Dicas

Guia de primeiros socorros para tratar feridas

O tratamento a aplicar depende do tipo de ferida. Em qualquer caso, quanto mais rapidamente for tratada a lesão, menor será o risco de infeção e de outras complicações. Saiba quais os cuidados a ter para tratar feridas.

10 outubro 2022
Mãe a aplicar antissético numa ferida do filho

iStock

As lesões na pele que envolvem apenas a sua camada mais superficial – a epiderme – são fáceis de tratar em casa, já que geralmente requerem apenas uma boa higiene e vigilância atenta de possíveis sinais de infeção. Falamos de lesões como as esfoladelas, os arranhões e os pequenos cortes ou feridas ligeiras que, muitas vezes, acontecem com acidentes comuns no nosso dia-a-dia.

Se não for tratada, uma simples ferida pode funcionar como porta de entrada de microrganismos nocivos. Estes podem chegar aos tecidos, multiplicar-se e produzir infeções, caso as defesas do nosso organismo não impeçam a sua ação.

Saiba quais os passos a adotar para tratar feridas em casa, de forma a minimizar o risco de infeção e de outras possíveis complicações.

1. Preparação para cuidar da ferida

O que deve fazer

  • Antes de iniciar qualquer curativo, deve começar por lavar e secar bem as mãos e, se possível, colocar luvas descartáveis. Mesmo que as suas mãos não estejam visivelmente sujas, é sempre preciso lavá-las, já que mãos limpas ajudam a prevenir infeções.
  • Comece, também, por imobilizar a região do corpo na qual está localizada a ferida e remova quaisquer objetos ou roupa que a estejam a obstruir.

O que não deve fazer

  • Evite tocar na ferida diretamente com as mãos.
  • Não sopre, tussa ou espirre para cima da ferida.

2. Parar a hemorragia

Habitualmente, a perda de sangue nas feridas superficiais é pequena e resolve-se espontaneamente. Caso exista sangramento, tente minimizar e parar a hemorragia.

O que deve fazer

  • Eleve a zona da ferida e aplique uma pressão suave durante alguns minutos, utilizando uma compressa esterilizada ou um pano limpo.
  • Verifique se existem objetos/corpos estranhos alojados no interior da ferida.

O que não deve fazer

  • Não faça compressão direta em locais onde haja suspeita de fraturas ou de corpos estranhos encravados, ou junto das articulações.
  • Não tente tratar uma ferida mais grave, extensa ou profunda, com tecidos esmagados ou infetados, que contenha corpos estranhos difíceis de remover ou que não pare de sangrar.

Caso a ferida tenha sido provocada por um objeto pontiagudo ou de difícil remoção (por exemplo, um pedaço de vidro partido), ou caso não consiga parar o sangramento, procure assistência médica imediata para receber os cuidados devidos.

3. Higiene da ferida

A limpeza da ferida deve sempre envolver a higiene da própria ferida, bem como da região que a rodeia.

O que deve fazer

  • Comece por limpar a pele à volta da ferida com água e sabão.
  • Limpe a zona da ferida, utilizando água corrente ou soro fisiológico para remover a sujidade e os tecidos mortos. Em alternativa, pode utilizar uma compressa esterilizada para facilitar este processo. A higiene deve sempre ser feita do centro para as extremidades da ferida.
  • Seque a ferida e a região circundante com uma compressa através de pequenos toques.

O que não deve fazer

  • Evite a utilização de algodão, uma vez que este liberta pequenas fibras que são difíceis de remover.

4. Desinfeção da ferida

As feridas ligeiras, por norma, não precisam de cuidados de maior, já que garantir uma limpeza adequada, bem como a criação de um ambiente propício à sua cicatrização, são, regra geral, passos suficientes para proceder ao seu tratamento adequado.

Já no que diz respeito a feridas extensas ou sujas, poderá ser aconselhável a aplicação de um antissético numa fase posterior à sua limpeza. Um antissético é uma substância que se aplica na pele e/ou mucosas que destrói ou inibe o crescimento de microrganismos, prevenindo ou controlando uma infeção. Alguns especialistas defendem que o seu uso ajuda a potenciar a cicatrização da ferida, já que, ao reduzirem a quantidade e a proliferação de microrganismos nocivos, permitem criar condições mais favoráveis à reconstrução dos tecidos. Ainda assim, a necessidade de se utilizar um antissético no tratamento de feridas suscita dúvida e não é consensual entre os profissionais de saúde. 

Existem no mercado diferentes tipos de antisséticos com propriedades e mecanismos de ação diferenciados. É o caso da iodopovidona, disponível sob a forma de solução e espuma cutânea, pomada e compressas impregnadas. Entre as possíveis reações adversas contam-se, por exemplo, erupções cutâneas por hipersensibilidade ao iodo, embora seja raro. Não deve ser usada em caso de alergia ao iodo, gravidez ou aleitamento, e deve evitar-se em feridas extensas, uma vez que a sua aplicação em grandes superfícies cutâneas pode provocar uma excessiva absorção de iodo, ou em doentes com problemas da tiróide ou insuficiência renal.

Outro exemplo é a clorohexidina, disponível em creme ou spray para aplicação cutânea. Pode causar irritação na pele e não deve ser usada nos olhos ou nos ouvidos. 

Tenha, ainda, cuidado com a utilização de água oxigenada: existe pouca evidência disponível sobre a sua capacidade para eliminar microrganismos e impedir o seu crescimento. O seu efeito sobre as feridas aparenta estar mais relacionado com as suas capacidades de efervescência e oxidação, que contribuem para a remoção de tecidos mortos, o aumento do aporte de oxigénio no tecido lesionado e a eliminação de maus odores.

O álcool etílico também não deve ser utilizado. Está contraindicado em feridas abertas, visto que seca e irrita a pele, não é eficaz na presença de matéria orgânica (como sangue ou pus) e pode provocar dor no local dos tecidos lesados.

Critérios a considerar na escolha de um antissético

O antissético “ideal” deve cumprir vários atributos:

  • atividade de largo espetro;
  • baixa capacidade de gerar resistências;
  • ter um início de atividade rápido;
  • não ser irritante nem sensibilizante;
  • não tingir os tecidos;
  • ser efetivo, até mesmo na presença de matéria orgânica.

A decisão de utilizar um antissético, bem como a escolha do antissético “ideal”, deve ser tomada com o auxílio de um profissional de saúde.

O que deve fazer se optar por utilizar um antissético

  • Respeite o tempo de atuação e a concentração indicadas pelo fabricante do antissético, assim como a eficácia perante a matéria orgânica (como sangue e pus).
  • Aplique o antissético com uma compressa, evitando o contacto direto com o frasco.
  • Para diminuir o risco de contaminação, guarde o frasco bem fechado.

O que não deve fazer

  • Ao colocar o antissético, não retire a crosta formada sobre a lesão. Esta protege a ferida e ajuda a controlar a hemorragia.
  • Não use mais do que um antissético na mesma ocasião. Os diferentes produtos podem interagir, aumentando o risco de efeitos adversos, como irritação da pele.

5. Proteger a ferida

Proteger a ferida ajuda a mantê-la limpa e promove a criação de um ambiente húmido, que é benéfico para o processo de cicatrização. No entanto, nem sempre é necessário realizar este passo. Por exemplo, as feridas pequenas e superficiais, muitas vezes, não precisam de proteção, já que é suficiente deixá-las cicatrizar ao ar.

O que deve fazer

  • Se a ferida estiver localizada numa zona de atrito frequente ou que roce facilmente noutros locais, pode protegê-la com uma compressa esterilizada ou com um penso rápido.
  • Se for necessário cobrir a ferida, deve mudar o penso diariamente ou mais frequentemente, caso fique molhado ou sujo.

O que não deve fazer

  • Se optar por cobrir a ferida com um penso rápido, tenha o cuidado de não deixar a parte adesiva sobre a ferida.

6. Mantenha-se atento a possíveis sinais de infeção

Habitualmente, as esfoladelas, os pequenos cortes, os arranhões e as feridas superficiais cicatrizam sem grandes complicações. Ainda assim, nunca é demais ficar atento a possíveis sinais de infeção: existência de dor, vermelhidão, formação de pus, calor ou inchaço na região da ferida, bem como um aumento do espessamento das suas extremidades e ocorrência de febre. Preste atenção a estes sinais e, se o aspeto da sua ferida o levar a ponderar hipótese de infeção, entre em contacto com um profissional de saúde, logo que possível. Pode existir necessidade de adotar outros cuidados. 

Conselhos adicionais

Após a cicatrização, tenha o cuidado de hidratar a zona em questão e de protegê-la da exposição solar.

Tenha um kit de primeiros socorros sempre à mão para garantir que consegue cuidar das feridas com a máxima rapidez e eficiência. Este kit deve conter soro fisiológico, antissético, compressas esterilizadas, rolo adesivo, tesoura, ligadura não elástica, pensos rápidos e luvas descartáveis. 

Tenha em consideração que qualquer material que seja utilizado no tratamento de uma ferida deve ser devidamente descartado e não deve ser utilizado por mais do que uma pessoa (luvas, compressas, etc.).

Quando recorrer a um profissional de saúde?

Mesmo que a ferida seja ligeira, existem situações em que é importante entrar em contacto com um profissional de saúde. Além disso, há vários tipos de lesões na pele que devem ser avaliadas logo numa fase inicial:

  • se a ferida tiver sido causada por uma mordidela (animal ou pessoa);
  • se estiverem alojados corpos estranhos ou objetos de difícil remoção;
  • se a ferida demorar a cicatrizar e/ou apresentar sinais de infeção;
  • se a ferida estiver localizada na região da face;
  • se a ferida for larga ou profunda (pode precisar de pontos);
  • se a ferida provocar febre ou a dor aumentar.

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