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Mouth taping: moda viral do TikTok tem riscos?

Dormir com a boca tapada com fita adesiva é uma prática que viralizou nas redes sociais. Segundo os seus adeptos, esta nova moda tem inúmeros benefícios para saúde. Mas será verdade? Veja o que revelam as investigações atualmente disponíveis sobre mouth taping.

Especialista:
17 junho 2025
Mulher a dormir com venda nos olhos e mouth taping, uma fita adesiva que tapa a boca

iStock

Tapar a boca com fita adesiva na hora de dormir é, segundo os defensores desta nova moda, a solução para vários problemas de saúde. Ao promover a respiração nasal enquanto se dorme, dizem que melhora a qualidade do sono e a respiração, os níveis de energia e o humor e até o sistema imunitário e a digestão.

Mas será esta prática segura e eficaz? Eis as principais conclusões possíveis, à luz de investigações científicas atuais. 

O que é o mouth taping?

O mouth taping é uma moda que se tem vindo a popularizar nas redes sociais como o TikTok. Esta prática consiste em tapar a boca com fita adesiva para promover a respiração nasal durante o sono. Trata-se de uma fita própria para contacto com a pele, entenda-se, e não fita-cola comum, sob pena de poder causar irritações e alergias cutâneas, por exemplo.

Os adeptos desta prática alegam que aplicar a fita nos lábios (desde o filtro labial até ao bordo inferior do lábio), bloqueando parcialmente a passagem de ar pela boca, traz inúmeros benefícios: melhora o sono, a respiração, a saúde oral, reforça o sistema imunitário, aumenta a energia, melhora o humor, a digestão, o aspeto da pele, etc. 

Já alguns investigadores alertam que o mouth taping pode acarretar sérios riscos para a saúde, sobretudo em pessoas com obstrução nasal. Além disso, faltam provas científicas que sustentem a maioria das alegações divulgadas nas redes sociais, e em particular no TikTok.  

Entre a tendência viral e a (falta de) evidência

Uma revisão da literatura científica publicada no American Journal of Otolaryngology analisou nove investigações sobre as eventuais vantagens do mouth taping promovidas nas redes sociais. Os autores concluíram que a maioria dos benefícios popularizados não foi devidamente estudada e não tem fundamento na literatura científica. Muitas alegações parecem basear-se sobretudo na premissa de que tapar a boca durante o sono reduz a respiração pela boca, sendo os alegados efeitos positivos extrapolados, de forma indireta, a partir dos benefícios já conhecidos da respiração nasal.

Existem algumas evidências preliminares que sugerem possíveis benefícios em contextos muito específicos, como, por exemplo, no tratamento da síndrome de apneia obstrutiva do sono. No entanto, a investigação atual a este nível é escassa e limitada. Por isso, os autores apelam a que sejam feitos mais estudos, para clarificar a eventual aplicabilidade clínica do mouth taping e avaliar, com rigor, a sua segurança e eficácia.

Noutra revisão sistemática, publicada na PLOS ONE – uma revista científica de livre acesso que publica investigações de diversas áreas científicas e de medicina – os autores concluíram que a prática indiscriminada de mouth taping pode ser prejudicial para a saúde, sobretudo em indivíduos com obstrução nasal grave. Nestes casos, esta prática pode comprometer a respiração normal, com potencial risco de asfixia.

O alerta resulta da análise de dez investigações que avaliaram diferentes formas de oclusão oral no contexto da síndrome da apneia obstrutiva do sono ou da respiração oral. Alguns dos estudos incluídos demonstraram melhorias ligeiras em parâmetros como os índices de ressonar, de apneia-hipopneia e dessaturação de oxigénio. No entanto, a evidência relativamente ao mouth taping como modalidade de tratamento foi muito modesta e, geralmente, sem relevância do ponto de vista clínico, sobretudo fora do contexto da síndrome de apneia obstrutiva do sono ligeira.

Assim, os autores concluíram que a evidência atualmente disponível não sustenta a utilização do mouth taping (ou de qualquer outra forma de oclusão oral) como intervenção clínica segura e eficaz para a população em geral com distúrbios respiratórios do sono.

O que importa reter sobre mouth taping?

  • A evidência disponível sobre a prática de mouth taping é ainda escassa e pouco robusta.
  • A maioria dos benefícios divulgados nas redes sociais, especialmente no TikTok, não assenta em estudos científicos credíveis.
  • Atualmente, o mouth taping não é uma intervenção validada nem recomendada por diretrizes médicas reconhecidas.
  • Esta prática pode representar um risco sério à saúde, sobretudo em indivíduos com obstrução nasal, podendo comprometer uma respiração adequada durante o sono.
  • São necessários estudos adicionais, com elevada qualidade metodológica, para clarificar eventuais benefícios clínicos e assegurar a segurança desta intervenção.
  • Apesar de parecer uma solução simples e económica, o mouth taping deve ser encarado com prudência, devido à falta de evidência científica robusta que comprove a sua eficácia, assim como aos potenciais efeitos adversos associados. Entre estes riscos estão o possível comprometimento de uma função respiratória eficaz (especialmente em pessoas com obstrução nasal); irritação cutânea provocada pela fita adesiva e o risco de aspiração ou ingestão acidental da fita durante o sono.

Atenção à desinformação na área da saúde nas redes sociais

A respiração oral – predominantemente feita pela boca em vez do nariz – ocorre, frequentemente, em pessoas com obstrução nasal ou faríngea (ao nível da garganta). Entre as causas mais comuns incluem-se a rinite alérgica, o aumento de volume das amígdalas e/ou das adenoides, bem como o desvio do septo nasal. 

Sabe-se que respirar pela boca quanto se dorme é um fator de risco para o desenvolvimento da síndrome de apneia obstrutiva do sono – um distúrbio caracterizado pelo breve, mas frequente, bloqueio das vias respiratórias, que provoca interrupções da respiração totais (apneias) ou parciais (hipopneias) durante o sono. Esta síndrome está associada a complicações cardiovasculares, como hipertensão arterial, diabetes, acidente vascular cerebral (AVC), arritmias e insuficiência cardíaca.

A qualidade do sono e como se respira de noite são, por isso, aspetos relevantes a considerar quando há suspeita de apneia do sono.

Se respira predominantemente pela boca, ressona, acorda várias vezes durante a noite, sente fadiga ou sonolência diurna, e suspeita de apneia do sono, procure aconselhamento médico, por exemplo, no centro de saúde ou numa consulta de medicina do sono ou de otorrinolaringologia.

Evite aderir a práticas sem base científica, que podem atrasar um eventual diagnóstico e ter implicações negativas para a sua saúde. Em caso de dúvida ou preocupação relativamente à sua saúde e bem-estar, procure aconselhamento junto do seu profissional de saúde. 

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