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Muitas horas online geram adolescentes ansiosos

Ansiedade, mudanças de humor e dificuldade em dormir encabeçam os problemas sentidos pelos adolescentes, fruto da atividade online. Inquérito da DECO PROTESTE mostra que os pais nem sempre estão conscientes dos problemas dos filhos.

02 março 2023 Exclusivo
Rapariga com telemóvel

iStock

Quatro redes sociais, ou mais, em simultâneo e horas a fio online. É-lhe familiar? Reconhece estes comportamentos, típicos dos adolescentes portugueses? As respostas dos jovens ao inquérito da DECO PROTESTE retratam hábitos instalados, sobretudo nas redes sociais, entre as quais o Instagram é o grande protagonista. A ansiedade, as alterações de humor e a dificuldade em dormir são as maiores maleitas relatadas por, no mínimo, três em dez adolescentes. Mas os ataques de raiva e a depressão também fazem parte da lista. Outra conclusão do estudo é a consciência dos comportamentos dos jovens divergir face à dos progenitores. O alheamento destes quanto à dimensão de certos hábitos na imensidão do mundo global atravessa o inquérito.

Entre maio e julho de 2022, a DECO PROTESTE enviou aos pais um questionário online sobre o comportamento dos jovens na net. Obteve 937 respostas válidas. O inquérito para adolescentes entre os 15 e os 17 anos decorreu entre setembro e outubro de 2022. A validação deu 487 respostas, que foram ponderadas de modo a constituírem amostras representativas da população.

Saúde mental: pais com pouca perceção das perturbações dos filhos

O equilíbrio entre saúde mental e hábitos online constrói-se numa linha delicada. Quando questionados, 65% dos adolescentes reconhecem sofrer, pelo menos, de um problema causado, parcialmente, pelos costumes online. As diferenças de perceção entre pais e filhos marcam as respostas nesta área. Aliás, a saúde mental é um dos campos com maiores assimetrias. A generalidade dos progenitores considera que os adolescentes têm um estado físico e mental melhor do que o avaliado pelos próprios. A ansiedade gera a maior cisão: 49% dos jovens identificam-se com este estado, mas só 17% dos pais o reconhecem. Seguem-se as mudanças de humor: 34% versus 18 por cento.

Globalmente, os pais atribuem 8,4 pontos, em 10, à saúde mental dos descendentes, mas estes ficam-se pelos 6,8 pontos. Na saúde física e na qualidade de vida, em geral, a diferença é menor. As raparigas aparentam viver piores condições, nas dimensões referidas, do que os rapazes. Praticar desporto sinaliza uma melhor saúde mental e física.

Telemóveis, a porta de horas a fio para o online

Único e intransmissível, através do smartphone: assim é o acesso à internet para a grande maioria dos adolescentes. Ainda assim, um em quatro não tem computador para qualquer atividade online e 11% nem possuem um dispositivo partilhado. Situações às quais não é alheia a conjuntura económica mais desfavorável do agregado familiar.

No tempo que os jovens despendem mergulhados no mundo virtual, não existem grandes diferenças entre a visão dos pais e a dos filhos: de ambos os lados, estimam a mesma duração de segunda a sexta e aos fins de semana: em média, respetivamente, 2h47m e 3h40m. As consequências repercutem-se na saúde mental. Os adolescentes que passam mais tempo nas redes sociais e, sobretudo, nas férias, reportam mais problemas de índole mental e física. 

A estudar online?

A internet é a fachada conhecida para outros exercícios que não escolares. Embora haja uma margem de crédito da parte dos pais, a diferença é superior a 10% entre o tempo que estes pensam que os filhos consagram aos estudos e aquele que realmente passam a fazê-lo: 88% contra 75%, respetivamente. O contacto com conteúdos online para adultos é igualmente estranho aos progenitores, se comparado ao admitido pelos jovens. 

O género caracteriza, de algum modo, o tipo de preferências. Se os rapazes usam a internet sobretudo para jogar em grupo, as raparigas preferem-na para fazer compras. Os jovens também visitam mais sites para adultos. 

Adolescentes usam mais de quatro redes sociais

A maioria dos adolescentes paira entre quatro, ou mais, redes sociais. Contudo, a consciência desse número só atinge cerca de um terço dos pais, contra mais de metade dos jovens. O que se julga conhecer sobre as redes visitadas é dissemelhante em 30%, no caso, por exemplo, da Discord. Com a mesma percentagem de "desafinação", a presença no Facebook é sobrevalorizada pelos pais, uma vez que os jovens, na realidade, migraram para outras redes. A média diária de permanência nas redes sociais supera as duas horas para 61% dos adolescentes. 

A vida alheada dos adultos em relação à vida online dos jovens

Comportamento online, diálogo sobre as mensagens eróticas via telemóvel (sexting, abreviação de sex e texting) e limites para o tempo online são assuntos abordados entre pais e filhos. Mas com versões assimétricas. A maior regista-se no comportamento online: 48% dos pais afirmam ter abordado o assunto, enquanto só 27% dos adolescentes confirmaram essa conversa.

Os adolescentes escudam-se mais dos pais nas redes sociais do que estes se apercebem. A criação de uma segunda conta e o bloqueio dos progenitores são recursos citados por mais do dobro dos filhos face aos pais. Os progenitores também não estão plenamente conscientes dos perigos online enfrentados pelos descendentes: pornografia, identidade roubada, hacking e divulgação online de imagens desapropriadas.

Face ao tempo passado online, e que, de acordo com 40% dos adolescentes, aumentou durante a pandemia, não admirará a exposição a tais perigos. Mesmo assim, muitos consideram-se aptos para distinguirem entre sites seguros e inseguros, postura de algum modo secundada pelos adultos, quando, na maioria, confiam nos descendentes para agirem corretamente online. A cisão surge mais na limitação do acesso aos conteúdos para adultos, com os jovens a oporem-se mais a semelhante medida. 

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