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Paulo Abreu da Meia Gaiola descomplica vinhos com humor e "pingolê"

Paulo Abreu é o verdadeiro one man show. Criador e cara do projeto Meia Gaiola, assume-se como especialista na ótica do consumidor, que, com muito humor, partilha informação útil sobre vinho.

26 maio 2023
Paulo Abreu, criador da Meia Gaiola, na vinha em Campo Maior

Jorge Simão/4See

A equipa de reportagem da PROTESTE visitou a sede da Meia Gaiola em Campo Maior, na casa dos avós de Paulo Abreu. Recebeu-nos no local onde aprendeu a escrever e onde guarda as mais belas memórias. A Meia Gaiola nasce da fusão entre a paixão pelo tema vinho, a experiência profissional na produção de vídeos e uma comunicação muito descontraída. O projeto vive também da recolha de sugestões de amigos e seguidores.

Poupe com a seleção do teste a vinhos

“Hoje só me apetece meia gaiola”

O nome tem duas explicações: a parte histórica e a parte conceptual. Ouviu muitas vezes a expressão em criança ao lado do pai em Campo Maior: “Hoje, quero só meia gaiola.” O termo era usado para pedir meia garrafa de vinho ou uma dose mais reduzida de comida. Paulo empregou o conceito para desenvolver o projeto Meia Gaiola: uma mesa cheia de amigos a provar várias meias gaiolas. “Meia Gaiola é sinónimo de partilha e é com partilha que se enriquece o conhecimento”, explica Paulo Abreu, sobre o nascimento do canal.

No Instagram, Facebook, YouTube e com site, a Meia Gaiola arrancou em 2020 como um projeto de avaliação de vinhos, filho entre tantos outros da pandemia, com um “ritual semanal de amigos, em que se abre uma garrafa e se partilham opiniões”. “No recolher da pandemia, quem nunca regou uma videoconferência com um copo entre amigos?” O tema de eleição só podia ser o vinho.

Paulo Abreu, 34 anos, da casa dos avós, em Campo Maior, para o mundo digital. 
Paulo Abreu, 34 anos, da casa dos avós, em Campo Maior, para o mundo digital. 

Hoje, a Meia Gaiola é uma marca e não se resume à prova de vinhos. Nasceram novas rubricas: “Sem passar pela barrica”, para as entrevistas a produtores de vinho; “Dica na gaiola”, “Gaiola na estrada”, com o cartão-de-visita de cada município entre vinho, comida e atividades turísticas (primeiro episódio em Lagoa, Algarve) e “Fora da gaiola”, partindo de convites de marcas para mostrar o que de melhor se faz em restaurantes e espaços de enoturismo.

Um especialista em cada copo

Vinho é sinónimo de “alegria, histórias, contemplação, interesse genuíno em ouvir os outros sem telemóveis nem interrupções”, conta Paulo Abreu, sem formação profissional na área do vinho. As palavras atropelam-se pela emoção ao reviver a infância. “Tenho a paixão, tenho o tema, tenho o background da criação: é isto.” Investiu nos conhecimentos do vinho.

“O tema vinho afasta e assusta as pessoas”: Paulo percebeu que havia uma lacuna na comunicação entre produtor e consumidor. Decidido a preencher este vazio, pretende fazer a ponte produtor-Meia Gaiola-consumidor contando a história como uma pessoa comum, de forma descontraída.

Licenciado em comunicação social, é criador de conteúdos há 10 anos e especializado em escrita criativa e edição de vídeo. 
Licenciado em comunicação social, é criador de conteúdos há dez anos e especializado em escrita criativa e edição de vídeo.
“Ninguém que saiba muito de vinho nos pode dizer o que é que gostamos mais. Mas pode ajudar a perceber o perfil de gosto de cada um”, diz muitas vezes. “O consumidor é o maior especialista do seu gosto”. Este é o posicionamento da Meia Gaiola: “de consumidor para consumidor”.

De início, comprava todos os vinhos para os vídeos. “Se não gosto, não falo. Um vinho tem de me dar material suficiente, aroma, sabor ou efeito-surpresa para a criação de um episódio.” Com um propósito positivo, “o objetivo é promover o que há de bom ao nível nacional”, atira Paulo. E num instante recebe contactos de muitos produtores, sobretudo via Instagram, a pedir a avaliação.

A avaliação com base na relação qualidade/preço depende da carteira e do orçamento de cada consumidor: “Cinco euros pode ser pouco para uma pessoa, mas pode representar muito para outra.” O efeito-surpresa baseia-se na expectativa. “Quando abro uma garrafa gosto da sensação de não saber o que está ali. Tal como na infância, quando abrimos uma caixa pela primeira vez, ao abrir uma garrafa é a surpresa que procuro. O aroma, o sabor ou viajar para uma memória rica que se consegue recuperar. A surpresa pode ser: gastei 3 euros e o vinho é muito bom.”

“Vou até ao produtor, para desconstruir e falar de consumidor para consumidor. Através do humor e de forma descontraída partilho informação útil”: é assim que Paulo Abreu resume a receita da Meia Gaiola. Ele é o rosto, mas também o realizador, o editor, o guionista, e assume os demais papéis que cada trabalho exigir. Pelo meio, organiza provas em eventos de empresas e particulares (já fez despedidas de solteiro) e stand-up com humor e vinho. O próximo projeto é um podcast, para o qual já tem a estrutura. Tem também uma agência criativa, a “Gaiola de conteúdos”, a sua principal fonte de rendimentos.

À frente e atrás das câmaras

A comunicação e o trabalho audiovisual são as áreas de maior interesse. Paulo gosta de estar à frente e atrás da câmara. Apostou na formação nos dois sentidos. Fez workshops de escrita criativa, apresentação, e cursos em edição e pós-produção de vídeo. Passou por programas de televisão e pelo mercado publicitário, na criação de vídeos, de anúncios a tutoriais, vídeos para comunicação interna e externa. Em paralelo, fazia stand-up comedy em bares e festas de empresas. Chegou a brilhar 30 minutos no palco do Alive.

Depois do primeiro espetáculo em Campo Maior com 200 pessoas, rebentou a covid-19 e parou tudo em Portugal e no mundo, exceto na casa de Paulo Abreu, que fixou um objetivo no momento: depois de dois anos a publicar um vídeo humorístico por semana sobre a atualidade, focou-se numa temática e aventurou-se no Instagram com a página Meia Gaiola. Todas as semanas, quinta-feira é dia de vídeo sobre vinho ou produtor de vinho, e o domingo termina em restaurantes.

Copos de balão na tenda?

Questionado sobre a profissão, fica reticente sobre a conotação de influencer, mas admite: “Sou autor-criador de conteúdos. Faço escrita criativa, escrevo com humor, filmo, realizo, edito, apresento eventos, galas, dou a cara em vídeos.” Design e escrita da Meia Gaiola, gestão das redes sociais: tudo é feito por Paulo Abreu. Para projetos maiores, conta com quatro amigos-colaboradores.

Vinhos e restaurantes: a escolha do alvo é feita por convite e pelo gosto de Paulo Abreu. “A Meia Gaiola bate-se contra estereótipos e a forma certa de beber. Não existem formas corretas de consumir vinho, há dicas para potenciar e ter a melhor experiência. Se vamos passar três dias de férias para acampar, vou agora preocupar-me com copos de balão? Não. Vamos a casa dos avós e eles são obrigados a ter um jogo de copos de vinho? Não!”

Vitórias da Meia Gaiola

Paulo tem dificuldade em eleger as maiores conquistas. O primeiro convite de um produtor e o primeiro conteúdo em parceria foram sinais de reconhecimento. Mas fala de um vídeo com orgulho: “Tornar a minha avó protagonista num vídeo, em que fez cozido de grão para harmonizar com vinho foi uma forma de lhe agradecer em vida tudo o que me ensinou e posicioná-la num projeto onde ela faz parte da base – é o devolver da caneta.” O reconhecimento também acontece em momentos inesperados: a primeira vez num dentista eufórico com a descoberta do paciente e depois de um check-up com o médico, que o abordou para saber as condições para uma prova de vinhos.

Outro motivo de satisfação foi “a primeira temporada de dicas”, porque teve de estudar e investigar para alimentar vários episódios. “Sempre que entrevisto um produtor em sua casa sinto-me pleno. São referências, fazem um trabalho notável, uma garrafa de vinho é a criação de alguém”, encontra aqui motivação para o trabalho.

Se hoje acabasse a Internet, Paulo Abreu “apostaria mais nas provas e nos eventos ao vivo. Fruto do digital, a Meia Gaiola teria de tornar-se presencial”.

O que falta? Abrir a próxima garrafa

Paulo Abreu pisca o olho à televisão, mas não pensa muito no futuro, apenas em “abrir outra garrafa”. "A viagem tem sido tão boa, as coisas aparecem de forma natural.” Tem a certeza que lançará em breve um podcast “não apenas sobre vinho, mas também para abrir a cortina pessoal, com entrevistas, humor, pensamentos do dia, atualidade, filmes e músicas que harmonizam e acasalam bem com o vinho, puro entretenimento”. E vai continuar a espremer e a desconstruir os vinhos de várias marcas.

O trabalho da Meia Gaiola é único: nenhum crítico de vinhos faz o tipo de avaliação como a Meia Gaiola faz. “Ninguém enriquece culturalmente sem interagir com outros profissionais. Troco informação e ideias com outros que criam conteúdos, mas não apenas de vinhos”, explica Paulo, para quem a grande referência é Bruno Nogueira. É fã da sua linguagem audiovisual.

“Não me inspiro em conteúdos técnicos de vinho. Oiço para absorver conhecimento e desconstruir.” A região preferida de vinho? “Para o inverno gosto muito do Alentejo. Para o verão, gosto da região dos vinhos verdes. Para o leitão, Bairrada. Douro… gosto em qualquer altura do ano.” E um vinho preferido? “Não vou por aí. Um vinho bom é aquele que me sabe bem e que foi pago com moedas.”

Para Paulo, ouvir e contar histórias é a forma mais bonita de crescer e enriquecer em termos culturais. Não sabe onde vai estar a Meia Gaiola daqui a dez anos, mas tem a certeza de que vai estar próxima dos consumidores. E ao lado de quem gosta de um bom “pingolê”.

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