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Ilha de São Jorge: o que visitar, fazer e provar no paraíso das fajãs dos Açores

Entre falésias e fajãs, a Ilha de São Jorge propõe uma viagem de caminhadas e mergulhos, a provar os sabores açorianos e a ir ao encontro de uma natureza que conquista a cada passo. Aqui o tempo ganha-se em anos de vida.

Editor:
30 setembro 2025
Fajã de Santo Cristo, na Ilha de São Jorge, Açores

Marlene Marques

Quem visita os Açores fica maravilhado. Não há ilha que não surpreenda com a sua beleza natural, sabores típicos e histórias de portugueses resilientes, que se adaptaram a territórios que tanto têm de duro como de bonito. Assim também é com a Ilha de São Jorge.

Parte do triângulo que a junta com o Pico e o Faial, São Jorge é, das três ilhas, a que mais se assemelha a um segredo pouco contado. Se o Pico se destaca com a sua montanha, e o Faial com o seu vulcão dos Capelinhos, São Jorge brilha com as suas fajãs.

Como chegar a São Jorge

O primeiro ponto de contacto é Velas, a "capital" da ilha. A pequena vila é porto de chegada para os barcos que trazem os visitantes das outras ilhas. Há quem chegue por avião, mas a via marítima é a mais usada, sobretudo por quem faz o "triângulo" numa só viagem.

Com os olhos no Pico, Velas é um emaranhado de pequenas casas brancas, varandas de ferro forjado construídas em fachadas decoradas com pedra basáltica. Cresceram à volta do porto e caracterizam o centro histórico desta localidade, que pouco mais tem do que a marina, de onde saem os tours para ir ver baleias e golfinhos, uma bonita igreja matriz, o jardim municipal com o bem conservado coreto, e alguns cafés onde pode provar as rosquilhas, também conhecidas por Espécies de São Jorge. Mas Velas quer-se assim, simples e bonita, o sítio perfeito para começar.

Saindo do centro de Velas e passando pela localidade da Beira, chega à Uniqueijo, a maior produtora do Queijo São Jorge DOP, a qual representa várias cooperativas locais. Não fazem visitas guiadas, mas é possível comprar queijos nesta cooperativa e aprender mais sobre o fabrico. Regresse quando estiver de saída de São Jorge, para comprar alguns queijos para levar para casa.

Rumo a norte para a Poça Simão Dias

Siga para o norte da ilha, para visitar um dos sítios naturais mais bonitos de São Jorge: a Poça Simão Dias. Mesmo antes de chegar, pare no Miradouro da Fajã do Ouvidor. Situado na freguesia do Norte Grande, este é um dos miradouros mais conhecidos da ilha. Oferece uma vista extraordinária sobre uma das maiores fajãs de São Jorge. Num dia claro pode inclusive ver as ilhas Graciosa e Terceira. 

Na Fajã do Ouvidor existem alojamentos e comércio local, um porto de pesca, e uma pequena ermida construída em 1903, mas o verdadeiro tesouro está na Poça Simão Dias. 

Rodeada por impressionantes colunas de pedra, que se formaram pela lava que ali arrefeceu e formou grandes falésias de basalto, este é um paraíso natural da Ilha de São Jorge. Reserve tempo para visitar o local e refrescar-se com mergulhos na água azul-esmeralda.

Aventura pelas fajãs

Falar de São Jorge é falar das suas fajãs. Estas formações geológicas caracterizam de forma única a paisagem e até a identidade da ilha. Mais do que um fenómeno natural, ditam desde a sua formação a história e a vivência dos jorgenses. 

Resultantes de escoadas de lava que avançaram até ao mar ou pelo desabamento de terra e rocha, estas zonas costeiras acabam por estar protegidas do vento e tendem a desenvolver microclimas próprios, tornando-se ideais para a agricultura. 

Em São Jorge existem 70 fajãs que integram a Reserva da Biosfera das Fajãs de São Jorge, sendo a da Caldeira de Santo Cristo e a dos Cubres duas das mais conhecidas. 

Classificada como Reserva Natural em 1984, a Fajã da Caldeira de Santo Cristo parece um mundo à parte. Praticamente isolada da restante ilha, para lá chegar, terá de fazer o trilho que parte da Serra do Topo, a cerca de 700 metros de altitude, numa descida contínua de cinco quilómetros até à fajã, ou sair do Lugar da Fajã dos Cubres, por um caminho costeiro, mas mais leve, de quatro quilómetros. 

Para ter a experiência completa, opte por um dia de passeio fazendo o trilho PR01 SJO, que parte do Parque Eólico da Serra do Topo, passa pela Caldeira de Santo Cristo e termina na Fajã dos Cubres, junto à Igreja da Nossa Senhora de Lourdes. Pelo caminho passará por bonitas zonas de vegetação e cascatas, já para não falar do primeiro impacto ao ver a Caldeira de Santo Cristo.

A Fajã da Caldeira de Santo Cristo distingue-se por ter uma grande lagoa que alberga várias espécies marítimas, mas a mais importante são as amêijoas. É o único local nos Açores onde se cultiva comercialmente este molusco, bem maior do que aquele que encontra em Portugal Continental.

Prove a iguaria no café-restaurante local ou noutras partes da ilha. Dado ser uma espécie protegida, esta amêijoa tem um período de defeso que vai de 15 de maio a 15 de agosto. Se estiver de visita por esta altura, pode bem estar a comer amêijoa que foi congelada, mas que nem por isso deixa de ser deliciosa. 

Aproveite para passear pelos caminhos que percorrem a fajã e visitar a pequena Igreja do Senhor de Santo Cristo. Não estranhe se se cruzar com vários surfistas. Este é um lugar único para a prática da modalidade. 

Além da Fajã da Caldeira de Santo Cristo e da Fajã dos Cubres, outras destacam-se na reserva, como a Fajã das Almas, a Fajã da Fragueira ou a Fajã dos Vimes. Nesta última, pare no Café Nunes, o único sítio da Europa que cultiva, processa e serve o seu café. 

Estamos a falar de um espaço pequeno e familiar que cultiva centenas de plantas de café arábica no terreno mesmo atrás da casa, e onde o processo, da colheita à torra, é feito de forma artesanal. Prove-o com uma queijada de café ou de inhame e pergunte se pode fazer uma visita. Aproveite para conhecer a casa de artesanato onde fazem os famosos tapetes jorgenses.

Da Ponta ao Pico

Não só de fajãs se faz uma visita a São Jorge. Pode viajar até à Ponta do Topo, no extremo sudoeste da ilha, para visitar uma das áreas mais antigas do ponto de vista geológico, com formações basálticas com mais de 1,3 milhões de anos. Pare no Miradouro do Topo, junto à estrada regional, e no Farol da Ponta do Topo, construído em 1927, e ainda em operação com faroleiros residentes.

Por último, vá até ao centro da ilha para subir o Pico da Esperança, o ponto mais alto de São Jorge. Com 1053 metros de altitude, oferece uma vista a 360º para o oceano e as ilhas vizinhas, numa paisagem marcada por crateras vulcânicas e pastagens verdes. A subida faz-se por uma estrada de terra que leva até ao cume – leve um agasalho (pode estar frio e vento no topo). 

Se tiver tempo, vá também à Ponta dos Rosais, no extremo noroeste da ilha. As falésias atingem por aqui os 260 metros de altura e oferecem uma paisagem única. Para chegar a este monumento natural, siga pelo trilho que parte do Parque das Sete Fontes e leva por um caminho de terra batida onde pode ver plantas locais, como a urze ou o não-me-esqueças, ou aves marinhas, como o garajau-rosado, o garajau-comum e o cagarro. 

No extremo da Ponta dos Rosais existe um farol. Foi em tempos um dos mais modernos do País, mas ficou inativo por questões de segurança após o sismo de 1980. 

De volta a Velas e antes de dizer adeus a São Jorge, porque não dar um último mergulho na Poça dos Frades? É uma das piscinas naturais mais conhecidas da zona sul e o sítio ideal para fechar com chave de ouro. E lembre-se de comprar o queijo, para levar um bocadinho de São Jorge consigo.

Informações úteis

O custo mínimo da viagem a dois, de 23 a 27 de outubro, é de 752 euros. Inclui alojamento em São Jorge em hotel de três estrelas com pequeno-almoço. Inclui voos de ida e regresso com uma escala. O ferry ida e volta São Jorge (Velas) - Faial (Horta) custa 50 euros por adulto. O ferry São Jorge (Velas) - Pico (São Roque) custa 34 euros. Os preços foram recolhidos online, a 8 de setembro.

Como chegar e circular na Ilha de São Jorge

A Sata Azores faz voos regulares para São Jorge, a partir de outras ilhas, como São Miguel ou a Terceira. Pode também chegar de ferry com a Atlânticoline, vindo do Pico ou do Faial. Na ilha, alugar um carro será a opção mais prática. Pode fazê-lo no Pico ou no Faial e trazer a viatura de ferry, mas confirme com a rent-a-car se autoriza o transporte. 

Equipamento essencial

Leve na bagagem o fato de banho e calçado para fazer trilhos. Um casaco impermeável ou corta-vento é aconselhável. Nunca está livre do tempo fazer das suas. Protetor solar e chapéu são essenciais. 

Melhor época para visitar

Entre junho e setembro, o mar é mais calmo e o clima mais estável, o que é ideal para fazer os trilhos. Porém, é a época em que encontra mais turistas. Para uma experiência mais tranquila, maio ou outubro são boas opções. 

Festas locais

A Semana Cultural das Velas acontece no início de julho com concertos, exposições, regatas e tasquinhas. Já a Romaria do Senhor Santo Cristo leva peregrinos todos os anos, no início de setembro, à Fajã da Caldeira de Santo Cristo.

 

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