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Mpox: o que é e como se transmite?

Um surto de mpox em África levou a OMS a declarar "emergência de saúde pública internacional". Em Portugal, o risco de propagação deste vírus é, atualmente, baixo, mas a vacina contra esta infeção é recomendada, de forma preventiva, a alguns grupos de risco. Saiba quais os sintomas de mpox, como se transmite e qual o tratamento.

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26 novembro 2024
analista em laboratório a analisar amostras de sangue

iStock

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, em agosto, a epidemia de mpox, anteriormente conhecida como "varíola dos macacos", uma "emergência de saúde pública internacional", depois de terem sido registados desde o início do ano mais de 14 mil casos confirmados desta doença na República Democrática do Congo. Em causa está o surgimento, nessa zona de África, de uma nova variante do vírus mpox (o vírus da clade I mpox) que se pensa causar doença mais grave e maior mortalidade, em especial em crianças, do que a variante da clade II, que circula globalmente desde 2022.

Risco de transmissão na Europa ainda é baixo

Em Portugal, o primeiro alerta para esta doença ocorreu a 3 de maio de 2022, com a confirmação laboratorial de cinco casos de infeção humana pelo vírus mpox, pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA). Portugal foi, na altura, o segundo país a reportar casos de um surto que veio a ser mundial. Depois, em junho de 2023, após três meses sem qualquer caso reportado, acabaria por ser identificado um novo surto no País. Entre junho de 2023 e 31 de julho de 2024, foram identificados 244 casos em Portugal

No entanto, entre junho e julho deste ano, apenas três novos casos desta infeção foram confirmados laboratorialmente em Portugal. Até agora, ainda não foi detetado qualquer caso da variante mais perigosa da doença (clade I) no País. Numa nova avaliação dos riscos, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC, na sigla em inglês) afirma que é “muito provável que a UE/EEE registe mais casos importados de varíola provocada pelo vírus da clade I, que circula atualmente em África. No entanto, a probabilidade de transmissão sustentada na Europa é muito baixa, desde que os casos importados sejam diagnosticados rapidamente e que sejam aplicadas medidas de controlo”.

A Direção-Geral da Saúde (DGS) já havia alertado para a importância da deteção precoce de novos casos, tendo em conta o período de férias, os eventos de massas e a possibilidade de importação de casos de áreas com surtos ativos, e lembra que a vacinação preventiva da população com maior risco de infeção deve continuar a ser promovida.

Saiba, na DECO PROteste, o que é a infeção humana por vírus mpox, quais os sintomas ou como tratar a doença. 

O que é a infeção humana por vírus mpox e como se transmite?

O vírus mpox é um vírus do género Orthopoxvirus. Trata-se de uma zoonose, por ser transmitida através do contacto com animais. A doença é rara e, habitualmente, não se dissemina facilmente entre humanos. No entanto, a transmissão pode ocorrer pelo contacto com animais ou pelo contacto próximo com pessoas infetadas ou objetos contaminados (toalhas ou lençóis, por exemplo). A transmissão entre seres humanos ocorre principalmente através de grandes gotículas respiratórias, mas, uma vez que estas não conseguem viajar muito longe, é necessário um contacto cara a cara prolongado para que a transmissão ocorra. O vírus pode ainda entrar no organismo humano através do contacto com lesões cutâneas ou fluidos corporais.

O período de incubação (intervalo entre a infeção e o início dos sintomas) é normalmente de 6 a 16 dias, mas pode chegar a 21 dias.

Quais os sintomas da doença?

Os sintomas incluem febre, dores de cabeça, dores musculares, dores nas costas, gânglios linfáticos inchados, calafrios e cansaço. Tipicamente, os infetados desenvolvem lesões ulcerativas e erupções cutâneas que começam no rosto e depois se alastram a outras partes do corpo, incluindo os genitais.

As erupções cutâneas provocadas por este vírus podem ser confundidas com varicela, uma vez que começam como borbulhas que se transformam em pequenas bolhas com líquido. Estas bolhas acabam por formar crostas que mais tarde caem. Quando as crostas caem, a pessoa já não é infeciosa.

 
Erupção cutânea provocada pelo vírus mpox (Crédito: artigo científico "Human monkeypox: an emerging zoonosisigure capture", publicado em janeiro de 2004, na revista The Lancet – Infectious Diseases.)

Como se trata a doença?

As pessoas com sintomas suspeitos devem evitar contactos físicos diretos e procurar aconselhamento clínico de imediato. A abordagem clínica não requer um tratamento específico para este vírus, já que a doença habitualmente é autolimitada e acaba por desaparecer depois de algumas semanas. Nos casos mais severos, contudo, pode ser necessário recorrer a um tratamento com antivirais.

Existe vacina contra a infeção humana por vírus mpox?

Sim, a vacina Imvanex.

Em julho de 2022, esta vacina recebeu autorização da Comissão Europeia para alargar a sua indicação para a proteção contra a infeção humana por vírus mpox e é administrada em Portugal. 

Quem deve ser vacinado?

De acordo com as recomendações da Direção-Geral da Saúde, a vacinação deve ser utilizada de forma preventiva por pessoas de grupos com um risco acrescido de infeção humana por mpox e num contexto de pós-exposição, ou seja, por pessoas identificadas como contactos próximos de casos.

Vacinação preventiva

A vacina está recomendada para pessoas com idade igual ou superior a 18 anos, assintomáticas, que nunca tenham sido previamente diagnosticadas com esta infeção e que se enquadrem em, pelo menos, um dos seguintes critérios:

  • pessoas com múltiplos parceiros sexuais e/ou história de práticas sexuais em grupo;
  • pessoas com história de práticas sexuais com uso de substâncias psicoativas (Chemsex);
  • pessoas com diagnóstico de pelo menos uma infeção sexualmente transmissível (IST) recente (últimos seis meses);
  • pessoas envolvidas em sexo comercial;
  • funcionários e utilizadores de espaços onde se pratique sexo em grupo ou sexo anónimo;
  • pessoas com parceiros sexuais anónimos;
  • pessoas em programa PrEP (profilaxia pré-exposição para o VIH);
  • veterinários e profissionais da vida selvagem que viajem em trabalho para áreas onde se sabe que os animais selvagens estão infetados, como a África Central e Ocidental;
  • viajantes em turismo sexual, que viajam para zonas de surto;
  • e profissionais de saúde, com elevado risco de exposição, envolvidos na colheita e no processamento de produtos biológicos de casos de infeção.

As pessoas que considerem que apresentam risco de contrair mpox poderão contactar um ponto de vacinação contra mpox, para agendamento da vacinação. Os médicos podem também identificar cidadãos que sejam elegíveis para serem vacinados preventivamente. 

Vacinação depois da exposição ao vírus

A chamada "vacinação pós-exposição" diz respeito à vacinação recomendada para as pessoas assintomáticas que sejam contactos próximos de um caso e que nunca tenham sido diagnosticadas com infeção humana por mpox.

A vacinação deve ocorrer idealmente nos primeiros quatro dias após o último contacto e, no máximo, até 14 dias após a última exposição, se a pessoa se mantiver assintomática ou se, havendo sintomas compatíveis com a doença, esta tiver sido excluída, após análise laboratorial, e se o caso a que a pessoa foi exposta for provável ou confirmado.

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