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Porque é que o preço do café está a subir?

Em três anos, o preço do café torrado moído monitorizado pela DECO PROteste subiu 27 por cento. E, embora os dados mostrem que, entre a primeira e a última semana de 2024, a subida do preço deste produto foi pouco significativa, a escalada do preço do café nos mercados internacionais deixa adivinhar que, em breve, beber um café poderá sair mais caro.

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05 março 2025
pessoa no supermercado a ver preço do café

iStock

Os preços do café nos mercados internacionais não param de subir e, em breve, beber um café poderá pesar ainda mais no orçamento dos consumidores. Os efeitos das alterações climáticas em alguns dos maiores países exportadores desta matéria-prima estão a provocar uma subida nos preços do café e, de acordo com a Organização Internacional do Café (OIC), só no terceiro trimestre de 2024, o aumento chegou aos 20%, com este produto a atingir o valor mais elevado dos últimos anos. 

Os dados recolhidos pela DECO PROteste ao longo dos últimos três anos parecem confirmar este movimento. Em 2022, quando a organização de defesa do consumidor começou a monitorizar o preço de uma embalagem de 250 gramas de café torrado moído, o preço médio anual deste produto era de 2,94 euros. Em 2023, tinha subido já para 3,19 euros, mais 25 cêntimos (mais 8,51 por cento). Em 2024, voltou a subir 22 cêntimos (mais 7,02%), atingindo os 3,41 euros. E o início de 2025 deixa já adivinhar que a tendência é de que o preço deste produto possa continuar a subir. Em dois meses, o preço médio do café torrado moído chegou já aos 3,61 euros.

Café torrado moído chegou aos 3,99 euros em 2024

O ano 2024 foi marcado por grandes oscilações no preço deste produto. A 25 de setembro, data em atingiu o preço mais alto do ano, uma embalagem de 250 gramas de café torrado moído, para a máquina, custava 3,99 euros, mais 35 cêntimos do que no início do ano (mais 9,68 por cento). Ainda assim, 2024 fechou com o preço deste produto praticamente igual ao que registava na primeira semana, com uma diferença de apenas dois cêntimos (0,35%), e o café torrado moído a passar de 3,63 euros, a 3 de janeiro de 2024, para 3,65 euros, a 25 de dezembro.

Até agora, em 2025, a evolução do preço deste café mostra que, muito provavelmente, também este ano, o preço do café torrado moído poderá continuar a registar grandes oscilações. Até ao final de fevereiro, o preço médio do café torrado moído tinha chegado já aos 3,61 euros, mais 24 cêntimos (mais 7,26%) do que no mesmo período de 2024.

Aumento de 27% em três anos

Em três anos, o preço do café torrado moído subiu cerca de 27%, um valor ligeiramente acima dos 25% de aumento do cabaz alimentar monitorizado pela DECO PROteste desde 2022.

A 5 de janeiro de 2022, uma embalagem de 250 gramas de café torrado moído custava 2,99 euros. Três anos depois, a 1 de janeiro deste ano, para comprar a mesma embalagem, os consumidores tinham de gastar 3,81 euros, ou seja, mais 82 cêntimos (mais 27,27 por cento). Já se compararmos o preço da primeira semana de 2022 com o preço na última semana de fevereiro de 2025, o café torrado moído ficou 34 cêntimos mais caro (mais 11,23 por cento). 

Mas foi no ano 2023 que o preço deste produto mais aumentou. Entre a primeira semana de 2022 e a primeira semana de 2023, o preço de uma embalagem de 250 gramas de café torrado moído aumentou 21 cêntimos (mais 7,15%), para 3,21 euros. Já entre a primeira semana de 2023 e a primeira semana de 2024, quando este produto custava 3,63 euros, o aumento foi de 43 cêntimos (mais 13,36 por cento). No último ano, contudo, a subida foi mais modesta. Entre a primeira semana de 2024 e a primeira semana de 2025, data em que o café torrado moído chegou aos 3,81 euros, o aumento foi de 17 cêntimos (mais 4,79 por cento).

Quebra na produção mundial justifica aumentos

Não se sabe, para já, se as subidas no preço do café vão continuar. Contudo, em declarações à DECO PROteste, Cláudia Pimentel, secretária-geral da Associação Industrial e Comercial do Café (AICC), revela que as empresas de torrefação, moagem, empacotamento e comercialização de café do País têm vários desafios pela frente que podem repercutir-se no preço pago pelo consumidor. 

"Nos últimos anos, os preços do café têm vindo a aumentar nos mercados internacionais. Este aumento pode explicar-se pelos fatores tradicionais da oferta e da procura: uma produção insuficiente nos países de origem [do café], essencialmente na África Central e no Vietname, que conduziu a uma baixa recorde dos stocks mundiais de café, e uma procura mais acentuada por parte da indústria, com os mercados do Norte da Europa a consumir mais café Robusta — o que não era tradição — e os mercados asiáticos a beberem mais café do que anteriormente", justifica a secretária-geral da AICC.

Instabilidade climática pode ditar subida dos preços em 2025

Cláudia Pimental lembra, ainda, que as alterações climáticas, assim como algumas condicionantes logísticas criadas pela instabilidade internacional, têm impacto no preço do café que chega a casa dos consumidores. "As alterações climáticas nos países de origem do café estão a gerar quebras de produção, o que também tem impacto nos preços do café verde. A variabilidade nas condições de cultivo, incluindo nos padrões de chuva ou nas temperaturas extremas, afeta a qualidade e a quantidade da produção de café", explica a secretária-geral da AICC.

Questionada sobre o efeito que esta instabilidade poderá ter no preço do café pago pelo consumidor nos supermercados ou na restauração em 2025, a secretária-geral da Associação Industrial e Comercial do Café afirma que "variará de acordo com as políticas de abastecimento de cada empresa e com a tipologia dos blends que produzem e comercializam. Neste momento, face à instabilidade climática e à variabilidade crescente do preço do café verde, a indústria transformadora do café enfrenta como principais desafios a otimização das suas compras de abastecimento de café verde e a otimização dos custos de produção e dos custos estruturais. A gestão de compras e de stocks será fundamental no futuro próximo".

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