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Distúrbios alimentares: reconheça os sinais de alerta

Os distúrbios alimentares são perturbações na forma como as pessoas se alimentam, com consequências negativas para a saúde. A compulsão alimentar, a anorexia nervosa e a bulimia nervosa são os mais conhecidos, mas existem outros. Conheça os sinais destas doenças e saiba como agir.

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04 outubro 2023
Plano aproximado de tronco de mulher com extrema magreza, em frente ao espelho

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Alimentação restritiva, exercício físico excessivo, indução de vómito, abuso de laxantes e/ou diuréticos, ingestão compulsiva de alimentos, etc. Estes são alguns exemplos de comportamentos adotados por indivíduos que sofrem de distúrbios alimentares.

Os distúrbios alimentares são perturbações na forma como as pessoas se alimentam ou se comportam relativamente à alimentação. Se não forem devidamente tratados, as consequências para o organismo são graves. No limite, podem evoluir para condições potencialmente fatais, como a desnutrição.

Com os cuidados médicos adequados, estes doentes podem voltar a relacionar-se de forma saudável com a comida, e recuperar a saúde emocional e psicológica. Quanto mais cedo iniciar o tratamento, melhores serão os resultados.

Quais são as causas dos distúrbios alimentares?

Os transtornos alimentares podem afetar qualquer pessoa, independentemente da sua idade, género, etnia ou peso. Tendem a desenvolver-se sobretudo durante a adolescência ou na idade adulta, mas também podem manifestar-se na infância ou em idades mais avançadas.

Não são conhecidas as causas exatas destas doenças do comportamento alimentar, mas pensa-se que podem dever-se a uma conjugação de fatores genéticos, biológicos, comportamentais, psicológicos e sociais.

A hereditariedade também parece ter influência na origem destas perturbações, mas sabe-se que pessoas sem casos na família podem igualmente ser afetadas.

Com frequência, estas doenças surgem associadas a outras perturbações, como depressão, ansiedade, pânico, perturbação obsessivo-compulsiva e problemas de abuso de álcool e drogas.

A pressão exercida pelos padrões de beleza ditados pela sociedade atual e o impacto de comentários negativos e repetitivos sobre o corpo de uma pessoa também parecem ser relevantes. A promoção irrealista de que uma imagem de sucesso está associada à magreza, a proliferação de recomendações de dietas restritivas, desajustadas e pouco saudáveis, ou conselhos para disfarçar algumas características “menos apreciadas”, como a barriga saliente ou as ancas largas, podem contribuir para agravar eventuais défices de autoestima e fragilidade psicológica, favorecendo o desenvolvimento destas doenças.

Quais são as doenças do comportamento alimentar?

A compulsão alimentar, a anorexia nervosa e a bulimia nervosa são os distúrbios alimentares mais conhecidos.

Compulsão alimentar

O transtorno de compulsão alimentar é uma doença que ocorre em indivíduos de peso normal ou com sobrepeso e obesos. É mais prevalente entre indivíduos que procuram tratamento para emagrecer do que na população em geral.

Este transtorno caracteriza-se por episódios recorrentes de compulsão alimentar. Estes tendem a ocorrer em segredo, ou da forma mais discreta possível, e causam um sofrimento marcante.

Considera-se que existe um episódio de compulsão alimentar quando a pessoa ingere, durante um determinado período, uma quantidade de alimentos substancialmente maior do que a maioria dos indivíduos comeria num mesmo espaço de tempo e em circunstâncias semelhantes. Implica também que a pessoa experimente uma sensação de falta de controlo.

Os episódios de compulsão alimentar estão associados a três (ou mais) dos seguintes contextos, em que a pessoa:

  • come muito mais rapidamente do que o normal;
  • come até se sentir desconfortavelmente cheia;
  • ingere grandes quantidades de alimento sem estar com sensação física de fome;
  • come sozinha por vergonha da quantidade de comida que ingere;
  • sente-se desgostosa de si mesma, deprimida ou muito culpada.

O diagnóstico de compulsão alimentar depende de os episódios ocorrerem, em média, pelo menos uma vez por semana durante três meses.

Este transtorno tem associadas diversas consequências funcionais, incluindo problemas no desempenho social, redução da qualidade de vida e de satisfação relacionada com a saúde. O risco de aumento de peso e de obesidade é também maior.

Anorexia nervosa

Geralmente, inicia-se durante a adolescência ou na idade adulta jovem.

Existem dois subtipos de anorexia nervosa:

  • restritivo. Os doentes restringem severamente a quantidade e o tipo de alimentos que consomem. Geralmente, a perda de peso é conseguida através da prática de uma dieta restritiva, jejum e/ou exercício físico excessivo;
  • compulsivo-purgativo. Os doentes restringem bastante a quantidade e o tipo de alimentos que consomem e, adicionalmente, podem apresentar episódios em que comem compulsivamente e, em seguida, compensam as calorias ingeridas induzindo o vómito ou através da toma de laxantes, clisteres, diuréticos, etc.

Três sinais evidentes de anorexia nervosa:

  • restrição do consumo de alimentos, que tem como consequência peso corporal significativamente baixo, tendo em conta a idade, o género, a trajetória de desenvolvimento e a saúde física;
  • medo intenso de ganhar peso ou de engordar, ou adoção de um comportamento persistente que interfere no ganho de peso (mesmo estando com peso significativamente baixo). Alguns exemplos de comportamentos deste tipo são apresentar desculpas constantes para não se sentar à mesa à hora da refeição ou para não comer, pesar ou contar os alimentos a ingerir e servir pequenas quantidades de comida e cortá-la em frações ínfimas;
  • visão distorcida da imagem corporal. A pessoa anorética pode perder a noção da realidade do seu corpo. Alguns doentes conseguem identificar que estão magros, mas, ainda assim, continuam a preocupar-se excessivamente com o seu peso e forma física, e não reconhecem as graves implicações médicas do seu estado de desnutrição. Exemplos de comportamentos adotados incluem pesagens frequentes e verificação (com um espelho) e/ou medição obsessiva de certas partes do corpo.
Uma maçã quase toda comida em frente a um espelho, mas o reflexo é o de uma maçã inteira, numa alusão à visão distorcida que as pessoas com anorexia têm do seu corpo. 
Por muito magra que esteja, quando se olha ao espelho a pessoa com anorexia nervosa pode ver-se com excesso de peso.

As consequências para o organismo vão-se agravando com a evolução da doença: pele seca e baça, cabelo e unhas enfraquecidos, obstipação severa, letargia, fadiga, anemia, perda e fraqueza muscular, osteoporose, perturbações da função cardíaca, lesões cerebrais, infertilidade, etc. No limite, a doença pode ser fatal.

Bulimia nervosa

A bulimia nervosa começa na adolescência ou na idade adulta jovem. A prevalência é maior entre adultos, já que o transtorno atinge o seu pico no fim da adolescência e início da idade adulta.

Os indivíduos com bulimia nervosa geralmente sentem vergonha e culpa dos seus problemas alimentares e tentam esconder os seus sintomas. Quando comem de forma compulsiva (compulsão alimentar), tendem a fazê-lo em segredo ou da forma mais discreta possível, pelo que pode ser mais difícil de detetar o problema.

Três sinais evidentes de bulimia nervosa:

  • episódios recorrentes de compulsão alimentar (em média, pelo menos uma vez por semana, durante três meses);
  • recurso recorrente a comportamentos compensatórios inapropriados para evitar o ganho de peso após a compulsão alimentar (em média, pelo menos uma vez por semana, durante três meses). Os doentes tentam eliminar as calorias ingeridas através da indução do vómito, consumo de laxantes, diuréticos, clisteres ou outros medicamentos, prática de jejum ou exercício excessivo. Fique alerta se a pessoa for com frequência à casa de banho durante ou após as refeições (para vomitar);
  • valorização excessiva da forma física ou do peso corporal. Estes fatores são extremamente importantes para a autoestima de uma pessoa com bulimia.

As complicações da doença podem incluir dor e inflamação crónicas da garganta, desgaste do esmalte dentário, sensibilidade dentária, aumento da frequência de cáries dentárias, aumento do volume das glândulas salivares (sobretudo as glândulas parótidas), distúrbio de refluxo ácido e outros problemas gastrointestinais, desconforto e irritação intestinais devido ao uso abusivo de laxantes, desidratação grave e desequilíbrio eletrolítico (níveis muito baixos ou muito altos de sódio, cálcio, potássio e outros minerais). O desequilíbrio eletrolítico pode levar a um acidente vascular cerebral ou ataque cardíaco.

Outros distúrbios alimentares

Transtorno alimentar restritivo/evitativo. Fracasso persistente do indivíduo em satisfazer as necessidades nutricionais e/ou energéticas. Estes doentes podem não ter interesse em comer, evitar certos tipos de alimentos ou temer as consequências adversas da alimentação (como asfixia ou vómito). Por exemplo, é possível que evitem alimentos com base na sua cor, consistência ou odor.

Pica. Caracteriza-se pela ingestão persistente de substâncias que não são nutritivas nem constituem alimentos (papel, sabão, cabelo, terra, tinta, cola, pedras, etc.).

Transtorno de ruminação ou mericismo. Regurgitação repetida de alimentos após terem sido consumidos. O alimento previamente ingerido, que pode já estar parcialmente digerido, é trazido de volta à boca sem náusea aparente, ânsia de vómito ou repugnância. O alimento pode ser remastigado e então cuspido ou novamente deglutido.

Como tratar os distúrbios alimentares?

Os distúrbios alimentares são doenças do foro mental que implicam um tratamento psicoterapêutico e uma intervenção alimentar. Quanto mais cedo for detetado o problema, maiores as possibilidades de cura. O percurso é difícil, pode durar meses ou anos, dependendo do estado do paciente e da sua colaboração, mas a cura existe.

Se desconfia de que alguém sofre de uma perturbação do comportamento alimentar, tente convencê-lo a consultar o médico de família. Este poderá encaminhar o doente para uma consulta especializada, que, geralmente, conta com uma equipa de psiquiatras, psicólogos e nutricionistas, entre outros especialistas.

A psicoterapia individual é indispensável. A terapia com a família é importante, para que esta possa dar apoio ao doente. Por vezes, é necessário também recorrer a medicamentos, como antidepressivos, estabilizadores de humor ou antipsicóticos.

Como prevenir os distúrbios alimentares?

Sempre que a imagem corporal ou o comportamento alimentar apresentem um impacto negativo sobre a vida de uma pessoa, é essencial recorrer-se a um profissional de saúde mental, para impedir a progressão e o agravamento de eventuais distúrbios existentes.

É fundamental identificar e corrigir precocemente comportamentos problemáticos que possam evoluir para distúrbios alimentares. Estar atento aos sinais (veja atrás) é, por isso, determinante.

Deve evitar-se a promoção de dietas desajustadas e a propagação de comentários negativos acerca da forma física e/ou o peso corporal, sobretudo à frente de crianças e jovens. É ainda essencial encorajar-se o desenvolvimento de uma imagem corporal saudável e positiva, que tenha por base a prática de uma alimentação saudável e de atividade física regular, com foco na qualidade de vida.

As refeições em família devem ser encaradas como excelentes oportunidades de convívio, em que podem ser ensinados os benefícios de um estilo de vida saudável.

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