e o libertam à noite, ajudando no processo de amadurecimento das uvas.
Do topo do Moinho do Frade, bem no centro das vinhas na Criação Velha, consegue ter uma visão impressionante destes campos rendilhados. Não abandone a zona sem dar um passeio à beira-mar. Aqui encontra as "relheiras", marcas profundas deixadas na rocha vulcânica pelas rodas das carroças puxadas por bois, que durante séculos transportaram pipas de vinho, pessoas e mercadorias.
Procure ali perto os "rola-pipas", que são rampas escavadas na pedra que serviam para rolar as pipas de vinho desde os currais de vinha aos portos de embarque marítimo.
Conhecer a história do vinho do Pico
A história do vinho na Ilha do Pico remonta ao século XV, pouco depois do início do povoamento da ilha. Os primeiros colonos, sobretudo aqueles que vieram do norte de Portugal, trouxeram videiras e começaram a cultivá-las naquelas que consideravam ser as zonas mais férteis.
Para conhecer este passado sugerimos uma visita ao Museu do Vinho, na Vila da Madalena. Nestas antigas instalações agrícolas que pertenceram ao Convento do Carmo, e que serviram como local de veraneio dos frades carmelitas, vai aprender sobre as origens e as várias tecnologias utilizadas ao longo do tempo na produção de vinho na Ilha do Pico.
Rodeados por vinhas e dragoeiros seculares estão a Casa Conventual e os edifícios do Lagar e dos Alambiques, que contam as memórias desta cultura vinícola moldada por lava e mar.
Provar o vinho do Pico
Depois de conhecer onde se forma o vinho do Pico e a história, chegou a melhor parte: prová-lo. Existem 11 adegas na Ilha do Pico. Numa ilha tão pequena, mais de uma dezena de produtores dão corpo e alma a um vinho que encanta pela mineralidade, acidez e toque salino.
Distribuídas entre São Roque do Pico e a Madalena do Pico, as adegas picarotas combinam a tradição com inovação, sendo um testemunho da relação entre as pessoas e a terra. Muitas destas casas mantiveram a localização e traça tradicional, onde se destacam as paredes de basalto, estando integradas na paisagem que as rodeia e permitindo uma experiência vinícola única.
A Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico é um dos mais antigos produtores de vinhos dos Açores. Fundada em 1949, reúne 270 associados que todos os anos ali entregam as melhores uvas apanhadas à mão nas vinhas rochosas para a produção dos vinhos com o selo desta cooperativa.
Em contraste, a Azores Wine Company, sob a batuta do enólogo António Maçanita, é uma das adegas mais inovadoras na ilha, oferecendo experiências de enoturismo que vão desde as provas, ao alojamento, às refeições e menus de degustação no seu restaurante.
Mas existem outros produtores que se distinguem pela exclusividade, como a Adega de Santana, conhecida pelos licores e aguardentes, ou a Adega Czar, onde os vinhos licorosos são resultado de vindimas tardias e estágio prolongado.
Para conhecer as adegas do Pico, pode fazer um roteiro para percorrer a parte oeste da ilha. Terá sempre de contactar cada adega e reservar a visita.
Atrativos da ilha da terra para o mar
Desde o povoamento do Pico que a produção de vinhos faz parte da atividade económica da ilha, mas outro modo de subsistência esteve bem presente na história deste povo insular: a caça à baleia.
A prática teve início no século XIX, quando baleeiros norte-americanos navegaram pelos mares dos Açores atrás dos cachalotes e recrutaram os homens das ilhas para integrar as suas tripulações.
A caça à baleia durou mais de um século, até que foi oficialmente proibida em 1984. Porém, as baleias continuam a ter uma presença importante na vida do Pico, com a sua observação a representar um dos maiores atrativos turísticos. Lajes do Pico, outrora um dos centros nevrálgicos da caça à baleia nos Açores, é hoje o ponto de partida para ir ver os gigantes dos oceanos.
Em busca das baleias nos Açores
Empresas turísticas, como a Espaço Talassa, a Aqua Açores ou a Futurismo Azores Adventures, disponibilizam passeios diários de meio dia de barco para ir ver as baleias e os golfinhos.
Dependendo das condições meteorológicas e da altura do ano, a probabilidade de ver baleias é alta, sendo que a tripulação conta com a ajuda de vigias em terra e de hidrofones (dispositivos usados para detetar as vocalizações dos cetáceos debaixo de água) nos barcos. Contudo, trata-se de animais em estado selvagem. Pode não conseguir vê-los.
Para aumentar as hipóteses de sucesso, a melhor altura do ano para ver baleias na Ilha do Pico é entre abril e outubro. A época alta de observação ocorre entre maio e julho. Se visitar a ilha neste período de maior procura, não se esqueça de reservar a saída ao mar.
Vamos a contas e reviver outros tempos
Já em terra e depois de ter um dos momentos mais inesquecíveis da viagem ao Pico é hora de fazer um balanço, com os membros da tripulação a indicarem os animais que teve oportunidade de ver. Existem 28 espécies de baleias e golfinhos que passam pelas águas do Pico, entre eles, o cachalote, a baleia-comum e a baleia-azul, bem como o golfinho-comum, o golfinho-roaz ou o golfinho-de-risso.
Integrando o bilhete desta atividade, algumas empresas, como a Espaço Talasso, incluem ainda a visita ao Museu dos Baleeiros, mesmo ao lado do porto das Lajes do Pico. Este, em conjunto com o Museu da Indústria Baleeira, em São Roque do Pico, conta a história da antiga atividade baleeira na ilha.
Ocupando três armazéns onde se guardavam os botes baleeiros, no Museu dos Baleeiros pode ver um bote açoriano, a réplica de uma tenda de ferreiro, onde eram forjados e reparados os instrumentos utilizados na atividade, e objetos que retratam como era o dia-a-dia destes homens e das suas famílias.
Seja nessas histórias contadas pelo mar ou na terra moldada pela lava, o Pico revela-se num equilíbrio raro entre a natureza e o Homem.
Informações úteis
A viagem a dois de 19 a 23 de junho custa, no mínimo, 1135 euros com alojamento no Pico em hotel de quatro estrelas, em regime de pequeno-almoço. O orçamento inclui voos de ida e de regresso. Procurou-se o tempo de viagem mais curto e aproveitar ao máximo o dia do regresso. Os preços foram recolhidos online a 5 de maio de 2025. A observação de baleias e golfinhos dura cerca de 3 horas. Em junho, a atividade custa 70 euros por adulto.

Não só de vinho vive o Pico. No marisco, prove o cavaco, a lagosta e as lapas. A gastronomia picoense inclui caldos de peixe, polvo guisado, molha de carne e linguiça com inhame.
Como chegar
A Azores Airlines tem voos diretos para a Ilha do Pico a partir do Continente. Conte também com voos diários da SATA a partir de Ponta Delgada e Lajes, da Ilha Terceira. Para explorar o triângulo Faial-Pico-São Jorge, a Atlânticoline faz a ligação marítima por ferry.
Passear pela Ilha
Os autocarros de transporte público ligam as principais localidades, mas a melhor opção para descobrir a ilha é reservar um carro. A Ilha Verde é uma das empresas mais conhecidas de rent-a-car, com postos no Aeroporto do Pico e no Cais da Madalena.
Levar na mala
O clima pode ser instável. Considere levar uma camisola, casaco corta-vento e calçado prático. Junte o fato de banho, chapéu, protetor solar e uma mochila pequena para o dia.
Vai subir o Pico?
Não se esqueça de levar calçado apropriado para andar em trilhos e terrenos rochosos, bem como água, comida, chapéu e protetor solar. Se pondera passar a noite, uma tenda, saco-cama e lanterna são fundamentais.
Festas locais
Em julho, acontecem as Festas da Madalena, com vários concertos e atividades. Já em agosto, São Roque rouba as atenções com o Cais Agosto, um festival que combina vários artistas musicais, provas desportivas e feira de artesanato.
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