Dicas

Luto: como lidar com a perda e superar a dor

O luto é um processo de adaptação à perda de alguém ou de algo significativo. Cada pessoa reage de forma diferente, e esse processo pode envolver avanços e retrocessos. Deixamos alguns conselhos para tentar superar o luto da melhor forma.

Especialista:
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01 abril 2025
Homem com barbas e cabelo branco a sentir-se triste com um casal ao lado a consolá-lo - alusão ao tema do luto

iStock

Regra geral, pensa-se no luto como uma resposta psicológica, emocional, cognitiva, comportamental e social que ocorre após a morte de uma pessoa querida. No entanto, é possível ocorrer luto noutras situações, tais como:

  • fim de um relacionamento significativo (amoroso, familiar ou de amizade);
  • acompanhar alguém próximo com uma doença em estado terminal (luto antecipatório);
  • morte de um animal de companhia;
  • desemprego.

Todas estas situações têm um elemento comum, que é a perda de algo significativo: uma pessoa, um animal, o meio de sustento, etc.

O luto é sempre igual?

Após a perda, a pessoa inicia um processo de adaptação à nova realidade. Esse processo é individual, não havendo dois lutos iguais.

O luto é influenciado por vários fatores:

  • a natureza da relação com quem ou com aquilo que se perdeu;
  • as circunstâncias da perda;
  • a história pessoal;
  • as características individuais (personalidade, idade, etc.);
  • os valores sociais, culturais e religiosos.

Todos estes aspetos condicionam a reação à perda, facilitando ou dificultando o processo de luto.

Respostas ao luto

O luto é um processo individual, mas existem reações comuns:

  • emocionais (choque, tristeza, raiva, culpa, alívio, solidão, ansiedade e evitação emocional);
  • cognitivas (incredulidade, dificuldade de concentração, confusão e problemas de memória);
  • comportamentais (inquietação, cansaço, afastamento social e perda de interesse em atividades prazerosas);
  • fisiológicas (alterações no apetite, no peso, no sono – por exemplo, insónia ou pesadelos – e perda de energia).

Essas reações geralmente surgem logo após a perda significativa (especialmente em casos de morte inesperada). Tendem a manifestar-se sob a forma de ondas (momentos de grande sofrimento, mas de curta duração). Também é comum que essas reações se intensifiquem em datas especiais, como aniversários ou outros eventos festivos, principalmente no primeiro ano após a perda. Com o tempo, é expectável que as respostas ao luto se tornem mais suaves.

Embora não exista uma duração considerada “normal” ou predeterminada, o luto habitualmente tende a prolongar-se durante cerca de seis meses a um ou dois anos. Uma pequena parte das pessoas poderá manifestar dificuldades acrescidas para gerir o luto, tendo, por vezes, necessidade de recorrer a apoio profissional. Esta situação, conhecida como luto prolongado, é vista pela Organização Mundial de Saúde como uma perturbação que pode, e deve, ser tratada. Quando as manifestações de luto persistem por mais de seis meses e excedem as referências sociais, culturais ou religiosas expectáveis, afetando significativamente a vida pessoal, familiar, social e profissional, é aconselhável procurar ajuda especializada (médico de família, psicólogo ou psiquiatra). Pode também recorrer à linha de apoio psicológico do SNS 24  (808 24 24 24), que conta com psicólogos credenciados.

Teorias sobre o processo de luto

Ao longo da história, foram desenvolvidas várias teorias que tentaram explicar o luto, sendo as mais comuns as que o dividem em diferentes fases ou tarefas. No entanto, a evidência disponível sugere que o luto não se processa linearmente sob a forma de fases estanques e isoladas.

A abordagem inicial ao luto encarava-o como um processo faseado. Na década de 60, a psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross propôs um modelo inicial baseado em cinco fases estáticas:

  1. negação;
  2. raiva;
  3. negociação;
  4. depressão;
  5. aceitação.

Embora este modelo tenha evoluído para uma visão mais dinâmica do luto, estas fases continuam a ser amplamente reconhecidas.

Por outro lado, teorias mais recentes encaram o luto como um processo progressivo, ativo e não estático, que envolve desafios ou tarefas psicológicas, emocionais e comportamentais a serem superadas para se lidar com a perda. A teoria de Worden identifica quatro tarefas principais do luto:

  • aceitar a realidade da perda;
  • processar a dor do luto;
  • ajustar-se ao mundo sem a pessoa falecida;
  • manter uma conexão duradoura com o falecido, enquanto se segue em frente com a vida.

Atualmente, muitos especialistas preferem uma abordagem que combine elementos-chave das duas abordagens acima (o percurso emocional e as tarefas necessárias para lidar com a perda). Esta abordagem reconhece que o luto é uma experiência única para cada pessoa e que não segue um caminho fixo ou previsível.

Como lidar com o luto?

Cada pessoa terá a sua forma de lidar com o luto. A DECO PROteste reúne algumas dicas.

  • Viva o luto: pode sentir a tentação de desviar a sua atenção da nova realidade, envolvendo-se em diversas tarefas ou atividades, mas também é preciso exteriorizar os sentimentos, incluindo chorar.
  • Expresse-se: exponha os seus sentimentos e a situação em que se encontra, mesmo que não use palavras. Pode ser através da escrita, do desenho, da música, etc.
  • Celebre a vida da pessoa que faleceu: falar sobre ela, partilhar memórias ou recordar momentos especiais pode ajudar a manter a ligação.
  • Crie um ritual de despedida: pode ser algo simbólico, como escrever uma carta, criar uma caixa de recordações ou ajustar uma peça de joalharia pessoal.
  • Evite isolar-se: pode encontrar conforto em amigos e familiares, profissionais de saúde e grupos de apoio ao luto.
  • Não tenha pressa de ficar bem: cada luto tem o seu tempo próprio e tentar acelerar o seu fim pode ter mais efeitos negativos do que positivos.
  • Aceite as suas emoções: não lute contra os seus sentimentos, sejam quais forem (raiva, revolta, culpa, medo, impotência, alívio, etc.) e mentalize-se de que são transitórios, ou seja, que irão desaparecendo ou que, pelo menos, se reduzirá a sua intensidade.
  • Realize atividades que lhe deem prazer: se costuma fazer jardinagem, cozinhar ou qualquer outro passatempo, mantenha estes hábitos.
  • Cuide de si. Reservar tempo para o seu autocuidado pode ajudar a superar o luto.

6 passos para ajudar alguém em luto

  • Identifique o tipo de apoio que pode dar. Por exemplo, pode ser apoio emocional, social ou prático. Cada momento requer um tipo diferente de suporte.
  • Deixe espaço para a pessoa enlutada falar. Ouça as suas necessidades e sentimentos, sem minimizar a sua experiência.
  • Evite fazer suposições ou impor a sua visão. Não diga frases como "tens de seguir em frente", "pensa nos teus filhos/trabalho/companheiro", ou "não sintas/penses isso". Cada pessoa vive o luto de forma única.
  • Mantenha-se disponível para apoiar. Mesmo já tendo decorrido meses após a perda significativa, o apoio emocional, social e prático continua a ser importante.
  • Não se concentre apenas na perda. Mantenha o foco noutras áreas da vida diária, atividades e responsabilidades, sem forçar a pessoa a seguir uma determinada rotina.
  • Caso observe que a pessoa não está a conseguir adaptar-se à nova realidade e retomar as atividades diárias, aconselhe-a a procurar ajuda profissional (médico de família, psicólogo ou psiquiatra).

Como ajudar uma criança em luto?

Dependendo da idade, as crianças entendem a morte de forma diferente dos adultos:

  • até aos 6 anos de idade, não entendem o conceito de “para sempre”, associando a morte à ideia de viagem;
  • dos 6 aos 9 anos, podem entender o conceito, mas geralmente acreditam que não lhes irá acontecer, nem aos seus entes queridos;
  • depois dos 9 anos, a maioria das crianças já terá entendimento suficiente para perceber a morte como algo inevitável e definitivo.

Tenha em consideração estas particularidades no momento de dar uma notícia de morte a uma criança. Acima de tudo, as crianças não devem ser excluídas do luto, mas sim expostas ao mesmo em concordância com a idade e a maturidade que demonstram.

Pode ajudar uma criança em luto da seguinte forma:

  • não fantasie acerca da morte. Expressões como “está a dormir para sempre” ou “foi fazer uma longa viagem” podem fazer a criança alimentar a expectativa de voltar a ver a pessoa. Evite também metáforas como “agora é uma estrelinha”, pois é importante que a criança entenda a perda de forma realista;
  • não esconda os seus sentimentos. Vê-lo expressar os seus sentimentos ajuda a criança a também expressar os dela;
  • seja sincero. Se a criança fizer perguntas acerca das circunstâncias da morte, diga a verdade, apenas evitando detalhes desnecessários. Por exemplo, pode dizer que a morte foi causada por um acidente de automóvel, mas escusa de descrever em que estado ficou a pessoa ou a viatura;
  • mantenha viva a memória do falecido. Poderá sentir-se tentado a evitar falar sobre a pessoa falecida, pensando que atenuará o sofrimento da criança, mas é bom manter fotos e memórias, que ajudarão a criança a criar um novo tipo de vínculo com quem partiu. Considere a possibilidade de a criança participar num ritual de despedida (seja um funeral ou um ritual adaptado);
  • seja paciente. A criança poderá apresentar um comportamento diferente do habitual, com demonstrações mais frequentes de tristeza, raiva ou irritabilidade. Ajude-a, respeitando a forma de a criança expressar a dor. Seja paciente e compreensivo;
  • Sempre que possível, mantenha as rotinas habituais, como escola, atividades e horários de sono, para proporcionar estabilidade e segurança à criança. Além disso, garanta hábitos saudáveis, como uma alimentação equilibrada e descanso adequado.

É normal surgirem manifestações de luto, como alterações na alimentação, no sono e nos comportamentos (isolamento, agressividade, introversão), retrocesso no desenvolvimento (medo excessivo do escuro, dificuldades em estar sozinho, molhar a cama) e diminuição do desempenho escolar. Se estes problemas se agravarem e/ou prolongarem, houver grande dificuldade de relacionamento social, inclusive, com outras crianças. desinteresse pelas brincadeiras ou comportamentos autodestrutivos (consumo de drogas e propensão para acidentes, por exemplo), deve redobrar a atenção. As crianças também podem sofrer de luto prolongado e precisar de ajuda profissional.

Conheça outras formas de ajudar as crianças neste processo no projeto online Escola SaudávelMente, da Ordem dos Psicólogos Portugueses.

Lembre-se ainda de que uma criança pode passar por um luto sem estar associado a uma morte. O divórcio dos pais, por exemplo, pode desencadear este processo.

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