Quais as recomendações para o uso de ecrãs por crianças?
Mais tempo de ecrã significa menos tempo para brincar, estudar, falar ou até dormir. Para promover o bem-estar das crianças, a utilização de ecrãs deve ser supervisionada por adultos, privilegiando-se conteúdo educativo adequado para a idade. Conheça as recomendações.

Os ecrãs são uma parte integrante do quotidiano. Por isso, é natural que as crianças tenham contacto com eles em alguma fase de vida. Tal como os adultos, as crianças utilizam as tecnologias para entretenimento e comunicação, mas também para fins educativos.
Aliás, a ciência indica que diferentes tecnologias, e em diferentes idades, podem ter diferentes tipos de benefícios.
Por exemplo, em crianças entre os dois e os cinco anos, quando acompanhadas por adultos, a visualização de desenhos animados e programas educativos apropriados pode ajudar no desenvolvimento da linguagem e na socialização.
Já nas crianças entre os seis e os 11 anos de idade, os videojogos, quando adequados à idade, podem ajudar a melhorar a capacidade de orientação espacial e de raciocínio lógico.
Em adolescentes, o uso moderado e ativo das redes sociais parece estar associado a sensações de bem-estar. Por exemplo, falar com amigos e partilhar conteúdos em interações positivas e mútuas.
Em todos os contextos, para que os ecrãs possam ter benefícios, é importante priorizar sempre a qualidade dos conteúdos, em vez da quantidade de tempo.
No entanto, também não se pode ignorar a evidência científica, que aponta vários riscos associados ao uso excessivo e desregrado de ecrãs e tecnologias digitais ao longo das diferentes fases da infância.
O impacto negativo do uso de ecrãs nas crianças é, especialmente, prejudicial quando os conteúdos são escolhidos de forma independente e aleatória, sem a supervisão de um adulto, sem filtros de segurança, com conteúdos pouco educativos e sem limites de tempo adequados à idade.
Obstáculos ao desenvolvimento infantil
O uso desadequado de ecrãs pode trazer vários obstáculos ao desenvolvimento saudável das crianças, como o aumento do sedentarismo. O excesso de tempo sedentário dedicado aos ecrãs reduz o tempo que dedicam a brincadeiras tradicionais, atividades físicas e uso de ferramentas manuais. Este comportamento pode refletir-se numa menor coordenação e flexibilidade motora e em excesso de peso.
As dificuldades de atenção e criatividade são outros dos desafios, podendo as crianças apresentar uma dificuldade acrescida em manter a atenção, controlar impulsos e lidar com o tédio, com aumento do risco de hiperatividade, défice de atenção e comportamentos desafiadores.
O excesso de utilização de ecrãs pode condicionar o tempo de interação com adultos e outras crianças. Desta forma, fica dificultado o desenvolvimento da linguagem e contribui-se para o empobrecimento das capacidades sociais e linguísticas.
Além disso, há outros riscos para a saúde.
- Aumento do risco de fadiga ocular: os sintomas incluem vista seca, visão desfocada, miopia e dores de cabeça.
- Menor qualidade do sono: a exposição a ecrãs, especialmente antes de dormir, interfere na produção de melatonina (hormona que promove o sono), prejudicando o descanso.
- Impacto na autoestima: muitas crianças comparam a sua aparência ou estilo de vida com conteúdos que veem nas redes sociais, o que pode impactar negativamente a sua autoestima e o seu bem-estar. Além disso, as redes sociais podem expor as crianças a conteúdos inapropriados de violência, incitação ao ódio face a pessoas de outras raças, orientações sexuais ou religiões, ou de teor sexual e pornográfico, entre outros.
Recomendações de uso de ecrãs
Várias sociedades científicas internacionais estabeleceram orientações e limites para o uso de ecrãs.
Desde 2019 que a Organização Mundial da Saúde defende que:
- para crianças até um ano, o uso de ecrãs (por exemplo, para ver desenhos animados ou jogar no tablet) não é recomendado;
- dos dois aos quatro anos, o tempo de utilização não deve ser superior a uma hora por dia. A interação com ecrãs deve ser circunscrita a conteúdos educativos e apropriados para a idade e deve ser supervisionada por um adulto;
- para faixas etárias superiores, também é aconselhável manter limites consistentes quanto ao tipo de conteúdos e ao tempo de utilização, equilibrando-se o desenvolvimento de competências digitais com a prática de atividades criativas e/ou físicas;
- o tempo de utilização de ecrãs nunca deve prejudicar as tarefas escolares ou outras atividades essenciais para a saúde e bem-estar das crianças (como o sono e a alimentação).
Mais recentemente, já em 2024, a Sociedade Portuguesa de Neuropediatria emitiu várias recomendações para a utilização de ecrãs e tecnologia digital em idade pediátrica, entre elas:
- evitar ecrãs até aos três anos, exceto para videochamadas. Neste contexto, exclui-se a televisão, que pode ser usada até 30 minutos diários, desde que na presença de um adulto e com conteúdo adequado;
- dos 4 aos 6 anos, limitar o uso de ecrãs a 30 minutos por dia de programação de alta qualidade, assistida na presença de adultos que ajudem a contextualizar o conteúdo. O controlo de canais ou a mudança de vídeos não deve ser acessível à criança de forma autónoma;
- manter limites consistentes de utilização (dos 7 aos 11 anos, até uma hora por dia; dos 12 aos 15 anos, até duas horas por dia; dos 16 aos 18 anos, até três horas por dia). Deve garantir-se que o uso de ecrãs não interfere no sono, na interação social, na atividade física, no estudo e noutras atividades essenciais para a saúde e o bem-estar;
- as redes sociais só devem ser permitidas a partir dos 16 anos (estas redes não estão autorizadas para menores de 13 anos).
Dicas para os pais ou cuidadores
A Ordem dos Psicólogos Portugueses salienta que os adultos têm um papel importante, junto de crianças e jovens, na gestão do tempo de ecrãs e no uso apropriado das tecnologias digitais. Devem ser os adultos a ajudá-los a tirar o melhor partido dos benefícios, a reduzir os riscos e a protegerem-se contra os perigos. Nesse sentido, os pais ou cuidadores podem seguir algumas dicas para promover o uso responsável dos ecrãs.
Tempo de ecrã
Monitorize o tempo de ecrã e acompanhe aquilo a que a criança assiste, ajudando-a a interpretar o conteúdo em questão. Incentive o uso de material educativo e de qualidade, utilizando esses recursos em conjunto para facilitar a compreensão e a aplicação do que aprenderam no mundo ao seu redor.
Limites de utilização
Use apps de controlo parental e respeite a idade mínima aconselhada para cada conteúdo. Estabeleça limites claros, definindo horários e áreas da casa onde o uso de dispositivos móveis não é permitido, como à mesa durante as refeições e nos quartos. Tenha como referência os limites de exposição diários recomendados (referidos acima).
Segurança digital
Os ecrãs e os espaços digitais expõem as crianças a diferentes riscos e perigos, entre os quais cyberbullying, problemas de saúde psicológica, conteúdos que incentivam comportamentos de risco, aliciamento e extorsão sexual, notícias falsas e desinformação. Por isso, é fundamental educar para a segurança e cidadania digital.
Sensibilize as crianças sobre comportamentos de risco online, como partilha inadequada de informações pessoais e interação com estranhos. Destaque a importância do respeito à privacidade e da consciência sobre a pegada digital.
Dar o exemplo
Os pais ou cuidadores devem servir de modelo ao adotar comportamentos saudáveis em relação ao uso de ecrãs, demonstrando um equilíbrio entre o tempo dedicado à sua utilização e a outras atividades livres de tecnologia.
Enquanto família, definam momentos do dia em não se usam ecrãs. Por exemplo, em vez de se distraírem com o telemóvel ou a televisão durante as refeições, podem aproveitar esse tempo para conversar e partilhar experiências em família.
Além disso, é fundamental criarem-se oportunidades diárias para que as crianças se envolvam em atividades desportivas, artísticas ou outras, valorizando-se atividades sem ecrãs. Nesse sentido, incentive atividades em conjunto que promovam a atividade física e o brincar, por exemplo, caminhar, andar de bicicleta ou ir até ao parque.
As interações sociais e presenciais também devem ser valorizadas. Por exemplo, organize programas em família, encontros com amigos ou outras atividades em grupo.
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