Fentanilo: quando usar e quais os riscos?
É um dos analgésicos opioides utilizados para combater a dor grave, e sobre o qual têm surgido dúvidas sobre eventuais dependências. Saiba o que é o fentanilo e conheça os efeitos secundários que pode causar.
O fentanilo é um potente analgésico, classificado como medicamento opioide forte que, por ser mais potente do que a morfina, é frequentemente administrado e prescrito em caso de dor grave.
Em 1986, a Organização Mundial de Saúde (OMS) desenvolveu uma escada analgésica para proporcionar um alívio adequado da dor aos doentes com cancro, onde se inclui o fentanilo.
Esta escada sofreu alterações ao longo dos anos e é aplicada atualmente no tratamento da dor oncológica, mas também de condições dolorosas agudas e crónicas não oncológicas. É o caso de doenças degenerativas, doenças músculo-esqueléticas, distúrbios de dor neuropática, entre outros tipos de dor crónica. Continua a ser uma abordagem simples e paliativa para reduzir a dor em 70% a 80% dos doentes.
Escada analgésica da dor
- Analgésicos não opioides, para dor leve: anti-inflamatórios não esteroides (por exemplo, ibuprofeno), paracetamol e metamizol.
- Opioides fracos, para dor moderada: tramadol e codeína (podem associar-se aos analgésicos não opioides).
- Opioides fortes, para dor severa: morfina, fentanilo, oxicodona, hidromorfona, buprenorfina, tapentadol (podem associar-se aos analgésicos não opioides, mas não aos opioides fracos).
Diferença entre tolerância, dependência e adição
Antes de começarem uma terapêutica, os doentes devem ser esclarecidos sobre a possível dependência de opioides fortes como o fentanilo.
Os conceitos de tolerância, dependência e adição são diferentes e devem ser esclarecidos.
A administração repetida de um medicamento pode resultar num fenómeno conhecido como tolerância, em que o organismo se adapta à dose, resultando na diminuição do efeito. Para obter o mesmo efeito é necessário aumentar a dose. Embora existam poucos estudos quanto à tolerância aos medicamentos opioides fortes, esta parece ser rara. Após um período de ajuste da dose, a maioria dos doentes mantém-se com uma dose estável de medicamentos opioides fortes por longos períodos.
Uma situação diferente é a dependência física, que ocorre se interromper de repente um tratamento regular com opioides fortes, sentindo uma síndrome de abstinência. Por norma, reduzir gradualmente a dose, com o chamado "desmame", evita o aparecimento desta síndrome. Uma dependência psicológica é a necessidade compulsiva de tomar o medicamento, e é diferente da adição.
A adição é um distúrbio biopsicossocial que se caracteriza pela falta de auto-controlo, quando o indivíduo usa o medicamento compulsivamente e mostra preocupação e obsessão em conseguir consumir a substância. Ocorre, simultaneamente, uma deterioriação da saúde física, mental e social do indivíduo. Os medicamentos opioides, prescritos pelo médico e utilizados de forma correta, não causam adição.
Em caso de suspeita de abuso ou dependência do medicamento, o farmacêutico deve informar o médico que o prescreveu. Por sua vez, este deve adaptar a terapêutica para minimizar os riscos para a saúde do doente. Para doentes com sinais e sintomas de perturbações relacionadas com opioides, é importante considerar uma consulta com um especialista em dependências.
Assim que houver uma melhoria do problema que provoca a dor, o tratamento com opioides fortes deve ser interrompido ou a dose deve ser reduzida.
Dependência do fentanilo
Os opioides têm um perfil de reações adversas características da classe. Um deles é o potencial de induzir a dependência física. No entanto, esta possibilidade não deve impedir o tratamento de doentes com significativos quadros de dor.
Há outras reações adversas que podem ocorrer com a toma de medicamentos opioides:
- as mais frequentes: tonturas, náuseas, vómitos, sedação e suores;
- estados de euforia, disforia, confusão, insónia, agitação, medo, alucinações, sonolência, falta de coordenação dos movimentos, alteração do humor, cefaleias, alterações da visão, tremor, convulsões ou aumento da pressão intracraniana;
- ao nível do tubo digestivo: dor abdominal, alterações do gosto, boca seca, anorexia e obstipação;
- no aparelho cardiovascular: afrontamentos, calafrios, colapso da circulação periférica, taquicardia, bradicardia, arritmias, hipertensão, hipotensão ortostática e síncope;
- no aparelho geniturinário: espasmos dos esfíncteres, retenção urinária, efeito antidiurético, redução da líbido, impotência;
- hipersensibilidade, prurido, urticária, espasmos da laringe;
- broncospasmo, redução do reflexo da tosse, alterações da regulação térmica, rigidez muscular;
- risco de depressão respiratória.
Como o fentanilo é um analgésico estupefaciente, todos os medicamentos com esta substância ativa apenas podem ser dispensados com a apresentação de receita médica especial. O farmacêutico tem de registar informaticamente vários elementos do utente ou do seu representante (nome, data de nascimento, número e data do bilhete de identidade ou da carta de condução ou número do cartão do cidadão, e número do passaporte no caso de cidadãos estrangeiros).
Se a receita apresentada for manual ou materializada, tem de assinar no verso da mesma de forma legível. Caso não saiba assinar, essa indicação será escrita pelo farmacêutico também no verso da receita.
Os psicotrópicos e os estupefacientes, tal como o fentanilo, apesar de estarem associados a actos ilícitos, desempenham um papel importante na medicina, desde que sejam usados na forma correta. Por isso, é importante vigiar o seu uso, sendo dois dos tipos de substâncias mais controladas em todo o mundo.
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