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Nadar em águas contaminadas: quais os riscos?

Nos últimos dias, os níveis de contaminação das águas interditaram os banhos em várias praias do País. Mas, afinal, quais os riscos de nadar ou fazer desportos em águas contaminadas? E como saber os níveis de qualidade das águas nas praias em Portugal?

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05 agosto 2025
Jovem adulto a nadar na água de um rio

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Nos últimos dias, foram várias as notícias de praias interditadas a banhos devido à contaminação da água do mar. Na praia da Nazaré, cerca de 100 pessoas tiveram de ser assistidas após uma falha técnica que originou uma descarga nos esgotos pluviais e maus cheiros, o que causou uma contaminação. Já esta semana, três praias no Algarve — Verde, da Altura e do Verde Lago — foram interditadas a banhos devido à contaminação pela bactéria E.coli (Escherichia coli). 

Afinal, de que forma é controlada a qualidade das águas em Portugal e como pode a qualidade da água do mar, de rios ou de barragens e albufeiras representar um risco para a saúde de banhistas e desportistas?

Esclareça algumas as principais dúvidas.

Porque é que a contaminação de águas balneares é mais frequente no verão?

O aumento da temperatura média, associado às alterações climáticas, favorece o desenvolvimento e o crescimento massivo de algas que produzem toxinas (cianobactérias) e que, por isso, podem ser um risco para a saúde pública. À semelhança do aumento da temperatura média, também as cheias e a secas podem afetar a distribuição de poluentes químicos e microbiológicos com impacto na saúde humana, assim como a proximidade a zonas de descargas de águas residuais industriais e urbanas, que podem impactar a qualidade das massas de água envolventes, no caso de ocorrer alguma falha operacional neste processo.

É por isso que é frequente, quando se inicia a época balnear, surgirem notícias de praias do País onde os banhos são desaconselhados ou proibidos. 

Que entidade avalia a qualidade das águas balneares?

Em Portugal, a classificação das águas balneares (águas onde se preveja que um grande número de pessoas se banhe e onde a prática balnear não tenha sido interdita ou desaconselhada) é feita anualmente com base num controlo regular, de acordo com um calendário de amostragem definido para cada época balnear. Esse controlo está a cargo da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que analisa as amostras e reporta os resultados ao Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA), à Autoridade Marítima e às autoridades locais responsáveis pela área balnear.

A qualidade das águas é monitorizada com frequência?

A Agência Portuguesa do Ambiente, o Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente, a Autoridade Marítima e as autoridades locais responsáveis pela área balnear, em conjunto com as delegações regionais de saúde, monitorizam as águas balneares e dão as instruções necessárias para que sejam colocados os avisos necessários à população (por exemplo, colocação de bandeira vermelha) se as águas tiverem de ser interditadas.

Para que os banhos voltem a ser permitidos, é preciso fazer novas amostras, em vários pontos de recolha, para confirmar que a água balnear voltou a estar adequada a banhos e à prática desportiva. É com base neste tipo de análises (pelo menos 16 amostras em quatro anos) que são avaliadas as águas balneares, classificadas “Má”, “Aceitável”, “Boa” ou “Excelente”.

Como posso saber que restrições estão em vigor?

É possível saber as restrições à prática balnear atualmente em vigor, por área geográfica, no site da Agência Portuguesa do Ambiente.

No site ou na app InfoPraia também é possível encontrar estes dados em tempo real. Além de informação sobre a qualidade da água ou quando foi feita a análise mais recente, pode saber a temperatura da água, as horas das marés, a duração da época balnear, o nível de ocupação e os equipamentos disponíveis (por exemplo, se tem estacionamento, posto de socorro ou instalações sanitárias).

Já para saber mais informação sobre a qualidade e a avaliação da aptidão para a prática balnear, pode consultar o site do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos da Agência Portuguesa do Ambiente (SNIRH).

Posso ficar com uma infeção se nadar em águas contaminadas?

A transmissão de agentes infeciosos através da água pode ocorrer pelo contato com a pele durante o banho ou até pela aspiração de germes presentes na água. Contudo, a forma mais comum de contaminação é através da ingestão, bebendo água contaminada, ou pelo consumo de alimentos lavados com água infetada.

Ainda assim, a probabilidade de um agente patogénico causar uma infeção ou doença depende da estirpe desse mesmo agente, da dose, da forma em que o agente patogénico é encontrado, das condições de exposição e da suscetibilidade e do estado imunitário da pessoa infetada. Entre os agentes patogénicos fecais mais frequentemente encontrados em águas contaminadas estão as bactérias E. coli.

Quais os sintomas provocados por uma infeção por E.coli? 

O principal habitat da Escherichia coli (E. coli) é o trato intestinal dos humanos e de outros mamíferos. No entanto, certas estirpes são patogénicas para o Homem e para outros animais, e não fazem parte da flora intestinal normal. É o caso da E. coli enterotoxigénica, responsável por diarreias em crianças e pela chamada “diarreia do viajante" (uma forma de gastroenterite), que pode provocar sintomas como:

  • diarreia aquosa;
  • febre baixa;
  • cólicas abdominais;
  • fadiga;
  • e náuseas.

Quando podem surgir os primeiros sintomas de uma infeção por E.coli?

Na maioria dos casos, os sintomas podem surgir entre oito e 44 horas após o consumo de um alimento contaminado, e têm uma duração de três a 19 dias. Contudo, apesar de poder causar desidratação, esta infeção é leve e acaba por se resolver sem tratamento específico. Já se a diarreia for moderada a intensa (mais de três episódios em oito horas), pode ser necessária a toma de antibióticos.

Já nos casos de infeções por E.coli O157:H7 e outras E.coli êntero-hemorrágicas, que provocam hemorragia no intestino, podem ocorrer inflamações graves (colite). Nestes casos, os sintomas podem surgir entre três e dez dias após a ingestão de alimentos contaminados, e variam entre gastroenterite aguda, com ou sem febre, vómitos, dor abdominal e diarreia sanguinolenta. Em casos mais graves, a doença pode evoluir para síndrome hemolítica-urémica, uma síndrome que se caracteriza por insuficiência renal aguda, anemia e/ou trombocitopenia, o que requer tratamento hospitalar.

Quais os sintomas provocados por uma intoxicação com cianobactérias?

As cianobactérias podem intoxicar humanos através da ingestão acidental de água contaminada durante a prática de atividades recreativas ou desportivas ou através do consumo de água indevidamente tratada. Embora estas intoxicações estejam pouco documentadas pela investigação científica, sabe-se que as doenças agudas causadas pela exposição de curta duração a cianobactérias e a cianotoxinas durante atividades recreativas podem causar sintomas semelhantes a rinite alérgica, erupções cutâneas e problemas respiratórios e gastrointestinais.

 

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