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Aldeia de Monsanto de cortar a respiração com rota turística House of the Dragon

Vista única e ritmo cardíaco valente são duas promessas para um fim de semana arrebatador por 148 euros. A famosa série House of the Dragon, prequela de Game of Thrones, deu fogo à aldeia, mas Monsanto já brilha naquele cabeço há milhares de anos, muito antes de ser invadida pelos dragões.

Editor:
30 outubro 2024
Monsanto

Nuno César

Corta-nos a respiração em cada casa-pedra e acelera-nos as batidas do coração aos primeiros dez metros, em direção ao castelo, já depois das 20h00 de uma sexta-feira quente de setembro. Anoitecer mágico numa aldeia, encantada e carregada de história em cada esquina. O vento soprava tão forte, que guardei a subida para a manhã seguinte: 6h40m, salto do colchão para a rota até ao castelo. O nascer do Sol está reservado para as 7h22. As casas falam, os penedos seduzem e o chão inspira-nos.

Criada e construída num cabeço que se impõe ao olhar na maior parte dos horizontes, Monsanto (concelho de Idanha-a-Nova) detém dois títulos – Aldeia Mais Portuguesa de Portugal, em 1938, e Aldeia Histórica, em 1995. Monsanto é um ícone do País. 

Há duas formas de conquistar o monte: a mais central e conhecida, que hoje é também a rota turística do Ninho do Dragão, e outra mais exigente que passa ao lado da antiga casa de Zeca Afonso (lembra-se da "Senhora do Almortão", a canção?) e nos leva aos Penedos Juntos. Prepare-se para a vista mais deslumbrante da região. A aldeia é um festival da mãe-natureza e de raros tesouros.

Castelo de Monsanto ao alcance de todos com vagar

Com cenários autênticos para criar uma atmosfera épica e envolvente, a aldeia de Monsanto foi o palco escolhido para as filmagens da série House of the Dragon, prequela de Game of Thrones. Foi invadida por uma máquina de guerra, e hoje é o epicentro do turismo na região. Muito pressionada, a aldeia sempre recebeu turismo, mas não tem estrutura para a procura atual. O público é agora mais jovem, e esta é a diferença depois da divulgação da série.

Monsanto ganhou, de um dia para o outro, 750 novos habitantes. Apesar das limitações de circulação, João Pedro Mendonça, jornalista da RTP, usou o estatuto de filho da aldeia para registar, em exclusivo, tudo o que lhe permitiram testemunhar. Outrora, as pedras serviam de tronos para as gentes da aldeia, hoje servem de trono para os visitantes. 

Vistas compensam cada gota de suor

Se tiver sorte com o tempo, desperte muito antes de o Sol nascer, encha os pulmões e atire-se à subida com muito vento. Vai querer repetir a experiência. Abraçar a vista e espreitar Portugal ali de cima, à beira do arco triunfal que sobra da Capela de São João, é uma prova de vida. 

Depois, e só depois, inicie a caça aos locais da filmagem. Primeiro, impõe-se conhecer a aldeia e meter conversa. Entregue-se à caminhada com tranquilidade e faça paragens. O castelo tem duas entradas: a Porta Principal, virada a norte, e a Porta da Traição, para sul. Não chega lá sem hidratação.

No último fim de semana de setembro, fiz a subida por quatro vezes. Duas antes do nascer do Sol e duas, mais tarde, com o clã completo, levando a pequena Diana, de 18 meses, ora ao colo, ora nos ombros, ora pelo seu pé. O descanso maior foi sempre na área plana do monte-ilha antes do ataque ao castelo. Este foi o cenário para a Dragon Stone ("Pedra do Dragão") da série.

Não faça o percurso a correr. Ou arrisca perder o fôlego. As pedras estão ali de serviço, talhadas para que o viajante se sente nelas e relaxe, enquanto observa o espetáculo natural.

Já dentro do castelo, não pagámos, mas tivemos direito a um coro de andorinhas-das-rochas, cotovias-do-monte, gaios e estorninhos-pretos. As andorinhas, em bando, assumiram o posto de maestrinas. Ficaram num desassossego com a presença humana, mas nunca interromperam o seu número musical. No topo, o castelo oferece uma vista espetacular das planícies e das montanhas.

Monsanto e mais 11 aldeias históricas

É uma das doze Aldeias Históricas de Portugal, todas localizadas no Interior Centro: Almeida, Belmonte, Castelo Mendo, Castelo Novo, Castelo Rodrigo, Idanha-a-Velha, Linhares da Beira, Marialva, Monsanto, Piódão, Sortelha e Trancoso. Criada em 2007, esta rede tem como objetivo promover o desenvolvimento turístico da região.

Antes do regresso, uma paragem para desbravar Idanha-a-Velha, outra das aldeias da rede. Esta ainda mais deserta e bem mais plana, com um plano secreto de almoçar na Senhora do Almortão. À saída de Monsanto, depois da Relva, onde não faltam postos para carregar o carro elétrico, na estrada, à direita, impressiona o inselberg granítico de Monsanto, uma espécie de arquipélago de granito. A origem está em magmas, formados há 310 milhões de anos, expostos devido a processos tectónicos e climáticos. A intensa erosão esculpiu um caos de geoformas.

Entre a ficção e a realidade, Monsanto ganha sempre

Fernando Namora, médico e escritor, foi um dos mais ilustres habitantes. Viveu e inspirou-se na aldeia para o romance A Noite e a Madrugada.

Em 1944, a profissão levou-o para Monsanto, onde viveu numa casa que se conserva até hoje. Escreveu ali os últimos livros. "Cada manhã em Monsanto nasce o mundo. Lá me apercebi que a sombra é azul." Corra a marcar a visita. Vamos humanizar o Interior?

Informações úteis

O custo mínimo para estada a dois em hotel, de 22 a 24 de novembro, é de 148 euros. Inclui alojamento em hotel de três estrelas, com pequeno-almoço, em Monsanto. Os preços foram recolhidos online a 30 de setembro. Para alojamento em casas e apartamentos completos, com o mesmo cenário, o custo mínimo é de 160 euros.

Chegar, comer e dormir

A 26 quilómetros de Idanha-a-Nova, Monsanto fica no distrito de Castelo Branco. A única forma prática é viajar de carro. De Lisboa, siga pela A1 e pela A23, e depois pelas estradas nacionais N233 e N239. Vindo do Porto, tome a A1 e a A25, seguindo para Monsanto via Penamacor. Três horas ao volante. Os habitantes recomendaram dois restaurantes: Carlos e Café Bistrô. Para dormir na aldeia, há apenas um hotel e várias casas de turismo rural.

Não perder

O i-Danha Food Lab, de 7 a 9 de novembro, na aldeia de Monsanto, é uma conferência para celebrar a inovação e o trabalho na transição dos sistemas alimentares em direção a cadeias mais sustentáveis, com intervenientes do setor agroalimentar (empresas, investigadores, agricultores e consumidores).

A recordação mais artesanal

Leve para casa as típicas bonecas de pano nascidas na aldeia, não uma, mas várias para oferecer. As marafonas são assentes numa base de cruz de madeira. Factos apurados com as mulheres que as fazem de forma artesanal há décadas: não têm boca nem olhos ou ouvidos, e vestem trajes regionais coloridos. Duas crenças locais sobre os seus poderes: amuletos contra tempestades e objeto para trazer boa fortuna às mulheres. Todos os anos, participam no desfile da festa da Divina Santa Cruz, a 3 de maio. Os exemplares mais pequenos custam 5 euros. Têm íman para colar no frigorífico.

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