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Ressonar: causas e tratamento

O ressonar é uma queixa frequente em cerca metade da população adulta. Pode ser apenas um incómodo na altura de dormir, mas também pode ser sinónimo de alguma doença mais grave. Fique a conhecer as causas e as formas de tratamento para a roncopatia.

10 fevereiro 2023
Homem a ressonar

iStock

Ressonar ou roncar é uma queixa muito frequente na população geral, presente em cerca metade da população adulta, e que se verifica mais na população masculina e mais idosa. A roncopatia pode ser apenas um sintoma incomodativo para os companheiros de sono ou, nalguns casos, representar uma patologia grave como a síndrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS).

O que causa o ressonar?

O ressonar resulta de um som com origem na vibração do palato e das paredes da faringe, decorrente da passagem do ar por uma via aérea estreita e obstruída. Existem vários fatores que podem estar na origem da roncopatia:

  • idade mais avançada, devido a um maior relaxamento da musculatura faríngea nesta faixa etária.
  • condições relacionadas com o nariz ou garganta, tais como desvio de septo nasal, polipose nasal, congestão nasal causada pela constipação, rinite alérgica ou amígdalas aumentadas.
  • estilo de sono, especialmente dormir de costas, com a barriga para cima.
  • consumo de bebidas alcoólicas ou toma de outras substâncias que promovam o relaxamento muscular perto da hora de dormir (por exemplo, fármacos como benzodiazepinas ou relaxantes musculares).
  • obesidade.A acumulação de gordura nos tecidos cervicais, aumentando o perímetro do pescoço, além da acumulação de gordura retrolingual e retrofaríngea, que interfere com a passagem do ar nas vias aéreas.
  • tabagismo, uma vez que fumar causa inflamação da mucosa das vias aéreas superiores.

Crianças que ressonam

A roncopatia tem uma prevalência de 3 a 12% em idade pediátrica, por isso, não é frequentemente valorizada. Ocorre mais na idade pré-escolar e escolar, altura em que se regista o maior crescimento de adenoides e amígdalas, a causa mais frequente de obstrução da via aérea superior. No final da infância, ressonar torna-se menos frequente devido ao crescimento das vias aéreas e da estrutura óssea. No entanto, nos últimos tempos, esta diminuição da prevalência com a idade não é tão notória. Pode estar relacionado com o aumento da obesidade, que constitui um risco acrescido para a roncopatia também nas crianças. 

Ressonar na gravidez

O ressonar na gravidez é muito frequente porque é uma fase em que ocorrem alterações na anatomia e na fisiologia do aparelho respiratório, além de alterações no próprio padrão de sono. Outro dos fatores que podem justificar a roncopaia na gravidez são alterações hormonais. Os níveis elevados de estrogénios, por exemplo, podem provocar congestão nasal e rinite. Além disso, o aumento de peso que ocorre nesta fase pode provocar ou agravar o ressonar. Normalmente, trata-se de uma situação passageira que se desenvolve na segunda metade da gravidez e que se costuma resolver depois do parto. No entanto, esta situação pode permanecer e, nesse caso, deverão ser avaliadas as causas, consultando um médico.

Quando procurar um médico?

Qualquer indivíduo pode ressonar ocasionalmente, devido a algum dos fatores já descritos que estão na origem da roncopatia. Mas se passar a ressonar com muita frequência ou o ressonar tiver impacto na qualidade de sono, deve procurar um médico. Percebe que o sono tem menos qualidade quando, por exemplo, acorda frequentemente, fica ofegante ou tem asfixia durante o sono. Como consequência, vai notar que está mais sonolento durante o dia ou que tem dores de cabeça matinais.

Tratamentos para deixar de ressonar

Nas farmácias e parafarmácias, existem à venda algumas opções para o “tratamento” da roncopatia. Produtos como adesivos e clipes nasais e sprays antirronco, com a finalidade de abrir as vias aéreas, evitando o ruído. Todos estes produtos podem melhorar a respiração, mas não existem dados que demonstrem que diminuem o ronco.

A abordagem mais correta será, no início, adotar algumas medidas gerais, alterando hábitos que são possíveis causas de roncopatia, como por exemplo: 

  • dormir com a cabeça elevada. Levante ligeiramente a cabeceira da cama ou, em alternativa, durma com duas almofadas para facilitar a respiração;
  • dormir deitado de um lado, em vez de deitado de costas. Cosa um bolso com uma bola de ténis nas costas do pijama. Isto irá habituá-lo a retomar a posição lateral.
  • perder peso, caso tenha excesso de peso ou obesidade.
  • Evitar o consumo de bebidas alcoólicas e de medicamentos sedativos/relaxantes musculares antes de dormir.
  • Desobstruir o nariz. Se estiver entupido, use soro fisiológico. Os descongestionantes nasais podem ser úteis em caso de constipação, por exemplo, mas não por mais de três dias. Caso contrário, podem originar congestionamento crónico.

Se estas medidas não forem suficientes, deverá procurar um médico. Depois da colheita de história clínica e de hábitos de sono, o médico irá fazer alguns exames para perceber quais são as causas da roncopatia. O tratamento poderá passar por medicação para corrigir as condições de base, como alergia respiratória e rinosinusite crónica com medicação adequada: anti-histamínicos, corticoides intranasais, entre outros.

Caso o ressonar seja causado por alguma obstrução das vias aéreas superiores, como pólipos nasais, amígdalas de tamanho aumentado ou um desvio de septo nasal, o médico pode propor tratamento cirúrgico, como por exemplo, amigdalectomia e adenoidectomia, remoção de pregas mucosas e estruturas redundantes do palato mole, palatoplastia da úvula assistida por laser (LAUP), entre outros procedimentos.

Síndrome de apneia obstrutiva do sono

Em determinadas situações, a roncopatia pode ser um sinal da síndrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS), que é um distúrbio respiratório do sono caracterizado pelo breve, mas frequente, bloqueio das vias respiratórias, que provoca interrupções da respiração totais (apneias) ou parciais (hipopneias) durante o sono. Ou seja, ocorre um relaxamento excessivo dos músculos da via aérea superior, resultando no bloqueio da normal respiração. Além do ressonar, existem outros sintomas característicos da SAOS, como despertares súbitos com engasgos ou sensação de que se está a sufocar, despertares recorrentes, necessidade de urinar durante a noite, sono agitado, cefaleias matinais, sensação de sono não reparador, sonolência diurna excessiva, irritabilidade e falta de atenção, memória ou dificuldade de concentração.

Uma das complicações principais da síndrome da apneia obstrutiva do sono é o aumento do risco de ocorrência de acidentes laborais e de viação, como consequência da sonolência diurna excessiva. Para além disso, esta síndrome está associada ao aparecimento ou desenvolvimento de problemas cardiovasculares, como hipertensão arterial, diabetes mellitus, acidente vascular cerebral, arritmias e insuficiência cardíaca.

Se a SAOS for diagnosticada, a par das outras medidas gerais que se devem adotar em caso de roncopatia, poderá ainda haver a necessidade de instituir ventiloterapia durante o sono, descrita como “ventilação”, através de máscara nasal ou facial que se usa enquanto dorme.

O ventilador com pressão positiva contínua da via aérea (CPAP) – abreviatura da tradução do inglês (Continuous Positive Airway Pressure) – é um aparelho eficaz no tratamento da apneia do sono ao gerar uma pressão positiva, transmitida à via aérea do doente através de uma máscara nasal. Desta forma, permite a correção dos eventos respiratórios relacionados com o sono, melhorando, em simultâneo, algumas características clínicas. Em Portugal, o Sistema Nacional de Saúde (SNS) comparticipa na totalidade o aluguer do CPAP, pelo que o preço não é um fator que dificulte a adesão ao tratamento.

A utilização de aparelhos orais, utilizados apenas durante o sono, são outra das intervenções que podem ser propostas. Os aparelhos devem ser instalados por médicos dentistas especialmente treinados. Podem ajudar a manter as vias aéreas abertas durante o sono. É o caso dos dispositivos de avanço mandibular ou dispositivos de retenção da língua.

Que especialistas tratam a roncopatia?

O tratamento do ressonar não é feito por uma única especialidade médica. Trata-se de uma abordagem multidisciplinar de acordo com a causa subjacente. A intervenção poderá ser acompanhada por várias especialidades médicas, como otorrinolaringologia, pneumologia, psiquiatria ou neurologia e medicina dentária. No entanto, a primeira abordagem deverá ser feita pelo médico de família (medicina geral e familiar), que fará a primeira avaliação das possíveis causas da roncopatia e irá reencaminhar para a consulta de especialidade mais indicada.

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