Como funcionam as vacinas

As vacinas protegem as pessoas de contrair certas doenças infeciosas através do estímulo da produção de anticorpos. Ajudam a impedir a transmissão destas doenças na comunidade, o que as torna num dos maiores avanços da medicina moderna. Se ainda tem dúvidas sobre os benefícios das vacinas, veja o vídeo.
O Programa Nacional de Vacinação é regularmente revisto e atualizado pela Direção-Geral da Saúde (DGS), após proposta da Comissão Técnica de Vacinação (CTV) em função das vacinas disponíveis, da frequência e distribuição das doenças no nosso país, e da evolução social e dos serviços de saúde.
A vacinação é uma ação que salva vidas. Todos os anos, as vacinas salvam milhões no mundo inteiro. Protegem, por exemplo, as crianças das doenças ditas “infantis”, que poderiam evoluir para problemas graves ou mortais. Com a vacinação, foram erradicadas doenças como a varíola, e outras estão em vias de ser eliminadas, como a poliomielite. A pessoa vacinada fica imune à doença ou, nos casos em que isso não é possível, tem uma forma mais ligeira da doença quando contactar com o agente infeccioso que a causa.
Optar pela vacinação é uma decisão individual com peso na sociedade. Vacinar a maioria da população cria imunidade de grupo: caso surja uma infeção, é mais difícil transmiti-la. Tal permite eliminar ou, pelo menos, controlar doenças. Quando poucos estão imunizados (vacinados), as doenças contagiosas espalham-se facilmente pela população.
As escolas públicas devem comunicar ao delegado de saúde da zona do estabelecimento quais os alunos com vacinas em falta, de acordo com o despacho n.º 3668-A/2017 dos gabinetes da secretária de Estado Adjunta e da Educação e dos secretários de Estado da Educação e Adjunto e da Saúde.
Como lidar com reações adversas das vacinas
Todas as vacinas podem provocar efeitos secundários. Mas os riscos de complicações graves causadas pelas vacinas são muito inferiores aos das doenças contra as quais protegem. A maioria das vezes, trata-se de sintomas muito ligeiros, como inchaço no local da injeção, vermelhidão e febre. A solução passa por aplicar gelo e, se necessário, tomar um analgésico.
As reações severas são muito raras e constituem uma emergência médica. Podem manifestar-se através de inchaço do rosto, dificuldade em respirar, pressão arterial baixa, prostração, arritmia e perda de consciência. Face a estes sintomas, marque o 112 ou dirija-se às urgências hospitalares.
Só as vacinas com vírus vivos atenuados, como a BCG, podem causar alguma forma de doença, embora a probabilidade seja muito baixa. As inativadas contêm uma versão morta do organismo, pelo que são inofensivas. A imunização antigripal é um exemplo.
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Para continuar a ler, basta entrar no site ou criar uma conta (disponível para subscritores e não-subscritores).O Programa Nacional de Vacinação (PNV) é um programa universal gratuito e acessível a todas as pessoas em Portugal. Tem por objetivo proteger os indivíduos e a população em geral contra as doenças com maior potencial para constituírem ameaças à saúde pública e individual, e para as quais há proteção eficaz por vacinação.
A sua última atualização ocorreu em setembro de 2020 com a publicação da Norma nº 018/2020 de 27/09/2020, e entrou em vigor a 1 de outubro de 2020, com as seguintes atualizações:
- alargamento a todas as crianças (aos 2, 4 e 12 meses de idade) da vacinação contra doença invasiva por meningite meningocócica (Neisseria meningitidis) do grupo B (vacina MenB);
- alargamento ao sexo masculino (aos 10 anos de idade) da vacinação contra infeções por vírus do Papiloma humano (vacina HPV), incluindo os genótipos causadores de condilomas ano-genitais;
- a vacina contra o rotavírus (vacina ROTA) para grupos de risco, principal causador de gastroenterites em crianças, também passou a integrar o Programa Nacional de Vacinação 2020, mas só se aplica para grupos de risco.
À nascença |
VHB - vacina contra a hepatite B (1.ª dose) |
2 meses |
VHB (2.ª dose) |
4 meses |
DTPa (2.ª dose) |
6 meses |
VHB (3.ª dose) |
12 meses |
VASPR – vacina contra o sarampo, parotidite e rubéola (1.ª dose) |
18 meses |
DTPa (4.ª dose) |
5 anos |
DTPa (5.ª dose) |
10 anos |
HPV1,2 – vacina contra doenças causadas pelo vírus do papiloma humano (2 doses) |
25 anos (e de 20 em 20 anos até aos 65. Depois, de 10 em 10 anos) |
Td (reforços) |
Ao vacinar-se está a proteger-se a si e à comunidade. Se um número significativo de pessoas for imunizado contra uma doença, todos beneficiam, pois é mais difícil o microrganismo contagiar outros. Pelo contrário, se muitos não cumprem o programa, mais indivíduos vão ficar infetados e, nalguns casos, poderá até surgir uma epidemia. Conheça sete ideias falsas que circulam sobre vacinas.
As vacinas são desnecessárias
Atualmente, algumas doenças contra as quais somos vacinados são pouco frequentes ou já não são reportados casos em alguns países. É o caso de poliomielite ou da difteria. Esse facto tem alimentado o rumor de que não vale a pena manter esta vacinação. Mas estas doenças não desapareceram: são mais raras, precisamente, porque uma grande parte da população está vacinada. Se as pessoas deixarem de cumprir a vacinação, este efeito de proteção de grupo também diminui. Quem fica mais exposto são os doentes crónicos ou os grupos mais vulneráveis como os idosos e as crianças, por exemplo. Foi o que aconteceu em 2015, nos Estados Unidos da América, onde foram reportados 159 casos de sarampo.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), só na primeira metade de 2019 foram reportados quase 90 mil casos de sarampo nos 53 países que integram a região europeia da OMS. Um valor muito superior ao registado durante todo o ano de 2018 (84 462 casos).
A varíola foi a única doença que a OMS considerou erradicada, com o último caso registado em 1977, na Somália.
As vacinas causam autismo
Na base desta crença, está um artigo publicado em 1998 que associava a vacina tríplice (sarampo, papeira e rubéola) com o aumento do número de casos daquela perturbação. Contudo, foram identificadas deficiências metodológicas graves neste estudo e, em 2010, os seus autores desmentiram publicamente as conclusões. O autor principal até viu revogada a sua licença para exercer medicina. Existe já evidência científica de que as vacinas não estão associadas ao autismo.
As vacinas provocam doenças autoimunes
Se já ouviu dizer, por exemplo, que as vacinas combinadas, aquelas que protegem contra várias doenças, favorecem os efeitos secundários e sobrecarregam o sistema imunitário, não acredite. Pelo contrário, têm a vantagem de diminuir o número de “picadas” em crianças de tenra idade e contam com estudos que atestam a sua segurança e eficácia. O quotidiano também contradiz a ideia de sobrecarga. Todos nós, os miúdos em particular, somos expostos diariamente a novos e múltiplos micróbios através de gestos tão simples como comer.
A relação entre a vacinação e as doenças autoimunes ainda está a ser investigada, mas os estudos existentes mostram pouca evidência de que estão relacionadas.
A gripe é uma doença benigna: não vale a pena vacinar-se
Na verdade, nem sempre. Esta doença pode provocar complicações sérias a nível respiratório, pulmonar e cardíaco, como pneumonia e miocardite. Os idosos e as grávidas são grupos de risco e há casos de mortes causadas por complicações pulmonares e cardíacas nestes grupos. A vacina não evita que tenha gripe, mas reduz a possibilidade de vir a ter complicações.
A Direção-Geral da Saúde recomenda a vacina aos cidadãos a partir dos 65 anos, portadores de doença crónica pulmonar, cardíaca, renal, hepática, diabetes e a quem tenha as defesas debilitadas. As grávidas, os profissionais de saúde e os prestadores de cuidados, por exemplo, em lares de idosos, também são aconselhados a vacinar-se. O mesmo sucede em relação às crianças e aos adolescentes com doenças crónicas que vivam em instituições e às pessoas com deficiência acolhidas em lares.
Grávidas não devem ser vacinadas
As vacinas são seguras e recomendam-se, em particular a Tdpa (vacina combinada contra o tétano, a difteria e a tosse convulsa) e a vacina da gripe. A Tdpa deve ser administrada entre as 20 e as 36 semanas de gestação, após a ecografia morfológica (recomendada entre as 20 e as 22 semanas + seis dias) e, idealmente, até às 32 semanas.
A vacinação prévia à gravidez ou a vacinação em gravidez anterior não são suficientes, sendo necessário repetir a vacinação em cada gravidez. A vacina da gripe é segura em qualquer fase da gravidez e confere proteção ao recém-nascido nos primeiros seis meses de vida. A vacina deve ser administrada na altura do outono ou do inverno. Ambas as vacinas são gratuitas para a grávida no Serviço Nacional de Saúde.
Se uma grávida contrair tétano, difteria ou tosse convulsa durante a gravidez, a formação do feto pode ficar comprometida. Só há uma contraindicação: as grávidas não devem receber vacinas vivas atenuadas, ou seja, com o vírus enfraquecido, como é o caso das da BCG, do sarampo, da rubéola ou da papeira.
A segurança da vacina da gripe foi avaliada por vários estudos, e nenhum encontrou evidência de que cause malformações em nenhum trimestre, assim como a da hepatite B ou contra a meningite.
As vacinas são dadas muito cedo
Alguns pais argumentam que os bebés têm o sistema imunitário pouco desenvolvido e, por isso, não deveriam ser vacinados tão cedo com “micróbios” (embora estejam atenuados ou inativos). É incontestável que o sistema dos recém-nascidos, comparado com o de uma criança ou de um adulto, é menos eficiente a combater patógenos. Mas essa é a razão por que é tão importante prevenir o aparecimento de doenças, potencialmente perigosas, através da vacinação.
Deixar as crianças desprotegidas por um longo período é um risco acrescido. Está provado que mais de 90% dos bebés infetados com hepatite B desenvolvem uma infeção crónica.
As vacinas têm químicos perigosos
Algumas vacinas têm substâncias como alumínio e timerosal, que ajudam o sistema imunitário a produzir uma resposta mais forte. Além disso, visam impedir a contaminação por bactérias e fungos. Não há evidências de que o alumínio presente nas vacinas cause problemas a longo prazo, confirmaram vários estudos. A quantidade é mínima.
Quanto ao timerosal, usado como conservante, foi investigado por várias entidades, incluindo a Organização Mundial da Saúde, na sequência da controvérsia surgida em torno das vacinas, nos anos 90. Todos concluíram não haver ligação entre o timerosal e o autismo, mas foi retirado das vacinas por precaução. Não porque fosse prejudicial ou causasse problemas neurológicos – as quantidades são ínfimas –, mas para que os receios em torno de algumas vacinas desaparecessem. Nos Estados Unidos, a renitência de alguns pais em vacinar por essa razão causou mortes desnecessárias.
A tuberculose é uma doença infeciosa causada pelo bacilo de Koch, que ataca sobretudo os pulmões, mas também pode afetar outros órgãos. Transmite-se principalmente por via aérea através da inalação de gotículas, expelidas pela pessoa doente quando respira, tosse, fala ou espirra.
A vacina BCG não confere proteção absoluta, mas previne formas graves da doença. O seu esquema vacinal consiste numa dose única que deve ser administrada o mais cedo possível após o nascimento.
A população alvo desta vacina são as crianças com menos de seis anos, ainda não vacinadas e inseridas em comunidades de risco, onde a circulação do bacilo tende a ser mais frequente.
A Direção-Geral da Saúde considera “de risco” as crianças:
- provenientes de países com muitos casos de tuberculose;
- que terminaram o processo de rastreio de contactos e/ou esquema de profilaxia (situação avaliada pelas unidades de saúde pública);
- que vivam ou convivam com portadores de infeção VIH/sida, dependentes de álcool ou de drogas;
- que pertençam a comunidades com risco elevado de tuberculose, sendo identificadas ao nível local pelas unidades de saúde pública;
- que vão viajar para países com muitos casos de tuberculose. Essa decisão está dependente de uma avaliação do risco, caso a caso. Por isso, se está a pensar viajar, marque uma consulta do viajante. Angola, África do Sul e Rússia, por exemplo, são países onde a tuberculose está muito presente (cerca de 40 casos por 100.000 habitantes).
Esta é a recomendação da Organização Mundial da Saúde, tendo em conta a baixa incidência de tuberculose no País, o bom nível de cuidados de saúde e o controlo da doença na comunidade. A maioria dos casos notificados pertence a grupos de risco, e a vacinação universal não tem ganhos para a saúde pública.
Uma das reações mais frequentes causada pela vacina BCG no local da picada é a formação de um nódulo vermelho que evolui para uma vesícula, seguida de uma úlcera, em duas a quatro semanas. Esta reação desaparece em dois a cinco meses, deixando uma cicatriz superficial. Ocasionalmente pode observar-se um inchaço a nível dos gânglios linfáticos axilares, após dois a quatro meses da vacinação. Não necessitam de qualquer tratamento.
É uma doença muito contagiosa causada pelo vírus VHB que ataca o fígado e pode causar doença aguda ou crónica. Transmite-se através do sangue, da saliva e do sémen. Manifesta-se, muitas vezes, por um amarelecimento da pele e dos olhos. Em cerca de 5 por cento dos casos a hepatite B em adultos torna-se crónica, podendo provocar cirrose hepática e cancro do fígado. Nos casos mais graves pode ocorrer insuficiência hepática (falência do funcionamento do fígado).
A vacina da hepatite B (VHB) é administrada a todos os recém-nascidos. É recomendada a administração de uma segunda dose aos 2 meses de idade e de uma terceira dose aos 6 meses de idade. A eficácia desta vacina depende da administração de todas as doses recomendadas.
Os adultos que ainda não foram vacinados têm todo o interesse em fazê-lo (embora tenham de pagar a vacina). Todos os profissionais dos serviços de saúde que não tenham funções estritamente administrativas têm direito à vacinação contra a hepatite B, no âmbito do PNV. A vacinação de profissionais não-vacinados não carece de controlo serológico prévio. Esta doença é muito contagiosa e não tem cura certa. Além disso, os estudos provam que a vacina contribui para diminuir os casos de cancro do fígado.
Após a vacinação completa, não é necessário fazer análises para controlar o efeito desta, a não ser em grupos específicos de pessoas, como os imunodeprimidos. Estudos recentes revelaram que a vacina confere uma proteção duradoura, mesmo quando os anticorpos no sangue ficam baixos, pelo que não se justifica fazer reforços na generalidade das pessoas.
A vacina contra a hepatite B pode provocar inchaço no local da injeção, febre, cansaço e dores de cabeça. Mas estes sintomas são passageiros.
A difteria é uma doença contagiosa causada por uma bactéria que afeta sobretudo a garganta e as vias aéreas superiores. Transmite-se através das gotículas de saliva transmitidas pelo espirro ou pela tosse. Obstrução das vias respiratórias, problemas renais e inflamações do músculo cardíaco (miocardite) são algumas das suas complicações mais graves. Se for tratada a tempo, cura-se com facilidade.
O bacilo do tétano entra no organismo através das feridas, mesmo as menos graves. Pode produzir uma toxina muito perigosa, que ataca os nervos que controlam os músculos. Provoca paralisia dos músculos dos maxilares, da face, da nuca e das costas. Os espasmos da garganta e dos músculos respiratórios levam à morte por asfixia. Os casos de tétano registados em Portugal nos últimos anos ocorreram em adultos, o que indicia algum descuido na vacinação.
A tosse convulsa é originada por uma bactéria, que ataca os brônquios e as vias respiratórias superiores. Transmite-se através de gotículas de saliva expelidas pelo espirro ou pela tosse. Também pode ser transmitida pelo contacto com objetos contaminados com secreções do doente. Manifesta-se por corrimento nasal, febre moderada e muita tosse, por vezes, acompanhados de vómitos. Os ataques de tosse são muito violentos e podem prolongar-se durante semanas e degenerar em bronquite, pneumonia ou em graves complicações respiratórias e nervosas.
No Programa Nacional de Vacinação (PNV) está contemplada a administração de cinco doses da vacina pertussis acelular (DTPa) contra a difteria, tétano e tosse convulsa segundo o esquema: 2, 4, 6, 18 meses e 5 anos. Esta vacina é dada apenas aos dois meses nos bebés, e para evitar este período sem imunidade, as grávidas são vacinadas para poderem transmitir a imunidade aos filhos, deixando-os protegidos entre o nascimento e a administração da primeira dose.
Posteriormente e durante toda a vida, recomendam-se a toma das vacinas de reforço contra o tétano e a difteria (vacina Td). Para os reforços desta vacina, devem ser aplicados os intervalos recomendados entre doses, de acordo com a idade, tendo como referência a data de administração da dose anterior. Em pessoas com idade igual ou superior a 18 anos, a dose seguinte deve ser administrada com um intervalo de 20 anos. A partir dos 65 anos de idade, recomenda-se a vacinação de todas as pessoas que tenham feito a última dose de Td há 10 anos ou mais anos, e as doses seguintes são administradas de 10 em 10 anos.
O Programa Nacional de Vacinação inclui a vacina contra um tipo de meningite, a provocada pela bactéria Haemophilus influenzae B. Esta doença contagiosa é particularmente perigosa para os bebés, estando na origem de infeções e surdez. Nalguns casos, pode ser fatal. Esta bactéria é também causa de outras doenças, como a infeção da epiglote, das articulações ou pneumonia.
A vacina previne infeções por aquela bactéria. O local da injeção pode inchar, e a criança pode ter febre e erupções cutâneas.
Esta doença infecciosa, também conhecida por paralisia infantil, é provocada por um vírus que ataca sobretudo as crianças. É transmitido de pessoa para pessoa através de gotículas, pelo contacto direto com secreções faríngeas ou, menos frequentemente, pelo consumo de água ou alimentos contaminados.
O risco de contrair poliomielite diminuiu com as campanhas de vacinação massiva e o número de casos reportados diminuiu mais de 99 por cento desde 1988.
Tendo em conta as graves sequelas da doença, é fundamental continuar a vacinar as crianças em todos os países. É a única forma de erradicar a doença. É importante estar protegido se viajar para países com poliomielite (alguns destinos de África e Ásia, por exemplo).
A vacina é designada no boletim de vacinas por VIP. Os efeitos adversos incluem as seguintes reações locais mais frequentes: enduração e eritema, que duram 2 a 3 dias.
As doenças meningocócicas, como a meningite (doença causada pela inflamação das meninges, que são as membranas protetoras do cérebro e da medula espinal) e a septicemia (infeção generalizada no organismo), são causadas pela Neisseria meningitidis ou meningococo. Esta ataca com maior frequência as crianças e é transmitida por via respiratória.
Existem vários grupos desta bactéria (os chamados serogrupos), sendo o B e o C dos mais importantes. Estes serogrupos são responsáveis, nomeadamente, pelas meningites B e C. A primeira manifesta-se por febre com início súbito, dores de cabeça, náuseas, vómitos e rigidez na nuca, podendo também surgir manchas rosadas em todo o corpo. A segunda caracteriza-se por febre, mal-estar, prostração e erupção cutânea. Ambas podem evoluir rapidamente, deixar sequelas graves, como surdez ou problemas mentais, e mesmo causar a morte.
Em 2020, o Programa Nacional de Vacinação passou a incluir no seu esquema vacinal recomendado, a vacinação de todas as crianças, aos 2, 4 e 12 meses de idade contra doença invasiva por Neisseria meningitidis do grupo B (vacina MenB).
A vacina contra a neisseria meningitidis do grupo C já fazia parte do Programa Nacional de Vacinação (PNV) e a sua administração consiste numa dose única aplicada aos 12 meses.
As vacinas são meios eficazes de prevenção com poucos efeitos adversos. As crianças com menos de dois anos reagem com choro, irritabilidade, alterações do sono, náuseas, diarreia, dor abdominal e vómitos. A partir desta idade, além da irritabilidade e sonolência, podem surgir dores de cabeça e nos membros.
O sarampo é uma infeção viral muito contagiosa que é comum em crianças. Caracteriza-se por febre, tosse, conjuntivite, corrimento nasal e manchas vermelhas na pele. Transmite-se por contacto direto com gotículas infeciosas ou por propagação no ar quando a pessoa infetada tosse ou espirra. As suas complicações, incluem inflamações no cérebro (encefalite) e nos pulmões (pneumonia).
A papeira é uma doença viral transmissível que se caracteriza pela inflamação das glândulas, sobretudo das parótidas (salivares), e dos testículos. Manifesta-se através de dores de ouvidos e inchaço facial. Transmite-se de pessoa para pessoa através da tosse, dos espirros e da saliva, bem como pelo contacto com objetos e superfícies contaminadas. A incidência da doença baixou entre 1987 (ano em que a vacina foi introduzida no Programa Nacional de Vacinação) e 1993, voltando a subir a partir de 1994, devido a uma alteração do vírus. Mesmo assim, é aconselhável continuar a vacinação. Nas crianças vacinadas, a papeira tem sido menos grave.
A rubéola é uma infeção viral contagiosa que se caracteriza pelo aparecimento de erupções vermelhas na pele e que se transmite pelo contacto com secreções nasofaríngeas por dispersão de gotículas de pessoas infetadas ou pelo contacto direto com uma pessoa infetada com o vírus. Quase não representa perigo para as crianças, mas, se surgir durante a gravidez, o bebé pode nascer surdo, cego ou com problemas mentais. Com a vacina, protege-se a criança e evita-se que a grávida venha a contrair a doença, por contágio. As mulheres que pretendam engravidar devem verificar, através de uma análise ao sangue, se estão imunizadas contra a rubéola. Se não estiverem, convém vacinarem-se e não deverão engravidar nos três meses seguintes.
O Programa Nacional de Vacinação inclui uma vacina contra o sarampo, papeira e rubéola (VASPR). Está recomendada a administração de duas doses desta vacina: a primeira aos 12 meses e a segunda aos 5 anos. Os efeitos adversos locais mais frequentes (nas primeiras 24 horas) incluem: dor, vermelhidão, tumefação e sensibilidade, que duram entre dois e três dias. Estas reações são menos frequentes após a segunda dose.
A vacina contra infeções pelo vírus do papiloma humano (HPV) é dada aos dez anos a raparigas e rapazes. São administradas duas doses e deve haver um intervalo de seis meses entre as mesmas.
Este vírus, conhecido por HPV,é responsável por várias doenças, incluindo cancro no colo do útero, na vagina, na vulva, no ânus e na orofaringe, no caso das mulheres. Nos homens, está, sobretudo, associado ao desenvolvimento de condilomas (verrugas) genitais, cancros do ânus, do pénis, da cabeça e pescoço e neoplasias intraepiteliais do pénis e ânus. Transmite-se facilmente por contacto sexual.
Existem vários tipos de HPV. A vacina protege contra nove genótipos de HPV, ou seja, 90% dos que estão associados ao cancro do colo do útero. É mais eficaz se aplicada antes do primeiro contacto com o vírus, mas também pode ser útil em mulheres já infetadas, já que reduz a probabilidade de ativação de vírus "adormecidos" e de lesões no útero. No entanto, a vacina não protege contra todas as causas de cancro, pelo que é essencial efetuar o rastreio do cancro do colo do útero, através da citologia vaginal, e usar preservativo.
Nos homens, não há rastreio de doenças associadas ao HPV: a proteção durante as relações sexuais e a vacina são as únicas formas de reduzir o risco.
Os efeitos indesejáveis mais frequentes da vacina são febre, dor e comichão no local da picada. Este pode ainda ficar duro e vermelho.
A infeção por Streptococcus pneumoniae é uma causa importante de morbilidade e mortalidade sendo responsável, segundo a Organização Mundial da Saúde, por aproximadamente 1,6 milhões de mortes por ano em todo o mundo, constituindo globalmente a principal causa de morte prevenível através da vacinação.
Fatores como idade, a presença de comorbilidades crónicas (doença cardiovascular, pulmonar, renal, hepática e diabetes mellitus), situações de imunodeficiência e alguns estilos de vida (como o alcoolismo ou o tabagismo) podem aumentar o risco de doença pneumocócica. O maior número de casos Doença Invasiva Pneumocócica (DIP) verifica-se no primeiro ano de vida e acima dos 65 anos.
Em Portugal, estão disponíveis dois tipos de vacinas contra Streptococcus pneumoniae (S. pneumoniae): a Prevenar 13®, vacina conjugada contra infeções por S. pneumoniae de 13 serotipos (Pn13), e a Pneumovax 23®, vacina polissacárida contra infeções por S. pneumoniae de 23 serotipos (Pn23).
Estas vacinas protegem contra a pneumonia (infeção pulmonar) causada por S. pneumoniae, e atuam contra alguns serotipos causadores de meningite, infeção que pode causar sequelas graves ou mesmo a morte. A Prevenar 13® previne ainda a otite média aguda causada por S. pneumoniae em lactentes, crianças e adolescentes.
O Programa Nacional de Vacinação (PNV) prevê a vacinação gratuita de todas as crianças com a Prevenar 13® aos 2, 4 e 12 meses. Prevê também, a vacinação gratuita para crianças e jovens com menos de 18 anos e com risco acrescido de contrair doença invasiva pneumocócica (DIP). Estas crianças e jovens serão vacinados mediante apresentação de declaração médica, referindo a sua inclusão num grupo de risco (definido de acordo com as recomendações da DGS). A vacinação será feita tendo em conta a idade, sendo que idealmente deve seguir-se o seguinte esquema vacinal: Prevenar 13® aos 2, 4 e 12 meses de idade (PNV) e Pneumovax 23® aos 24 meses de idade.
O esquema vacinal para os adultos depende de alguns critérios definidos pela DGS. Está prevista a vacinação gratuita de maiores de 18 anos pertencentes a determinados grupos de risco clínico com as vacinas Prevenar 13® e Pneumovax 23®. Alguns exemplos desses grupos de risco incluem: os adultos com insuficiência respiratória crónica, com infeção por VIH, assim como os candidatos a transplante. Estes últimos, poderão beneficiar de vacinação gratuita, com ambas as vacinas, após serem incluídos na lista de espera ativa para transplante. Adicionalmente, a Pneumovax 23® é recomendada a todos os adultos com idade igual ou superior a 65 anos, para quem esta vacina é comparticipada a 69 por cento.
Os doentes com diabetes, doença cardíaca crónica ou doença hepática crónica, entre outros, terão comparticipação destas vacinas em 69 por cento se tiverem idade igual ou superior a 65 anos, ou em 37 por cento, se tiverem uma idade inferior e mediante apresentação de prescrição médica.
Os efeitos secundários decorrentes da toma destas vacinas são os normais em qualquer vacina: febre, qualquer dor, sensibilidade, vermelhidão, tumefação ou endurecimento no local da vacinação. Também pode registar-se diminuição do apetite, irritabilidade, sonolência ou aumento do sono, sono inquieto ou diminuição do sono, diarreia, vómitos e erupção cutânea. Tudo isto pode ser tratado com paracetamol.
A gastroenterite aguda é uma infeção comum nos primeiros anos de vida. Pode atingir qualquer criança. A maioria dos casos não necessita de hospitalização.
Os dados de internamentos em hospitais do SNS registados em crianças com menos de 6 anos de idade entre 2010 e 2017 indicaram que, em cada ano, são internadas cerca de 615 crianças com gastroenterite por rotavírus, resultando numa taxa de internamento anual de 310 por 100 000 crianças. A maioria dos internamentos hospitalares com diagnóstico de doença por rotavírus ocorreram em crianças com menos de 2 anos de idade e foram de curta duração (média de três a quatro dias). Em Portugal, nos últimos anos, não se registaram óbitos atribuíveis a doença por rotavírus em crianças.
Atualmente, há duas vacinas contra o rotavírus comercializadas em Portugal: a Rotarix®, que visa um genótipo do vírus; e a Rotateq®, cinco genótipos. Uma destas vacinas será adquirida pelo Serviço Nacional de Saúde e incluída, para grupos de risco, no Plano Nacional de Vacinação.
São elegíveis para iniciar a vacinação contra gastroenterite por rotavírus as crianças pertencentes aos grupos de risco com idade igual ou superior a seis semanas e:
- inferior a 16 semanas, caso a vacina a administrar seja a Rotarix®;
- igual ou inferior a 12 semanas, caso a vacina a administrar seja a Rotateq®.
São incluídas nos grupos de risco as crianças pré-termo, de baixo peso e portadoras das seguintes doenças graves, diagnosticadas à data do início da vacinação:
- doença cardiovascular grave;
- doença hereditária do metabolismo;
- doença hepática;
- doença renal;
- doença neurológica;
- outras (por exemplo, fibrose quística ou insuficiência respiratória crónica do lactente).
Introduzidas em Portugal em 2006, as vacinas contra o rotavírus são eficazes e seguras. Os esquemas vacinais recomendados dependem da vacina utilizada:
- no caso da vacina Rotarix®, são administradas duas doses, aos dois e aos quatro meses de idade;
- quanto à vacina Rotateq®, são administradas três doses, aos dois, quatro e seis meses.
A vacinação deve ser adiada em crianças com diarreia aguda ou vómitos. As vacinas Rotarix® e Rotateq® estão contraindicadas nas crianças em que a mãe recebeu tratamentos com fármacos imunossupressores biológicos durante a gravidez. A administração destas vacinas em lactentes que vivam com pessoas com imunodeficiência deve ser feita com precaução, devendo estes coabitantes evitar prestar cuidados de higiene à criança, nas quatro semanas após a vacinação. O contacto com indivíduos recém-vacinados deve ser feito com cuidados de higiene pessoal (por exemplo, lavar as mãos após mudar as fraldas à criança).
A varicela é uma doença contagiosa de origem viral que afeta, sobretudo, as crianças. O sintoma mais típico é a erupção da pele, as famosas “pintinhas”, que se generaliza por todo o corpo. Estas “pintinhas” são muito características, porque formam vesículas com líquido, que depois secam e ficam em crosta. Nessa fase, já não há perigo de contágio. Causa ainda comichão e, muitas vezes, febre e mal-estar. As complicações da doença são raras. Em regra, só se contrai varicela uma vez na vida.
Em Portugal, a vacina da varicela não está incluída no Programa Nacional de Vacinação, mas está autorizada pelo Infarmed e disponível para prescrição médica. A vacina da varicela é recomendada em adolescentes (entre 11 e 13 anos) e adultos suscetíveis. É também recomendada aos seguintes grupos de risco:
- mulheres não imunes antes da gravidez;
- pais de crianças jovens, não imunizados;
- adultos ou crianças que contactam habitualmente com doentes imunodeprimidos;
- indivíduos não imunes em ocupações de alto risco (trabalhadores de creches e infantários, professores, profissionais de saúde).
Se o seu filho tem entre 11 e 13 anos, dar-lhe a vacina da varicela é uma boa ideia. Se é mais pequeno, não vale a pena. A Organização Mundial da Saúde defende que esta vacina só é útil na infância se fizer parte do Programa Nacional de Vacinação e for dada a entre 85% e 90% das crianças. Como Portugal não a inclui no seu plano, administrá-la só a algumas tem riscos: pode alterar a epidemiologia da varicela no País e causar surtos da doença, que podem ser mais perigosos para as crianças.
Vacinar os adolescentes não provoca uma alteração da epidemiologia e permite protegê-los de formas graves de varicela. Quando não há certeza se o adolescente já teve a doença, a Sociedade Portuguesa de Pediatria recomenda que, antes de tomar a vacina, o médico assistente prescreva análises para determinar os anticorpos IgG à varicela.
A vacina não dá imunidade total contra o vírus. No entanto, pode ajudar a diminuir as consequências mais graves.
Existem duas vacinas: Varivax® e Varilrix®. Ambas estão autorizadas para crianças com mais de um ano, em doses de 0,5 mililitros.
A vacinação contra varicela requer a administração de duas doses, com intervalo mínimo de três meses, para as crianças entre 12 meses e 12 anos de idade. A partir dos 13 anos o intervalo deve ser entre quatro e oito semanas (Varivax®) ou entre seis e oito semanas (Varilrix®).
Até seis semanas após a administração da vacina, a criança (ou adulto) deve evitar contactar indivíduos suscetíveis, nomeadamente: indivíduos com um sistema imunitário enfraquecido, mulheres grávidas que nunca tenham tido varicela ou recém-nascidos cujas mães nunca tenham tido varicela.
Não devem tomar a vacina as crianças:
- com o sistema imunitário fragilizado;
- com antecedentes de alergia a qualquer um dos ingredientes da vacina contra a varicela, à gelatina ou neomicina;
- com doenças sanguíneas, leucemia, linfomas ou outros tumores malignos que afetam o sistema circulatório e linfático;
- com tuberculose ativa não tratada;
- que façam tratamento regular com imunossupressores (doses elevadas de corticosteroides contam).