Ria Formosa: roteiro de aventura e tesouros do Parque Natural
Recomenda-se a viagem por um dos mais belos e diversificados ecossistemas de Portugal. É um convite à descoberta de um labirinto de canais, pradarias marinhas e sapal. Algarve cheio de vida dentro e fora de água.

Desafiámos Marlene Marques, do blogue Marlene On The Move para guiar os consumidores no Parque Natural da Ria Formosa. A água estende-se até onde a vista alcança, cortada por baixios de areia. O movimento vem dos bandos de pássaros, que levantam voo de um lado para aterrarem noutro, e dos barcos que cruzam as águas serenas.
Estamos no Parque Natural da Ria Formosa (PNRF), um sistema de lagoas, ilhas e penínsulas que se estende ao longo de 60 quilómetros da costa algarvia, do Ancão à Manta Rota.
Atrás de nós temos a cidade, o rebuliço de quem sempre viveu com a ria aos pés e que, por vezes, até a dá como garantida. À frente, um mundo natural que vive de detalhes, ora imersos nos dois metros de água da laguna, ora descobertos duas vezes por dia pela baixa-mar.
Bivalves, flamingos e salinas, uma vida contada na água
Há muito que a Ria Formosa faz parte da vida das populações locais. Na Idade do Ferro, já assumia um papel central, quando Tavira e Faro, cidades portuárias pré-romanas, estabeleciam relações comerciais com outros povos do Mediterrâneo. Séculos passados, a presença desta rica massa de água levou ao desenvolvimento de várias atividades económicas, como a pesca, a mariscagem e a exploração de sal.
As salinas ocupam um papel importante na região e pintam de branco a paisagem. Encontra-as nos concelhos de Olhão, Tavira e Castro Marim. Um dos núcleos mais importantes está na Quinta do Ludo, em pleno parque natural, e pode conhecê-lo fazendo um percurso de cinco quilómetros a pé ou de bicicleta. Mais de 90% do sal português provém do Algarve, e muito ainda é extraído de forma artesanal. Trabalhadores munidos de galochas e ancinhos remexem o sal e procedem à colheita, sobretudo nos meses de verão. É também nestes habitats esculpidos pela mão humana que, dependendo da altura do ano, se conseguem avistar os tão elegantes flamingos.
A Ria Formosa garante cerca de metade da produção nacional de bivalves. Nos bancos de areia, são recolhidos lingueirão, berbigão, amêijoas e ostras, os quais integram a gastronomia da região. O xarém, o arroz de marisco e a cataplana são presença habitual nas ementas dos restaurantes locais, e vale a pena experimentar estas iguarias.
Deserta, Culatra, Armona, Tavira e Cabanas, as ilhas-barreira
Como se não bastassem os pratos repletos de marisco, os belos percursos pedestres ou a observação de inúmeras espécies de aves – entre as quais o caimão, símbolo do PNRF, que costuma dar o ar da sua graça nos campos de golfe da Quinta do Lago –, o parque natural tem mais um enorme atrativo. Na realidade, aquele que chama mais visitantes: as ilhas-barreira.
As cinco ilhas que, em conjunto com as penínsulas do Ancão e de Cacela, protegem a área de sapal do parque, e a separam do Atlântico, são fundamentais para a manutenção do ecossistema da Ria Formosa. Apresentam características únicas, nomeadamente, nas dunas que atraem aves migratórias, como as andorinhas-do-mar, que vão ali nidificar.
Com o foco nas largas extensões de areia branca e fina e nas águas quase sempre calmas e cristalinas, cada uma das ilhas-barreira tem o seu quê de especial. A Ilha da Barreta, ou Deserta, como também é conhecida, é desabitada e, à exceção de um único restaurante, onde pode tomar uma refeição ou beber um café, são 11 quilómetros de extensão de areia que garantem tranquilidade a todos – na toalha ou a passear pelos passadiços de madeira.
Já a Ilha da Culatra é habitada todo o ano por uma comunidade constituída, na sua maioria, por pescadores. Para alcançar as praias, tem de atravessar a localidade de Culatra e seguir o passadiço de madeira até encontrar os sete quilómetros de areal banhado pelo mar que se dividem nas praias do Farol, Culatra e Hangares.
Ao lado da Ilha da Culatra, está a Ilha da Armona, a qual é habitada maioritariamente nos meses de verão, oferecendo alguns cafés, restaurantes, pequenos mercados e até um parque de campismo.
Já em termos de praias, divide-se em quatro: Armona-ria e Armona-mar, que, como o nome indica, estão voltadas uma para a ria e outra para o mar; a Praia da Fuseta, no lado nascente da ilha; e a Praia da Barra Nova, a cerca de um quilómetro e meio da Fuseta.
À frente de Tavira, está a ilha com o mesmo nome, bastante procurada nos meses de verão. Com 11 quilómetros de extensão, é lá que encontra a Praia de Tavira (com casas de férias, restaurantes e um parque de campismo), a Praia da Terra Estreita, a Praia do Barril (com um extraordinário cemitério de âncoras), a Praia Naturista e a Praia do Homem Nu, ambas procuradas para a prática do naturismo.
Por último, refira-se a Ilha de Cabanas, em frente à localidade como o mesmo nome. À semelhança da Deserta, não é habitada e, por isso, proporciona sete quilómetros de calmaria.
Do rebuliço trazido pelo verão aos passeios calmos da meia estação ou até do inverno, o Parque Natural da Ria Formosa abre os braços a todos. Deixe-se ficar até ao pôr-do-sol, quando as luzes das cidades se acendem, o céu enche-se de tons rosa e as aves preparam-se para descansar nas águas que sempre ali estiveram para as receber.
Informações úteis
O custo mínimo para estada a dois em hotel, de 19 a 26 de julho, é 1511 euros. Inclui alojamento em hotel de quatro estrelas com pequeno-almoço em Tavira. Os preços foram recolhidos online a 21 de maio. Para apenas duas noites (26 a 28 de julho), com o mesmo cenário, o custo mínimo é de 431 euros.
Como chegar
Faro, Olhão e Tavira são as principais cidades com ligação ao Parque Natural da Ria Formosa. Para chegar de carro, pode optar pela A22, também conhecida como Via do Infante, ou utilizar a Estrada Nacional 125. Estas cidades algarvias são bem servidas por transportes públicos, como comboio ou autocarro.
Quando ir
Visitar o parque natural pode ser um ótimo programa, se está de férias no Algarve, mas é a época mais concorrida. Se prefere temperaturas mais amenas e menos turistas, opte pelos meses de abril e maio, ou outubro e novembro. Os dois últimos são ótimos para observar aves migratórias que passam pela região.
Trilhar o parque natural
A melhor forma de conhecer a Ria Formosa é através dos percursos pedestres, e existem vários, todos de acesso fácil. Opte por calçado confortável e ponha-se a caminho.
Trilho de São Lourenço (3 km)
Partida/chegada: ponte de madeira que liga a Quinta do Lago à península do Ancão.
Caminho do Ludo (5 a 7 km)
Partida/chegada: Quinta do Eucalipto/caminho do Ludo.
Salinas do Ludo (5 km)
Partida/chegada: salinas do Ludo.
Percurso do Centro de Educação Ambiental de Marim (2,5 km)
Partida/chegada: portão do CEAM.
Percurso da Ilha da Barreta (3 km)
Partida/chegada: pontão da Ilha Deserta.
Trilho da Praia do Barril (3 km)
Partida/chegada: Pedras d’El Rei, depois da ponte pedonal.
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