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Consumidores exigem alimentos mais seguros e sustentáveis, a preços acessíveis

Muitos consumidores estão dispostos a pagar mais por alimentos produzidos em explorações que respeitam o ambiente, o bem-estar animal e os agricultores, desde que a atribuição dos apoios europeus garanta preços aceitáveis e práticas sustentáveis credíveis.

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17 junho 2025
agricultor a pousar um molho de cenouras numa bancada com frutos e legumes locais

iStock

Os consumidores apelam a que as políticas agrícolas promovam a produção de alimentos a preços acessíveis, com menos pesticidas e antibióticos, e que respeite elevados padrões de segurança ambiental e o bem-estar animal. A conclusão é de um inquérito europeu recente, no qual a DECO PROteste participou, em colaboração com mais sete organizações de consumidores congéneres europeias.

Os resultados deste estudo realizado no início de 2025 falam por si. Nove em cada dez consumidores defendem que a produção alimentar deve assegurar um fornecimento de alimentos suficiente e estável no Velho Continente, a preços razoáveis

Pretendem que as suas reivindicações sejam contempladas na Política Agrícola Comum (PAC) que vai ser discutida e revista em breve. Segundo 40% dos portugueses, a PAC não tem conseguido evitar os sucessivos aumentos no setor alimentar.  

Visão dos inquiridos portugueses sobre a agricultura e os apoios da PAC

O inquérito reuniu 7398 respostas de oito países europeus, mais de 800 das quais de Portugal. Os dados foram ajustados e espelham a realidade nacional. Eis as respostas dos inquiridos portugueses sobre vários aspetos relacionados com a agricultura e o setor agroalimentar.

Só 13% dos inquiridos concordam com a afirmação de que a atribuição dos apoios europeus entre as explorações agrícolas é justa em Portugal. E apenas 17% acham justa a forma como a PAC distribui os subsídios pelos Estados-membros.  

Preço da alimentação é primordial para nove em cada dez consumidores

No que diz respeito às preocupações e expectativas dos portugueses que participaram no inquérito, a maioria enumera aspetos considerados muito e extremamente importantes e que, em muitos casos, a Política Agrícola Comum (PAC) não tem conseguido cumprir, segundo revelam as suas respostas.

 

Quatro em cada dez inquiridos revelam ser difícil pagar as contas de supermercado. 

De acordo a DECO PROteste, que acompanha, desde 2022, o preço de um cabaz composto por 63 alimentos essenciais, como carne, peixe, fruta, legumes e ovos, os preços não param de aumentar. Este cabaz, que custava 188 euros no início de 2022, vale, hoje, cerca de 240 euros. Por outras palavras, o preço dos alimentos aumentou mais de 25% em três anos.

Crescente preocupação com sustentabilidade e segurança alimentar

O inquérito revela haver uma crescente preocupação entre os consumidores sobre a sustentabilidade no setor da alimentação.

Sete em cada dez inquiridos portugueses defendem políticas agrícolas que promovam práticas que protejam o ambiente e a biodiversidade, com 66% a apelar a que os subsídios europeus passem a privilegiar agricultores que adotem práticas que respeitem o ambiente e o bem-estar animal e que enfrentem dificuldades económicas. 

Metade dos participantes afirmam mesmo que os subsídios europeus apenas deveriam apoiar produções de alimentos saudáveis e sustentáveis e são de opinião de que os agricultores europeus devem alterar as suas práticas para combater as alterações climáticas, mesmo que isso os torne menos competitivos.

Embora afirmem estar dispostos a pagar mais por produtos locais e sustentáveis, os consumidores apelam a medidas que evitem aumentos excessivos dos preços.

Sete em cada dez defendem que os custos da produção sustentável não deveriam ser imputados aos consumidores através do aumento dos preços, mas antes suportados pela indústria alimentar e pelos retalhistas ou através de subsídios públicos

Mais subsídios e justiça na distribuição dos apoios à agricultura

Os três principais problemas identificados no setor agrícola e que têm motivado o descontentamento e os protestos dos agricultores um pouco por toda a Europa são, segundo os inquiridos portugueses:

  • a concorrência desleal de importações de países terceiros (77%);
  • os preços baixos pagos pelos produtos aos agricultores (60%);
  • e as condições de trabalho difíceis nas explorações agrícolas (50%).

Os subsídios da PAC para apoiar o setor agroalimentar na Europa representam uma das maiores fatias do orçamento total da União Europeia, mais concretamente, quase um terço (30%). Trinta e seis por cento dos portugueses inquiridos acham que é justo, mas quatro em cada dez consideram que os subsídios para agricultura são insuficientes, com 47% a concordarem com a afirmação de que a atribuição dos apoios europeus entre as explorações agrícolas é injusta em Portugal. 

 

Principais conclusões do inquérito e o apelo dos consumidores

Concluindo, os consumidores europeus reconhecem a importância de apoiar a agricultura local e as práticas sustentáveis e apelam a que haja mais justiça na distribuição dos subsídios aos agricultores, tanto pela PAC como pelos governos nacionais.

Defendem que os apoios devem privilegiar pequenos e médios produtores, jovens agricultores e explorações que enfrentam dificuldades económicas e localizadas em zonas rurais mais desfavorecidas, por exemplo, em regiões montanhosas ou assoladas por fenómenos extremos e alternados de inundações e seca, fruto das alterações climáticas.

Pretendem, ainda, obter mais informações sobre a origem dos alimentos e sobre as práticas agrícolas. A transparência é crucial para fazer escolhas informadas no supermercado.

Os consumidores esperam que as suas preocupações e expectativas sejam contempladas na revisão da política agrícola comum, por uma questão de segurança alimentar e ambiental e por uma política de preços que garanta uma alimentação de qualidade, que respeite o ambiente e o bem-estar animal, e a preços razoáveis.

Cerca de metade dos inquiridos em Portugal confessam que não conseguiriam pagar produtos sustentáveis, se fossem mais caros.

Veja como ser mais sustentável

O inquérito reuniu 7398 respostas em 8 países europeus 

Em janeiro e fevereiro de 2025, a DECO PROteste realizou um inquérito online sobre o setor agrícola junto da população portuguesa adulta, entre os 18 e os 74 anos. A investigação foi conduzida por organizações de consumidores congéneres de mais sete países: Alemanha, Áustria, Eslovénia, Espanha, França, Itália e Polónia. Um inquérito semelhante sobre bem-estar animal foi realizado em novembro de 2023. 

No total, contabilizaram-se 7398 respostas válidas, mais de 800 das quais de Portugal. Os dados foram ponderados para serem representativos da realidade nacional quanto a género, idade, região e habilitações literárias. Os resultados espelham as crenças e as opiniões dos inquiridos.

 

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O inquérito foi realizado em 8 países europeus em parceria com o BEUC e espelha as preocupações dos consumidores no setor agroalimentar. 

Este estudo foi efetuado pela organização europeia de consumidores Euroconsumers, grupo do qual a DECO PROteste faz parte, em parceria com o Bureau Européen des Unions de Consommateurs (BEUC) e com o International Consumer Research & Testing (ICRT). 

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