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O preço dos ovos está a subir?

Um surto de gripe aviária está a levar a uma escalada nos preços dos ovos nos Estados Unidos da América, onde este produto atingiu preços recorde nas últimas semanas. Em Portugal, o preço dos ovos tem-se mantido estável, mas esta semana atingiu o valor mais alto dos últimos três anos.

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27 março 2025
Jovem mulher num supermercado a comprar ovos

iStock

As notícias que chegam dos Estados Unidos da América (EUA) falam de valores recorde: o preço dos ovos disparou, e a culpa é de um surto de gripe aviária que dizimou milhões de aves e provocou uma quebra na produção, esvaziando as prateleiras dos supermercados do país. De acordo com o índice de preços no consumidor dos EUA, publicado em fevereiro, o preço médio de uma dúzia de ovos naquele país chegava já aos 4,95 dólares em janeiro, o valor mais elevado desde agosto de 2023, altura em que este preço atingiu os 2,04 dólares.

Esta escalada nos preços começa agora a fazer-se sentir na Europa. Recentemente, também em Espanha os preços dos ovos começaram a subir. De acordo com a organização de defesa dos consumidores espanhola, a OCU, entre abril de 2024 e março de 2025, os ovos da categoria M viram o seu preço subir, em média, 25 por cento. Mas a organização avisa que a maior subida ocorreu nas últimas semanas.

Ovos atingem o preço mais alto em três anos

Em Portugal, depois de um grande aumento em 2022, a evolução do preço dos ovos tem sido de relativa estabilidade, com alguns picos pontuais. Os dados divulgados pelo Observatório de Preços Agroalimentar, lançado pelo Governo em 2023, também o confirmam.  No entanto, esta tendência de estabilidade foi interrompida, com os ovos a registarem, esta semana, o maior aumento de preço desde janeiro de 2022.

Se no início deste ano bastavam 1,61 euros para comprar meia dúzia de ovos, esta semana, 2 euros já não chegam. Quem o diz é a DECO PROteste, que, a 26 de março, registou um aumento de 35 cêntimos (21%) no preço dos ovos face à semana anterior, depois de mais de dois meses de constância no preço deste produto. De acordo com a organização de defesa do consumidor, o preço registado a 26 de março de 2025 é o mais elevado desde que começou a monitorizar o preço de um cabaz alimentar com 63 bens essenciais, a 5 de janeiro de 2022. Há três anos, a mesma meia dúzia de ovos custava 1,14 euros, menos 91 cêntimos (79,4%) do que os 2,05 euros desta semana.

Preço dos ovos começou a subir em outubro de 2024

Ao longo dos últimos dois anos, o preço dos ovos monitorizado pela organização de defesa do consumidor manteve-se relativamente constante, com algumas subidas ou descidas de poucos cêntimos de uma semana para a outra em alguns períodos. O preço na primeira semana de 2023 (1,59 euros), por exemplo, era praticamente igual ao que se registava na primeira semana de 2025 (1,61 euros), dois anos depois. Nesse ano, só a introdução do IVA zero, a 18 de abril de 2023, fez o preço dos ovos baixar de 1,62 euros (a 12 de abril) para 1,55 euros (a 19 de abril) em apenas uma semana.

E foi precisamente com o fim do IVA zero, a 4 de janeiro de 2024, que o preço dos ovos regressou ao preço que registava no início de 2023. Uma semana após o fim da medida, a 10 de janeiro de 2024, o preço da meia dúzia de ovos tinha subido já de 1,54 euros para 1,60 euros (4,5 por cento). A 24 de janeiro de 2024, o preço dos ovos desceu novamente, para 1,55 euros, atingindo depois a 7 de fevereiro o valor mais baixo do ano (1,41 euros). Nas semanas que se seguiram, até 20 de novembro, esteve sempre abaixo de 1,60 euros. No entanto, no final de outubro, o preço da meia dúzia de ovos começou a subir, atingindo o valor mais elevado do ano a 4 de dezembro: 1,67 euros. O ano 2024 terminou com os ovos a custarem, em média, 1,61 euros, o mesmo preço que custavam até ao início de fevereiro de 2025, quando subiram para 1,62 euros. A 12 de março deste ano, o preço dos ovos subiu oito cêntimos (mais 4,6%), de 1,62 euros para 1,70 euros. A maior subida acabaria por se verificar a 26 de março, com o preço a chegar aos 2,05 euros, mais 51 cêntimos (33,3%) do que há precisamente um ano. 

EUA já procuram ovos em Portugal

Esta tendência de subida das últimas semanas é confirmada pelos produtores de ovos portugueses, que acreditam que a pressão exercida pela procura do mercado dos EUA vai fazer-se sentir também em Portugal. Em declarações à DECO PROteste, Manuel Sobreiro, administrador do grupo CAC, um dos maiores produtores de ovos do País, explica que os preços estão a subir em toda a Europa desde outubro de 2024, um movimento que, segundo o administrador da empresa, se deve a um continuado aumento de consumo de ovos nos últimos anos, mas também a algumas "reincidências de gripe aviária na Europa" e à "redução da produção decorrente do processo de substituição de jaulas pelos sistemas de produção alternativos [solo, ar livre ou biológica]". 

A subida que os consumidores portugueses começam agora a notar nos supermercados, justifica o administrador do grupo CAC, "acontece porque, num mercado já com escassez, se sentiu a procura por parte dos Estados Unidos na Europa, o que levou os produtores a subirem os preços por sentirem o conforto do lado da procura. No entanto, foi uma subida muito inferior à dos preços que se praticam no restante mercado europeu e nos Estados Unidos. Tudo aponta para que não se verifiquem mais aumentos este ano".

Manuel Sobreiro acredita que as subidas não vão continuar, mas revela que os norte-americanos já estão à procura de abastecimento na Europa, nomeadamente em Portugal, e que, por isso, não é garantido que os preços dos ovos tenham já atingido o valor mais elevado do ano. "Os Estados Unidos são um dos maiores consumidores de ovos per capita do mundo e onde a necessidade de dispor de ovos é muita. Esta situação irá manter-se por muitos meses, com impacto em todo o mercado europeu e consequentemente em Portugal. Os Estados Unidos, através das suas embaixadas, estão a contactar todos os países europeus, nomeadamente Portugal, para tentar minimizar esta falta de ovos no seu mercado. Apesar de tudo isto, sou da opinião de que os preços dos ovos poderão não subir mais", confessa o administrador do grupo CAC.

CAP diz que subida é pontual e alerta para "alarmismo"

Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), acredita que a subida de preços é pontual e lembra que não há motivos para temer a falta de ovos nos supermercados em Portugal.

"Na produção aviária, os ciclos são mais curtos do que noutros tipos de produção — ou seja, o tempo de crescimento das galinhas e dos ovos é relativamente rápido , o que permite repor os níveis de oferta de forma mais breve, pelo que se pode considerar, pelo menos relativamente à situação que se verifica atualmente, que a subida de preços seja pontual. Não há razões para antever esse cenário [de falta de stocks de ovos]. No entanto, de cada vez que se gera alarmismo junto dos consumidores, verifica-se uma tendência para comprar por antecipação, acumulando produtos em casa, o que acaba por pressionar o mercado e acentuar ainda mais o agravamento do preço", explica o secretário-geral da CAP. 

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