SNS: pensos rápidos não curam
A cada eleição, renovam-se promessas e dá-se como certa a recuperação do paciente... Mas os turnos mudam, e as melhoras teimam em não aparecer. Pelo contrário, as insuficiências do Serviço Nacional de Saúde que lesam os utentes resistem e persistem.

O serviço nacional de saúde (SNS) sofre de doença crónica. E, para mal dos nossos males, não há novidade nisto. A expressão mostra até demasiados sinais de uso, dada a senioridade da patologia.
A cada eleição, renovam-se promessas e dá-se como certa a recuperação do paciente... Mas os turnos mudam e as melhoras teimam em não aparecer. Pelo contrário, as insuficiências do SNS que lesam os utentes resistem e persistem. São exemplos a inconstância dos serviços de urgência, o número de utentes sem médico de família – perto de 1,6 milhões – e o engrossar das listas de espera.
Segundo a Entidade Reguladora da Saúde, o número de utentes a aguardar pela primeira consulta da especialidade no hospital, no segundo semestre de 2023, aumentou 33,8% face ao mesmo período do ano anterior. Das consultas realizadas naquele período, 56% não respeitaram o tempo máximo de resposta garantido (TMRG). No caso da oncologia, os números são ainda mais dramáticos: 61,7% das primeiras consultas ocorreram fora do prazo legal e 81,5% dos doentes em espera já estavam fora daquela janela.
O mais recente remédio para tais debilidades dá pelo nome de Plano de Emergência e Transformação na Saúde. Ora, tal plano, além de não adiantar como e quando se pretendem implementar as medidas que propõe, inclui algumas de eficácia duvidosa. É o caso, por exemplo, da oferta de vales-cirurgia pelo telefone, quando o SNS não cumpre os TMRG. Alguém conseguirá decidir de imediato se quer ser operado, por exemplo, a centenas de quilómetros?
Ter a linha SNS 24 como porta de entrada nos serviços é boa ideia, apesar de não ser novidade. Mas haverá capacidade de resposta? E pedir aos médicos de família para alargar a sua lista de utentes não será querer "tapar o sol com a peneira"?
O consumidor precisa de respostas concretas, não de pensos rápidos a esconder feridas. Só um Serviço Nacional de Saúde robusto garante cuidados para todos.
Sabia que...?
No segundo semestre de 2023, quase 62% dos doentes tiveram a primeira consulta hospitalar de oncologia fora do prazo previsto na lei. E, dos doentes em espera, oito em cada dez já o tinham ultrapassado.
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