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Festival Islâmico de Mértola: guia completo para descobrir a Vila-Museu do Alentejo

O Festival Islâmico é o motivo perfeito para explorar Mértola, onde a história vive nas ruas e o passado se mistura com o presente. Mergulhe no território alentejano banhado pelo Guadiana. O alojamento de três noites custa no mínimo 364 euros.

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02 maio 2025
Mértola

Câmara Municipal de Mértola

As ruas de Mértola conhecem bem o ritmo cadenciado e as vozes densas e envolventes do cante alentejano, uma expressão cultural que reflete a identidade da região. Porém, a cada dois anos, o cante dá lugar a melodias cantadas em árabe, trazidas pelos sons do alaúde e pelas percussões do deserto.

No final de maio – este ano, entre 22 e 25 –, a vila-museu alentejana transforma-se num grande souk (mercado tradicional muçulmano) durante o Festival Islâmico de Mértola, fazendo renascer uma história que a marcou durante mais de cinco séculos.

Raízes islâmicas de Mértola

Pela proximidade ao Guadiana, o "grande rio do Sul", como é chamado, Mértola foi um importante porto fluvial e centro comercial durante o domínio muçulmano na Península Ibérica. Entre os séculos VIII e XIII, esta foi uma fortaleza islâmica próspera, conhecida como Martulah.

Em 1238, a vila foi reconquistada pelo rei D. Sancho II com o auxílio da Ordem de Santiago, mas vestígios da herança islâmica permanecem visíveis na arquitetura e na cultura locais.

Festival cheio de sons e cores

O toque dos cabedais e dos tecidos das djelabas (túnicas tradicionais do Magrebe), o aroma do incenso e do sândalo, o sabor do chá de menta e das tâmaras: as inúmeras bancas espalhadas pelas ruas de Mértola durante o Festival Islâmico são uma viagem sensorial que nos transporta para terras magrebinas.

Ao contrário de outros festivais temáticos, não existem recriações históricas em Mértola. Há, sim, vendedores, artistas e produtores de alimentos, que vivem a realidade magrebina, e que nos brindam com ela em toda a sua autenticidade. A música ganha destaque, inspirada nos sons do al-Andalus e nos sufis espirituais, mas também nos do Magrebe, como os chaabi, gnawa e amazigh. Somos envolvidos por acordes bem diferentes e pelo bater de palmas ritmado, mas que despertam curiosidade.

O concerto inaugural acontece a 22 de maio, no anfiteatro do castelo de Mértola, um palco que, durante o festival, vai receber atuações às 19h00 e às 21h30. Outros locais para assistir a concertos são o cais junto ao Guadiana (nos dias 23 e 24, a partir das 23 horas) e o Pátio dos Sons, no Largo do Rossio, onde pode participar em oficinas de música, dança e percussão.

Mas não é só na música que pode contactar de perto com a cultura islâmica. Durante os dias de festival, vão ter lugar workshops de artesanato (na Oficina de Artes), sessões sobre alimentação e aulas de culinária (na Academia de Cozinha), bem como conferências, palestras e contos (na Casa das Letras, na Biblioteca Municipal).

O Hammam de Mértola, um espaço inaugurado em 2023 no largo principal da vila, também terá uma programação própria, e vale a pena a visita, para compreender aquele que é um dos rituais de banhos mais presentes na cultura islâmica e desfrutar de um chá num espaço com decoração marroquina.

Como tudo começou

Para descobrir a génese do Festival Islâmico, é essencial fazer uma visita ao Museu de Mértola. Aqui é possível compreender a dimensão da presença muçulmana (e, já agora, de outros povos) nesta região.

Mas este não é um museu qualquer, alicerçado num só espaço. O museu espalha-se por 14 núcleos, muitos assentes nos locais onde foram encontrados vestígios arqueológicos. Assim, visitar o Museu de Mértola é, por si só, um passeio pela vila.

No caso da presença islâmica, a história é contada em lugares como a Igreja Matriz (uma antiga mesquita), a Alcáçova do Castelo, a Casa Islâmica ou o núcleo museológico de Arte Islâmica instalado num antigo celeiro, junto da Porta da Ribeira.

Mas a história de Mértola não se esgota na herança islâmica, e a comprová-lo estão outros espaços, como o castelo, a Casa de Mértola, a Oficina de Tecelagem, a Basílica Paleocristã, a Casa Romana, a Forja do Ferreiro e a Casa do Mineiro.

Descobrir o Parque Natural do Vale do Guadiana

Visitar Mértola é uma ótima razão para se embrenhar no Parque Natural do Vale do Guadiana, e descobrir um dos maiores refúgios de natureza e vida selvagem no Alentejo. Pode fazê-lo através de um dos dez percursos pedestres assinalados, que vão desde os mais fáceis, como o PR2 – Os Canais do Guadiana –, aos mais exigentes, como o PR10 – Rota do Minério, que o leva pela área mineira de São Domingos.

Outro lugar natural digno de visita é o Pulo do Lobo, uma queda de água de 16 metros. Aqui, olhe para o céu: é bem capaz de ver a cegonha-preta, a águia-real e o bufo-real, aves que escolheram este lugar para viver. O concelho de Mértola é um dos territórios de eleição para os amantes de observação de aves.

É também parte da reserva Dark Sky Alqueva. Quando entra a noite, continue a olhar para cima e assista a um espetáculo de luzes trazido pelas estrelas. As mesmas que iluminaram Martulah há oito séculos.

Informações úteis

Sem hotéis disponíveis na zona de Mértola neste período, sugerem-se alternativas para três noites nas imediações em casa de campo com pequeno-almoço. O custo mínimo para estada a dois, de 22 a 25 de maio, é de 364 euros. O preço foi recolhido online, a 27 de março, para a área envolvente (até cerca de 20 quilómetros de Mértola).

Como chegar

A melhor forma de chegar a Mértola é de carro. Pode tomar a A2 até Castro Verde e depois a N123. Este meio dá-lhe a oportunidade de explorar os arredores da vila e embrenhar-se pelo Parque Natural do Vale do Guadiana. Caso prefira viajar de transporte público, a estação de comboios mais próxima é a de Beja. Também pode utilizar a Rede Expressos, mas a frequência é bastante limitada.

O que vestir

Em maio, o calor já se faz sentir, com as temperaturas médias a chegarem aos 25ºC. Leve roupa apropriada e mantenha-se hidratado. Opte também por calçado confortável, dado que as ruas da vila são íngremes e empedradas. Não se esqueça de um agasalho para a noite.

Parque Natural imperdível

Informe-se sobre os trilhos que quer fazer, dado que algumas zonas são bastante isoladas e sem rede móvel.

 

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