Dicas

Luto: como lidar com a perda e superar a dor

O luto é um processo de adaptação à perda de alguém ou de algo significativo. Cada pessoa reage à perda de forma diferente, mas são reconhecidas quatro fases do luto, que podem não ser estanques, envolvendo avanços e retrocessos. Deixamos alguns conselhos para tentar superar o luto da melhor forma.

11 agosto 2023
Homem com barbas e cabelo branco a sentir-se triste com um casal ao lado a consolá-lo - alusão ao tema do luto

iStock

Regra geral, pensa-se em luto como a resposta emocional à morte de uma pessoa querida. No entanto, é possível ocorrer luto noutras situações, entre as quais se pode encontrar, de forma não exaustiva:

  • fim de um relacionamento significativo (amoroso, familiar ou de amizade);
  • acompanhar alguém próximo com uma doença em estado terminal (luto em vida);
  • morte de um animal de companhia;
  • desemprego.

Todas estas situações têm um elemento comum, que é a perda de algo: uma pessoa, um animal, o meio de sustento, etc. A reação à perda é, normalmente, acompanhada de sentimentos de tristeza profunda, podendo também estar presentes emoções como a raiva ou a culpa, entre outras.

O luto é sempre igual?

Após a perda, a pessoa inicia um processo de adaptação à nova realidade. Esse processo é individual. Não há dois lutos iguais, mesmo que a situação seja idêntica: por exemplo, o pai morre e deixa três filhos, mas o luto destes será, muito provavelmente, diferente.

O luto é influenciado por vários fatores:

  • a natureza da relação com quem ou com aquilo que se perdeu;
  • as circunstâncias da perda;
  • a história pessoal;
  • a personalidade;
  • as características individuais (idade, etc.);
  • os valores sociais, culturais e religiosos.

Todos estes aspetos condicionam a reação à perda, facilitando ou dificultando o processo.

Quais são as fases do luto?

É frequente ouvir-se falar em fases do luto, dando a ideia de que, ao longo do processo, cada pessoa irá passar por um conjunto de emoções com uma ordem predefinida, ou pelo menos esperada. Como já foi referido, o luto é um processo individual. Mas existem, de facto, emoções comuns.

O psicólogo britânico John Bowlby (1969) identificou quatro fases do luto considerado normal:

  1. choque – o indivíduo não reconhece a perda;
  2. protesto – o indivíduo procura e anseia pela pessoa/coisa perdida;
  3. desespero – o indivíduo reconhece que a perda é definitiva;
  4. aceitação – o indivíduo adapta-se à perda e começa a retomar o seu funcionamento normal.

Desta forma, o luto é encarado como um processo e não um “sofrimento sem fim”. É esperado que os sintomas se vão desvanecendo gradualmente, à medida que o indivíduo se adapta à nova realidade.

No entanto, estas fases não são necessariamente estanques, podendo haver avanços e retrocessos, ou, nos piores casos, não se atingir a fase de aceitação, prolongando o sofrimento. Nesta circunstância, fala-se em luto patológico ou prolongado, em que a reação à perda é mais intensa e prolongada do que o considerado normal, ou seja, se os sinais e sintomas se estenderem por mais de 12 meses.

Como lidar com o luto?

Cada pessoa terá a sua forma de lidar com o luto. Reunimos algumas dicas, com base em conselhos da Ordem dos Psicólogos.

  • Viva o luto: pode sentir a tentação de desviar a sua atenção da nova realidade, envolvendo-se em tarefas ou atividades, mas é preciso exteriorizar os sentimentos, incluindo chorar.
  • Evite isolar-se: pode encontrar conforto nos seus amigos e familiares, ou mesmo em desconhecidos ou profissionais de saúde.
  • Não tenha pressa de ficar bem: cada luto tem o seu tempo próprio e tentar acelerar o seu fim pode ter mais efeitos negativos do que positivos.
  • Aceite as suas emoções: não lute contra os seus sentimentos, sejam quais forem (raiva, revolta, culpa, medo, impotência, alívio, etc.) e mentalize-se de que são transitórios, ou seja, irão desaparecendo ou pelo menos reduzindo de intensidade.
  • Realize atividades que lhe dão prazer: se costuma fazer jardinagem, cozinhar ou qualquer outro passatempo, mantenha-os. A alegria irá regressando aos poucos.
  • Cuide de si: é normal esquecer a saúde física e mental durante o luto, mas tirar algum tempo para o seu autocuidado pode ajudá-lo a superar o luto.

Caso considere que o seu sofrimento o impede de fazer a sua vida normal e que esse estado se está a prolongar demasiado no tempo, deve procurar ajuda profissional (médico de família, psicólogo ou psiquiatra). Pode também recorrer à linha de apoio psicológico do SNS 24  (808 24 24 24), que conta com psicólogos credenciados.

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Como ajudar alguém em luto?

O apoio emocional é a melhor forma de ajudar alguém em luto. Este é um processo individual, mas não deve ser solitário. Caso não esteja fisicamente próximo da pessoa enlutada, pode recorrer às tecnologias para manter-se em contacto com ela, ouvi-la e acarinhá-la.

É normal sentir que não sabe o que fazer ou dizer perante o luto de outra pessoa. Lembre-se de que a sua disponibilidade e atenção são suficientes. Pode ficar apenas a ouvir, a segurar a mão. Será, certamente, uma ajuda bem-vinda para quem está em sofrimento.

Mime a pessoa enlutada com mensagens de atenção em alturas inesperadas. Telefone de vez em quando para saber como está. Pergunte se comeu, se tomou banho, e prontifique-se a ajudar se perceber que o autocuidado tem sido negligenciado.

Caso observe que a pessoa não está a conseguir recompor a sua vida e continuar com as atividades diárias, aconselhe-a a procurar ajuda profissional (médico de família, psicólogo ou psiquiatra).

Como ajudar uma criança em luto?

Dependendo da idade, as crianças entendem a morte de forma diferente dos adultos:

  • até aos 5 ou 6 anos de idade, não entendem o conceito de “para sempre”, associando a morte à ideia de viagem;
  • entre os 5 e os 10 anos, podem entender o conceito, mas acreditam que não lhes irá acontecer, nem aos seus entes queridos;
  • depois dos 10 anos, a maioria das crianças já terá entendimento suficiente para perceber a morte como algo inevitável e definitivo.

Tenha em consideração estas particularidades no momento de dar uma notícia de morte a uma criança. Acima de tudo, as crianças não devem ser excluídas do luto, mas sim expostas ao mesmo em concordância com a idade e a maturidade que demonstram.

Pode ajudar uma criança em luto da seguinte forma:

  • não fantasie acerca da morte. Expressões como “está a dormir para sempre” ou “foi fazer uma longa viagem” podem fazer a criança alimentar a expectativa de voltar a ver a pessoa. Evite também metáforas como “agora é uma estrelinha”, pois é importante que a criança entenda a perda de forma realista;
  • não esconda os seus sentimentos. Vê-lo expressar os seus sentimentos ajuda a criança a também expressar os dela;
  • seja sincero. Se a criança fizer perguntas acerca das circunstâncias da morte, diga a verdade, apenas evitando detalhes desnecessários. Por exemplo, pode dizer que a morte foi causada por um acidente de automóvel, mas escusa de descrever em que estado ficou a pessoa ou a viatura;
  • mantenha viva a memória do falecido. Poderá sentir-se tentado a evitar falar sobre a pessoa falecida, pensando que atenuará o sofrimento da criança, mas é bom manter fotos e memórias, que ajudarão a criança a criar um novo tipo de vínculo com quem partiu;
  • seja paciente. A criança poderá apresentar um comportamento diferente do habitual, com demonstrações mais frequentes de raiva, irritabilidade ou agressividade. Ajude-a respeitando a forma de a criança expressar a dor. Seja paciente e compreensivo.

É possível que a criança apresente um retrocesso no desenvolvimento: medo excessivo do escuro, dificuldades em estar sozinho, molhar a cama, isolamento (perda de interesse em brincar ou interagir com os outros), agressividade ou dificuldades de aprendizagem são alguns dos indícios mais comuns. As crianças também podem sofrer de luto patológico ou prolongado, demonstrando perda geral do interesse pelas coisas, perda de apetite, desejo de partir com o falecido, irritabilidade, recusa em falar sobre a pessoa ou falar excessivamente nela.

Caso reconheça estes quadros numa criança enlutada, é aconselhável levá-la a um psicólogo. Conheça outras formas de ajudar as crianças neste processo no projeto online Escola SaudávelMente, da Ordem dos Psicólogos Portugueses.

Lembre-se ainda de que uma criança pode passar por um luto sem estar associado a uma morte. O divórcio dos pais, por exemplo, pode desencadear este processo.

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