Televisores: as diferenças entre um 4K e um 8K e porque não vale a pena mudar
A promessa é sempre a mesma quando aparece um aparelho com maior resolução: a imagem é mais nítida e detalhada. No entanto, em relação ao televisor 4K, a imagem em resolução 8K não se destaca e os conteúdos são muito escassos. Se somarmos a estas razões um preço elevado, a conclusão é óbvia: o 8K ainda não compensa.
- Especialista
- António Alves e José Almeida
- Editor
- Inês Lourinho , Sofia Frazoa e Filipa Nunes

Depois da rápida massificação dos televisores com resolução 4K, eis que as principais marcas já dobraram a aposta na horizontal e na vertical, com televisores 8K. No lado do streaming, o Full HD ainda reina, mas há um acréscimo muito notório de conteúdos 4K nestes últimos anos. As emissões televisivas por TDT nem em HD se encontram disponíveis e, mesmo no caso da televisão por subscrição, os canais em 4K são praticamente nulos. Sem conteúdos 8K, de pouco ou nada adianta um televisor com esse nível de resolução.
Televisores com resolução 4K e 8K
Um televisor 8K tem quatro vezes o número de píxeis de um 4K. Este, por sua vez, tem quatro vezes o número de píxeis de uma TV Full HD. A resolução num televisor 8K é de 7.680 x 4.320 para um total de 33.177.600 píxeis.
Os primeiros modelos com esta resolução pertencem a uma gama alta, são dispendiosos e começam nas diagonais de imagem de 55 polegadas.
Os nossos testes a televisores indicam que a diferença de nitidez na visualização de conteúdos 4K começa a ser notada nos ecrãs a partir de 46 polegadas. Nos ecrãs com 55 polegadas ou mais torna-se muito notória. Atualmente, muitos dos modelos acima das 40 polegadas - e quase todos acima das 55 polegadas - já incluem painéis 4K, pelo que este aspeto não é problemático. De acordo com as análises que temos feito, as diferenças de nitidez entre a utilização de um painel 4K ou 8K são praticamente impossíveis de detetar.
A esmagadora maioria dos canais que constam dos pacotes dos operadores de TV não estão disponíveis em 4K. Esta resolução só está disponível em alguns serviços de streaming de vídeo (ex: Amazon Prime Video, Netflix Premium, HBO max, Disney +, YouTube) ou em algumas consolas de jogos mais recentes (como a Sony PS5/PS4 Pro ou a Microsoft Xbox Series S/X ou One X). Ou seja, os televisores 4K e, mais ainda, os 8K têm de recorrer com frequência ao seu upscaller. Se, por exemplo, estiver a ver um vídeo Full HD (1080 linhas) num televisor Ultra-HD (3160 ou 6320 linhas), este tem necessariamente de preencher as linhas em falta (interpolação). A qualidade do upscaller é um fator determinante para a qualidade que obtém quando vê conteúdos de resolução inferior.
Mesmo para televisores com ecrãs acima de 65 polegadas, ainda muito caros e com dificuldades de caberem nas salas modernas devido ao tamanho, faz sentido um aumento ainda maior na resolução? Provavelmente não.
O estudo da Warner Bros à diferença entre 4K e 8K
A Warner Bros, em colaboração com a Pixar, a Amazon Prime Video, a LG e a American Society of Cinematographers (ASC), realizou recentemente um estudo para ver se algum utilizador percebia as diferenças entre 4K e 8K.
O resultado foi desolador. Apesar de estarem a uma distância entre 1,5 e 2,7 metros de um televisor de 88 polegadas, nenhum dos participantes descreveu a versão 8K como melhor do que a versão 4K.
Segundo o estudo da Warner Bros, mesmo usando um ecrã gigante, os participantes parecem não ter percebido as diferenças entre 4K e 8K. Assim sendo, com os televisores de 55" e 65", que ficarão na crista da onda por algum tempo, não há necessidade de 8K.
O nosso teste ao 8K
Em 2020, testámos em laboratório um modelo 8K da LG e outro da Samsung: o LG 65NANO956NA e o Samsung QE65Q800T. Ambos televisores de 65 polegadas, ambos modelos da gama alta destas marcas, ainda que das propostas 8K mais acessíveis. O primeiro modelo pode ser comprado a partir de 1250 euros. O segundo tende a ser mais caro, de 2497,81 a 3499,99 euros. A Qualidade Global nos testes foi, respetivamente, de 70 e 71 por cento. Não foi mau, mas há bem melhor entre os modelos 4K, como pode descobrir no nosso comparador de televisores.
Televisores com resolução 8K não brilharam nas medições técnicas
Começámos por examinar as ligações e as funções, e verificámos que não foi por aqui que os televisores 8K se destacaram, sendo que estes foram comparados com seis modelos 4K de gama alta dos mesmos fabricantes. No caso da LG, tratou-se de dois OLED e quatro LCD NanoCell. Para confrontar o Samsung, usámos seis LCD Quantum Dot.
Também não foi pela facilidade de utilização ou pela navegação no portal de smartTV que nenhum destes televisores se distinguiu, até porque tinham o mesmo sistema operativo.
As medições técnicas de imagem, como contraste, ângulo de visão, refletividade do ecrã e uniformidade da iluminação, tão-pouco revelaram grandes diferenças face aos demais LCD NanoCell, no caso do aparelho da LG, mas eram muito inferiores aos OLED deste fabricante. Já o Samsung foi algo superior aos restantes modelos da marca, com melhor uniformidade da iluminação e contraste mais acentuado, ainda que a refletividade do ecrã fosse pior.
Quanto ao nível máximo de pressão sonora sem distorções, o LG estava em linha com os NanoCell da marca, mas era inferior aos OLED. O Samsung, de forma surpreendente face ao preço, teve medições de áudio mais modestas do que as dos QLED da marca.
No consumo, os dois televisores demonstraram ter apetite de abade. Um painel de 65 polegadas gasta, em média, 120 W sem ajustes nos parâmetros da imagem. O modelo 8K da Samsung quase triplica o valor: vai aos 322 W. E o LG atinge os 188 W. São apenas dois modelos, é certo. Não é fácil retirar conclusões para os restantes equipamentos 8K à venda, nem mesmo para todos os que entraram no mercado entretanto. Mas foram, desde logo, dados pouco animadores.
Imagem dos televisores 8K não é má, mas há melhor
O som, com boa qualidade nos dois televisores testados, está ao nível dos predicados dos topo de gama das marcas. Na imagem, existe uma ligeira melhoria em ambos no visionamento de vídeos em 4K, com ou sem otimização de contraste (HDR). Mesmo assim, dois dos modelos da Samsung que foram usados na comparação, não sendo 8K, tiveram melhores avaliações nos testes de visionamento. Outra tendência dos equipamentos 8K estudados é a pior qualidade a transmitir sinais de televisão via sintonizador TDT. Verificámos também que parâmetros como a boa reprodução de cores e o correto nível de contraste, que permitem conservar algum detalhe nas zonas mais claras e escuras das imagens, têm impacto muito evidente na qualidade final, mais até do que a resolução do ecrã, sobretudo numa comparação entre 4K e 8K, em que se torna praticamente impossível discernir diferenças.
Outro problema é a escassez de conteúdos 8K. O YouTube disponibiliza alguns vídeos com detalhe notável. E certos telemóveis de topo também gravam em 8K. Para analisarmos a qualidade da reprodução destes vídeos nos televisores, instalámos lado a lado os dois aparelhos, que foram conectados por cabo de rede, através de uma ligação de internet com elevada taxa de débito. Os conteúdos foram reproduzidos por streaming (YouTube) e através de uma pendisk, no caso das gravações dos telemóveis.
Enquanto os vídeos eram reproduzidos, o respetivo nível de resolução era de tempos a tempos alternado entre 4K e 8K, para que o nosso painel de especialistas aferisse eventuais diferenças no detalhe das imagens. Os avaliadores chegaram à conclusão de que reproduzir os vídeos do YouTube em resolução 8K ou 4K era indiferente. Não detetaram diferenças, mesmo quando se posicionavam a menos de um metro de distância. Já os vídeos registados com os telemóveis topo de gama só se destacaram quando produzidos em situações de luminosidade muito favoráveis.
Resumindo, os dois televisores 8K analisados não convenceram. Além de caros, gastam muito e, o pior, ficam aquém das expectativas em termos de imagem. Escolha um dos televisores com melhor avaliação no teste, que, na maioria dos casos, corresponde a um OLED de resolução 4K. Fica muito mais bem servido.
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