Quanto pode poupar se escolher o medicamento mais barato
Há medicamentos genéricos mais caros do que outros genéricos. Escolher os mais baratos pode valer centenas de euros de poupança ao consumidor, revela estudo da DECO PROteste. Saiba em que circunstâncias tem direito de opção na farmácia, como descobrir o medicamento mais barato e quanto é possível economizar.

Muitos portugueses gastam mais do que o necessário em medicamentos, porque, na grande maioria das vezes, não compram a alternativa mais barata disponível no mercado. A conclusão é de um estudo da DECO PROteste feito com base numa recolha de preços no site do Infarmed realizada em julho. E quanto poderiam poupar se o fizessem? Para responder a esta questão, a organização de consumidores analisou o preço de 112 fármacos das 200 marcas com maior volume de vendas em Portugal, em 2023. Verificou, para cada um, qual o medicamento mais barato disponível no mercado. Da amostra fizeram apenas parte medicamentos sujeitos a receita médica e com grupo homogéneo.
O que são grupos homogéneos de medicamentos?
Os grupos homogéneos são conjuntos de fármacos com as mesmas substâncias ativas, em quantidade e qualidade, e igual forma farmacêutica, dosagem e via de administração, entre os quais se encontra, pelo menos, um genérico (em geral, há mais). Assim sendo, do ponto de vista terapêutico, é indiferente optar por um ou outro dos fármacos do grupo. O mais racional seria, pois, comprar o mais barato. Contudo, dos 112 medicamentos mais consumidos e analisados, apenas seis primavam por serem os menos dispendiosos, na primeira quinzena de julho, altura em que foram recolhidos os preços no site do Infarmed. Ou seja: na grande maioria da amostra, o consumidor poderia poupar na fatura da farmácia. Enfatiza-se a palavra consumidor, dado que o valor a cargo do Estado é o mesmo para todos os medicamentos do grupo homogéneo. Isto porque as percentagens de comparticipação definidas por lei não se aplicam ao preço de venda ao público (PVP), mas ao chamado preço de referência. Este, por regra, corresponde à média dos cinco medicamentos mais baratos do grupo homogéneo. Um exemplo: imaginemos que o preço de referência de um destes grupos é 10 euros, e a comparticipação de 37 por cento. O custo para o Estado é de 3,7 euros em todos os medicamentos do grupo homogéneo, cabendo o restante ao consumidor. Assim, dependendo do valor da comparticipação, em euros, o medicamento tanto pode ser disponibilizado ao utente gratuitamente como por um valor relativamente próximo do preço de venda ao público.
Preço no guia de tratamento: podem cobrar-me mais?
Quando é emitido o guia de tratamento referente a um medicamento prescrito por princípio ativo – como ibuprofeno ou paracetamol –, a chamada denominação comum internacional (ou DCI), à frente da validade da receita aparece a indicação de que a prescrição "custa-lhe, no máximo, x euros, a não ser que opte por um medicamento mais caro". O valor que é indicado nesta frase significa que existem alternativas mais baratas à venda, mas também mais caras, e corresponde ao custo mais elevado do conjunto dos cinco medicamentos mais baratos que pode escolher com aquela prescrição. Para usufruir do valor máximo de comparticipação, o utente deve solicitar o medicamento genérico mais barato e não deve pagar mais do que o valor indicado na frase.
Já se a expressão for "Este medicamento custa-lhe, no máximo, x euros", não há hipótese de ter acesso a um medicamento mais barato. O valor indicado corresponde ao custo a pagar pelo utente, uma vez que não existe qualquer alternativa ao medicamento prescrito.
Consumidores exigem mais informação ao consumidor
Os medicamentos são um fardo pesado para muitos consumidores, ainda mais porque a maioria não está a escolher os de menor preço. Não será certamente por vontade de pagar mais. Importa apostar na formação dos doentes e facilitar o acesso à informação para que possam fazer escolhas informadas e conscientes. Os farmacêuticos têm um papel crucial nesta área, pela proximidade com os utentes, mas campanhas mediáticas também podem contribuir para a literacia.
Ao nível prático, a receita médica devia incluir o preço e o nome do medicamento mais barato do grupo homogéneo, para que o paciente pudesse pedi-lo diretamente na farmácia.
A DECO PROteste exige também o cálculo dinâmico do preço de referência, de modo a incluir sempre os cinco medicamentos mais baratos do grupo homogéneo, sejam da marca original, sejam genéricos, que se encontram à venda em cada momento.
Por fim, e mais importante, é preciso que o Estado reforce o investimento na prevenção, de modo a promover o bem-estar, reduzir a probabilidade de doença e, assim, o recurso à medicação. É a melhor forma de poupar.
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Poupar 38 euros por embalagem entre medicamento de marca e genérico
Na análise da DECO PROteste, optar pelo medicamento mais barato disponível do grupo homogéneo, em vez do mais consumido, pode valer poupanças entre 15 cêntimos e mais de 38 euros por embalagem. Entre os que permitem maiores economias estão, por exemplo, os medicamentos Eliquis e Apixabano Pharmakern, usados para evitar coágulos sanguíneos, cujo grupo homogéneo tem uma comparticipação de 69 por cento. Sessenta comprimidos revestidos de Eliquis 5 mg (PVP de 69 euros) custam 44,13 euros ao utente, enquanto as mesmas unidades de Apixabano Pharmakern (PVP 30,89 euros) são vendidas a 6,02 euros. Feitas as contas, a diferença é de 38,11 euros.
O conhecido Nexium (redutor da produção de ácido no estômago) é outro exemplo paradigmático: ao comprar uma embalagem de 56 comprimidos gastrorresistentes de 20 mg (PVP 16,56 euros), o consumidor gasta 13,67 euros. Se optar pelo mais barato disponível, o Esomepazol Lumec (PVP 6,25 euros), paga apenas 3,36 euros. Nos dois exemplos descritos, a batalha que opõe mais vendido a mais barato trava-se entre a marca original e um genérico, com vantagem para o último.
No entanto, a competição entre genéricos é também cada vez mais comum. O estudo mostra que vários destes ocupam o primeiro lugar do top de vendas do respetivo grupo homogéneo. Por vezes, os mais consumidos distam poucos cêntimos do mais barato – por exemplo, uma embalagem de 20 cápsulas de Metamizol Vitória 575 mg custa mais 15 cêntimos do que o Metamizol Magnésico Tolife; mas também há divergências na ordem dos cinco euros, como acontece no caso da Atorvastatina Ocram 20 mg, 28 comprimidos revestidos, face à Atorvastatina Aurobindo, a mais barata do grupo homogéneo. Assim, se quiser maximizar a poupança na fatura da farmácia, não basta pedir o medicamento genérico; terá de solicitar o genérico mais barato.
Poupança anual pode ser superior a 600 euros
É claro que a poupança aumenta com a quantidade de medicamentos e a frequência da toma. Os doentes crónicos serão, certamente, dos que mais beneficiam economicamente das opções menos onerosas. Mas, voltamos à questão, quanto pode poupar o consumidor? A DECO PROteste fez o exercício para dois perfis de pacientes, pressupondo um tratamento inicial apenas com os fármacos mais consumidos pelos portugueses, fossem de marca ou genéricos, e posterior substituição pelos menos onerosos do seu grupo homogéneo disponíveis no mercado aquando da realização do estudo.
Os cálculos revelam diferenças consideráveis. Com apenas três medicamentos, o paciente mais novo conseguiria uma poupança superior a 200 euros por ano. Já o mais velho arrecadaria 655 euros anuais, se trocasse os seus cinco fármacos pelos equivalentes mais económicos. O valor impressiona, sobretudo, se pensarmos que corresponde a 80% do salário mínimo nacional, e que cerca de 70% dos pensionistas recebem menos de mil euros mensais. Felizmente, há alguns apoios do Estado para os idosos com mais dificuldades económicas.
Como identificar o medicamento mais barato?
Os números não enganam. De acordo com as estimativas da DECO PROteste, com base em dados de 2023, os portugueses, no seu conjunto, gastaram desnecessariamente 125 milhões de euros na compra dos medicamentos analisados no estudo, apenas por não escolherem o mais barato do grupo homogéneo. É claro que cada um sabe de si e é para isso que existe o direito de opção na farmácia – a receita identifica o medicamento através da denominação comum internacional e, na farmácia, deve ser dispensado o mais barato disponível. Mas o utente pode escolher outro.
Nem todos os fármacos têm alternativas mais acessíveis. Por exemplo, os novos e os que ainda não perderam a patente (dura, pelo menos, 20 anos) são únicos no mercado. Uma forma fácil de saber se a opção existe é procurar, na guia de tratamento, a indicação “Esta prescrição custa lhe, no máximo, ... €, a não ser que opte por um medicamento mais caro”. Este preço é o mais elevado do conjunto dos cinco medicamentos mais baratos do grupo homogéneo, com base nos quais se calcula o preço de referência.
O ideal seria, contudo, que fosse indicado também na guia o valor mais baixo, acompanhado pelo nome do fármaco, para que o consumidor pudesse solicitá-lo diretamente. Seja como for, não é garantido que a farmácia tenha o medicamento com menor preço, já que só é obrigada a ter três dos cinco mais baratos. Pode ainda acontecer que esteja esgotado ou em rutura de stock. Esta informação deve constar do site do Infarmed, mas terá de saber o nome do que procura. As dificuldades existem; contudo, o normal será conseguir aceder aos medicamentos de preços mais baixos. Se for esse o seu desejo, solicite-os na farmácia. Os mais baratos têm a mesma qualidade e eficácia e pesam menos no orçamento familiar.