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Filipe Morato Gomes: crónicas de viagem com alma e ética

Tornou-se cronista de viagens depois de ser despedido e já fez duas voltas ao mundo. Considerado um dos pioneiros nacionais em blogues de viagem, Filipe Morato Gomes tem lutado pela ética na publicação destes conteúdos. 

Editor:
20 setembro 2024
Filipe Morato Gomes

Victor Machado

Calções, t-shirt e calçado desportivo. É assim que encontramos Filipe Morato Gomes no terminal de cruzeiros de Matosinhos para esta entrevista. O local de passagem de turistas não podia ser mais apropriado ao tema, as viagens, e foi sugestão dele, também apaixonado por fotografia, pelo cenário cinematográfico impressionante do edifício e da zona envolvente.  

O bloguer apresenta-se minimalista, muito à semelhança do que diz ser a sua bagagem para uma viagem de volta ao mundo. "Quando tudo te pesa nas costas, levas o mínimo possível, não é?" Para o autor do "Alma de Viajante", um dos mais antigos e conceituados blogues de viagens de Portugal, é mais fácil fazer uma mala para uma volta ao mundo do que para 15 dias no Algarve.

Por isso, não duvidamos quando diz que não faz grandes compras e o justifica com uma história recente: "há dias, a minha mulher reparou que ando a dormir com uma t-shirt dos tempos da faculdade, com mais de 20 anos. Mas, se está boa, porquê trocar?", desafia.   

Quem é Filipe Morato Gomes 

Tem 53 anos, é de Matosinhos. Licenciou-se em Engenharia de Sistemas e Informática e trabalhou na área de multimédia. Além do blogue "Alma de Viajante", foi líder de "viagens de aventura" e fundou a Associação de Bloggers de Viagem Portugueses.

Uma volta ao mundo e uma viragem na carreira profissional   

"Eu dizia muitas vezes 'qualquer dia despeço-me e vou dar uma volta ao mundo', mas nunca tive a coragem de dar esse passo por mim. Felizmente, fui despedido", recorda Filipe, agora com alguma satisfação.

Com 33 anos, o engenheiro de sistemas e informática perdeu o emprego numa empresa de multimédia, e decidiu fazer a mochila. Já gostava de escrever e fotografar as suas viagens, e até tinha publicado algumas reportagens em meios como a "Fugas", do jornal "Público".

Quando decidiu fazer a primeira volta ao mundo, o editor da "Fugas" aceitou publicar semanalmente a crónica da sua viagem, sem compromisso. Mas teve sucesso. "Começámos a rubrica com uma página e acabámos com quatro! Foi nessa altura, ao fim de 14 meses de viagem, que decidi que era aquilo que queria fazer: viver da escrita, da fotografia, do trabalho proporcionado pelas viagens."  

Filipe Morato Gomes tinha partido em julho de 2004 e prometeu aos familiares voltar, no máximo, até ao Natal de 2005. Durante essa primeira volta ao mundo, nasceu o blogue "Alma de Viajante", onde Filipe publicava as crónicas do jornal, algumas semanas depois de serem divulgadas, já que a "Fugas" nem tinha site àquela data. Foi então que percebeu o "poder da internet".

E, dito isto, guia-nos por uma viagem de imaginar um passado que já parece muito distante e quase difícil de visualizar na era do imediato das redes sociais: "Vivia a experiência da viagem durante uma semana, chegava à terça-feira à tarde e decidia que crónica ia escrever. Depois, para enviar a crónica, tinha de ir a um cibercafé, ligar-me à internet, enviar as fotos e ver os e-mails e comentários no blogue. Foi aí que percebi o poder da relação que se cria com as pessoas que estão do outro lado." Filipe descreve que os comentários eram uma espécie de combustível, de ânimo que precisava para aguentar. "As viagens nem sempre são lindas e maravilhosas; custam muitas vezes, não é?", desabafa.

À vontade do pai Google   

Filipe não quis mais largar essa "liberdade impagável, de poder decidir a cada momento o que fazer, onde acordar e o que fazer no dia seguinte", como define as viagens de longa duração. Fez uma segunda volta ao mundo com a mulher e a filha mais velha, quando esta tinha 5 anos, com o objetivo de registar o mundo visto por uma criança.

Numa altura em que o meio online ainda não reinava, Filipe apostou no seu "cantinho", onde não dependia de ninguém. Ou depende só de alguns. "Durante estes 20 e tal anos, já vivi fases de muito sucesso e euforia 'que fixe, está a resultar!' até fases deprimentes de 'e agora o que vou fazer, que isto deixou de resultar'. Costumo dizer que o Google é o meu pai: no online, se o Google está satisfeito com o meu trabalho, porreiro; se ele disser que o que faço não serve para nada, estou tramado", exemplifica. 

 

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Com mais de 300 mil visitas por mês em blogue, redes sociais e newsletter do Alma de Viajante, Filipe assume que não gosta das redes sociais e prefere "viver o momento" sem o telemóvel.

Adaptar a escolha do destino à procura dos consumidores

"Há uns anos, a Ryanair lançou uma rota do Porto para Malta, e fui lá para produzir conteúdos. Recentemente,   estive em Santorini, Grécia, que não era a minha prioridade, preferia ir para o Nepal ou para o Paquistão. Tento balancear o que me interessa pessoalmente e destinos que podem ter mais procura", explica Filipe.

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