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Serviços de televisão pouco inovadores

São de criticar os consumos elevados em standby de algumas boxes, as poucas inovações ocorridas nos últimos anos, a falta de canais em 4K e a baixa concorrência do setor. Vodafone e NOS têm os serviços mais "amigos" do utilizador. 

Especialista:
27 março 2024
Exclusivo
Mulher sentada num sofá, vista de costas, com um telecomando na mão para usar um televisor

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Desde 2019, a DECO PROteste analisa a usabilidade dos serviços de televisão paga e, apesar de ter vindo a registar algumas melhorias, são poucas as inovações a destacar, além de persistirem problemas. É o caso do elevado consumo de energia em standby de algumas boxes e da falta de opções de gestão de privacidade, por parte da NOWO e da MEO. A Vodafone revelou ter o melhor serviço, seguida, de muito perto, pela NOS.

A análise foi feita aos serviços de televisão incluídos nos pacotes dos quatro principais operadores. Optou-se pelos pacotes mais baratos, que incluíssem televisão com box, internet com velocidade a rondar os 200 Mbps e assentes na plataforma de fibra ótica, por ser a mais adotada. Os testes foram realizados num único ponto de acesso, com os quatro serviços instalados e as caixas descodificadoras fornecidas por cada operador. Com a ajuda de um laboratório, foram feitas várias medições, como o consumo, e um painel de utilizadores, composto por pessoas de diferentes idades e níveis de experiência, usou os quatro serviços. O teste decorreu em fevereiro de 2024 e durou três semanas. Veja os principais resultados do estudo.

Boxes Android TV e Apple TV com poucas vantagens

Nos últimos anos, alguns operadores integraram boxes assentes no Android TV, nas opções de base. Existe ainda a opção, em alguns operadores, de aceder ao serviço através de uma box Apple TV, embora, em geral, tal implique pagar um valor adicional. E o que acrescenta a novidade? Além do acesso ao serviço, permite instalar apps como Netflix, YouTube e Spotify, o que pode ser útil, caso não disponha de uma smartTV. Ajuda ainda a ultrapassar algumas incompatibilidades que possa haver entre certas apps e o modelo de televisor, permitindo a transmissão (cast) das memórias guardadas no Google Fotos através da box (apenas possível em smartTV Android ou Google TV). Descontada esta exceção, não há vantagens face às boxes clássicas. Aliás, os serviços com melhor avaliação usam caixas descodificadoras "normais".

Os operadores já facultam apps de acesso ao serviço, compatíveis com Android TV e Apple TV, para instalar num leitor multimédia ou smartTV, e que replicam as funções da box. Contudo, na maioria dos casos, não é possível instalar esta app num leitor multimédia ou televisor compatível, e, assim, prescindir por completo da caixa entregue pelo operador. Infelizmente, os operadores apenas costumam permitir que estas apps sejam usadas numa lógica de complementaridade (por exemplo, para usar em televisores secundários). Em teoria, estas apps poderiam substituir a box, mas há pouca oferta. MEO, NOS e Vodafone têm pacotes de fibra sem box e com características mais modestas em troca de mensalidades de 25,99, 34,49 a 34,30 euros, respetivamente. Porém, nem sempre é possível usar a app para fazer as vezes da box. Alguns operadores bloqueiam tal possibilidade, para os utilizadores não poderem livrar-se da caixa.

Há outras regras para descartar a box: o serviço tem de assentar em fibra ótica ou cabo coaxial, como os analisados. Nesse caso, basta ligar um cabo coaxial (RF) entre a saída do modem ótico (a maioria está integrada no router) e uma tomada de antena da rede doméstica. O sinal fica disponível em todas as tomadas da habitação, pelo que é possível aceder aos canais por cabo de antena.

Ao injetar diretamente o sinal do cabo de antena no televisor, vai deixar de poder aceder a algumas funcionalidades, sendo a mais relevante o recuo de sete dias na programação – algumas apps de acesso ao serviço ajudam a recuperá-la. E funções como agendar gravações pelo guia eletrónico de programas e pausar a emissão podem ser usadas em televisores recentes.

Box 4K revela interesse residual

Todas as boxes incluídas nos serviços analisados são compatíveis com o 4K. Contudo, existe apenas um canal neste formato nos vários serviços, com a exceção do MEO, onde existem três canais. É pouco, para serviços em que a presença de descodificadores 4K serve de argumento publicitário para aliciar clientes. Além disso, as diferenças ao nível da qualidade, entre uma imagem com resolução full-HD e outra 4K, são muito discretas. Para serem realmente percetíveis, é preciso um televisor 4K com uma dimensão de ecrã generosa, como 55 polegadas ou mais.

Para os restantes canais, em resolução SD ou HD, o que a box pode fazer é a conversão (upscalling) do sinal para 4K, o qual é depois injetado no televisor. Mas isto não traz qualquer vantagem, dado que um televisor 4K faz sempre a mesma tarefa, quando recebe sinais de vídeo de resolução inferior. Provavelmente, se tiver um televisor 4K de qualidade, até o fará bem melhor do que as caixas descodificadoras.

Privacidade invadida desde o início

A instalação e a primeira utilização dos serviços decorreu sem problemas e agradou na Vodafone e na NOS, mas o mesmo não aconteceu nos restantes operadores. Na NOWO, não há processo inicial de configuração, pelo que não é possível recusar as funcionalidades mais intrusivas ao nível da privacidade. Já a MEO, no processo de configuração inicial, apenas pergunta se se pretende que a publicidade apresentada no início das gravações automáticas seja personalizada ou genérica.

O único serviço a permitir uma ordenação manual dos canais é o da Vodafone. Na NOS e na NOWO, não é possível fazer a ordenação manual, mas apenas definir uma lista de favoritos. No serviço da NOWO, a tarefa é pouco intuitiva. A MEO só permite ordenar temas de canais e, nestes, ocultar os que não interessam.

Numa utilização diária, as pausas na emissão em direto e a velocidade e opções de zapping têm margem para melhorar, nalguns operadores. Quando se quer parar uma emissão, a NOWO é a menos intuitiva: como o comando não inclui botões específicos, é necessário recorrer à barra de navegação que surge no menu. Quanto ao zapping, o da NOWO é o mais lento – 36 segundos – e os da NOS e da MEO os mais rápidos, com 22 e 23 segundos respetivamente.

A gestão das opções de privacidade tem de ser melhorada na MEO e, sobretudo, na NOWO. Este operador não inclui qualquer menu para gerir a privacidade, nem permite consultar que dados são recolhidos, com que propósito e se são partilhados com outras empresas. A MEO também falha no último aspeto e, embora permita alguma gestão, a mesma é limitada.

Os serviços de recomendações implicam recolha de dados, com que são construídos perfis. O Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD) diz que recolher e tratar dados pessoais depende de consentimento explícito do utilizador – que deve ter uma forma expedita de consultar e gerir opções de privacidade.

Consumo elevado em standby

Mediu-se o consumo das boxes (em funcionamento e em standby) e do router. A NOS, com 12,1 W, é o operador com os consumos globais mais baixos. Já a Vodafone apresenta os mais elevados: 16,6 W. Ao fim de um ano, um lar com a tarifa simples da SU Eletricidade (tarifa regulada) e uma potência contratada de 3,45 kVA irá gastar mais 9,50 euros com o sistema da Vodafone do que com o da NOS.

Outro aspeto analisado foi o das interrupções do serviço. Os resultados foram obtidos a partir de um inquérito estatístico, feito em outubro e novembro de 2023, que contou com 13 790 respostas de utilizadores de diferentes combinações de serviços. Os resultados refletem a fiabilidade do serviço de fibra dos vários operadores. O da Vodafone revelou-se o mais fiável, seguido pelo da MEO e o da NOS. O da NOWO foi o que apresentou mais falhas.

Ao olhar para o custo dos serviços analisados, é impossível não reparar na proximidade de valores entre os três principais operadores: apenas 19 cêntimos de diferença para os três tarifários analisados, cujas características são muito idênticas. A NOWO pratica um custo bastante inferior, mas o serviço tem um pouco menos de qualidade, e a área de atuação é muito reduzida. A DECO PROteste espera que a entrada dos novos operadores – a LigaT e a Digi, esperada este ano e que deverá contar com uma cobertura mais alargada – venha introduzir concorrência efetiva, o que se irá repercutir no custo destes serviços.

LigaT com TV e net a partir de 20,99 euros

A LigaT é o mais recente operador a chegar a Portugal. Destaca-se pelo preço, pela oferta e pela ausência de fidelização. Mas tem uma cobertura limitada a algumas áreas na periferia da Grande Lisboa. Permite contratar apenas internet fixa, por fibra ótica, (com velocidades entre 500 Mbps e 10 Gbps) ou acrescentar o serviço de televisão: com 18 ou 29 canais. Os preços da internet começam nos 15 euros mensais, para 500 Mbps, e os de televisão são de 5,99 euros e 7,99 euros, consoante o número de canais.

Uma diferença face aos restantes operadores é não existir caixa descodificadora. O serviço de televisão é acedido através de um programa numa smartTV ou num leitor multimédia com o sistema operativo Google TV ou Android TV. Os televisores Samsung e LG, por usarem outro sistema operativo, não permitem aceder ao programa: será preciso um leitor multimédia.

A qualidade da imagem e a velocidade do zapping agradaram bastante. Já o procedimento para iniciar gravações e a pausa das emissões televisivas são demasiado complexos. Os menus são básicos.

 

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