Notícias

Serra da Estrela: o que ver e fazer no inverno entre neve, vales e aldeias de montanha

Suba ao topo de Portugal e desça por vales gelados e aldeias fumegantes. A Serra da Estrela revela no inverno o lado mais puro e deslumbrante. Este é um convite para sair de casa agasalhado e ir conhecer a principal serra portuguesa.

Editor:
26 novembro 2025
Paisagem da Serra da Estrela

iStock/Cristina Menezes

O resto do País cobre-se de chuva. A Serra da Estrela veste-se de branco. É aqui, no ponto mais alto de Portugal Continental, que o inverno mostra todo o esplendor, entre montes cobertos de neve e vales adormecidos pelo frio.

Estamos em pleno Parque Natural da Serra da Estrela, classificado como Geoparque Mundial pela Unesco em 2020. As encostas, que, durante os meses mais quentes, se encheram de verde, flores e rebanhos de ovelhas e cabras, dão agora lugar a uma paisagem mais branca, isolada e silenciosa.

Para muitos, é o destino por excelência neste período. É lá que se encontra a única estância de neve do País. Quando o tempo o permite e as estradas estão desimpedidas, é no inverno que a Serra da Estrela se revela na sua forma mais pura.

Covilhã é ponto de partida, o pulsar dos lanifícios

Com a serra ali ao lado, esta cidade da Beira Interior desenvolveu-se, primeiro, com a indústria dos lanifícios e, agora, por albergar uma das principais universidades do País. O passado industrial e o presente criativo cruzam-se nas antigas fábricas, hoje convertidas em museus e espaços de arte.

O Museu dos Lanifícios, localizado na Universidade da Beira Interior, é prova disso mesmo. Os núcleos museológicos que ocupam os antigos edifícios da Real Fábrica de Panos e da Real Fábrica Veiga contam a história da indústria têxtil na Covilhã e a relação da cidade com a lã e a Serra da Estrela. Uma ligação presente noutras localidades que terá oportunidade de visitar ao longo da viagem.

O centro histórico é imperdível, não só pela Igreja de Santa Maria Maior, com a fachada coberta de azulejos azuis, como também pelo pelourinho manuelino, em frente aos antigos Paços do Concelho. É nesta zona que estão a maioria dos 59 murais que integram a coleção WOOL | Covilhã Arte Urbana. As pinturas coloridas emergem por entre o castanho e o cinzento dos edifícios mais antigos, dando vida à cidade e lembrando o passado e a tradição que a tornam especial.

Rumo à Torre

Saindo da Covilhã, está na hora de subir ao ponto mais alto da Serra da Estrela: a Torre. A 1993 metros de altitude, é um símbolo do parque natural e paragem obrigatória.

Partem também daqui alguns dos principais trilhos, como a Rota do Maciço Central, ideal se quiser explorar o coração geológico da serra, ou a Rota do Vale Glaciar do Zêzere, um dos percursos pedestres mais emblemáticos e fotogénicos. Contudo, evite fazê-las no inverno, devido às baixas temperaturas e à formação de gelo e de neve.

Contente-se com as incríveis vistas, que em dias descobertos se estendem até à vizinha Espanha, ou espreite as pequenas lojas que vendem o famoso queijo da Serra, enchidos e artigos feitos em tecido de burel. 

Está a nevar? Procure nas imediações pequenas zonas delimitadas para brincar, deslizar com trenós ou fazer caminhadas. Se quiser algo mais "sério", a Estância de Ski da Serra da Estrela fica a um quilómetro e meio da Torre e abre quando as condições são favoráveis à prática das modalidades de neve. Confirme se está aberta com a Turistrela, antes de se pôr a caminho.

Entre vales e aldeias de montanha

Depois de explorar o topo da montanha, está na hora de começar a descer, rumo a Manteigas. Pelo caminho, entre as encostas das formações rochosas conhecidas como os Três Cântaros (Cântaro Magro, Cântaro Gordo e Cântaro Raso), surge o Covão d’Ametade, um dos lugares mais fotogénicos da Serra da Estrela.

Quando as temperaturas caem, este vale glaciar transforma-se com árvores cobertas de branco, o rio Zêzere a correr sob camadas finas de gelo e o silêncio da montanha a convidar à contemplação.

Já em Manteigas, o fumo que sai das chaminés e o cheiro a lenha pelo ar são como um abraço à alma. As casas de granito e as ruas estreitas convidam à descoberta da tradição serrana. A vila tem lojas e mercearias tradicionais onde é possível comprar aos produtores. O queijo da Serra da Estrela é um dos produtos emblemáticos. 

É quando o provamos aqui que entendemos o que está na base do sabor elaborado com o leite cru das ovelhas bordaleiras e o saber transmitido de geração para geração. O mesmo no que toca ao pão que o acompanha, produzido com o centeio habituado ao clima de altitude, colhido durante os meses de verão.

E, em Manteigas, pode visitar a Burel Factory, um espaço para ver o processo artesanal de fabrico do burel, um tecido 100% em lã, típico da serra. Esta é uma tradição antiga que tem vindo a ser reinventada para a moda e o design contemporâneo.

O pão não lhe sai da cabeça? Siga rumo a Seia, para visitar o Museu do Pão, um espaço que conta a história deste alimento que acompanhou gerações de pastores e famílias da montanha.

Mas, antes, pelo caminho, tem as Penhas Douradas, um território onde o granito é rei, e o Vale do Rossim, conhecido pela sua praia fluvial no verão, mas que, no inverno, é um dos melhores lugares para sentir a imensidão da serra.

Entregue às paisagens

Após visitar Seia, sugerimos ir até ao Sabugueiro. Dizem que é a aldeia mais alta de Portugal, embora o título seja disputado por outras. Esta é uma das mais genuínas.

Com o frio, as ruas empedradas ficam desertas, mas nas casas o lume nunca se apaga. É o retrato da vida na serra: dura, simples, mas enraizada no território.

Por entre as casas de granito que se estendem para lá do adro da igreja, espreita um ou outro cão da Serra da Estrela, uma raça autóctone, que agora está de "férias" do seu rebanho de ovelhas.

Nove quilómetros separam o Sabugueiro da Lagoa Comprida, e é para lá que seguimos. À chegada, encontra um miradouro que lhe proporciona uma vista incrível sobre uma das maiores albufeiras de montanha do País. É também daqui que parte o trilho pedestre até ao Covão dos Conchos, o qual ficou famoso pelo curioso sumidouro no centro da lagoa, que desvia aquelas águas para a Lagoa Comprida. No inverno, a combinação de neve, gelo e água em movimento transforma este covão num cenário singular.

O trilho começa junto à barragem da Lagoa Comprida, acessível pela estrada do Sabugueiro, e são cerca de cinco quilómetros de caminhada por um planalto de granito exposto ao vento e ao frio nesta altura do ano. Percorrao apenas com boas condições meteorológicas e munido de roupa e calçado apropriados. O piso pode estar escorregadio.

Um até já à serra

A viagem termina no anfiteatro natural de Loriga. Localizada num vale formado por antigos glaciares há milhares de anos, a aldeia é rodeada por escarpas imponentes, que criam uma paisagem extraordinária.

Conhecida pela praia fluvial, uma das mais belas do interior do País, Loriga convida no inverno a trocar os mergulhos por passeios pelas ruas de granito com vários fontanários, a percorrer as escadas íngremes que sobem a montanha ou a visitar a bonita igreja matriz.

Seja no interior de Loriga ou à medida que fazemos a estrada de montanha que nos leva pelas várias vilas e aldeias da Serra da Estrela, cada curva nos revela uma montanha que está viva, mesmo que submersa no gelo ou na neve.

Apesar de aparentemente adormecido por estes dias, o território surpreende pela grandiosidade da sua natureza, pelas histórias e tradições e pelos sabores e saberes locais.

Informações úteis

Em Seia, o custo mínimo da viagem a dois, de 13 a 19 de dezembro, é de 324 euros. Inclui alojamento em hotel de três estrelas com pequeno-almoço. Com a agenda mais apertada? O programa de fim de semana em Seia (12 a 14 de dezembro) começa nos 108 euros. 

Com uma oferta mais diversificada na Covilhã e alojamento em hotel de quatro estrelas com pequeno-almoço, a estada custa, no mínimo, 421 euros. Já o fim de semana de 12 a 14 de dezembro custa desde 236 euros. Os preços foram recolhidos online a 28 de outubro para estes dois destinos e área envolvente (até cinco quilómetros).

Quando ir

O inverno é a estação mais marcante da Serra da Estrela. Para apanhar paisagens pintadas de branco, aponte a viagem para dezembro ou janeiro, após os primeiros nevões. Se não suporta o frio, guarde esta reportagem para a primavera ou o outono, quando os locais estão repletos de cor e as temperaturas são mais amenas.

Como chegar

O Parque Natural da Serra da Estrela abrange os concelhos de Covilhã, Manteigas, Seia, Gouveia, Celorico da Beira e Guarda. Sai de Lisboa ou do Porto? Prepare-se para três horas de viagem até à serra. Uma vez lá, a EN339, a EN338 e a EN232 são as estradas de montanha que ligam as principais localidades e que permitem atravessar o parque de forma panorâmica.

Levar na mala

Casal ou família, todos preparados para o frio. Roupa térmica e impermeável é a melhor opção. No inverno, a temperatura chega a descer abaixo dos 0ºC. Leve botas com boa aderência, gorro, luvas e protetor solar, dado que a radiação solar em altitude pode ser forte.

 

O conteúdo deste artigo pode ser reproduzido para fins não-comerciais com o consentimento expresso da DECO PROTeste, com indicação da fonte e ligação para esta página. Ver Termos e Condições.

Temas que lhe podem interessar