Cuidados dentários: poucos portugueses recorreram ao SNS
Muitos portugueses vão ao dentista menos de uma vez por ano, a frequência recomendada para a população em geral. Descubra as razões por que tal acontece e conheça a satisfação dos portugueses com os cuidados dentários.
Um inquérito da DECO PROteste a 849 portugueses confirma matematicamente o que muitos percecionam: o recurso ao dentista continua a ser um luxo com acesso reservado a quem pode pagar. Os resultados indicam que muitos dos inquiridos fazem consultas de rotina menos de uma vez por ano, frequência recomendada para a população geral.
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Em junho de 2024, a DECO PROteste enviou um questionário sobre saúde oral a uma amostra da população entre os 18 e os 74 anos, tendo obtido 849 respostas válidas. O objetivo foi verificar o acesso a cuidados dentários e os respetivos custos, bem como a satisfação com o dentista. Os dados resultam do tratamento estatístico de 849 respostas, ponderadas de modo a representarem a população nacional por género, idade, região e nível de educação.
Consumidores exigem investimento em cuidados dentários
Os resultados do estudo da DECO PROteste não surpreendem, dada a escassez de oferta pública. Nos cuidados de saúde primários, em 2022, havia 140 dentistas e 107 higienistas, e os cheques-dentista, que permitem consultas gratuitas com profissionais convencionados, abrangem apenas grupos específicos.
Em nome dos consumidores, a DECO PROteste exige que se dote o Serviço Nacional de Saúde (SNS) de recursos humanos suficientes para responderem às necessidades da população. Mais: o Governo deverá criar a carreira especial de medicina dentária no SNS, para valorizar os profissionais e incentivar a sua fixação.
Os fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) devem permitir a criação de novos consultórios de saúde oral no SNS e contribuir para a equidade de acesso no País. A reorganização em curso é uma excelente oportunidade para integrar a saúde oral na estrutura das Unidades Locais de Saúde (ULS), melhorando a articulação entre os diferentes níveis de cuidados e facilitando a movimentação do cidadão no sistema.
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Os resultados do inquérito da DECO PROteste sobre os cuidados de saúde dentários indicam que um terço dos inquiridos dizem fazer consultas de rotina menos de uma vez por ano (frequência recomendada para a população geral), na maioria das vezes, por serem caras. As questões financeiras justificaram também grande parte das consultas adiadas ou canceladas, algumas com consequências graves para a saúde.
Os inquiridos com orçamentos familiares mais curtos são, claro, os que têm maior dificuldade em atingir os mínimos. Entre os que apresentam uma situação financeira confortável, as falhas são menores. Ainda assim, um quinto não segue a frequência recomendada, e 7% nunca efetuam consultas de rotina.
Globalmente, seis em cada dez inquiridos consideram ter bons hábitos de higiene oral, usando sobretudo uma escova manual e uma pasta de dentes. O fio dentário e os escovilhões são referidos com menos frequência. Já o elixir bucal, que é dispensável, está nas preferências de 45% dos inquiridos.
Seguros pouco satisfatórios
Os consumidores continuam a optar sobretudo por consultórios, clínicas e hospitais privados, mas surgiu um fenómeno novo: o recurso a consultas em dentistas pertencentes à rede das seguradoras, onde os custos são menores.
No estudo da DECO PROteste, cerca de 27% dos participantes revelaram ter um seguro ou plano dentário, ou um seguro de saúde com cobertura de estomatologia, sendo estes os mais frequentes. Sete em cada dez inquiridos usaram o seguro nos últimos dois anos, sobretudo para consultas de rotina. Contudo, a maioria não se mostrou muito satisfeita com o mesmo.
Cuidados dentários agradam, custos nem tanto
Apresentado o cenário, aponte-se o foco à experiência dos inquiridos que recorreram ao dentista nos últimos dois anos, tendo em conta o tratamento mais recente. Oito em cada dez inquiridos optaram por consultórios ou clínicas privadas. Cerca de metade conseguiu marcar a consulta para os seis dias seguintes, mas houve quem tivesse de esperar mais de um mês. Nalguns casos, surgiram contrariedades, como ser atendido por um profissional diferente em cada visita, sofrer complicações decorrentes dos tratamentos ou deparar com faturas de valor superior ao orçamentado.
Já no que respeita aos espaços onde decorrem os tratamentos dentários e aos seus profissionais, os inquiridos não têm razão de queixa. Menos satisfatórios são o tempo de espera por consultas na rede das seguradoras e os custos.
