João Ribeiro e Messias Baptista: heróis da canoagem e consumidores como nós
Têm dez anos de diferença, mas formam uma dupla imbatível. João Ribeiro e Messias Baptista conquistaram o ouro no último Campeonato do Mundo de Canoagem e preparam-se agora para atingir o cume em Paris, nas Olimpíadas de agosto. A DECO PROteste acompanhou um dia de treino, em Avis.

Quarta-feira, 11 horas, barragem do Maranhão, Avis, Portalegre. Uma embarcação de 6,5 metros desliza até ao cais. Vem contra o sol cortante, sob o impulso de dois jovens, que sorriem à chegada. Acabaram de fazer uma hora e meia de treino, o primeiro da manhã. Não foi preciso tirarem os óculos de sol para os reconhecermos: João Ribeiro e Messias Baptista, a dupla que conquistou o ouro na categoria de K2 500 metros, no último Mundial de Canoagem, em 2023, na Alemanha. "Temos de ser um só, para o barco andar mais rápido", diz João, brincando com o companheiro: "O Messias é mais explosivo do que eu..."


Depois das pagaiadas, segue-se uma sessão no ginásio – séries de elevações com pesos a rondar 40 quilos na cintura de cada um. A vista para a albufeira serve de inspiração. Ali ficam, uma hora, até à pausa para almoço. Por estes dias, têm treinado na Herdade da Cortesia, em Avis, um complexo amplo, com boas condições para a prática de desportos náuticos. Alternam treino individual, cada um no seu barco, com trabalho de "sintonia, tática e estratégia". Objetivo: "Aumentar a intensidade e atingir ritmos mais altos", já com os olhos postos nos Jogos Olímpicos de Paris, em agosto.
Combinação "muito próxima da perfeição" para os Jogos Olímpicos
Competem juntos há dois anos e meio. O treinador, Rui Fernandes, depressa percebeu que as qualidades de um e do outro podiam resultar numa combinação "muito próxima da perfeição", apesar da diferença de idades: João tem 34 anos e Messias, 24. Os Jogos Olímpicos de Paris são a maior ambição da dupla. "Todos os dias damos o melhor para que, no dia 9 de agosto, estejamos na nossa melhor versão e possamos sair de lá com a consciência de que fizemos tudo para conseguir um bom resultado", sublinha João.

Natural de Esposende, João Ribeiro conhece bem o terreno, pois já esteve duas vezes nas Olimpíadas: em 2016, no Rio de Janeiro (ficou em 4.º lugar no K2, com Emanuel Silva), e, em 2021, em Tóquio (ficou em 8.º lugar no K4, com Messias já na equipa).
O seu palmarés é notável: em 2013, já tinha sido campeão do mundo em K2 500 metros, também na Alemanha, com Emanuel Silva. A isso, soma três medalhas de ouro em campeonatos da Europa (em 2009, 2011 e 2014, nas categorias de K2 e K4) e, pelo menos, 40 títulos nacionais, conquistados nas últimas duas décadas. O segredo? "Muito esforço e dedicação."
Trocaram a universidade pela canoagem
João começou a praticar canoagem há 23 anos, num clube de Esposende. Em 2005, ingressou na Seleção Nacional e, em 2009, integrou o Comité Olímpico de Portugal – o que lhe valeu uma bolsa mensal que tem conseguido manter quase todos os anos, graças aos resultados de mérito. O seu talento chamou a atenção do Benfica, que o contratou em 2012.
Messias também é já um valor seguro e uma grande promessa: desde 2021, ora em K1, ora em K2, foi tricampeão nacional, campeão da Europa, vice-campeão do mundo e campeão do mundo. Natural de Vila do Conde, com canoístas na família, o atleta começou a praticar aos 9 anos. Aos 15, entrou na Seleção Nacional e, aos 19, foi contratado pelo Benfica.
Tanto um como o outro decidiram congelar a matrícula na universidade (João, em Ciências do Desporto, e Messias, em Psicologia), para se dedicarem a 100% à canoagem. "Senti que não conseguia fazer as duas coisas bem", recorda o mais velho. Hoje, ambos vivem inteiramente deste desporto: além do salário do clube, recebem uma bolsa mensal do Comité Olímpico e, de forma ocasional, patrocínios.
Estágios de três semanas longe de casa
"Não temos razão de queixa, porque já chegámos a este patamar. Mas os atletas que estão a começar não podem dizer o mesmo. Na canoagem, só depois de se atingir um resultado é que começam a surgir apoios, e deveria ser o contrário: primeiro, identificar atletas com mérito e, depois, apoiá-los para que evoluíssem e chegassem a patamares mais altos." Messias corrobora: "É óbvio que a modalidade precisa de mais apoios, em termos financeiros. Temos resultados de mérito, mas o apoio que recebemos não faz jus aos resultados."
A rotina de um canoísta olímpico está longe de ser branda. Participam em estágios de três semanas consecutivas (organizados pela Federação Portuguesa de Canoagem e financiados pelo Comité) e, pelo meio, disputam campeonatos nacionais e internacionais. Ao todo, são 200 dias por ano longe de casa.
"De manhã, temos um ou dois treinos. Depois do almoço, descansamos e, à tarde, fazemos mais um ou dois treinos. O plano é este de segunda a sábado. Quartas e sábados, temos a tarde livre e, ao domingo, folga", descreve Messias. Na maior parte do tempo, estão no Centro de Alto Rendimento de Montemor-o-Velho, em Coimbra, que tem uma das melhores pistas internacionais para a prática de desportos náuticos, com dois mil metros de extensão. Mas também costumam ir para Sevilha (nos meses de inverno, para "fugir ao frio"), Avis, Aguieira e Gerês. Mesmo quando regressam a casa, uma semana por mês, continuam a treinar.
"Há dias difíceis", admite Messias, principalmente "quando a carga e a intensidade começam a afetar o corpo". Contudo, a experiência acumulada e o foco nos resultados ajudam a manter a motivação. "É mais fácil quando temos um objetivo claro e vários passos pelo caminho. Todos os dias pensamos em agosto [Jogos Olímpicos], mas as provas nacionais e internacionais também nos estimulam até ao objetivo principal."
As ausências de casa, para João, têm sido mais duras desde que foi pai, há dois anos. "A minha filha já chama muito por mim. É complicado..." O apoio da psicóloga, garantido a ambos pelo Comité Olímpico, tem sido importante para "gerir emoções".
Quanto ao futuro, nenhum hesita: "Enquanto o corpo permitir" e tiverem "prazer" no que fazem, querem permanecer ligados à modalidade. João sabe que a carreira está perto do fim e pensa já noutros voos: "Tirei o curso de treinador e gostava de investir na formação de novos atletas. A área de eventos desportivos também me agrada. Vou estar ligado ao desporto até ao meu último dia de vida."
Dois consumidores totalmente opostos
Como são enquanto consumidores? "Completamente opostos", atira João. "Eu vejo qual pode ser o produto mais barato, e o Messias tem logo o impulso de comprar." Entre gargalhadas, Messias concede: "Quase sempre, sou bastante impulsivo. Compro sem pensar muito." Ainda assim, garante que já recorreu ao comparador de preços da DECO PROteste. "Muitas empresas lançam promoções que, na verdade, são falsas..."
Fã de tecnologia, João também já usou aquela ferramenta e reconhece que "ajuda muito". A melhor compra até hoje foi a casa; já o pior negócio foi uma pequena tenda que ofereceu à filha: "Comprei-a num site, por 20 ou 30 euros, e partiu-se assim que ela saltou lá para dentro."
Messias, por seu lado, compra mais roupa, jogos e livros, mas a melhor aquisição de sempre diz ter sido o automóvel, sobretudo pela utilidade diária. E a pior compra? "Várias. Produtos que, dois ou três dias depois, ficam em promoção."
Mais fiscalização no setor alimentar
Nem um, nem outro, tiveram de usar o Livro de Reclamações até à data. Em contrapartida, já escreveram muitos elogios a várias entidades.
"O bom senso é sempre o melhor caminho. E, quando se está bem informado, cometem-se menos erros", sublinha João. O atleta considera que deveria haver "mais fiscalização" no setor alimentar. "A questão do IVA zero em alguns alimentos foi o que se viu... E ainda hoje li uma notícia sobre um grande grupo português que faturou milhões de euros. Esses aumentos deveriam ser bem fiscalizados, para que os preços ao consumidor fossem mais justos."
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