Dicas

Atenuar sintomas da menopausa com medicamentos e cuidados diários

Afrontamentos, irritabilidade, falta de concentração e problemas de sono são alguns dos sintomas associados à menopausa. Conheça os tratamentos médicos e os cuidados diários que ajudam a minimizar os incómodos.

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11 setembro 2024
Senhora de meia-idade a refrescar-se com um leque vermelho

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A menopausa é um processo biológico natural e perfeitamente normal da vida da mulher. Mas os sintomas da menopausa podem tornar esta etapa desafiante.

O climatério é o período da vida da mulher compreendido entre o pleno potencial e a incapacidade reprodutiva. Ao longo do climatério, ocorre um declínio progressivo da sua função ovárica. Compreende três fases:

  • pré-menopausa – período que, no sentido lato, engloba toda a idade fértil até à menopausa;
  • peri-menopausa – compreende a transição para a menopausa e o primeiro ano após a menopausa;
  • pós-menopausa – período que se inicia com a última menstruação.

Apesar de serem muitas vezes confundidos, o climatério e a menopausa dizem respeito a momentos diferentes. A menopausa propriamente dita é determinada pela última menstruação e representa a falência ovárica definitiva. Em termos clínicos, diagnostica-se após um ano de amenorreia (ausência de menstruação) sem outra causa identificada.

Com que idade se entra na menopausa?

Nos países europeus, em média, a menopausa ocorre aos 51 anos da mulher, mas geralmente ocorre entre os 45 e os 55 anos. Em alguns casos, pode manifestar-se mais cedo, antes dos 45, mas habitualmente depois dos 40 anos (menopausa precoce) ou mais tarde, depois dos 54 anos (menopausa tardia). Tudo depende da mulher e da sua história clínica e familiar.

Pode resultar de um acontecimento natural relacionado com o envelhecimento ou ser consequência de tratamentos médicos ou cirúrgicos (menopausa iatrogénica).

Fumar, a ausência de gravidezes, a exposição a químicos tóxicos e sofrer de doenças como epilepsia ou diabetes de tipo 1 são alguns exemplos de fatores que estão associados à menopausa precoce. Já a ocorrência de várias gravidezes, o excesso de massa corporal e o elevado QI na infância relacionam-se com a menopausa tardia.

Quais os principais sintomas da menopausa?

A menopausa afeta cada mulher de forma diferente. Algumas mulheres atravessam esta fase praticamente sem queixas, enquanto outras vivenciam-na de forma conturbada. A transição para a menopausa implica alterações nos níveis das hormonas estrogénio e progesterona, e com ela chegam as manifestações características do período, muitas vezes desconfortáveis e com impacto na qualidade de vida.

A curto prazo, há a destacar a ocorrência de afrontamentos, suores noturnos, as alterações do sono e as perturbações emocionais. A médio prazo podem surgir a síndrome geniturinária da menopausa (caracterizada por problemas urinários e vaginais) e, possivelmente, alterações cutâneas. Como repercussões mais tardias, destacam-se as complicações cardiovasculares, a osteoporose e as alterações metabólicas.

Irregularidades menstruais

As alterações do ciclo menstrual podem iniciar-se quatro a oito anos antes da menopausa. Numa primeira fase, os ciclos podem ser regulares mas tornam-se mais curtos. Mais tarde, tornam-se irregulares até cessarem por completo.

Afrontamentos e suores noturnos

Sintomas vasomotores – como afrontamentos e suores noturnos – ocorrem na transição menopáusica, afetam mais de 70% das mulheres e são considerados frequentes ou intensos em mais de 30% dos casos. Começam tipicamente por uma sensação súbita de calor que dura cerca de dois a quatro minutos, associada frequentemente a transpiração abundante e, ocasionalmente, a palpitações. Podem também ser acompanhados de calafrios, tremores e sensação de ansiedade.

Em alguns casos, os sintomas vasomotores manifestam-se predominantemente à noite, podendo interferir com a qualidade do sono. A sua frequência é variável, mas podem ocorrer mais de dez vezes por dia.

Habitualmente, estes sintomas mantêm-se durante sete a dez anos, mas em alguns casos podem manifestar-se por várias décadas.

Alterações cognitivas, do humor e de sono

Muitas mulheres na menopausa referem alterações associadas a um estado de maior ansiedade e irritabilidade, dificuldade em dormir, diminuição da qualidade do sono, fadiga, depressão e problemas de concentração e de memória.

Problemas vaginais e urinários e alterações sexuais

Estima-se que a síndrome geniturinária afete entre 27% e 84% das mulheres, manifestando-se através de sintomas como:

  • secura, ardor e irritação vaginais;
  • dor e desconforto ao urinar;
  • infeções urinárias recorrentes.

Embora muitas mulheres permaneçam sexualmente ativas durante o climatério, pelo menos metade refere sintomas de disfunção sexual, incluindo redução da libido (desejo sexual reduzido), perturbações do orgasmo e ardor e/ou dor durante as relações sexuais.

Problemas de pele

As alterações hormonais da menopausa resultam numa diminuição importante do colagénio dos tecidos, com consequente diminuição da espessura e elasticidade da pele. Outras possíveis alterações são:

  • despigmentação ou pigmentação heterogénea da pele;
  • alopécia androgénica (perda de cabelo);
  • aumento da pilosidade facial.

Alterações cardiovasculares, metabólicas e osteoarticulares

A longo prazo, o risco de aparecimento de doenças cardiovasculares e de osteoporose aumenta, e torna-se mais difícil a mulher manter o peso habitual.

Tratamento para a menopausa

Não existem truques ou terapêuticas que resultem com todas as mulheres, mas, com acompanhamento médico e os cuidados adequados, é possível ultrapassar ou minimizar a maioria das queixas.

Terapia hormonal de substituição

A terapia hormonal de substituição (THS) consiste na administração de hormonas para substituir aquelas que deixam de ser produzidas (ou são produzidas em menor quantidade) durante a menopausa. Recorre à utilização de estrogénios, progestativos ou a combinação de ambos (estroprogestativos). Estes medicamentos podem ser administrados por diversas vias, tais como:

  • via oral (em comprimidos);
  • via transdérmica (adesivos, gel ou spray na pele);
  • via vaginal (cremes ou óvulos).

A TSH pode ser incluída no tratamento dos sintomas que alteram a qualidade de vida das mulheres durante a menopausa. É eficaz no alívio dos sintomas vasomotores (como os afrontamentos e os suores, por exemplo) e pode melhorar os distúrbios do sono, as alterações de humor e da função cognitiva e os sintomas musculoesqueléticos. A evidência também sustenta o seu papel na prevenção da osteoporose e de doenças cardiovasculares.

Não obstante, a utilização deste tipo de terapia aumenta o risco de desenvolver cancro da mama, do endométrio e dos ovários, entre outros efeitos adversos. O padrão de risco de cancro depende do tipo de terapia de substituição hormonal (medicamentos com estrogénio apenas ou com combinação de estrogénio e progesterona) e do facto de a mulher ter sido ou não submetida a uma histerectomia (remoção do útero).

Por exemplo, as terapias hormonais de substituição que utilizam apenas estrogénio podem aumentar o risco de cancro do endométrio (revestimento do útero) e dos ovários. Esse risco é menos relevante em mulheres que já passaram por uma histerectomia, pois o útero já foi removido. Já as terapias hormonais de substituição com combinação de estrogénio e progesterona podem diminuir o risco de cancro do endométrio. Estudos demonstram ainda que o risco excessivo de cancro da mama associado a estas terapias surge após alguns anos de tratamento e mantém-se elevado durante, pelo menos, cinco anos após a sua descontinuação (apesar de esse risco começar a decrescer pouco tempo após o fim do tratamento).

A TSH está fortemente contraindicada em mulheres com antecedentes ou histórico atual de cancro da mama, do endométrio ou de outra neoplasia hormonodependente, risco aumentado de doenças cardiovasculares ou risco de tromboembolismo venoso, entre outros.

Tendo em conta que esta terapêutica comporta riscos, a decisão sobre o tipo de opção a seguir, bem como da dose, duração e via de administração, deve ser partilhada entre o médico e a mulher, e os pormenores da terapia debatidos antes do início do tratamento. Quando aplicada, a terapia hormonal de substituição deve idealmente ser o mais breve possível, e as suas doses tão reduzidas quanto possível para o controlo dos sintomas da menopausa. 

A terapia hormonal bioidêntica (hormonas bioidênticas são sintetizadas em laboratórios, com precursores de plantas, tal como acontece com a terapia hormonal convencional) não é recomendada. A sua eficácia e a sua segurança não estão validadas pela medicina baseada na evidência.

Terapêutica não hormonal na menopausa

O uso medicamentos não hormonais na menopausa podem ser uma alternativa para mulheres que não podem ou não querem recorrer à terapia hormonal de substituição. Embora geralmente sejam menos eficazes e não apresentem os benefícios de proteção óssea ou cardiovascular, estes medicamentos podem ajudar a aliviar alguns sintomas da menopausa. Por exemplo, alguns antidepressivos (como o citalopram, o escitalopram e a venlafaxina) têm efeitos modestos nos sintomas vasomotores, podendo também melhorar o sono e o humor. Outros fármacos, como a gabapentina e a oxibutinina, também podem reduzir a frequência e a intensidade dos sintomas vasomotores.

Outras opções

  • Cremes hidratantes ou lubrificantes vaginais: podem ser úteis para aliviar sintomas vaginais, tais como a dor nas relações sexuais.
  • As terapias complementares e à base de plantas (como a erva-de-são-cristóvão e os fitoestrogénios) não têm evidências suficientes de benefício, podendo causar efeitos adversos. Não são, por isso, recomendadas.
  • Modificações no estilo de vida – como a prática de exercício físico, a perda de peso e a redução do consumo de álcool – podem ajudar a gerir os sintomas e a melhorar o bem-estar geral. Contudo, não reduzem necessariamente a gravidade dos sintomas.
  • A terapia cognitivo-comportamental pode ajudar a aliviar os sintomas vasomotores e a melhorar a qualidade do sono. 

7 dicas para minimizar os sintomas da menopausa

  1. Para uma gestão mais fácil de sintomas vasomotores, como ondas de calor e/ou os suores noturnos, vista-se por camadas, de forma a poder ir tirando peça a peça conforme necessário. Evite tecidos sintéticos e roupas apertadas. O recurso a técnicas de meditação, respiração controlada e terapia cognitiva-comportamental também podem ser úteis.
  2. Realize tarefas que ajudem a estimular a memória e a concentração, como palavras cruzadas, sopas de letras ou puzzles. Se a falta de memória começar a interferir nas suas atividades diárias, é aconselhável conversar com o seu médico.
  3. Pratique atividade física regularmente e tenha uma boa rotina de sono. Estas medidas têm um impacto positivo na saúde mental, contribuindo para o bem estar geral. Adicionalmente, ajudam na manutenção de um peso adequado e protegem contra doenças cardiovasculares e osteoporose.
  4. Mantenha uma dieta saudável e evite o consumo de bebidas alcoólicas, cafeinadas e alimentos muito condimentados – podem funcionar como “gatilhos” de sintomas vasomotores.
  5. Para potenciar um sono descansado, evite usar dispositivos eletrónicos antes de se deitar e procure dormir num ambiente silencioso e calmo. Mantenha o quarto ventilado e com uma temperatura amena para minimizar a probabilidade de suores noturnos.
  6. Para o alívio de sintomas vaginais, como desconforto nas relações sexuais, cremes hidratantes ou lubrificantes vaginais podem ser úteis. Aconselhe-se com o seu médico.
  7. Considere deixar de fumar. Afinal, o tabagismo é um dos fatores que surgem associados à menopausa precoce.

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