Algarve no inverno: o que fazer e visitar de Tavira a Alcoutim
De Tavira a Alcoutim, passando por Cacela Velha e por uma visita à serra do Caldeirão, seguimos em busca do outro Algarve, aquele que brilha e nos acolhe quando o frio aperta. O roteiro de uma semana pelo sotavento algarvio custa a partir de 461 euros.
Longe da confusão dos meses de verão, o Algarve é, por estes dias, um refúgio seguro para quem quer fugir do frio intenso e aproveitar para descobrir uma região que, muitas vezes, passa despercebida com as brincadeiras na praia, os restaurantes cheios e o barulho dos bares.
Visitar o Algarve fora da época alta
O Algarve desta viagem está repleto de bonitos recantos desertos, de tradições que parecem ficar esquecidas no tempo e de algarvios que agora recebem com um sorriso genuíno e mais tempo para lhe explicar por que razão não trocam esta terra por mais nenhuma no País.
Tavira no inverno: história, mercado e o rio Gilão
Mais fustigado pela meteorologia invernal, deixamos o Barlavento Algarvio para outra altura e vamos até ao Sotavento, em busca de pequenas cidades e vilas que nos acolhem com melhores temperaturas e nos permitem conhecer um pouco da história e da cultura na origem desta região – a começar por Tavira.
O rio Gilão é um símbolo da cidade, com a ponte romana que o atravessa e junta as duas margens do centro histórico, a convidar para um passeio. Atravesse-a para chegar à Praça da República e visitar o castelo de Tavira. Restam apenas alguns passos da antiga muralha e do núcleo principal, mas, no interior desta antiga fortaleza, descansam um bonito jardim e uma vista privilegiada sobre a cidade e a ria.
Ao lado está a Igreja de Santa Maria do Castelo, que guarda o túmulo de Dom Paio Peres Correia, o chamado "conquistador de Tavira", mestre da Ordem de Santiago. Foi construída sobre uma antiga mesquita, lembrando que, noutros tempos, esta foi terra de muçulmanos. Hoje, é um dos mais importantes templos cristãos neoclássicos do Algarve.
Para melhor compreender Tavira e as grandes figuras que assumiram um papel de destaque no seu desenvolvimento, visite o Museu Municipal. Não o encontra num só local, mas em vários espaços espalhados pela cidade e pelas redondezas. O principal é o Palácio da Galeria, também perto do castelo, com exposições que abordam a história da cidade. Já na Praça da República, faça uma paragem no Núcleo Museológico Islâmico.
Cacela Velha: a varanda sobre a Ria Formosa
Depois do passeio por Tavira e com o sabor da bela caldeirada de peixe que comeu ao almoço, está na hora de se pôr a caminho de Cacela Velha. Esta pequena aldeia é um dos locais mais emblemáticos e fotogénicos do Sotavento, tanto pela história como por ser uma varanda aberta sobre a Ria Formosa.
Erguida sobre uma arriba, Cacela Velha foi outrora um ponto estratégico de defesa militar, principalmente no período islâmico, e temos essa impressão ao subirmos à pequena fortaleza. Junto a este forte e à igreja, aprecie uma das vistas mais bonitas da viagem, com a ria e o mar como pano de fundo. Aproveite o pôr do Sol para tirar uma fotografia épica ou para passar um momento tranquilo a contemplar uma paisagem que viu crescer o litoral algarvio.
Mas o encanto de Cacela Velha está também nas ruas empedradas e nas casas caiadas de branco, emolduradas pelas janelas e portas azuis, pelas chaminés rendilhadas e pelos pátios que teimam em florir mesmo fora de época.
Vila Real de Santo António: a cidade pombalina do Guadiana
O silêncio quase ensurdecedor de Cacela Velha, por esta altura, é substituído pelo burburinho de cidade ao chegarmos a Vila Real de Santo António. Estamos no ponto mais a sudeste de Portugal Continental, onde o rio Guadiana marca encontro com o Atlântico.
Ao contrário de um Algarve que cresceu de forma orgânica, Vila Real de Santo António foi desenhada a régua e esquadro. Nasceu no século XVIII, por ordem do marquês de Pombal, logo após o terramoto de 1755, tornando-se uma das cidades mais interessantes para compreender o urbanismo da época. Ruas octogonais, praças simétricas e fachadas neoclássicas estão à distância de um passeio.
A Praça Marquês de Pombal é o coração de Vila Real de Santo António. No centro, além de edifícios uniformes, ergue-se um obelisco pombalino que marca o ponto de partida das ruas que se espalham ao seu redor. É aqui que surge a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Encarnação.
Aproveite para passear pelas ruas projetadas por Reinaldo Manuel dos Santos, indo até ao Mercado Municipal. Em funcionamento desde 1886, este é um espaço tradicional onde ainda se vendem peixe fresco, fruta local, pão do dia e alguns artigos regionais. Pergunte pelas conservas e pelo sal marinho, produtos pelos quais Vila Real de Santo António é conhecida, graças à proximidade das salinas.
Alcoutim e o Guadiana: o Algarve raiano em modo tranquilo
É por essas mesmas salinas que passamos em direção à próxima paragem. Abandonamos a costa atlântica algarvia para acompanharmos as margens do Guadiana até chegarmos a Alcoutim.
No limite norte do Algarve, Alcoutim surge como um anfiteatro natural com vista para a vizinha Sanlúcar de Guadiana, em Espanha. Por aqui, o ar é mais fresco do que junto ao Atlântico, mas nem por isso deixa de ser um lugar encantador por esta altura, com as manhãs envoltas na neblina do rio ou as tardes luminosas a convidarem à caminhada.
Visite o castelo de Alcoutim. É no interior que pode conhecer o Núcleo de Arqueologia, que apresenta a história desta localidade desde o Neolítico até ao século XX.
Tal como em Tavira, este núcleo pertence ao Museu Municipal, que inclui outros espaços museológicos, como o Museu do Rio. O último torna-se importante se quiser compreender a relação da vila com o rio. Da vida fluvial à pesca artesanal, às trocas comerciais entre as margens portuguesa e espanhola, o Guadiana sempre esteve no centro da identidade de Alcoutim.
Serra do Caldeirão: trilhos, aldeias e tradições algarvias
Deixamos o Guadiana a serpentear rumo ao mar e seguimos para o interior. Aqui, o rio dá lugar a montes e vales cobertos de sobreiros e medronheiros.
A serra do Caldeirão recebe-nos com o cheiro de terra húmida e mostra-nos o lado mais rústico do Algarve. As estradas que ondeiam pela serra do Caldeirão convidam a paragens demoradas, e há trilhos sinalizados que permitem explorar o interior algarvio a pé. A Via Algarviana leva-nos de Alcoutim ao Cabo de São Vicente, e alguns dos percursos mais bonitos encontram-se logo no início desta grande rota pedestre, que inclui antigas veredas de pastores, vales e cumes.
O ar é fresco, o silêncio profundo, e a paisagem revela um Algarve feito de natureza e tranquilidade. Existem também várias aldeias serranas que valem uma paragem, aldeias onde as casas brancas e os muros de pedra resistem não só ao tempo, como também à pressa que se vive noutras zonas do País – o que é ainda mais notório no inverno. Martim Longo, Cachopo ou Salir são bons exemplos disso mesmo.
O Algarve de inverno é também gastronomia e artesanato
Este é o Algarve das mãos que trabalham a terra e o artesanato. A tecelagem, a cortiça, os enchidos, o pão, o mel e o medronho que aquece a alma nos dias mais frios. Viajar por aqui é um convite para provar todos os produtos algarvios e ganhar um novo gosto por uma região que é muito mais do que calor e praia. Agora, despida de excessos, e de regresso à simplicidade e aos momentos mais autênticos.
Informações úteis para a viagem de inverno ao Algarve
Em Tavira, o custo mínimo da viagem a dois, de 24 a 30 de janeiro, é de 461 euros. Inclui alojamento em hotel de quatro estrelas com pequeno-almoço. O programa de fim de semana (23 a 25 de janeiro) começa nos 154 euros. Os preços foram recolhidos online, a 25 de novembro, para Tavira e área envolvente (até cinco quilómetros).
Feiras e festivais
A agenda não abranda só porque é inverno. Existem pequenas feiras em agenda até à primavera. Em Alcoutim, o Festival do Contrabando lembra a antiga atividade entre as duas margens do Guadiana, com recriações históricas, artesanato e gastronomia. Em 2025, aconteceu a 5 e 6 de abril. Passou a ser bianual. O evento volta em 2027.
No segundo fim de semana de março, o Festival das Caminhadas (evento de três dias) inclui atividades da gastronomia à astronomia. Os participantes percorrem as paisagens da serra do Caldeirão até ao Guadiana, passando por Alcoutim e Sanlúcar de Guadiana.
Rotas a não perder
Tavira e Alcoutim integram duas rotas culturais conhecidas, ligadas à herança do al-Andalus (Península Ibérica muçulmana). A Rota Al-Mutamid segue o percurso do rei-poeta que passou a juventude em Silves, governou o reino de Sevilha e morreu exilado no Magrebe. A Rota Omíada destaca os vestígios da presença islâmica, no território que hoje é Portugal, entre os séculos VIII e XI.
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