Festival da Chanfana na Lousã: roteiro de sabores e aldeias de xisto
Deixe-se levar pelos aromas e sabores da chanfana e da gastronomia serrana, ao mesmo tempo que descobre as aldeias de xisto e a beleza natural da Lousã.

Desafiámos Marlene Marques, do blogue Marlene On The Move, para guiar os consumidores pelo Festival da Chanfana, em Lousã, de 16 a 25 de fevereiro. Estamos no pico do inverno, e a serra cheira a musgo e folhas molhadas. O sol espreita pela escassa folhagem das árvores trazendo a saudade dos dias mais quentes. Mas, se o tempo não consegue levar calor de volta à alma, vamos buscar esse conforto noutro lugar.
O fumo sai das pequenas chaminés das construções de xisto que fazem as aldeias que pintam de cultura antiga a Serra da Lousã. O fogo começa a ser feito logo pela manhã, com pinho ou eucalipto, madeiras que a floresta local dá.
À medida que caminhamos pelas ruas estreitas empedradas, o cheiro a lenha queimada preenche o ar, mas, quando se aproxima a hora de almoço, outro aroma atrai quem está de visita: o da chanfana.
Chanfana com raízes comunitárias
A origem comprovada da chanfana continua a ser desconhecida, com várias localidades das Beiras a invocarem a sua autoria. Uns defendem a sua origem nos mosteiros, outros nas Invasões Francesas. Hoje considerado como uma das 7 Maravilhas da Gastronomia Portuguesa, este prato nasceu e cresceu com fortes ligações comunitárias, num ritual que transcende o tempo.
Com raízes ligadas às tradições agrícolas da região, a chanfana é preparada utilizando a carne das cabras mais velhas, aquelas que já viveram uma longa vida ajudando na subsistência das famílias, com o seu leite e estrume na terra, e que agora contribuem para um último propósito.
O método de preparação e de cozedura lenta em forno a lenha – à base de vinho tinto para amaciar a carne e ervas aromáticas – permite uma organização coletiva que sempre fomentou um sentimento de união entre os habitantes das aldeias.
Diferentes famílias chegaram a desenvolver as suas receitas, transmitindo a arte da preparação da chanfana por várias gerações. De mesa em mesa, de pais para filhos. Com tamanha herança culinária e cultural, a Lousã celebra este prato tradicional uma vez por ano.
Festival da Chanfana
A chanfana ganhou tal estatuto que é um prato procurado ao longo de todo o ano por quem visita a Lousã e as povoações espalhadas pela serra. Mas, entre 16 e 25 de fevereiro, pode encontrá-la como a estrela do cardápio de cerca de 20 restaurantes naquele que é o XII Festival Gastronómico da Chanfana. O sucesso do festival, que atrai habitantes locais e visitantes oriundos de todo o País, leva a casas cheias e stocks esgotados. As salas enchem-se do aroma que sai das caçoilas fumegantes nas mesas com este cozinhado regado a vinho no prato e no copo.
Outros pratos tradicionais fazem-lhe companhia, como os negalhos, feito com o bucho da cabra recheado, ou a sopa de casamento, que aproveita o molho da chanfana para envolver as couves e o pão. Existem ainda produtos endógenos, como o mel da Serra da Lousã e o vinho de Foz de Arouce, que marcam presença e são também um cartão de visita que incentiva à descoberta da região.
Explorar a Lousã e as aldeias de xisto
Das duas dezenas de restaurantes que se juntam à celebração, pode encontrar a maioria pelo centro da Lousã. Uma ótima desculpa para visitar a localidade.
Comece por conhecer as origens rurais da Lousã no Museu Etnográfico Dr. Louzã Henriques e, a seguir, passe pela antiga estação ferroviária para ver o conjunto de oito painéis de azulejos da autoria de Jorge Colaço. Aventure-se depois pelo casco urbano antigo da vila, onde encontra casas apalaçadas do século XVIII, os Paços do Concelho, o Pelourinho, a Igreja Matriz e os palácios dos Salazares e da Viscondessa do Espinhal.
Daqui faça-se à estrada em direção ao Castelo da Lousã e às Ermidas de N.ª Sr.ª da Piedade, junto à piscina fluvial com o mesmo nome. O frio da serra e a água revolta não atraem a banhos, mas a beleza do local convida à contemplação.
Uma das principais atrações é a natureza, oferecendo o palco perfeito para as atividades ao ar livre, desde as caminhadas aos percursos de BTT à observação de veados, considerada hoje como uma atividade turística de alto valor na época baixa.
A partir da vila pode aventurar-se pelo interior da serra, seguindo os trilhos pedestres que vão dar às aldeias de xisto de Casal Novo e do Talasnal, a última considerada como uma das mais bem preservadas. Por aqui entregue-se à doçura da tradição, com os Talasnicos, a combinação perfeita entre o mel e a castanha, e os Retalhinhos, pastéis feitos à base de castanha e amêndoa.
Outras aldeias preenchem a paisagem da Serra da Lousã e podem ser alcançadas de carro, como Cerdeira, Candal e Chiqueiro, onde os tons do xisto contrastam com os verdes das encostas. De ruas estreitas e íngremes, entre becos, escadarias e socalcos, estas pequenas povoações ali nasceram séculos atrás e hoje prevalecem como o lembrar de uma rica história que preenche o coração de Portugal. Um dia não basta para conhecer a região da Lousã. A visita quer-se lenta, ao ritmo da vida na serra, à velocidade da cozedura de uma chanfana.
Informações úteis
O custo mínimo para estada a dois em hotel, de 16 a 18 de fevereiro, é 180 euros. Os preços foram recolhidos online, a 2 de janeiro, para hotel de quatro estrelas com pequeno-almoço, em Lousã e área envolvente até 10 quilómetros. Em turismo rural, o preço começa nos 138 euros. Para a semana completa de 16 a 23 de fevereiro, o custo mínimo da estada a dois é de 615 euros. O turismo rural arranca nos 626 euros.
Como chegar
Para ter uma experiência completa da Lousã e explorar as aldeias de xisto, utilize o carro. A Lousã é ligada a Coimbra através da Estrada Nacional 17, fazendo-se o percurso em pouco mais de 25 minutos.
Previna-se para o frio
Fevereiro é um dos meses mais frios na serra, com a temperatura a rondar 2ºC de mínima e 17ºC de máxima. Proteja-se com roupa própria e não esqueça o calçado apropriado para terreno molhado, no caso de querer percorrer os trilhos.
Outros festivais gastronómicos na Lousã
Além do Festival da Chanfana, existem eventos durante o ano onde pode experimentar as iguarias da região, como o Festival do Cabrito, entre abril/maio, ou o Sabores de Outono, no final de outubro.
Já que anda pela Lousã
Não deixe de passar pela aldeia de xisto Casal de São Simão, a 40 minutos de automóvel da Lousã. Daí, percorra o passadiço de dois quilómetros que leva ao Miradouro das Fragas de São Simão, passando pela bonita praia fluvial com o mesmo nome.
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