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Festival da Chanfana na Lousã: roteiro de sabores e aldeias de xisto

Deixe-se levar pelos aromas e sabores da chanfana e da gastronomia serrana, ao mesmo tempo que descobre as aldeias de xisto e a beleza natural da Lousã.

Editor:
30 janeiro 2024
Duas caçoilas de chanfana e travessa de acompanhamento em cima de uma mesa

Câmara Municipal da Lousã

Desafiámos Marlene Marques, do blogue Marlene On The Move, para guiar os consumidores pelo Festival da Chanfana, em Lousã, de 16 a 25 de fevereiro. Estamos no pico do inverno, e a serra cheira a musgo e folhas molhadas. O sol espreita pela escassa folhagem das árvores trazendo a saudade dos dias mais quentes. Mas, se o tempo não consegue levar calor de volta à alma, vamos buscar esse conforto noutro lugar.

O fumo sai das pequenas chaminés das construções de xisto que fazem as aldeias que pintam de cultura antiga a Serra da Lousã. O fogo começa a ser feito logo pela manhã, com pinho ou eucalipto, madeiras que a floresta local dá.

À medida que caminhamos pelas ruas estreitas empedradas, o cheiro a lenha queimada preenche o ar, mas, quando se aproxima a hora de almoço, outro aroma atrai quem está de visita: o da chanfana.

Chanfana com raízes comunitárias

A origem comprovada da chanfana continua a ser desconhecida, com várias localidades das Beiras a invocarem a sua autoria. Uns defendem a sua origem nos mosteiros, outros nas Invasões Francesas. Hoje considerado como uma das 7 Maravilhas da Gastronomia Portuguesa, este prato nasceu e cresceu com fortes ligações comunitárias, num ritual que transcende o tempo.

Com raízes ligadas às tradições agrícolas da região, a chanfana é preparada utilizando a carne das cabras mais velhas, aquelas que já viveram uma longa vida ajudando na subsistência das famílias, com o seu leite e estrume na terra, e que agora contribuem para um último propósito.

O método de preparação e de cozedura lenta em forno a lenha – à base de vinho tinto para amaciar a carne e ervas aromáticas – permite uma organização coletiva que sempre fomentou um sentimento de união entre os habitantes das aldeias.

Diferentes famílias chegaram a desenvolver as suas receitas, transmitindo a arte da preparação da chanfana por várias gerações. De mesa em mesa, de pais para filhos. Com tamanha herança culinária e cultural, a Lousã celebra este prato tradicional uma vez por ano.

Festival da Chanfana

A chanfana ganhou tal estatuto que é um prato procurado ao longo de todo o ano por quem visita a Lousã e as povoações espalhadas pela serra. Mas, entre 16 e 25 de fevereiro, pode encontrá-la como a estrela do cardápio de cerca de 20 restaurantes naquele que é o XII Festival Gastronómico da Chanfana. O sucesso do festival, que atrai habitantes locais e visitantes oriundos de todo o País, leva a casas cheias e stocks esgotados. As salas enchem-se do aroma que sai das caçoilas fumegantes nas mesas com este cozinhado regado a vinho no prato e no copo.

Outros pratos tradicionais fazem-lhe companhia, como os negalhos, feito com o bucho da cabra recheado, ou a sopa de casamento, que aproveita o molho da chanfana para envolver as couves e o pão. Existem ainda produtos endógenos, como o mel da Serra da Lousã e o vinho de Foz de Arouce, que marcam presença e são também um cartão de visita que incentiva à descoberta da região.

Explorar a Lousã e as aldeias de xisto

Das duas dezenas de restaurantes que se juntam à celebração, pode encontrar a maioria pelo centro da Lousã. Uma ótima desculpa para visitar a localidade.

Comece por conhecer as origens rurais da Lousã no Museu Etnográfico Dr. Louzã Henriques e, a seguir, passe pela antiga estação ferroviária para ver o conjunto de oito painéis de azulejos da autoria de Jorge Colaço. Aventure-se depois pelo casco urbano antigo da vila, onde encontra casas apalaçadas do século XVIII, os Paços do Concelho, o Pelourinho, a Igreja Matriz e os palácios dos Salazares e da Viscondessa do Espinhal.

Daqui faça-se à estrada em direção ao Castelo da Lousã e às Ermidas de N.ª Sr.ª da Piedade, junto à piscina fluvial com o mesmo nome. O frio da serra e a água revolta não atraem a banhos, mas a beleza do local convida à contemplação.

Uma das principais atrações é a natureza, oferecendo o palco perfeito para as atividades ao ar livre, desde as caminhadas aos percursos de BTT à observação de veados, considerada hoje como uma atividade turística de alto valor na época baixa.

A partir da vila pode aventurar-se pelo interior da serra, seguindo os trilhos pedestres que vão dar às aldeias de xisto de Casal Novo e do Talasnal, a última considerada como uma das mais bem preservadas. Por aqui entregue-se à doçura da tradição, com os Talasnicos, a combinação perfeita entre o mel e a castanha, e os Retalhinhos, pastéis feitos à base de castanha e amêndoa.

Outras aldeias preenchem a paisagem da Serra da Lousã e podem ser alcançadas de carro, como Cerdeira, Candal e Chiqueiro, onde os tons do xisto contrastam com os verdes das encostas. De ruas estreitas e íngremes, entre becos, escadarias e socalcos, estas pequenas povoações ali nasceram séculos atrás e hoje prevalecem como o lembrar de uma rica história que preenche o coração de Portugal. Um dia não basta para conhecer a região da Lousã. A visita quer-se lenta, ao ritmo da vida na serra, à velocidade da cozedura de uma chanfana.

Informações úteis

O custo mínimo para estada a dois em hotel, de 16 a 18 de fevereiro, é 180 euros. Os preços foram recolhidos online, a 2 de janeiro, para hotel de quatro estrelas com pequeno-almoço, em Lousã e área envolvente até 10 quilómetros. Em turismo rural, o preço começa nos 138 euros. Para a semana completa de 16 a 23 de fevereiro, o custo mínimo da estada a dois é de 615 euros. O turismo rural arranca nos 626 euros.

Como chegar

Para ter uma experiência completa da Lousã e explorar as aldeias de xisto, utilize o carro. A Lousã é ligada a Coimbra através da Estrada Nacional 17, fazendo-se o percurso em pouco mais de 25 minutos.

Previna-se para o frio

Fevereiro é um dos meses mais frios na serra, com a temperatura a rondar 2ºC de mínima e 17ºC de máxima. Proteja-se com roupa própria e não esqueça o calçado apropriado para terreno molhado, no caso de querer percorrer os trilhos.

Outros festivais gastronómicos na Lousã

Além do Festival da Chanfana, existem eventos durante o ano onde pode experimentar as iguarias da região, como o Festival do Cabrito, entre abril/maio, ou o Sabores de Outono, no final de outubro.

Já que anda pela Lousã

Não deixe de passar pela aldeia de xisto Casal de São Simão, a 40 minutos de automóvel da Lousã. Daí, percorra o passadiço de dois quilómetros que leva ao Miradouro das Fragas de São Simão, passando pela bonita praia fluvial com o mesmo nome.

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