Furar paredes sem medo com Ó da Joana
Reaproveitar materiais e peças e trabalhá-los para não gastar uma fortuna em decoração e ter uma casa "mais nossa": o desafio é da arquiteta Joana Laranjeira, rosto do projeto que surgiu nas redes sociais e cresceu em workshops, cursos e televisão.

Perder o medo, porque se der errado, vamos aprender duas coisas: a fazer e a corrigir. É o conselho de Joana Laranjeira, 33 anos, arquiteta, que criou o projeto "Ó da Joana". A marca rapidamente saltou das redes sociais para a televisão, um livro, workshops e cursos para qualquer principiante com medo de furar paredes. "É uma das solicitações mais frequentes que recebo, porque já furaram e acabaram com um buraco muito maior ou não sabem que tamanho de broca usar."
Esta arquiteta, que não se revê na arquitetura convencional, pouco personalizada, e por isso deixou esse lado da profissão, cresceu no meio de ferramentas. Mas nem isso a protegeu de cometer os seus falhanços, com o marido e parceiro no projeto "Ó da Joana", António Laranjeira, que tem menos à-vontade com a bricolage. "Ele é mais aquela pessoa que estuda antes de fazer", explicou Joana. Enquanto a sessão fotográfica decorria numa terça-feira de muito sol em que abriram o seu espaço na zona do Montijo para a equipa da DECO PROTeste, António contou-nos que o seu percurso profissional foi marcado pela mecânica automóvel e pelo marketing e publicidade.
Os dois admitem que muitas buchas caíram da parede, deixando um buraco ainda maior, e algumas pinturas ficaram mal feitas por não respeitarem a preparação e os tempos de secagem. Hoje, nos cortes de peças, por exemplo, instituíram a regra de três medições (e confirmações) antes de cortar. Mas os erros também têm solução. Se fizer um buraco, é possível tapar novamente, garante Joana. Se não quiser arriscar, "antes de furar, verifique se a parede onde vai colocar esse quadro ou moldura é de gesso cartonado ou de tijolo. Existem soluções muito básicas, com umas tiras que se colam na parede. E as lojas de bricolage já indicam a solução para cada tipo de parede".
Comunidade online com mais de 59 mil "vizinhas" em 3 anos
No final do estágio num ateliê de arquitetura convencional, Joana percebeu que desejava seguir noutra direção. "Fazíamos casas que davam para qualquer pessoa, e eu preferia que o meu trabalho tivesse mais detalhe da pessoa", explica. Começou a partilhar as suas criações nas redes sociais. Os convites de marcas para parcerias e publicidade foram surgindo à medida que a comunidade de "Vizinhas do Ó", como a batizaram, foi crescendo. No Instagram, chegam hoje a mais de 59 mil seguidores. Em 2020, e sem qualquer experiência no mundo digital, Joana e António decidiram dedicar-se a tempo inteiro a um projeto que ainda não era "100% sustentável em termos financeiros", sublinham.
"Como é que vou tornar a nossa casa um pouco mais nossa, sem gastar muito dinheiro? Sim, porque eu tenho um gosto muito caro!", ri-se Joana, ao recordar que, no início, partilhava sobretudo conteúdo sobre os seus trabalhos e as técnicas que aprendia para dar um novo look às peças, de forma a reduzir custos.
Mas a partilha não era suficiente para os muitos pedidos de ajuda que recebiam e que exigiam um acompanhamento mais próximo. Por isso, lançaram workshops com temas de decoração, iniciação ao "do it yourself" ("DIY" ou "Faça você mesmo") ou até mesmo plantas em casa. Em 2023, elevaram a fasquia, com a criação de um curso de sete semanas, dedicado à decoração de interiores. Pelo meio, em 2022, estrearam-se em televisão, no canal Casa e Cozinha, com o programa "Ó da Casa", que já está a emitir os episódios da segunda temporada. Os projetos "DIY" e as dicas deram ainda origem a um livro.
Viver numa casa onde se sinta bem com decoração em conta
"Deixou de ser apenas uma coisa das redes sociais. Agora, temos um ateliê de arquitetura de interiores, com projetos para todo o mundo", resume Joana, explicando que a equipa é composta pela dupla e mais duas pessoas das áreas de design e arquitetura com vínculo fixo. Consoante os projetos, a equipa pode crescer, com colaboradores freelancers.
Uma das apostas mais recentes do ateliê são serviços rápidos. Joana explica de onde partiu o conceito: "Nos workshops, ouvia muitas vezes pessoas a dizer que vivem há 15 anos numa casa onde não se sentem bem. Nem toda a gente consegue fazer um projeto de interiores. Quando o orçamento é reduzido, se se investe e fica mal, não se tenta mais." Assim, no site do "Ó da Joana", é possível comprar, por um valor mais em conta, o serviço "moodboard – uma pequena ajuda". Trata-se de um aconselhamento para cores e tipo de mobiliário, com uma perspetiva visual dos espaços, e que é entregue ao cliente em 24 horas. "Nem sempre está disponível, pois, sempre que anunciamos, caem imensos pedidos!" Os serviços visam responder às dúvidas mais frequentes da comunidade, que tocam principalmente aspetos de layout e tamanhos. "Que cor para a madeira dos móveis? Que tecido para o sofá? Quais os tamanhos para tapetes e cortinados? Posso colocar o sofá no meio da sala? Onde ponho os quadros?", enumera Joana.
Para os dois parceiros, a decoração não é algo instantâneo: "Muitas pessoas têm uma casa nova e pensam que têm de decorá-la para ontem. Mas leva o seu tempo, enquanto percebemos as nossas atividades e detalhamos para nós. A nossa casa, por exemplo, demorou a ficar decorada, mas hoje é um espaço que nos motiva para o trabalho, onde os nossos filhos se sentem bem e têm os seus espaços de brincadeira, onde conseguimos receber amigos e família… é o projeto que mais nos orgulha!"
Ir às compras na sua própria casa e reaproveitar peças
Em muitos projetos, Joana dá por si a usar o que os clientes já têm. A preocupação com a reutilização e reabilitação está bem presente em tudo o que faz. "Gosto muito de fazer compras dentro da minha própria casa! E perceber o que posso tirar do quarto para pôr na sala, por exemplo. Muitas vezes, poupamos muito, porque já temos os objetos. Não estão é a ter a utilidade que tira o maior partido deles."
A oficina (que é também o cenário do programa de televisão) onde António e Joana receberam a equipa da DECO PROTeste para a entrevista não os deixa mentir. Há caixas com ferragens e puxadores, prateleiras carregadas de sobras e ripas de madeira, pequenos móveis ou gavetas à espera de uma segunda oportunidade. "Se tenho um móvel só com estrutura, posso adicionar uns pés ou um forro. Se trocar os puxadores numa cabeceira por uns mais ergonómicos, guardo os antigos. Conseguimos fazer quase tudo com coisas de outros projetos. É possível reabilitar e reaproveitar, em vez de fazer tudo de novo", defende Joana.
A sustentabilidade rege também o comportamento enquanto consumidora. "Gosto de perceber se o que estou a comprar, seja um material, coisas para a casa, comida ou roupa, tem qualidade e se vai durar bastante tempo. E se me dá a possibilidade de fazer manutenção ou de transformar essa peça, caso precise. Por exemplo, vejo se é uma madeira maciça ou folheado, se a estrutura é solta, básica, para poder trabalhá-la… E, antes de tudo, questiono se preciso de comprar." Até as ferramentas, alerta Joana, pois "é possível alugar ao dia ou pedir emprestado, para perceber se vamos dar utilização que compense o investimento."
O maior projeto é uma casa pequena ou "tiny house"
A par do burro Zurrão, que vive na quinta da família com muitos outros animais e lhes trouxe alguns fãs mais curiosos nas redes sociais, a construção de uma "tiny house" tem gerado muito interesse. No mundo da arquitetura, o conceito remete para uma casa de pequena dimensão, apenas com o suficiente para viver minimamente confortável. Joana e António lançaram-se nesta empreitada em 2020 como hobby. A ideia, explicam, era "ter um espaço para nós, que pudesse viajar connosco, e ser uma réplica mais condensada da nossa casa." Confessam que é o projeto que está a demorar mais tempo, pois tem ficado para segundo plano quando aparecem outras oportunidades. Ao todo, e com os aumentos constantes nos preços de materiais de construção, já gastaram cerca de dez mil euros. "Queremos muito terminá-la e levá-la para o terreno da nossa nova casa velha", brinca Joana.
Recuperação de casa em ruínas para seguir em direto
De projeto em projeto, muitas vezes sem terminar o anterior sem que isso lhes cause desconforto, Joana e António desvendam assim a próxima aventura. Há quase dois anos, compraram um terreno com uma casa em ruínas, que vão recuperar do zero. A "tiny house" vai servir de apoio, enquanto fazem as obras dessa casa. Uma espécie de alojamento temporário.
"Temos tanto edificado em Portugal, largado ao abandono! Parece que a construção nova é sempre a primeira solução", lamenta Joana. Na altura da entrevista, realizada em novembro do ano passado, Joana e António estavam a contactar fornecedores para a recuperação da casa, tentando dar prioridade a empresas locais e marcas nacionais.
"Estamos a detalhar o projeto da melhor forma possível e queremos muito partilhar todo o processo, o passo-a-passo, com o público." Só no YouTube e Instagram? Têm maiores ambições: "A ideia é fazer algo que chegue ao maior número possível de pessoas, em diversos formatos, e com uma equipa maior em termos digitais. Gostávamos muito que passasse também por televisão!"
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