Preços do azeite virgem extra em queda
O óleo alimentar já custa menos do que no início de 2022. No azeite, os preços estão a cair desde abril, mas os produtores avisam que já não voltam aos valores de há dois anos.

O início da guerra na Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022, foi o ponto de partida para a subida dos preços dos bens alimentares em todo o mundo. Em Portugal, ao fim de um ano de conflito, o cabaz alimentar de 63 bens essenciais monitorizado pela DECO PROteste já tinha aumentado 42,97 euros, de 183,63 euros para 226,60 euros. Mas a evolução não foi igual para todos os produtos. Ao longo de 2022, enquanto o preço de alguns alimentos, como o óleo alimentar, descia depois de uma subida a pique, outros, como o do azeite virgem extra, começaram a subir e estão longe de voltar aos valores de janeiro de 2022.
Óleo alimentar mais barato do que antes da guerra
A Ucrânia era, até à história recente, um dos maiores produtores mundiais de óleo de girassol. Com a produção comprometida, devido à invasão da Rússia, os preços dos óleos vegetais atingiram máximos históricos em todo o mundo. Em Portugal, a 23 de fevereiro de 2022, véspera da guerra, um litro de óleo alimentar custava, em média, 2,43 euros. Cinco semanas depois, a 30 de março de 2022, tinha atingido já o preço mais alto alguma vez registado pela DECO PROteste: 3,87 euros (mais 59,45 por cento). Depois de vários meses em alta, em junho de 2022, o preço deste produto começou a descer, terminando o ano a custar 2,87 euros, um valor, ainda assim, 44 cêntimos mais elevado do que o registado antes do conflito armado.
Mas foi quando o Governo assinou um acordo com o retalho e a produção agroalimentar nacionais para isentar de IVA um conjunto de 46 alimentos, que o óleo, até então taxado a 23%, começou a ver o seu preço descer de forma mais significativa. Se, a 17 de abril de 2023, um dia antes de o IVA a zero por cento ter entrado em vigor, uma garrafa de um litro custava 3,04 euros, apenas dois dias depois, a 19 de abril de 2023, custava já 2,70 euros. O valor mínimo, de 1,86 euros, foi atingido a 27 de setembro de 2023. Com o fim do IVA zero, a 5 de janeiro de 2024, o óleo alimentar passou a ser taxado a 13%, o valor intermédio de IVA. A reposição deste imposto fez disparar os preços, e, apenas alguns dias depois, a 10 de janeiro, o óleo custava já 2,33 euros, mais 41 cêntimos do que no último dia em que o IVA zero esteve em vigor. No entanto, desde 6 de março deste ano, o preço do óleo alimentar tem estado sempre abaixo de 2,30 euros. A 28 de agosto, uma garrafa custava 2,16 euros, menos 13 cêntimos (menos 5,74%) do que a 5 de janeiro de 2022, quando a DECO PROteste começou a monitorizar os preços dos bens alimentares.
Preço do azeite em queda desde abril
No caso do azeite, ao contrário do que aconteceu com o óleo alimentar, não foi logo após o início da guerra na Ucrânia que se registou o aumento de preço mais significativo. A 5 de janeiro de 2022, uma garrafa de 75 centilitros de azeite virgem extra custava 4,46 euros. Mais de dois anos e meio depois, este produto estava 4,24 euros (mais 95%) mais caro. A 28 de agosto de 2024, para comprar a mesma garrafa de 75 centilitros, o consumidor tinha de gastar, em média, 8,71 euros.
O ano que marca o início da guerra na Ucrânia, 2022, terminou com uma garrafa de azeite virgem extra a custar 5,85 euros. Contas feitas, foram mais 1,38 euros (mais 30,97%) em comparação com a primeira semana de 2022. Um ano depois, a 27 de dezembro de 2023, este produto já custava 9,44 euros, mais 4,98 euros do que em janeiro de 2022 (mais 111,49 por cento). Os dados recolhidos pela DECO PROteste ao longo dos meses mostram que a implementação do IVA zero, a 18 de abril de 2023, até ajudou a controlar as subidas no preço deste produto. No entanto, em setembro de 2023, esse efeito deixou de se fazer sentir na carteira dos consumidores. Nesse mês, o preço do azeite virgem extra voltou a disparar e, em janeiro de 2024, no último dia em que o IVA zero vigorou, para comprar uma garrafa de azeite já era preciso gastar, em média, 10,65 euros. Na primeira semana de abril de 2024, este produto atingiria o preço mais alto registado pela DECO PROteste, ao subir para os 12 euros, mais 7,53 euros do que no início de 2022 (mais 168,71 por cento).
Desde então, como mostram os dados da organização de consumidores, o preço tem vindo a descer, com o valor mais baixo do ano a registar-se no dia 7 de agosto, quando uma garrafa de 75 centilitros de azeite virgem extra passou a custar 8,48 euros.
Produtores avisam que preços não vão recuar para os valores de 2022
A perspetiva de uma boa produção de azeitona em Espanha e em Portugal, na campanha de 2024/2025, está a inverter a curva do preço do azeite. Mas os produtores avisam que dificilmente os valores vão regressar aos de há dois anos. Questionada pela DECO PROteste, Susana Sassetti, diretora executiva da Olivum, uma das maiores associações de olivicultores do País, explica que, para o aumento do preço do azeite em Portugal nos últimos dois anos, contribuiu, sobretudo, a quebra de produção de azeitona em Espanha, devido à seca.
"Uma vez que Espanha é o maior país produtor de azeite ao nível mundial, houve falta de azeite no mercado, e os preços aumentaram. Em Portugal, apesar de a produção de azeitona ter sido boa, o preço do azeite também aumentou, porque estamos dependentes dos preços que são definidos ao nível mundial", justifica. Esta subida dos preços, afirma a diretora executiva da Olivum, "resultou numa quebra de cerca de 30% no consumo de azeite pelos portugueses". No entanto, "com a descida do preço esperada nos próximos tempos, prevê-se que esta procura possa voltar a aumentar".
Sobre a produção deste ano em Portugal, Susana Sassetti adianta que "se espera que seja boa, embora ainda seja cedo para avançar números". De acordo com a diretora executiva da Olivum, Espanha terá um aumento na produção, o que "deverá, em breve, originar uma diminuição do preço", já que qualquer flutuação de custo no maior produtor mundial de azeite tem reflexo noutros mercados.
Ainda assim, a representante dos produtores nacionais avisa que não se prevê "que o preço do azeite volte para o valor que tinha antes, uma vez que os aumentos registados também tiveram em conta um incremento nos custos dos fatores de produção".
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