Serviços de televisão pouco inovadores
São de criticar os consumos elevados em standby de algumas boxes, as poucas inovações ocorridas nos últimos anos, a falta de canais em 4K e a baixa concorrência do setor. Vodafone e NOS têm os serviços mais "amigos" do utilizador.

Desde 2019, a DECO PROteste analisa a usabilidade dos serviços de televisão paga e, apesar de ter vindo a registar algumas melhorias, são poucas as inovações a destacar, além de persistirem problemas. É o caso do elevado consumo de energia em standby de algumas boxes e da falta de opções de gestão de privacidade, por parte da NOWO e da MEO. A Vodafone revelou ter o melhor serviço, seguida, de muito perto, pela NOS.
A análise foi feita aos serviços de televisão incluídos nos pacotes dos quatro principais operadores. Optou-se pelos pacotes mais baratos, que incluíssem televisão com box, internet com velocidade a rondar os 200 Mbps e assentes na plataforma de fibra ótica, por ser a mais adotada. Os testes foram realizados num único ponto de acesso, com os quatro serviços instalados e as caixas descodificadoras fornecidas por cada operador. Com a ajuda de um laboratório, foram feitas várias medições, como o consumo, e um painel de utilizadores, composto por pessoas de diferentes idades e níveis de experiência, usou os quatro serviços. O teste decorreu em fevereiro de 2024 e durou três semanas. Veja os principais resultados do estudo.
Boxes Android TV e Apple TV com poucas vantagens
Nos últimos anos, alguns operadores integraram boxes assentes no Android TV, nas opções de base. Existe ainda a opção, em alguns operadores, de aceder ao serviço através de uma box Apple TV, embora, em geral, tal implique pagar um valor adicional. E o que acrescenta a novidade? Além do acesso ao serviço, permite instalar apps como Netflix, YouTube e Spotify, o que pode ser útil, caso não disponha de uma smartTV. Ajuda ainda a ultrapassar algumas incompatibilidades que possa haver entre certas apps e o modelo de televisor, permitindo a transmissão (cast) das memórias guardadas no Google Fotos através da box (apenas possível em smartTV Android ou Google TV). Descontada esta exceção, não há vantagens face às boxes clássicas. Aliás, os serviços com melhor avaliação usam caixas descodificadoras "normais".
Os operadores já facultam apps de acesso ao serviço, compatíveis com Android TV e Apple TV, para instalar num leitor multimédia ou smartTV, e que replicam as funções da box. Contudo, na maioria dos casos, não é possível instalar esta app num leitor multimédia ou televisor compatível, e, assim, prescindir por completo da caixa entregue pelo operador. Infelizmente, os operadores apenas costumam permitir que estas apps sejam usadas numa lógica de complementaridade (por exemplo, para usar em televisores secundários). Em teoria, estas apps poderiam substituir a box, mas há pouca oferta. MEO, NOS e Vodafone têm pacotes de fibra sem box e com características mais modestas em troca de mensalidades de 25,99, 34,49 a 34,30 euros, respetivamente. Porém, nem sempre é possível usar a app para fazer as vezes da box. Alguns operadores bloqueiam tal possibilidade, para os utilizadores não poderem livrar-se da caixa.
Há outras regras para descartar a box: o serviço tem de assentar em fibra ótica ou cabo coaxial, como os analisados. Nesse caso, basta ligar um cabo coaxial (RF) entre a saída do modem ótico (a maioria está integrada no router) e uma tomada de antena da rede doméstica. O sinal fica disponível em todas as tomadas da habitação, pelo que é possível aceder aos canais por cabo de antena.
Ao injetar diretamente o sinal do cabo de antena no televisor, vai deixar de poder aceder a algumas funcionalidades, sendo a mais relevante o recuo de sete dias na programação – algumas apps de acesso ao serviço ajudam a recuperá-la. E funções como agendar gravações pelo guia eletrónico de programas e pausar a emissão podem ser usadas em televisores recentes.
Box 4K revela interesse residual
Todas as boxes incluídas nos serviços analisados são compatíveis com o 4K. Contudo, existe apenas um canal neste formato nos vários serviços, com a exceção do MEO, onde existem três canais. É pouco, para serviços em que a presença de descodificadores 4K serve de argumento publicitário para aliciar clientes. Além disso, as diferenças ao nível da qualidade, entre uma imagem com resolução full-HD e outra 4K, são muito discretas. Para serem realmente percetíveis, é preciso um televisor 4K com uma dimensão de ecrã generosa, como 55 polegadas ou mais.
Para os restantes canais, em resolução SD ou HD, o que a box pode fazer é a conversão (upscalling) do sinal para 4K, o qual é depois injetado no televisor. Mas isto não traz qualquer vantagem, dado que um televisor 4K faz sempre a mesma tarefa, quando recebe sinais de vídeo de resolução inferior. Provavelmente, se tiver um televisor 4K de qualidade, até o fará bem melhor do que as caixas descodificadoras.
Privacidade invadida desde o início
A instalação e a primeira utilização dos serviços decorreu sem problemas e agradou na Vodafone e na NOS, mas o mesmo não aconteceu nos restantes operadores. Na NOWO, não há processo inicial de configuração, pelo que não é possível recusar as funcionalidades mais intrusivas ao nível da privacidade. Já a MEO, no processo de configuração inicial, apenas pergunta se se pretende que a publicidade apresentada no início das gravações automáticas seja personalizada ou genérica.
O único serviço a permitir uma ordenação manual dos canais é o da Vodafone. Na NOS e na NOWO, não é possível fazer a ordenação manual, mas apenas definir uma lista de favoritos. No serviço da NOWO, a tarefa é pouco intuitiva. A MEO só permite ordenar temas de canais e, nestes, ocultar os que não interessam.
Numa utilização diária, as pausas na emissão em direto e a velocidade e opções de zapping têm margem para melhorar, nalguns operadores. Quando se quer parar uma emissão, a NOWO é a menos intuitiva: como o comando não inclui botões específicos, é necessário recorrer à barra de navegação que surge no menu. Quanto ao zapping, o da NOWO é o mais lento – 36 segundos – e os da NOS e da MEO os mais rápidos, com 22 e 23 segundos respetivamente.
A gestão das opções de privacidade tem de ser melhorada na MEO e, sobretudo, na NOWO. Este operador não inclui qualquer menu para gerir a privacidade, nem permite consultar que dados são recolhidos, com que propósito e se são partilhados com outras empresas. A MEO também falha no último aspeto e, embora permita alguma gestão, a mesma é limitada.
Os serviços de recomendações implicam recolha de dados, com que são construídos perfis. O Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD) diz que recolher e tratar dados pessoais depende de consentimento explícito do utilizador – que deve ter uma forma expedita de consultar e gerir opções de privacidade.
Consumo elevado em standby
Mediu-se o consumo das boxes (em funcionamento e em standby) e do router. A NOS, com 12,1 W, é o operador com os consumos globais mais baixos. Já a Vodafone apresenta os mais elevados: 16,6 W. Ao fim de um ano, um lar com a tarifa simples da SU Eletricidade (tarifa regulada) e uma potência contratada de 3,45 kVA irá gastar mais 9,50 euros com o sistema da Vodafone do que com o da NOS.
Outro aspeto analisado foi o das interrupções do serviço. Os resultados foram obtidos a partir de um inquérito estatístico, feito em outubro e novembro de 2023, que contou com 13 790 respostas de utilizadores de diferentes combinações de serviços. Os resultados refletem a fiabilidade do serviço de fibra dos vários operadores. O da Vodafone revelou-se o mais fiável, seguido pelo da MEO e o da NOS. O da NOWO foi o que apresentou mais falhas.
Ao olhar para o custo dos serviços analisados, é impossível não reparar na proximidade de valores entre os três principais operadores: apenas 19 cêntimos de diferença para os três tarifários analisados, cujas características são muito idênticas. A NOWO pratica um custo bastante inferior, mas o serviço tem um pouco menos de qualidade, e a área de atuação é muito reduzida. A DECO PROteste espera que a entrada dos novos operadores – a LigaT e a Digi, esperada este ano e que deverá contar com uma cobertura mais alargada – venha introduzir concorrência efetiva, o que se irá repercutir no custo destes serviços.
LigaT com TV e net a partir de 20,99 euros
A LigaT é o mais recente operador a chegar a Portugal. Destaca-se pelo preço, pela oferta e pela ausência de fidelização. Mas tem uma cobertura limitada a algumas áreas na periferia da Grande Lisboa. Permite contratar apenas internet fixa, por fibra ótica, (com velocidades entre 500 Mbps e 10 Gbps) ou acrescentar o serviço de televisão: com 18 ou 29 canais. Os preços da internet começam nos 15 euros mensais, para 500 Mbps, e os de televisão são de 5,99 euros e 7,99 euros, consoante o número de canais.
Uma diferença face aos restantes operadores é não existir caixa descodificadora. O serviço de televisão é acedido através de um programa numa smartTV ou num leitor multimédia com o sistema operativo Google TV ou Android TV. Os televisores Samsung e LG, por usarem outro sistema operativo, não permitem aceder ao programa: será preciso um leitor multimédia.
A qualidade da imagem e a velocidade do zapping agradaram bastante. Já o procedimento para iniciar gravações e a pausa das emissões televisivas são demasiado complexos. Os menus são básicos.
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A Vodafone voltou a receber o título de Melhor do Teste, por propor o serviço mais amigo do utilizador e com as melhores opções quanto à gestão da privacidade dos dados. Os preços apresentados referem-se ao preço médio para os 24 meses do contrato, tendo em conta as promoções em vigor.
Vodafone Fibra 3 Plus (Vbox 4K e 200 Mbps)
Muito Boa Qualidade Global 79%
Fidelização de 24 meses 40,30 €
O serviço agradou na maioria dos critérios analisados. Apesar de volumoso, o comando é ergonómico e com acessos diretos às funcionalidades mais comuns. Boa gestão das opções de privacidade. Destaca automaticamente os canais mais vistos e permite navegar pelos temas dos noticiários, através da funcionalidade smart replay. Operador com a menor taxa de interrupções do serviço. O elevado consumo em standby da caixa descodificadora (4,6 W) é um ponto a melhorar.
NOS 3 (Box UMA TV 4K e 200 Mbps)
Boa Qualidade Global 78%
Fidelização de 24 meses 40,49 €
O serviço cumpre na grande maioria dos aspetos analisados. O comando é ergonómico e inclui teclas para acesso direto à funcionalidades mais habituais. A gestão da privacidade satisfaz, com a possibilidade de decidir alguns parâmetros sobre publicidade personalizada (é possível recusar) e o tratamento de dados. Após a realização deste teste, verificou-se que o operador passou a incluir uma entrada separada para as recomendações de conteúdos. É o único serviço a permitir a criação e utilização de diferentes logins. Consumos baixos em standby, pois o operador introduziu, recentemente, a funcionalidade de standby profundo, que implica um consumo inferior a 0,5 W com o modo ativado.
MEO M3 200 Net Fibra (Box Android TV 4K e 200 Mbps)
Média Qualidade Global 71%
Fidelização de 24 meses 40,30 €
Apesar de a usabilidade cumprir na maioria dos critérios, falha na falta de opções de gestão de privacidade. A estrutura dos menus também é pouco prática, por estar mais focada nos conteúdos do que nos canais. A inexistência de um guia de programas eletrónico clássico, por exemplo, foi visto pelo painel como um ponto fraco. Serviço com caixa descodificadora com o sistema operativo Android TV, que corre a app da MEO e que permite aceder à loja de apps da Google, para se instalar muitas outras apps. A gestão da privacidade é um ponto a melhorar, pois não é possível saber que dados são recolhidos, com que propósito nem se é feita partilha com terceiros. Permite navegar entre marcadores, mas só com alguns conteúdos. O comando inclui alguns botões específicos para iniciar ou pausar a emissão, mas, para navegar, é preciso usar a barra de navegação do menu. Caixa descodificadores com consumo elevado em standby (4,1 W).
NOWO TV Família (Box Android TV 4K e 250 Mbps)
Média Qualidade Global 65%
Fidelização de 24 meses 25 €
A usabilidade deste serviço apresenta apenas dois pontos fracos: a falta de opções de gestão de privacidade e um zapping de canais lento. Serviço com caixa descodificadora com o sistema operativo Android TV, que corre a app da NOWO e que permite aceder à loja de apps da Google, para se instalar muitas outras apps. O comando não tem botões específicos para iniciar a pausar a emissão televisiva e para navegar, pelo que é necessário usar a barra de navegação que surge no menu. No consumo, destaca-se pela positiva, com valores de cerca de 2 W, em funcionamento, e apenas 0,2 W, em standby.