O que é um vinho sustentável?
A vitivinicultura sustentável vai além da produção biológica, assentando em práticas que têm em conta a eficiência energética, a gestão de resíduos e as condições dos trabalhadores, entre outras questões. Conheça melhor o que implica a sustentabilidade no setor dos vinhos.

Vinho ecológico, vinho biológico, vinho sustentável. Estes termos podem parecer designar o mesmo, mas há diferenças.
Ecológico e biológico são sinónimos no que diz respeito à produção de vinho, mas são utilizados em áreas geográficas diferentes. Em Portugal, é obrigatório utilizar a denominação biológico, enquanto o termo ecológico é mais comum na Espanha e no Brasil.
O vinho sustentável engloba questões que ultrapassam a produção e estendem-se a todos os aspetos que dizem respeito a este produto, desde a plantação da vinha, até à sua distribuição.
O que está em causa nestas formas de vitivinicultura que não procuram apenas a rentabilidade financeira?
Vinho biológico: como se produz?
O vinho biológico deve ser produzido com o menor recurso possível a químicos.
Na viticultura convencional, são utilizados pesticidas para proteger as plantações das ameaças:
- inseticidas para combater pragas de insetos (traça-da-uva e cigarrinha-verde ou cicadela, principalmente);
- herbicidas contra ervas daninhas;
- fungicidas para tratar fungos (escoriose, míldio, oídio, podridão cinzenta, etc.).
Na produção biológica, só é permitida a utilização de produtos fitofarmacêuticos em último recurso. Os químicos autorizados pelas autoridades europeias são reconhecidos pelo nível de toxicidade muito baixo.
Os vinhos biológicos devem também apresentar doses inferiores de sulfitos. A intenção destas regras é que o modo de produção tenha o menor impacto possível na saúde humana, nos ecossistemas e no ambiente. Uma das preocupações é minimizar a contaminação do solo e das águas subterrâneas com agroquímicos de efeitos mais nocivos.
Estando limitados no uso das substâncias químicas que tornam a viticultura mais rentável, os produtores de vinhos biológicos socorrem-se dos elementos naturais como aliados para proteger as colheitas. Os enrelvamentos, a promoção da biodiversidade e a confusão sexual (utilizada em viticultura biológica afetada pela traça-da-uva) são exemplos destas técnicas.

Vinho sustentável: o que abrange?
A sustentabilidade da vitivinicultura é um conceito que vai muito além da produção do vinho. Os programas de certificação sustentável dos vinhos assentam em três pilares: ambiental, social e económico. Ou seja, promovem o recurso a práticas ambientalmente corretas, socialmente justas e economicamente viáveis.
Para ser sustentável, o método de produção deverá conseguir um equilíbrio entre estas três vertentes, o que implica envolver todos os agentes do setor, da vinha ao copo:
- económica – a organização tem de ser justa nas condições de trabalho que oferece e na relação com os concorrentes, por exemplo, melhorando a vitalidade económica das empresas do setor;
- ambiental – a empresa tem de reduzir ao mínimo possível os impactos ambientais de toda a atividade (conservar a água e energia, combater a erosão do solo e mantê-lo saudável, proteger a qualidade do ar e da água, preservar os ecossistemas locais e o habitat da vida selvagem, etc.);
- social – tem de haver uma relação justa com as pessoas, o que inclui não só os colaboradores da empresa, mas também parceiros de negócio, fornecedores, clientes e a comunidade onde a organização se insere.
Ao nível mundial, o número de programas de sustentabilidade dos vinhos tem aumentado, e alguns países privilegiam a venda de vinhos com certificação. Esta preocupação está mais enraizada nos países do norte da Europa e no Canadá. Nos Países Baixos, algumas cadeias de supermercados exigem que os seus fornecedores de vinho tenham sistemas de sustentabilidade implementados.
A atribuição da certificação está dependente de auditorias anuais feitas por entidades externas, que validam se as metas de sustentabilidade que os sistemas de certificação propõem estão ser cumpridas. Os vinhos que preencham os requisitos podem ostentar no rótulo (bem como noutros materiais de embalamento e divulgação) um logótipo certificado.
Sustentabilidade do vinho em Portugal
Em Portugal, foi criado o Referencial Nacional de Certificação de Sustentabilidade do Setor Vitivinícola, uma iniciativa do Instituto da Vinha e do Vinho que está a ser gerida pela ViniPortugal. Viticultores, vitivinicultores, destiladores, engarrafadores e fabricantes de vinagre de vinho são exemplos de operadores abrangidos por este referencial.
O referencial contém 86 indicadores, distribuídos por quatro domínios de intervenção: gestão e melhoria contínua, ambiental, social e económico. Tal não significa que todas as empresas tenham de cumprir todos os requisitos. Estes são diferentes e adaptados de acordo com a atividade do operador, e a avaliação recai apenas nos indicadores que se ajustem à respetiva realidade.
A primeira empresa a obter a certificação segundo o Referencial Nacional de Certificação de Sustentabilidade do Setor Vitivinícola (Sustainable Winegrowing Portugal, para efeitos de divulgação no estrangeiro) foi a Symington Family Estates, em junho de 2023.
Antes desta iniciativa, a região do Alentejo já tinha implementado, em 2015, o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA). O primeiro selo foi atribuído em dezembro de 2020, à Herdade dos Grous.
Alguns exemplos de boas práticas na área da sustentabilidade vitivinícola:
- criação de charcas para captura e reutilização de águas pluviais;
- conversão de resíduos orgânicos em fertilizantes através da compostagem;
- instalação de painéis solares nas vinhas e adegas;
- utilização de pistolas de redução de caudal, para aumentar a eficiência no uso de água;
- recurso a técnicas que promovem a biodiversividade, combatem a erosão do solo e promovem a retenção de água, como o enrelvamento;
- redução do uso de pesticidas através de abrigos para pássaros e morcegos, que são predadores de insetos;
- utilização de cartão e cortiça provenientes de florestas geridas de forma sustentável;
- melhoria das condições de trabalho, nomeadamente com meios de transporte e abrigos para os trabalhadores;
- envolver a comunidade, divulgando a cultura local.
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