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Diabetes: qual a melhor maneira de medir a glicose

Manter os níveis de glicose no sangue sob controlo é indispensável para quem vive com diabetes. Saiba quais são os métodos clinicamente validados para medir a glicose.

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15 abril 2025
Mulher sentada à mesa, em casa, faz um teste de glicémia picando o dedo

iSTock

Controlar os níveis de glicose no sangue é uma prática indispensável para quem vive com diabetes. A monitorização adequada permite adaptar o tratamento com maior precisão, garantindo uma gestão mais eficaz da doença, e diminuindo a probabilidade de complicações associadas.

Métodos clinicamente validados para medição da glicose

Tradicionalmente, a medição dos níveis de glicose pode ser realizada a partir do sangue (teste de glicémia capilar) ou do fluido intersticial, o líquido que envolve as células abaixo da pele (sistemas de monitorização da glicose intersticial). O Serviço Nacional de Saúde comparticipa diversas tecnologias para a automonitorização da glicémia e controlo da diabetes mellitus, como é o caso das lancetas e das tiras-teste, usadas na medição da glicémia capilar. A partir de agosto de 2025, o sensor que determina a glicose intersticial beneficiará de um regime excecional de comparticipação (até 85% do PVP – preço de venda ao público), estando a sua prescrição limitada a algumas especialidades médicas, nomeadamente endocrinologia e nutrição, medicina interna, pediatria e medicina geral e familiar.

Veja em que consiste cada um destes métodos de medição. 

Medição da glicémia capilar

A medição da glicemia capilar permite saber, em tempo real, o nível de glicose no sangue. Para tal, usa uma gota de sangue, que é obtida através de uma picada no dedo feita através de uma lanceta. A amostra é posteriormente absorvida por uma tira reativa e analisada por um glucómetro.

Esta medição é fundamental para pessoas com diabetes. Por um lado, é o método mais fiável para confirmar e tratar adequadamente episódios de hipoglicemia. Além disso, permite avaliar a eficácia de tratamentos como a administração de insulina, mas também o impacto de outras abordagens, como por exemplo a prática de exercício físico. Fornece ainda dados que permitem ajustar a medicação conforme as necessidades.

Em determinados contextos clínicos, pode ser necessário realizar este teste várias vezes ao dia. A regularidade da medição da glicemia capilar deve ser adaptada a cada pessoa. A recomendação para essa frequência deve ser estabelecida pelo médico assistente e pode variar de acordo com vários fatores, tais como o tipo de diabetes e a existência de outras doenças.

Glicemia: quais os valores recomendados?

Os valores ideais de glicemia capilar podem variar de pessoa para pessoa. Por isso, é importante que o seu médico assistente estabeleça os valores mais adequados, de acordo com as suas características pessoais.

Para a maioria dos adultos (exceto grávidas) com diabetes, estes são os valores recomendados:

  • glicemia capilar pré-prandial (antes das refeições): 80-130 mg/dL;
  • glicemia capilar pós-prandial (cerca de duas horas após o início da refeição): <180 mg/dL;

Tenha em atenção que valores inferiores a 70 mg/dL definem uma hipoglicemia, que deve ser adequadamente tratada.

Monitorização da glicose intersticial

Os sistemas de monotorização da glicose intersticial são tecnologias que medem automaticamente e de forma contínua (24 horas por dia) os níveis de glicose presentes no líquido intersticial, que é o fluido que envolve as células abaixo da pele. As avaliações são realizadas através de um pequeno sensor que é introduzido debaixo da pele (geralmente, no braço) e que dura vários dias. Embora exijam uma pequena perfuração da pele, estes sistemas são considerados minimamente invasivos, pois permitem ao utilizador verificar a glicose a qualquer momento do dia, reduzindo ou até eliminando a necessidade de picadas no dedo.

A glicose intersticial é um indicador indireto da glicose no sangue. Os valores medidos pelo sensor podem diferir dos níveis da glicémia capilar devido a um atraso na correspondência entre ambos (atraso de 5 a 10 minutos). Essa diferença tende a ser mais significativa quando os níveis de glicose sofrem variações rápidas ou quando estão demasiado baixos (hipoglicemia) ou excessivamente altos (hiperglicemia). Por isso, recomenda-se a confirmação de valores extremos de glicose (inferiores a 70 mg/dL ou superiores a 250 mg/dL) através de uma medição da glicemia capilar.

Existem dois tipos de sistemas de monitorização da glicose intersticial disponíveis:

  • sistemas de monitorização contínua da glicose em tempo real. Estes dispositivos monitorizam continuamente a glicose intersticial e transmitem os dados em tempo real para um monitor, como um telemóvel, um smartwatch ou uma bomba infusora de insulina. O utilizador pode consultar os níveis de glicose sempre que quiser, e os dados podem ser partilhados em tempo real. Estes sistemas permitem também configurar alarmes para alertar sobre hipoglicemia e hiperglicemia e requerem calibração com glicemia capilar uma ou duas vezes por dia. Quando integrados com uma bomba infusora de insulina, formam sistemas integrados conhecidos como “pâncreas artificial”;
  • sistemas de monitorização intermitente da glicose, também conhecidos como “sistemas de monitorização flash”. Estes sistemas não apresentam leituras de glicose continuamente, mas apenas a pedido. Para isso, tem de fazer-se uma leitura do sensor. Não requerem calibração com glicemia capilar (são projetados para fornecer leituras precisas sem precisar de ajustes frequentes), e os modelos mais recentes já permitem configurar alarmes para hipoglicemia e hiperglicemia.

A escolha do tipo de monitorização (contínua em tempo real vs. intermitente) depende das necessidades individuais de cada pessoa com diabetes.

Como avaliar o controlo glicémico com base nos dados fornecidos?

O controlo glicémico deve ser personalizado, com os alvos de glicemia definidos pelo médico, tendo em conta o perfil e as necessidades individuais de cada doente.

Atualmente, os sistemas de monitorização da glicose intersticial fornecem várias métricas que permitem uma avaliação mais abrangente da glicemia, tais como:

  • tempo no alvo, ou seja, a percentagem de tempo em que os níveis de glicose permanecem dentro do intervalo recomendado, ajustado ao perfil do utilizador;
  • tempo acima ou abaixo do alvo, ou seja, o período em que os valores se encontram fora do intervalo definido;
  • glicose média (média dos valores de glicose num período personalizável);
  • variabilidade glicémica, ou seja, o grau de flutuação da glicose ao longo do tempo.

Estas métricas proporcionam uma visão mais detalhada do controlo glicémico, potenciando a prevenção de complicações e o ajuste personalizado da terapêutica. A sua utilização pode ser particularmente útil para pessoas que seguem esquemas intensivos de insulinoterapia, aquelas que perderam a sensibilidade às hipoglicemias ou que apresentam grande variabilidade glicémica.

Para uma interpretação adequada e adaptada a cada caso, é sempre recomendável consultar um profissional de saúde.

Existem dispositivos que alegam medir os níveis de glicose sem que seja necessário picar ou perfurar a pele, mas não estão devidamente testados e aprovados. Assim, a medição da glicemia capilar e a monitorização da glicose intersticial continuam a ser as únicas formas fiáveis e seguras de realizar este controlo.

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