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Candidíase vulvovaginal: como prevenir

Algumas medidas podem ajudar a prevenir a candidíase vulvovaginal, uma infeção fúngica que se estima afetar, todos os anos, mais de 150 mil mulheres em idade reprodutiva em Portugal. Perante suspeita da doença, consulte um profissional de saúde.

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30 junho 2025
Mulher numa consulta com uma médica com ar sério

iStock

A candidíase genital tanto pode surgir em mulheres como em homens. Mas, quando se fala em candidíase vulvovaginal, como o nome indica, trata-se da infeção que afeta a zona íntima feminina, nomeadamente, a vulva e a vagina. Estimativas sugerem que atinge 70% a 75% das mulheres, pelo menos, uma vez na vida. Só em Portugal, anualmente, mais de 150 mil mulheres entre os 15 e os 50 anos são afetadas, aponta um estudo do Departamento de Doenças Infeciosas, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, publicado em 2017.

Mas a verdadeira dimensão da incidência e da prevalência da candidíase vulvovaginal é difícil de estimar com precisão. A dificuldade deve-se, sobretudo, à frequente ausência de um diagnóstico rigoroso. Como não se trata de uma infeção de declaração obrigatória e, muitas vezes, o tratamento é iniciado apenas com base nos sintomas, muitos casos não são notificados. A facilidade de acesso a medicamentos de venda livre também contribui para esta subnotificação, uma vez que muitas mulheres optam por se automedicar perante a suspeita da doença.

A DECO PROteste aconselha: perante sintomas, procure o médico. O autodiagnóstico e a automedicação devem ser evitados.

Primeiro passo: um diagnóstico rigoroso

A candidíase vulvovaginal pode afetar muito a qualidade de vida das mulheres, sobretudo quando é recorrente (três ou mais episódios num ano). Nestes casos, o impacto pode ser comparável ao de doenças como a asma ou a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC).

Para reduzir o risco e garantir um tratamento eficaz, é importante começar por obter um diagnóstico rigoroso, idealmente assente na recolha de uma história clínica detalhada e na identificação do agente infecioso.

O uso inadequado de antifúngicos, através de tratamentos desnecessários, prolongados, repetidos ou em doses incorretas, contribui para o aumento da resistência dos fungos aos medicamentos, dificultando o tratamento de infeções futuras. Além disso, pode representar um desperdício de dinheiro em terapêuticas ineficazes, atrasar o início do tratamento adequado e agravar os sintomas, afetando a qualidade de vida das mulheres.

Sem sintomas? Não se trata

A candidíase vulvovaginal é uma infeção causada por fungos Candida spp. Destes, o Candida albicans é, de longe, o agente infecioso mais frequente, sendo responsável por 90% dos casos. Os outros 10% devem-se a espécies diferentes, como o C. Glabrata, o C. Krusei e o C. Tropicalis.

Porém, a presença de Candida spp nem sempre conduz a uma candidíase. Estes fungos fazem parte da flora vaginal de cerca de 10% a 20% das mulheres, sem gerarem sintomas. Em casos assintomáticos, não é necessário, nem recomendável, fazer um tratamento antifúngico.

Identificar a origem para encontrar o melhor tratamento

Os sintomas manifestam-se quando os microrganismos infetantes se tornam patogénicos e causam uma resposta inflamatória. Podem incluir corrimento vaginal branco, grumoso e espesso, com odor mínimo ou inexistente, que forma placas aderentes às paredes vaginais, comichão, irritação e ardor. Podem ainda ser acompanhados de desconforto ou dor ao urinar e durante as relações sexuais. Perante estes sinais, é fundamental procurar ajuda. Caberá ao médico recolher a história clínica e pedir os devidos testes para identificar o agente.

A precisão do diagnóstico é fundamental para tratar eficazmente a infeção, até porque os sintomas atribuídos à candidíase vulvovaginal podem ter muitas outras causas, incluindo infeções vaginais e dermatoses vulvares.

Com base nas características da infeção e na sua resposta ao tratamento, a candidíase vulvovaginal pode ser classificada em dois tipos.

  • Não complicada: geralmente, ocorre em mulheres sem fatores de risco, com sintomas ligeiros ou moderados e episódios esporádicos (até dois por ano), sendo sobretudo causada por C. albicans. A maioria dos tratamentos costumam ser eficazes.
  • Complicada: é assim considerada se houver infeções graves, episódios recorrentes (três ou mais por ano) e doenças como diabetes, imunodeficiência ou terapêutica imunossupressora, ou se tiver origem em espécies de Candida que não a albicans. O mais provável é os tratamentos serem menos eficazes, o que exige um acompanhamento mais próximo e terapêuticas mais agressivas.

A estratégia a adotar depende do quadro clínico. Por exemplo, nos casos de candidíase vulvovaginal não complicada, os antifúngicos do grupo dos azóis, como o clotrimazol, o econazol e o fluconazol, constituem o tratamento de eleição. Apresentam-se numa grande variedade de formulações, como comprimidos, cremes vaginais, pomadas e óvulos. Alguns destes antifúngicos podem ser adquiridos sem receita médica. Ainda assim, a sua utilização deve ser precedida de aconselhamento por um profissional de saúde, como o farmacêutico, para promover uma administração responsável e evitar a automedicação inadequada.

Candidíase: quais as causas conhecidas?

Embora a candidíase vulvovaginal possa surgir sem uma causa clara, conhecem-se vários “culpados”, ou fatores de risco, que podem aumentar a sua probabilidade. É o caso da diabetes mellitus mal controlada e do uso de alguns medicamentos para gerir esta doença (por exemplo, a canagliflozina, a dapagliflozina e a empagliflozina).

Os antibióticos, que podem alterar a flora bacteriana e favorecer o crescimento fúngico, são outras causas conhecidas. O mesmo se aplica ao aumento do nível de estrogénios, devido ao uso de contracetivos com estrogénio ou, na menopausa, às terapêuticas hormonais de substituição. Também podem favorecer o aparecimento de candidíase vulvovaginal determinadas doenças e terapêuticas imunossupressoras.

A candidíase vulvovaginal não é uma infeção sexualmente transmissível – afeta até mulheres sexualmente inativas. Mas alguma evidência sugere que a atividade sexual pode estar igualmente associada ao seu desenvolvimento. Certos comportamentos, como a frequência elevada de relações sexuais ou a multiplicidade de parceiros, podem contribuir para o aparecimento de sintomas.

Medidas de prevenção possíveis

Além da eliminação ou da redução dos fatores de risco, que são medidas óbvias, outras podem contribuir para a prevenção da doença, ainda que não existam provas definitivas da sua eficácia. Exemplos?

  • Mantenha uma higiene íntima adequada, com a aplicação de um produto de pH neutro apenas uma vez por dia.
  • Evite usar sabões, géis de banho, toalhetes ou outros produtos com antisséticos ou perfumes, assim como irrigações vaginais.
  • Tenha o cuidado de secar bem a zona íntima e evitar a humidade.
  • Limpe as áreas genital e anal sempre da frente para trás.
  • Mude frequentemente pensos higiénicos e tampões.
  • Evite o uso de pensos diários e de collants.
  • Use roupa interior de algodão e não a lave com produtos irritantes.

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