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Medidores de glicose não invasivos: conheça os perigos

A eficácia e a segurança dos smartwatches que prometem medir os níveis de glicose sem ter de picar o dedo ou perfurar a pele não está comprovada. O uso destes dispositivos pode ser perigoso, sobretudo para doentes diabéticos.

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23 setembro 2025
grande plano de mulher de costas a olhar para ecrã de smartwatch

iStock

A medição do valor da glicose é fundamental na gestão da diabetes. Tradicionalmente, esta medição é feita através da glicémia capilar, a chamada “picada no dedo”, que indica o valor de glicose ou “açúcar” no sangue naquele momento. Nos últimos anos têm surgido também sistemas menos invasivos que permitem medir a glicose intersticial através de um sensor colocado sob a pele através de uma leve perfuração, uma tecnologia que permite tornar este processo menos doloroso e mais prático. Ambos os métodos de monitorização são seguros e de eficácia comprovada para o controlo dos níveis de glicose.

Contudo, estão a circular, sobretudo nas redes sociais, anúncios de medidores que prometem fazer esta medição sem necessidade de qualquer picada ou perfuração da pele, apenas com o uso de um smartwatch ou de outro aparelho similar a um oxímetro. No entanto, a sua utilização pode representar um sério risco para a saúde, sobretudo para os diabéticos. Saiba quais são os únicos métodos de monitorização de glicose seguros e clinicamente validados, e não se deixe enganar.

Métodos de monitorização da glicose tradicionais

Atualmente, existem dois métodos tradicionais de monitorização da glicose. Estes métodos requerem a utilização de técnicas invasivas ou minimamente invasivas, isto é, exigem que pique regularmente o dedo (teste de glicémia capilar), ou então que perfure a pele para colocar um sensor que dura vários dias (sistemas de monitorização da glicose intersticial).

Medição da glicémia capilar

A medição da glicémia capilar permite saber, em tempo real, o nível de glicose no sangue. Consiste na obtenção de uma gota de sangue através da picada de um dedo (daí dizer-se que é um método invasivo), utilizando um dispositivo de punção (como uma lanceta, por exemplo). A gota de sangue é então absorvida por uma tira-teste que se encontra inserida num glucómetro, onde o resultado é apresentado.

Monitorização da glicose intersticial

Os sistemas de monitorização da glicose intersticial permitem uma avaliação contínua dos níveis de glicose ao longo do dia, reduzindo ou eliminando a necessidade de picadas frequentes no dedo. As avaliações são realizadas através de um pequeno sensor que é introduzido debaixo da pele através de uma pequena perfuração, e que dura vários dias (sendo por isso um método menos invasivo).

Os métodos tradicionais de monitorização da glicose são os únicos que têm validação clínica e que asseguram resultados fiáveis e seguros para o controlo da diabetes.

Tecnologias de monitorização não invasiva da glicose

A possibilidade de medir os níveis de glicose sem a necessidade de picar o dedo ou de perfurar a pele para colocar sensores tem sido um objetivo de longa data na área da diabetes. Várias empresas estão a desenvolver tecnologias não invasivas, tais como:

  • técnicas óticas. Utilizam radiação de baixa energia para atravessar áreas vasculares e medir a concentração de glicose com base no sinal recolhido. Estas técnicas têm vários desafios a nível da precisão e da fiabilidade das medições, já que fatores como a espessura, rugosidade e pigmentação da pele, o fluxo sanguíneo, os movimentos do corpo e a temperatura ambiente podem afetar os resultados.
  • técnicas de monitorização de glicose através de amostras de fluidos corporais alternativos ao sangue. Utilizam fluidos como saliva, suor e lágrimas como alternativas ao sangue para medir a concentração de glicose. Contudo, a relação entre os níveis de glicose nestes fluidos e no sangue é fraca, uma vez que pode ser influenciada por fatores como stress ou outros estímulos, tornando difícil garantir medições fiáveis.

Embora sejam promissoras, a grande maioria destas tecnologias ainda está em fase experimental, e por enquanto não há evidências robustas que confirmem a sua utilidade clínica.

Dispositivos que alegam medir o nível de glicose de forma não invasiva

Atualmente, existem no mercado vários dispositivos que alegam medir a concentração de glicose sem necessidade de picar o dedo ou de perfurar a pele para inserir sensores.

As redes sociais e as plataformas de vendas online estão a promover dispositivos como smartwatches e aparelhos semelhantes a oxímetros, atraindo os consumidores com a promessa de que são mais confortáveis e práticos por não exigirem que pique o dedo ou perfure a pele. Contudo, a eficácia e segurança destes dispositivos não está comprovada.

Perigos de utilizar dispositivos não invasivos

Entidades como a Food and Drug Administration (FDA) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já alertaram que o seu uso pode representar um risco para a saúde, especialmente para pessoas com diabetes. Nestes doentes, a precisão na medição do valor da glicose é essencial, e estes dispositivos podem levar a medições imprecisas. Erros na monitorização dos níveis de glicose podem conduzir os pacientes a administrar uma dose inadequada de insulina ou de outros medicamentos, que poderá reduzir rapidamente a concentração de glicose no sangue. Isto pode ter consequências mais imediatas, tais como confusão mental, coma ou até mesmo a morte. Além disso, a longo prazo poderá contribuir para o agravamento de condições de saúde relacionadas com um controlo inadequado da diabetes.

Em setembro de 2025, o Infarmed emitiu uma circular informativa que alerta precisamente para o caráter fraudulento dos dispositivos médicos para medir a glicémia de forma não invasiva encontrados online. O documento explica que, até à data, não há registo de que estejam disponíveis em Portugal e que qualquer referência a “aprovação” ou “certificação” por parte de um Estado-membro da União Europeia é falsa.

O Infarmed indica ainda que os dispositivos médicos devem ser adquiridos apenas junto de operadores económicos legalizados. A compra em websites ou plataformas online não verificadas é de evitar, pois não há garantia da qualidade, segurança ou desempenho dos dispositivos adquiridos.

2 passos para garantir uma monitorização segura e eficaz do valor da glicose

  1. Caso o seu tratamento dependa de medições precisas dos valores de glicose, consulte o seu médico para obter orientações personalizadas. O acompanhamento médico é essencial para determinar o plano de monitorização mais adequado a cada doente, já que a frequência de medição dos níveis de glicose deve ser ajustada individualmente, tendo em consideração diversos fatores como o tipo de diabetes, o plano de tratamento, o estilo de vida, o risco de hipoglicemia e/ou a existência de doenças associadas.
  2. Não compre nem use dispositivos que aleguem medir os níveis de glicose de forma não invasiva, ou seja, sem recurso a picadas no dedo ou a sensores que exigem uma perfuração da pele. Estes dispositivos não têm fiabilidade clínica comprovada e podem resultar em medições imprecisas e pouco confiáveis. Em caso de dúvida, consulte sempre a sua equipa de saúde.

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