Como diagnosticar alergias e o choque anafilático

Pólenes, ácaros, fungos, pó, picadas de insetos, cosméticos, alimentos e medicamentos. Todos podem desencadear alergia. Ninguém está a salvo de sofrer uma reação excessiva e inadequada do seu sistema imunitário por contactar com certas substâncias. Mas quem tem predisposição genética para tal e familiares alérgicos enfrenta um risco maior. Um teste cutâneo ou uma análise ao sangue podem identificar o alergénio.
Os sintomas dependem, sobretudo, da substância que provoca a alergia e da idade do doente. Nas diferentes alergias, as principais queixas são:
- olhos inflamados e lacrimejantes;
- corrimento nasal ou nariz entupido;
- erupções cutâneas, muitas vezes, avermelhadas e com prurido;
- sensação de falta de ar;
- fadiga, debilidade e dores de cabeça.
Choque anafilático, dificuldade respiratória, asfixia ou colapso vascular podem ocorrer em casos mais graves de exposição a um alergénio.
Há um serviço que pode ser muito útil para os alérgicos aos pólenes: a previsão polínica da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica. Trata-se de um mapa nacional interativo online que indica qual a concentração de pólen no ar, diariamente e em cada região do País. Mostra, ainda, quais são as árvores e as ervas mais ativas em cada dia. Se souber a qual é alérgico, pode evitar as zonas onde abundam.
É preciso algum cuidado com os pratos mais queridos dos portugueses, como os caracóis ou os mariscos. Especialmente, no caso dos bebés e das crianças. Também há alguns cuidados que deve ter em casa, na escolha dos materiais e na limpeza do lar.
Voltar ao topoDiagnóstico: testes alérgicos
Para identificar o responsável pela alergia, é importante conhecer a história clínica do paciente. Quando esta não é suficiente, um teste cutâneo ou uma análise ao sangue podem dar a resposta.
Utilizados com frequência, os testes cutâneos consistem em expor áreas muito pequenas da pele a soluções pré-preparadas com quantidades ínfimas de substâncias potencialmente alergénicas. São úteis para testar a sensibilidade de uma pessoa a várias substâncias, desde fungos e veneno de insetos a alimentos e medicamentos. No caso dos alimentos, são necessários outros exames adicionais (por exemplo, testes de provocação) para confirmar ou excluir a alergia.
Antes de fazer um teste cutâneo, pode ser necessário interromper alguma medicação, como os anti-histamínicos, que provocam um resultado falsamente negativo no teste.
Existem três tipos de testes cutâneos.
- No teste da picada, o local a picar é limpo com álcool. Sobre a pele são colocadas gotas de várias soluções, cada uma com um potencial alergénio e separadas por uma distância de dois a cinco centímetros entre si. A pele é picada com uma agulha, através das gotas, para que a solução penetre na camada superficial. Se for alérgico a esse agente, 15 a 20 minutos depois, a pele fica avermelhada, formando uma pápula e provocando comichão.
- No teste intradérmico, a solução com o alergénio é injetada com uma agulha e penetra mais profundamente na pele. Tal como no teste da picada, se houver alergia, os sintomas aparecem 15 a 20 minutos depois. Este teste é utilizado quando os resultados do teste de picada são negativos, mas ainda há suspeitas de que o paciente possa ser alérgico à substância.
- Já o teste de contacto é muito utilizado para detetar uma alergia da pele chamada "dermatite de contacto" (por exemplo, aos metais de certos acessórios). Nesta análise, são colocados adesivos embebidos com as substâncias suspeitas em contacto com a pele, geralmente nas costas. Aí ficam, no máximo, até dois dias, durante os quais não deve tomar banho ou fazer esforços físicos que causem muita transpiração, para evitar que os adesivos descolem. Quando estes são retirados, verifica-se se há sinais de reação alérgica.
Teste RAST (radioalergoabsorvente)
Entre outros fins, permite determinar qual a substância a que a pessoa é mais alérgica, em caso de testes cutâneos repetidamente positivos a alergénios diferentes. É utilizado numa fase inicial de despiste ou quando não é possível recorrer aos testes cutâneos, devido a inflamações na pele ou à impossibilidade de interromper tratamentos com anti-histamínicos, por exemplo. Consiste numa análise ao sangue, para quantificar os anticorpos da classe IgE, libertados em reações alérgicas, face a um determinado alergénio ou grupo de alergénios (por exemplo, vários alimentos). Os níveis de imunoglobulina (anticorpos) estão, muitas vezes, elevados em pessoas que têm alergias ou asma e também em quem tem parasitas no intestino.
Teste de provocação
É utilizado em adultos e crianças. No caso destas, como último recurso, depois de outros testes, para despistar alergias alimentares. Consiste em colocar a criança em contacto direto com quantidades crescentes do alimento suspeito. Porque podem ocorrer reações graves, este tipo de teste só pode ser feito por indicação médica, num hospital e sob vigilância de um profissional de saúde, durante 24 horas. Também se usa este tipo de teste no caso de suspeita de alergias a medicamentos.
Voltar ao topoIntolerância e reações alérgicas cruzadas
Por terem sintomas semelhantes, a alergia alimentar e a intolerância são muitas vezes confundidas. Na verdade, fazem intervir mecanismos corporais distintos. Numa alergia, o organismo, habituado a produzir anticorpos para lutar contra as bactérias e os vírus nocivos, reage a substâncias, à partida, inofensivas, mas entendidas como perigosas.
A intolerância é um tipo de hipersensibilidade, em que o sistema imunitário, responsável pelas defesas do organismo, não intervém. O organismo tem carência de uma enzima necessária à digestão de determinado nutriente, como é o caso da intolerância ao glúten ou à lactose do leite.
Existem sintomas comuns, no entanto, no caso da intolerância alimentar são essencialmente digestivos:
- gases e inchaço abdominal;
- dores de estômago;
- azia;
- dores de cabeça;
- e irritabilidade ou nervosismo.
Os sintomas ocorrem algumas horas após comer. Mas, ao contrário das pessoas alérgicas, quem tem uma intolerância consegue suportar pequenas quantidades da substância, sem sofrer uma reação significativa.
Reatividade cruzada
Entre as pessoas alérgicas, esta é uma situação cada vez mais familiar. Quando alguém tem uma reação alérgica a certa substância, pode ter um efeito idêntico se contactar com um elemento semelhante ou da mesma família. Diz-se, então, que há uma reatividade cruzada ou alergia cruzada.
Normalmente, isto deve-se ao facto de os alergénios (por exemplo, amendoins e frutos de casca rija) possuírem características semelhantes, que desencadeiam as defesas imunitárias do organismo.
As pessoas alérgicas ao pólen, por exemplo, têm mais probabilidade de terem alergias alimentares. Mais de metade das pessoas que sofrem de de rinoconjuntivites (forma de rinite que engloba perturbações das vias nasais e oculares) por contacto com o pólen de amieiro, aveleira e vidoeiro são também sensíveis à maçã, à avelã e ao pêssego.
Também frequente é a associação entre a alergia a látex e a alguns alimentos, verificada entre as pessoas que usam luvas de borracha, na sua atividade profissional, por exemplo. Os cruzamentos mais comuns ocorrem com frutos como banana, pera-abacate, castanhas e quivi.
As associações alérgicas podem, ainda, surgir entre alimentos. É o que acontece com a soja, a carne de vaca e o leite de cabra, no caso dos alérgicos ao leite de vaca. Também as reações a diferentes frutos secos e entre vários crustáceos e moluscos obrigam os que a eles são sensíveis a um autêntico quebra-cabeças alimentar.
Ao tomar um antibiótico do mesmo grupo daquele que já lhe provocou uma alergia ou outros medicamentos com uma composição química parecida, também se corre o risco de sofrer uma alergia cruzada.
Choque anafilático: como reconhecer
Uma alergia severa pode desencadear uma reação que envolve todo o organismo e ser fatal para o paciente. Geralmente, ocorre no período de uma hora após o doente entrar em contacto com a substância a que é sensível (pó, alimentos ou medicamentos, por exemplo). Nalguns casos, inicia-se passados alguns minutos e, se não houver uma intervenção médica rápida, pode levar à morte.
Fique atento aos sinais da anafilaxia:
- comichão generalizada, sobretudo nas solas dos pés e nas palmas das mãos;
- urticária, ou seja, uma erupção cutânea, com o aparecimento de pequenas lesões rosadas ou avermelhadas (pápulas), acompanhadas de uma sensação de queimadura ou comichão;
- angiodema, que se manifesta através de inchaço nas zonas onde a pele está menos esticada, como é o caso das pálpebras, dos lábios, da face e do pescoço. Se afetar a laringe, o angiodema pode mesmo causar asfixia;
- dificuldade em respirar, o que se deve à constrição dos brônquios;
- náuseas, vómitos ou espasmos abdominais;
- tonturas ou perda de consciência, devidas à descida brusca da tensão arterial;
- estado de choque, com o pulso acelerado, ritmo cardíaco irregular e palidez;
- se tiver os sintomas descritos ou estiver perto da vítima, peça a alguém que o leve ao hospital ou chame imediatamente a ambulância (pelo 112).
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